sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Ao Beijo do Fundo do Poço

Beija-me do fundo do poço, desta ravina,
Sou toda uma sede e anseio por vida e cor,
Serei pluma a descer brevemente a colina,
Num devaneio alífero, num perpétuo ardor,

O céu e o mar retratam tão bem esse rosto,
Nos detalhes deste sorriso que os esboçam,
São nesta memória, a lembrança, o recosto
E o consolo nas ondas que as nuvens traçam,

Espero onde me deixei, num instante eterno,
Num barquinho à vela sem vento a o beijar,
Enquanto não vem a Primavera sou o Inverno

Mas pouco me importa pois aprendi a amar,
Nesse momento imanente o abraço fraterno
Ao beijo do fundo do poço que hei-de soltar.


quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Há Beleza na Simplicidade

Ouvia enfim: há beleza na simplicidade,
Nas formas, nas cores, no próprio olhar,
E esse ver não olha a credo nem idade,
E ensina a quem é só aprendiz a amar,

Encontram-se por fim porções de vida,
Evita-se a mentira e até a miragem,
Beijando-a na boca ela sente-se sentida
E cada segundo torna-se nesta viagem,

A idoneidade do simples tem aqui lugar,
Há tempo e espaço no espelho a reflectir,
É até recipiente para quem a si se procurar,

O importante é o permitir, é o consentir e o ir,
Pois ao longo do caminho perde-se o caminhar,
Portanto é indispensável deixar o simples existir.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Saudade do Nunca Vivido

Tenho tanta saudade do que nunca foi vivido,
Do instante aqui ou ali enfim não cativado,
Do momento que se deu então por sumido
Quando de mim próprio me dei por abdicado,

Passageiro do além com a alegria e tristeza
Que é de quem passa sem saber bem porquê,
Cada segundo fonte imutável de terna beleza,
Nos rostos quase esquecidos deste eterno buquê,

Vejo-os em vultos e semblantes, agora tão distante
Que parece que nunca vi, nunca tive, nunca beijei,
Amor quando partir lembrar-te-ás do teu viandante,

Ou serei outra cabeça na parede? Em mim escondido
Olvidem todos os caminhos que outrora trilhei,
Este é o momento, o sofrimento do aqui não vivido.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Esperando Onde Já Não Estou, Sobre as Nebulosas do Caderno

Recedo num instante intemporal, sou ponte
Entre o beijo concedido e o outrora não dado,
Pois de todas as vezes que alcanço o horizonte
O acontecido é sempre pendente do já eclipsado,

Assim teço trechos de poesia para o sonhador,
Desconhecendo se trago estrofes resplandecentes
Ou a travos  de agonia, ódio ou imperecível dor,
Mesmo escrevendo com mil olhares em estrelas cadentes,

Vão passando dias e vou beijando o concedido,
Passam noites retornando o homem sozinho
Que persiste porém não existe fora do querido,

A ansiedade é a espera da madrugada, do eterno
Que ilude porém é dádiva para todo o caminho,
Isto é sobre as nebulosas que escrevo no caderno!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Onde os Homens se Quedam, Deuses se Erguem

Olá, lembra-te de mim como uma altura do dia,
A negritude fulgura e lateja nesta dança lenta,
Sobre o céu a lua caindo sob os campos, a magia,
Que é somente nossa é nesta solidão tão sedenta,

As estrelas recolhem-se nas últimas aves passageiras,
Arcadas até onde os olhos alcançam, indeléveis beijos,
O vento senhor e mestre, arrancando raízes, as poeiras
São as mil vontades de ser árvore ondulante, os desejos

Do poeta extirpando asteriscos desta cúpula celestina,
Sou grito na voz de quem é silêncio desaguado na viela,
Por onde for que me acompanhe a cintilante lamparina,

Lua abjuro as tuas cópias, hoje estarei só entre mim e ela,
Evanescente sempre esvaecendo, subindo esta minha colina
Que se ergue onde sou queda, porém o único pintor desta tela.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Lembranças são os Sapatos Usados que Guardo no Armário

A lembrança sobre o tudo o que tenho nesta mente,
A certeza sobre o nada que tenho entre estes dedos,
Sapatos usados guardados no armário de quem sente,
Não há lixo, não há saída, somente coragem e medos,

Deixamos gavetas abertas repletas de roupas rasgadas,
Tristezas e alegrias de quem passou e em si se encontrou,
À mercê de cada momento a momento, cadeiras abdicadas,
Noites sem dormir do instante em que a maçaneta se largou,

As fragrâncias esmorecidas, as sombras de beijos ao sol-posto,
Manhãs que vêm e passam prisioneiras do segundo passageiro
De quem em si é refém e quando o adeus tem somente um rosto,

Não há nada para lembrar, nada para esquecer, a mente é só cinzeiro
Dos apóstatas que fui, das promessas quebradas sem nenhum encosto,
Sou solidão, sou lembrança largada no eterno aluindo tal um aguaceiro.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Vejo Deus ao Espelho

Recedo ao aposento de um rei destronado,
A noite vai densa na ausência de firmamento,
Parece que cá de baixo sou somente seu bocado
E que das estrelas cadentes alcanço só o fragmento,

Do quase eterno, imortalidade num breve pedaço,
No espelho o rosto de deus na mão beijada,
A subtil ligação entre uma cabeça e um regaço,
Tenho na alma ainda a intempérie cravada,

Sozinho caminho e sou caminho para o trilho,
Aonde nos perdemos vezes e vezes sem conta,
Em brincadeira agreste buscando o ruído, o sarilho,

Então toda a pluma se torna finalmente a asa,
Então até o maior cego a si se encontra,
E o mais triste e frio lugar se torna e arde em brasa!

domingo, 10 de dezembro de 2017

Sem Sol ou Luar

A inexistência do tom da canção é esta despedida,
Tanto percorrer e ser refém da impermanência,
Não ter regaço para colocar a cabeça ou guarida,
O silêncio deste suspiro é toda a minha ausência,

Os cruzamentos tão alheios a um homem perdido,
Caindo neve neste olhar por lágrimas emoldurado,
Esta paisagem aberta, o outrora verde sucumbido,
Vem pássaro negro, quando serei enfim levado?!

Sorrio quando o sol é poente, beijando o horizonte,
Que venha a noite longa, em mim terá aqui lugar,
Porção a porção que o céu finalmente desponte,

Adeus Amor, hoje serei o que não pode aguardar,
A queda de Ícaro, as chamas ardendo a ponte,
Até breve, até um dia, dia esse sem sol ou luar.

Deitado no Mar, À Noite Serei Constelação

Um dia, quando partires leva-me a mão como lembrança,
Ao ritmo da dança sem nome, nossos olhares entreabertos
Eram a estrada, os cavalos selvagens neste peito, a criança,
O único lugar parecido com lar pelos  instantes indiscretos, 

O nascente e poente, o epítome para as noites esquecidas,
Os beijos cálidos, imersos no tão belo segundo passageiro,
Entoo a enxurrada reflectida neste olhar sob folhas caídas,
Sou refração do homem perdido no tempo, sem timoneiro, 

As ruas tornam-se vielas escuras desprovidas de moção,
O tempo deixa-me para trás, sou ilha à mercê deste mar,
Fustigado e atormentado pelos caprichos de um coração,

As ondas esbatendo na proa em instantes impossíveis de amar,
Assim me projecto no espelho do céu, terei uma constelação,
Ou uma simples oração? Já não me basta o simples bastar.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Do Tempo Que Passa Eu Sou Fragmento

O silêncio das passadas no já passado ecoadas,
Não cabem na algibeira do transeunte passageiro
Não cabem no reflexo das palavras espelhadas,
Ditas quando o Homem se tornava enfim inteiro,

Somente não mais que suspiro deixado ao vento,
Origem para as baladas, música para os ouvidos,
Lábios ofegantes e desta escuridão o renascimento
Então só dos românticos os seus sabores coloridos,

Semblantes e vultos, portas e janelas entreabertas,
A eviterna servidão do menino feito quase homem,
Segundos passando vêm nas belas horas incertas,

Quando me for, deitem confetes e deixem chover
Onde o olhar e a vista partilhada enfim somem
Pois sou fragmento do tempo que consigo conter.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Vem Amor

Vem amor, verte em mim a negra enxurrada,
Vai o poente e suspiro eu a travos de poesia,
Sê lembrança de uma vida a dois partilhada,
A prova que num momento fomos toda a magia,

Vem amor, dá-me a mão e deixa-me no caminho,
O trilho é adiante e este instante é de partida,
Esquecendo o outrora de quando não era sozinho
E tu me preenchias todo o coração e toda uma vida,

Vem amor, separemos o trigo do joio, o cruzamento
Que se afasta à estirada por cada segundo passageiro,
A viagem assim é realmente tocada e vem o firmamento,

Vai amor, somente agora enfim terei amor verdadeiro,
Ao partir, o tormento desta vida, o eterno cinzento
É a tua ausência, a distância incrementada, o bueiro.



quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O Vendaval nas Pegadas do Viandante

O nascimento do sol traz assim nova esperança,
Vem e sê o meu cobertor minha doce madrugada,
Envolver-me-ei em repouso no teu leito tal criança
Que não teme o destinado dessa margem afastada,

Acenando a mil despedidas póstumas: é o caminho,
De asas nos tornozelos e vista numa longa paisagem,
Assim em mim sou partida, quase sempre sozinho
E em mim quem foi ou será, será em mim bagagem,

Este desassossego é esta ponte entre margens, o andar,
Que é quase voo e quase afogamento no quase acidental,
Sem saber bem o que nos espera ou pelo quê esperar,

Vai indo o vagabundo entre o supérfluo e o essencial,
Desde que as noites vindoiras ensinem o que é amar
Prometo-vos que por onde for comigo irá o vendaval!

Entre O Sono e a Insónia Há Caminho

Querida insónia, impregna-me nesta subtil dança,
Entre nuvens e estrelas de outras constelações,
Brincarei dentre delas tal e qual briosa criança,
Espero que assim sejam preenchidos mil corações,

Entretanto vem o sono na ligeireza deste embalar,
A despedida ao real, aceno ao devaneio inebriado,
Exacerba-me e enfim concede-me asas para voar,
De sorriso no rosto através da terra e céu sonhado,

Diz o viandante "Os dias correm e soam só a vida,
Há caminho, sozinho ou acompanhado a resumir,
O mundo vai passando e dá-me finalmente guarida,

Mesmo sabendo que cada momento um dia irá partir,
Assim me fico entre o amanhã e ontem, nesta partida
Que na impermanência tanto me faz chorar como sorrir".

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Poema Para Quem Virá, Passa e Foi

Os seus gritos ainda presos nesta garganta,
Ainda são os Outros a puxarem-me pela mão,
Percebei eu sou o contrário então pouco adianta
Estas estórias de reis e rainhas ou da sua canção,

Vêm e vão os segundos inundados por este instante,
A tentar conter vida e o mundo a passar-me ao lado,
Em mim é a raiz, a flor, a pétala tão transbordante,
Longe de mim o ruído que me põe velho e cansado,

Embalamos este berço de sonhos num beijo almejado,
De corpo e alma, sangue e suor salteados a prantos,
A recusa a permitir este belo instante passar-me ao lado,

Assim irei pois neste caminho tenho sido tantos e tantos,
Procurando um lugar ao sol ou chuva também ao cuidado
De quem virá, passa e se foi neste peito ouvindo seus cantos.

Quando Eu Parti, Ela Ficou (Num Momento Eterno)

Aconteceu a noite caída em escura enxurrada,
Janelas sem persianas, cortinas bem abertas,
Lâmpadas a meia-luz alumiando quase nada
Para além do estranho sabor das horas incertas,

O coração palavra, nome e verbo adjectivados,
A preguiça dos dias na boémia nocturna,
Chuva negra sobre dois estranhos encontrados
Nas sombras na calçada, quase poesia soturna,

Estações de autocarros e comboios, estrada sem fim,
Até encontrar o ombro de um bom, bom amigo,
Por música, morreremos sozinhos, meio assim…

Porém hoje é tempo de viver num suspiro de vida,
Para quê tentar escolher se não há opção de abrigo,
Deixo-a num sorriso e num momento deixado à partida.

sábado, 4 de novembro de 2017

O Poeta Diz Adeus a Quem Lhe Partilhou a Mão Pt. II

Por uma fagulha de luar prometi esta mão,
Num instante passageiro beijos foram trocados,
Eu gostava dela, ela de mim, partilhávamos um coração,
E esses momentos eram sonhos muito mais que almejados,

A queda do poeta é a tênue fugacidade do amor,
Para quê ver além se tudo não passa de inútil paisagem?
Queda-se no martírio, no tormento, no próprio langor
Apaixonado por uma ilusão enfim tornada miragem,

Sozinho se faz o caminho, o semblante desencontrado,
Procurando no escuro uma fagulha de luar qualquer,
Novamente se queda o poeta por nada prostrado

Porém mesmo de joelhos vai em busca dessa mulher,
Para sempre perdido dentre o outrora sonhado
Em que um pedaço de tempo dita a linha entre a dor e o prazer.

O Poeta Diz Adeus a Quem Lhe Partilhou a Mão

Promessas de confidências ao instante passado,
Escuta-me bem, o tempo apenas substrato,
Para além do possível o beijo encantado,
Elegia vaiada por quem não vive, este relato

Somente o olhar de quem é dormida encoberta
Por nebulosas briosas, vontade de enfim respirar,
A carne sob as unhas arreganhada e desperta
Sentindo-se tocada por tudo menos a vontade de tocar,

Agora sabes que estou triste, que estou frio...
Preferes aqui o esquecimento à lembrança,
Assim te deixo ficar, tão triste, só e vazio

Por num momento nos termos deixado de cruzar,
Silenciou-se a música e a sua doce dança,
Desertaram-se as mãos, está na hora de caminhar.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O Regresso à Cidade

Um dia o viandante retornou à cinzenta cidade,
Havia freio, ferro e metal espalhado pelas vielas,
Imaginem o lugar onde a morte treme de frialdade
E o céu tem sobre si a negritude de mil aguarelas,

Ele era saudade, morrendo por amor verdadeiro,
Ansiando o desejo maculado e a bela donzela,
Enquanto na cidade meretrizes o cobiçavam por inteiro,
Por andas tu oh Afrodite, tu ò mais que bela,

Os Outros eram fantasmas de dias deixados passar,
Por viver o beijo cândido, o suspiro enaltecedor,
A valsa acompanhada pela única música possível de dançar,

A certeza era a vida ou a morte, nada por metade,
No entanto havia o cisco no olhar enternecedor,
Haviam de lhe tirar tudo menos a sua própria vontade.

No Trilho do Sonhador Há...

Ssh... Vai sonhador sai do teu sono devagar,
Vem o caminho por onde vais por onde vais
E por esta vida há tanto cascalho para calcar,
Respirar é barato, colher a colher, pede mais!

Ssh... Corre o horizonte no peito do trovador,
Há linha de alvorada, há beijo, há tudo e nada
No instante florido a credo com aspirante a amador
Onde mais vale ser mendigo a ladrão de calçada,

Ssh... No ruído há melodia, na morte há vida,
Acorda para o canto quase eterno desta dança,
Que a tua graça jamais se quede ou se dê por perdida,

Alcança a outra margem, pelo céu enlevado,
Há mar, há terra, há mão e porção de criança,
Chora e sorri e então diz graças, obrigado.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Enquanto Houver Espaço Dentro de Mim Para Cantar... Cantarei

O espaço vazio dentro de mim só de plumas é preenchido,
Recuso permitir que esta seja sua última música entoada,
Pois há canções diferentes que pertencem ao desconhecido
E se difundem livres ao som do vento e da alvorada,

Confissões ao ombro da lua e percorremos caminho,
Centímetro a centímetro por vezes sem culpa alguma,
Este é o momento de chegada no indo sozinho
E penhoro à alma e seu voo por coisa nenhuma,

Encurralado somente pela vontade de subir o muro,
Este é o halo que incide obliquamente no olhar,
Por meros instantes não há negritude, não há escuro,

Apenas um ver resoluto a olhar a face soalheira
E enquanto ela não vier emudecer o silêncio com um cantar,
Alas, o vazio preencher-se-á de uma ou doutra maneira.

domingo, 22 de outubro de 2017

Pintamos Segundos Esperando uma Obra-Prima

Pintando segundos entre espelhos e seus reflexos,
Aprendiz da realidade mas sonhador incurável,
É deus que nos chama, ouvi seus simples entrechos,
Clamamos amor quando sua retribuição é inefável,

Só me falta o resto de uma solidão forjada,
O ponto negro na noite, a crença na mentira,
Somos fragmento de beijo na berma da estrada,
Vela apagada, a mão dada que a alma aspira,

A penumbra gélida é encosta para os nomes passados,
O apelido de uma estação, o andar de coração em coração,
Já nem sei quantos beijos foram enfim beijados

Porém sei que dentro da nuvem ainda jaz a minha ilusão
De amor por quem partiu pois destes engodos admoestados
Sou só um poeta viajante procurando o belo refrão!

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Se Acreditarmos no Eterno Tornamo-nos Crentes

Sou as esquinas das vielas por onde tenho passado,
As fundações para um amanhã a olhar de soslaio,
Sou solavanco da berma pelo luar apaixonado
E este é o buraco que anseio portanto caio,

Nele as dimensões tornam-se em magia e sorriso,
Fulgurante então nele o vulto fica semblante,
Acredito na crença e no quanto é que é preciso,
E a crença é poder alcançar o horizonte distante,

Sonho com lábios de cetim pelos meus rodeados,
Projecto o sonho do poeta e arremesso mundos,
Assim sou em mim todos os fragmentos quebrados,

Só assim abraçando deus escapo do imanente,
De dedos alcançando, olhos abertos e beijos profundos,
Perguntais então quem sou?... Bem, sou só eu, o eterno crente.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Respiro Ofegante Enquanto a Vida Demora

O respiro entre uma vida e um lento afogamento,
Procuro-o pois isto é mais que o fim, é salvação,
Em bom tempo, haja um beijo e um pensamento
Pois damos suor e lágrimas por esta revolução,

As questões são respostas de uma vida sozinha,
Este mendigo ainda implora a paz da sepultura,
Emprestamos a mão e do horizonte se vai a linha
Então que encubra o que em vós é apenas altura,

Sinto-vos respirar sob o furor da pele escalada,
Deixem-me subir o baluarte da guerra das rosas,
É sempre a vós que volto minha doce amada,

Só tenho poemas e quase nenhumas prosas,
Um segundo num infinito e uma alma cravada
No peito fulgurante de um bilião de nebulosas.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Libertação é Relembrar a Inocência e o Ilimitável

Canto e reconto a quebra destas correntes,
Libertem o prisioneiro, o soluçar dessa dor,
Acercada por um muro feito de inconfidentes
Onde não nasce o sol ou cresce qualquer flor,

Há muitos anos apenas em vislumbres a vejo,
É ela a inocência ainda caminhando a cantar,
Restam nas vértebras as asas de um desejo,
Glorioso, numa valsa triste impossível de amar,

A fuga é a porta entreaberta, o olhar a observar,
A janela irada, o voo alado, a vontade indomável,
Assim nos erguemos deste solo, deste estar,

Apesar de saber que o estar parado é confortável
Não vos permitais a vós próprios enfim vos negar,
Deitemos abaixo as cercas acariciando o ilimitável!

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O Poeta Perdido na Noite Sonhando Com Quem Não o Quer

Vem vindo a madrugada, eu sou a noite fugidia,
Céu e terra, sol e mar, a lua cheia num beijo,
Caminho sozinho sob o nascente, a ironia
É ter nascido só para e por amor e desejo,

Em sonhos perdi a pertença, só sua indiferença,
Sou alvo atroz da falta e de sua perdição,
Sim, o poeta apaixonado por sua querença,
Alabastro na palpitar fugidio de um coração,

O seu apetite é miragem, linha do horizonte,
Poço sem fundo, saudade minha descansa em paz
Pois para o mundo perdi partes da voz, a ponte,

Sou protagonista e figurante no teatro das horas más,
Anseio a primavera, o beber do manancial, da fonte,
O que de bom existe, Amor, deixa ir o que a vida traz.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Estes Pensamentos Passados Sâo...

Enterrados vivos nem parecem reparar
Que o tempo é estandarte e ampulheta,
Para quem ao espelho se vê assim a passar
E logo passa sem um aceno de sua silhueta,

São eles os meus mais negros passageiros,
Dentro da rapariga cujo corpo é o frio deste coração,
Instigando a flâmula escassa em mil aguaceiros,
São um outro virar de costas - o gritante não,

Calem-se as vozes de um afogamento silencioso,
Perceber que somos donos do mausoléu ermo,
Que esquecemos o corredor de mármore radioso,

Que o caminho é apenas cemitério e a sua ausência,
Esta meia presença, fragmento sem fim ou termo,
Esta pá, esta jovem vala sob o solo em abstinência.

São os Outros a Levarem-me e Ela Transviada

Uma lagoa de lágrimas e respiramos água do mar,
Mantendo a orla vêm os Outros e as suas visões,
São os vultos e fantasmas ainda por assombrar
Aqueles cujo momento é passado nos seus corações,

O instante cujo nascença é dádiva e pertença
Do homem qual filho bebendo da fonte da juventude,
É ele toda a minha ausência, toda a minha diferença,
Porém ela, transviada, é o único beijo nesta quietude,

Meu amor já não mais temos tempo para o eterno,
A maravilha da perdição, a retenção da beleza,
Aproxima-se a neve gélida, o grande inverno,

Saudades de um tempo sem ser tempo em si,
Tal poeira sem passagem, toda esta tristeza
Que é mãe, rainha e poltrona para quem vem aqui.

Pouco Procurando o Respiro Fundo, O Respiro Vivido

Estas sepulturas são mais adequadas para os vivos,
Embeleza-as com agulhas em palheiros de espelhos,
Frágeis, vulneráveis e delicados em seus abrigos,
Fluindo por cateteres parecendo com veias de velhos,

São ficções e fios de navalhas no peito do sonhador,
O vulto fantasmagórico da criança outrora perdida,
Sonhos violentos e apertamos o cinto do amor,
Sou apenas um homem por uma estrada perecida,

Parece-me que furtámos mais beijos do que partilhamos,
Encobrindo a ferida aberta por cidades que ardem,
Asfixiando na mendicância das sombras que abraçamos,

A noite pressionando sob as plangentes pestanas,
Dois corpos de pé bem assente na embraiagem
Mal respirando por estes corações de porcelanas.

domingo, 24 de setembro de 2017

Àqueles Que Mendigam Amor

Transeuntes da cidade rogando por um pouco de amor
Que enquanto este não chega se engasgam consigo,
Se morreres amanhã irás com prazer, sem dor
Ou serás outra carcaça sem família ou abrigo?

És sombra na penumbra, cobrindo a face do sol,
Os restantes são pertença da vontade de partir,
Pensamentos ofegantes sob as unhas dum anzol,
Coagulados, colapsamos nos punhos de um sorrir

De um menino virado menos que um beijo mal beijado,
É mais que uma perda, é uma falta incalculável,
Os vidros partidos sob os pés de um fim retratado,

Gritos indomáveis, sou a aberração feita tentação
De traças na nuca, a doença aparentando saudável,
Quase sem semblante, quase sem sombra no chão.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Quando Caiu a Noite O Mundo Passou

Enfim anoiteceu e o filho do homem morreu,
Lábios saciaram-se com lágrimas de instantes,
O menino perdido foi as coisas que outrora deu,
E eu? Eu era somente o sonhador de um dantes,

Envelhecido sob rugas grisalhas, feito de fragmentos,
As pontes hoje mausoléus de um tempo sem tempo,
Choros sob estrelas cadentes, ululantes lamentos
De um coração apressado batendo em contratempo,

Sobrevivemos de água, pão e restos de regaços,
Esboços de uma partida ainda por consumar,
Pois de todos aqueles milhentos abraços

O seu foi o único que não consegui eternizar,
Assim sou a brecha a quebrar pedaço a pedaços
Vivendo dia para dia em instantes que hão-de passar.

domingo, 10 de setembro de 2017

Procurando Beleza

Lábios entreabertos com cobertores de veludo,
A mensagem do soneto prende-se com a beleza,
O simples vislumbrar desse ideal sempre mudo
É suficiente para afastar para longe a incerteza

Que é sombra e linha entre todo o luar e este sol,
Sempre itinerante passando por onde cai a vista ,
Não morrerei enquanto distante estiver o rouxinol,
Percorrerei o intervalo que entre mim e ele dista,

Procurando vestígios por dedos esticados ao vento,
Como que quase a alcançar apesar de tão distante,
És tu aquela que tem apaziguado este tormento

Emprestando-te por vezes neste meu olhar brilhante,
Assim vais passando por todo e a cada momento
Por ti Beleza habitante neste meu coração errante.

Poema Para o Passado

O passado tem ramos nas costas cravados,
É um arrastão para quem é não pertencente
Ao momento presente, aos instantes alados,
É nos restos que se ergue tal quarto crescente,

Por vezes paro para vislumbrar o caminho,
Penso no alcançado e no outrora já perdido,
Quão lotado tem estado apesar de sozinho,
Será que o que passou foi realmente vivido?

Desconfio dele, pois tudo é tão e tão imanente,
Tal sonho imaginado dissipando-se pelo trilho,
O esvaecer do ecoado é sombra no homem ausente,

Porém desse passado sou ainda o eterno filho,
O último saudosista de olhos postos bem em frente,
Enquanto não passa o futuro neste beijo que partilho.

O Marinheiro do Infinito

Vai assim nocturno o infindo no passageiro,
Dorme na proa sem qualquer tino o navegante,
Vem a habitação, quase lar, de outro timoneiro,
Vai e vem a onda sempre a empurrar o instante,

As luzes são ciganas e dadas a voláteis paisagens,
O corpo âncora para o eterno, vela para o infinito,
Subindo o oceano, sou eu para sempre entre margens,
O mastro deste peito nada mais que indomável grito,

Pois eterna é a essência denominada como presença,
É convés e porão dependendo do beijo do sonhador,
Por isso irmãos, deixemo-nos desta enorme descrença

Que nos habita o coração e nos abraça em desamor,
Sobreviver-lhe é nesta Vida a grande recompensa,
Encontrar porto de abrigo e entre a calçada uma flor.

Ela e Ele

Ela vestia vestidos feitos de brisa passageira,
Cerúleos por vezes, outras com todas as cores
Longos a cobriam até às suas sandálias de areia,
Assim a cobiçavam por inteiro seus mil e um amores,

Para ele todas as moças eram donzelas apaixonadas,
Rodopiando seu vestido feito com toda a sua ânsia,
Era o cupido jocoso com as suas setas quebradas
Que não conseguia ultrapassar toda a distância

Que devorava corações apressados em seu bater,
Ele era ridículo e coitado a cada vislumbrar dela,
Por vezes até a ele só lhe apetecia enfim morrer

Pois ela era última fonte de luz, a única estrela,
De um momento que era impossível de reter
Pois pertencia à brisa daquela tida como bela.

Àqueles Que Trago No Peito

Por brechas e fendas vai indo assim esta vida,
Sou fragmento daquilo que tenho sobrevoado,
Onde Mãe é palavra de ontem, quase esquecida,
E eu sou mendigo e pedinte quase quebrado,

Porém da morte vem o inteiro e o seu adjacente,
Beijo as mãos daqueles que as têm partilhado,
Sou resto do mundo em solavanco ascendente,
E sou porto de abrigo para quem se tem abrigado,

Sorri nestes lábios e chama-me pelo nome de Deus,
Ele sou eu, eu sou ele e em mim tenho-vos a vós
Assim é no eterno a partida sem um tom de adeus,

E assim por um momento sou único, ouço a sua voz,
Indizível, inaudível, inaudita em mil e um apogeus
Deixai-me partir e talvez nunca ser chegada a uma foz.

Aos Momentos Partilhados Vindoiros

Cicatrizes e enfeites na pele tal decoração,
Instantes passados acumulando neste vento,
Por cada passo dado rememoro esta oração
Que me confere leveza e um pouco de alento,

Uma coroa de espinhos ou um diadema de luz,
Serei um, sempre e nunca passando pela metade,
Apenas assim o que trago no ventre sobreluz,
Apenas assim vejo enfim vislumbres de beldade,

Pois haja tristeza e penumbra e o sono profundo,
Beijá-los-ei a eles, repletos de amor para partilhar
Num lamento lúgubre pela velocidade do mundo,

Irei entre brechas por onde nunca consegui entrar
E lavar-me-ei bem até estar bem sujo e imundo,
Por momentos partilhados por tanto ainda ansiar.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Chega de Amar

Duas almas são no trilho da encruzilhada,
Porém hoje não escreverei mais sobre amor,
Chega de clichês, de escritos sobre nada,
Sobre estrelas cadentes ou o beijo da flor,

Não mais a promessas ou à lágrima do amador,
A noites e tardes passadas de mão em mão,
Ao olhar entre olhares recitando a sua cor
E a suspiros arremessados ante o coração,

Chega da partilha de sorrisos, ideais e compassos,
Do terno leito, do ósculo no peito, do até já,
Esquecer o caminho e os seus mil passos

Chega de imaginação do doentio sonhador,
De borboletas no estômago e o que de mais há,
Chega de valsas ao pé-coxinho e da palavra amor.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Passa o Tempo Por Mim e Passo Eu Pelo Tempo

Suspiros e almejos perante esta ideia amada,
Passam luas e sóis levados pela brisa e vento,
E sozinho lá vou indo por uma íngreme escada
Que alcança o horizonte mas não o firmamento,

Penso... Sinto-o sob a pele em eterna moção,
Enquanto escalo montanhas feitas de sede,
Envelheço colocando a mão sobre o coração,
Não pretendo esperar a morte e a sua parede!

Ecoo na eternidade de um instante já passado,
Um momento dedicado às ternas lembranças,
Para cada um de vós um beijo bem beijado

Pois quando vos deixar essa será a herança
De quem é assim ao segundo em si eclipsado
Tal brilho passageiro de uma exuberante criança.

Eu e o Universo

SOS murmura esta gente no barco salva-vidas,
Nós somos o orvalho desprendido da manhã
Ou seremos as muitas multidões embevecidas
Que por muito que andem nunca se sentem cá?

Somos naufrágios de fantasmas ainda por vir,
Sob a pele vestida rebatendo ondas e marés
Ou seremos Ícaro orgulhoso ainda por cair
Tendo todo este mundo sob os seus pés?

Somos apenas o Universo de si consciente,
Experienciando tudo o que pode albergar,
A sombra já póstuma do homem ausente

Do instante em que já não é possível amar,
Amigos, ouvi-me! Rápido passa o presente,
Há que o reter para um dia o saber largar.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Até Partilharmos Uma Mão

Ela caminha sobre o Sol, sob o firmamento
E eu sou toda a sombra, a cúpula para o céu,
Estrelas vertendo deste triste olhar luarento,
Sou apenas aqueles que raramente fui eu,

Tragos de beleza e se silencia o sonhador,
Há espectros nas suas mãos de constelações,
Fragmentos de contos cujas vozes de amor
Jamais cessarão, assim ditam seus refrões,

Presenteiem Ícaro com um punhal após a queda,
Partida para os viandantes estranhos à chegada,
Enganando a sombra que este tempo veda,

Uma história para os apaixonados e enamorados,
Sorrisos de soslaio antes que venha a derrocada,
Somos todos só bastardos até sermos amados.

domingo, 20 de agosto de 2017

Trago Aquilo Que Já Esqueci

Trago aos ombros restos da pluma dourada,
Deixando um rasto de sangue e suor ao trilho,
Partilhando os beijos e colocando-os à alçada,
Eu continuo pelo mundo, eu brilho, eu brilho!

Trago nos lábios o sabor de noites já eclipsadas
Ou quando sorvia pelos dentes sólido cimento,
Onde nem sempre fugi das minhas emboscadas,
Porém é nas noites negras a melhor vista do firmamento

Que cai tal escombros na passeata do viandante,
Quase esqueci dos sonhos latentes na algibeira
Ou o quanto esta Vida é passageira num instante,

Este horizonte é entre o real e o sonho fronteira,
O objectivo move-se ora sempre em frente, adiante,
Não permitir estes ossos apodrecer sob esta poeira

Tristeza e Solidão

Estranhos têm passado por estes cobertores,
Dormido dentro da minha pele e consciência,
Pois a este vento tenho perdido os meus amores,
Este caminhar tem sido fruto de impermanência,

Confidencio estes suspiros arremessados à Lua,
Beijos que olvidei e que nos lábios permanecem,
Apenas tenho sido eu sob esta pele sempre nua,
Tenho sido aquele que os vivos vão e esquecem,

Tristeza e solidão no meio da alegre multidão,
Sozinho onde todos passam e ninguém fica,
Não há quem chegue e alcance, partilhe a mão,

Tenho em mim uma alma que chora e grita
Pois tanta gente vem sem preencher o coração,
Sou de ninguém, ninguém é nesta hora maldita!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sou Parte e Todo

O meu compromisso é para com este Universo,
É por ele que esboço e pinto estas constelações,
Sinto-as vibrando sob a pupila, no cair do verso,
Indómitas e selvagens oscilando entre estações,

O meu pacto é solene e é para com o horizonte,
Por aqueles instantes insondáveis e passageiros,
Vestindo a alma, criando entre margens a ponte,
Escrevendo na escuridão com alvor de candeeiro,

Há um reflexo no espelho de um tempo passado,
Que é reciprocidade entre um beijo e uma cantiga,
Como entre o um e o Uno albergo e sou albergado

Pois é a cúpula cerúlea que a todos nós abriga,
Sou irmão do acontecer e de cada instante amado
Uma serenata imensa que a e em todos bendiga.

Entre Palavras e Desenhos

Então exilado à efemeridade de uma lembrança,
Estilhaços de um passado partilhado entre dois,
Sorrisos dados à esperança e inocência de criança,
Sim! Tinha sabor a céu azul limpo, a um futuro pois,

Vejo dois semblantes a reunirem-se em ausência
Das encruzilhadas da vida deixadas por metade,
Gatinhando no escuro por cortinas de existência
Que aparentam não albergar toda uma verdade,

Trago-a no coração, num cocktail feito de magia,
De quando dedos entrelaçavam-se em seu redor,
Alumiando a luz de sol a passagem e treva do dia,

Vertido e escorrendo por cascatas repletas de cor,
Tens palavras reservadas sob a forma de poesia
Onde eu tive esboços e desenhos feitos a amor.

O Dia em Que Ela Partiu

Aonde vamos ouvem-se suspiros à desfilada,
Sorria e preenchia-me com confetes este olhar,
Assim caminhamos rumo a uma encruzilhada,
Enquanto, triste, o sol se esconde e vem o Luar,

Lanço-me do precipício e areia e oceano absorvo,
Viramos as costas para o mar, trago sal nos olhos,
Cadáver a cadáver vamos distraindo o negro corvo,
Esbatem as ondas serenamente contra os abrolhos,

Mais um adeus, uma ferida aberta quase superficial,
Murmúrios sobre os rochedos, sem troca de promessas
Esta é a eterna elegia, a dor de não ter nascido igual,

Outra vez solidão, outra vez esta dor neste coração,
Lá vai o poeta, transviado à hora por errantes travessas,
Chama-me pelo nome e pinta-me como uma constelação.

Quando Um Dia Vier à Minha Procura

Lembro-me das horas um dia encontradas,
Como que ruas permanecendo em quietude,
Passando por segundos de algumas estradas
À sombra de escombros chamados solitude,

Do alto de uma colina um clamor em apelos,
Rasgava a pele e caminhava quase erguido,
Vinha então a neve, folhas, o sol e mil gelos
E no meio da paisagem era o poeta perdido,

Olhava para Ema com olhos feitos de luar,
Enquanto ela trepava cascatas de estrelas,
Era nela que era focado todo o meu olhar,

Pois se um belo dia eu vier à minha procura,
Lembrai-vos pouco mais fui que estas vielas
Que bela bênção e fardo, do berço à sepultura.

O Poeta Lamentando o Falecimento da Amada

Esquecimento é o único nome daquele semblante,
Vómito e convulsão para o coração apaixonado,
Cada passo dado é um eco ainda mais distante
De uma palavra que infelizmente se há quebrado,

Dormito onde as estações passam sem herança,
Esperando pela mão da donzela com a sua graça,
Enquanto me vai deixando aquela bela lembrança
De dois tal como um num reflexo de uma vidraça,

Oh outrora num beijo partilhado era toda a magia,
Passavam eternidades vividas em breves segundos
Que esvoaçavam através de noites onde vinha o dia

Por telas e pincéis, beijos e abraços, mundos e fundos,
Confesso por vezes a envoltura de toda uma nostalgia
Revertendo-se no olhar triste deste pequeno vagabundo.

Ansiando Amor ou Solidão

Vou vivendo de plumas e pedaços de quase nada,
De ideias estilhaçadas lançadas a restos de vento,
Suporto pedregulhos com ombros em derrocada,
Tendo o trilho adiante como intuito, como alento,

Só pretendo quem me queira - um voltar a casa,
Por um abraço que faça os outros enfim esquecer,
Aquele voo mesmo que breve por quebrada asa
Tenha apenas uma oportunidade de por fim viver,

As cicatrizes são as lembranças nunca perdidas,
O passado é companheiro neste breve caminho,
As esperanças e ânsias ao mundo são queridas

Pois são o que permite continuar eu sublinho,
Procurando pastos verdes por mil e uma saídas,
Por um instante eterno ou um eterno eu sozinho

Enquanto o Amanhã Não Chega

Resguardo para a intempérie, vem o amanhecer,
Cinzento e grisalho, dormitando sob o horizonte,
Sou os vértices e os cantos num terno acontecer,
O esmo poético, o poço, a sede e a sedenta fonte,

Pertenço à aldeia de crianças de um imaginário,
Brincando e ansiando num toque de incerteza,
É assim que se pincela a matiz e tom este cenário
Com ternas esperanças e fragmentos de beleza,

Amanhã quando o sol se puser terei com ele ido,
Serei porto de abrigo para a Lua e a sua promessa,
Ela tem sido a chegada sem nunca ter mesmo partido

Adormeço nos braços do entardecer desta travessa,
Por vidros azuis até um dia o tempo me terá esquecido
Portanto descanso no que este olhar luarento confessa.


Enquanto Se Espera e Ela Não Vem

Vigílias à luz da candeia perante a janela,
O sol poente a companhia com a eternidade,
Procurámos conforme esperamos pela donzela,
Pelo beijo de uma vida com píncaros de saudade,

Vigílias sob a noite luarenta de um soneto perdido,
Assim lembro o passado, os segundos e a sua sede,
Até ela vir, beldade com um céu de estrelas vestido,
Sou refém de uma vontade que não quebra nem cede,

Um pássaro negro esvoaça e confidencia seu medo,
O homem velho e sozinho corcovado numa esquina,
E a morte erguendo-se sobre ele nunca tarde, cedo...

É o crepúsculo torneando-me a vista e o horizonte,
Apenas conto com o brilho de uma frágil lamparina
Que para o poeta trovador é margem e em si a ponte.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sou Semblante Para a Sombra e Sol

Caminhando o esboço pintado pela alameda,
Eu sou rascunho para a sombra e sol em mim,
Passo a passo o eco alastrando-se pela vereda,
Esta viagem é o enlace entre o princípio e o fim,

Sou casado com a estrada e a sua hospitalidade,
Aqui hoje, tentando deixar de procurar,
É a intempérie num longo beijo à saudade
Cujo espaço em si já não tem mais lugar,

A silhueta de outros dias um dia eclipsados,
À mercê de uma brisa no rosto encostada,
Sou criança e velho ao trilho lançados,

A seta do cupido ora certeira, ora quebrada,
O amanhã vem longe e os ontens são passados
Por uma mão incerta de uma brisa amada.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Vestidas de Raízes

Vestidas de raízes e ramos de um outro dia,
A saudade do Outono, Ícaro e a sua queda,
Quase as ouço ao longe com sua melodia
Que é escuridão e luz por uma azul labareda,

As musas dos poetas de outrora são enfim
O único motivo pelo qual há de todo poetas,
Apaziguam a alma e iniciam onde só há fim,
São do superior as únicas e verdadeiras profetas,

Confidências à Lua, sorrindo, entre as suas irmãs,
Suspiros enviados à margem da estrada esquecida,
Enlevava o poeta das horas enfim tidas como más,

Pontuo  com reticências o resto do rosto da maré,
Persigo-a hipnotizado através da noite indefinida,
Deixando um bouquet de estrelas em seu rodapé.

Tal a Ardente Fénix

Tal a ardente fénix ergue-se de novo o sonhador,
Seu sorriso esboço para musas e ternas donzelas,
Tu aquele que mesmo sem amada é eterno amador
E este trilho é o teu pincelar por diferentes telas,

Estes raios de sol não são pertença, são irmandade,
Espaço para o movimento e moção para o sentimento,
De pés no chão e alma no céu jaz essa eterna beldade
Que por vezes vai de mão bem dada com o sofrimento,

Beijo o espelho e sua testa é beijada, oh doce trovador,
Tens asas arquejadas nas costas ao horizonte esticadas,
Por onde passas deixas um rasto de fragmentos de cor

Onde os segundos passam e as horas são bem amadas
Por vezes numa ferida aberta para se ocultar melhor
Pois tu és a delicadeza de tantas mãos até agora dadas.


As Núpcias

As núpcias com o beijo da suave maré,
Contava as bolhas e porções de areia,
Dormia em sonhos quase perdidos até
Por instantes altivos de luzente candeia,

Envolvido por cânticos de musas esquecidas,
Em confidências à Lua, lembrava nosso amor,
Um sonho lindo de histórias mútuas vividas,
Crescendo e propagando-se tal a mais viva flor,

Sorria entre lágrimas pela beleza conferida,
Delineando asas de assombro e esplendor
Numa praia deserta em si então já perdida,

Reaberto e esticado a todo esse belo ardor,
Oh praia deserta ainda és a minha querida,
Ainda és tu a receptora deste meu calor.

As Aventesmas

As aventesmas pairam fora desta janela,
A lua cheia é de seus nomes esquecida,
A confidente aos prantos ditos por ela,
Intima com a noite, tão suave e querida,

Quase esqueci daquela que me deu a mão,
A sua envoltura e beijo dado no regaço,
Parece que quase tenho um inteiro coração,
Parece que nem sinto falta daquele abraço,

Aos passos ecoados por uma eternidade,
Já vos beijei a mão, lanço-me à estrada,
De peito a arder e sem grande finalidade,

Sereis vós minha verdadeira e única amada,
Em vós encontro enfim o reflexo de beldade
No viandar pela mensagem desta jornada.



Seu Apelido Era

Seu apelido era a penumbra de uma margem,
Acossada pela maré, beijada pelo céu ofegante,
Assim esvoaçava e deslizava ao toque da aragem
Num momento que parecia tudo menos distante,

Esperando o reencontro eu era o simples trovador,
Com a Alma, com o criador e quem me é querido,
Ladeado por galáxias e nebulosas isto sim Amor,
Era ser aquilo que em outras vidas tinha perdido,

Procurando o toque ao fio do fim do horizonte,
Por aquele instante que é superior ou igual a Deus,
Encantado por ser e fazer parte de uma una ponte

Transbordando através de constelações, mil corações,
Estrelas, minhas perenes amadas entre eternos céus
Sou quem vai e imagina cantarolando vossos refrões.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os Buracos das Estrelas do meu Tecto

No tecto observo buracos de estrelas cadentes,
Outrora eram a companhia tal apaziguante farol,
Relembravam a luz e magia ao homem ausente,
Que as nuvens eram trampolim, voo, lençol,

Assim passavam as noites pelo trovador,
Um trilho ínfimo transbordado de um peito,
Era meretriz e ladrão do beijo do beija-flor,
Resgatado em poesia e vertido num terno leito,

Era hora de cantar, acordar e subir escadas,
Hastear o sol, acender candeias atrás da lua,
Elevado, erguido e volteado entre suas amadas

Vendo finalmente a aurora sob esta pele nua,
Buracos de estrelas cadentes tenho-vos cravadas
Na alma, pelos cantos e nas esquinas desta rua.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Visto-me de Plumas

Visto-me de plumas e lanço-me no precipício,
Com duas asas rascunhadas por uma criança,
Estes olhos são pintores para esse solstício,
Duas almas ciganas cantarolando uma dança,

Deixo a partida em abraços apertados à brisa,
Vertido na paisagem que imagino num beijo
Contido por candeias e sombras a esta poetisa
Que mora em mim entre a ânsia e o desejo,

Vagueio entre estrelas e luas de fragmentos
Da noite para o dia, procurando meu amor,
Por entre apelos largados aos quatro ventos,

A ampulheta será a minha senhora, o ardor
Das noites em que varei por acontecimentos
Junto ao vosso coração plantarei uma flor!...

Assim me Separo de Mim

Assim me separo de mim, das ânsias e dos desejos,
Divorcio do pretendido, das mazelas do querido,
Cobre-me o céu, subterfúgio do mar e seus beijos,
Vim do longínquo, sou a distância do reflectido,

Sou em mim amor universal, o filho elisiano,
Sobro de mim, vertido na tapeçaria da vida,
Esparramado por sete cores, o poeta insano,
Para sempre procurando amor na hora tardia,

Canto a maré e vocalizo a brisa na entoação
Que é este eco restante do ficado por dizer,
Quase só me falta encontrar o resto do coração

Para poder enfim gatinhar, andar e correr,
É tempo de partir, dedico-vos uma canção
Feita de luz desde a sombra deste meu ser.

Confidências

Confidências e restos de existências doutra vida,
Ladeado por sombras envolvidas na bruma,
Quantas vezes fui a chegada sem partida
E lembrança deixada sem coisa alguma,

Se até de uma calçada pode nascer uma flor,
Se do nevoeiro cerrado há espaço e caminho,
Então escolho aquele cujos passos são amor
Desde que emanados com todo o meu carinho,

Por searas auríferas cicatrizes ora diademas,
Feridas abertas enfim tornadas em enfeites,
Removem a falta de oxigénio e estas algemas

Abrindo o caminho para mil e um deleites,
Sob o assombro destes largados poemas
Há o infindo, o eterno desde que o aceites.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Emaranhado

Emaranhado assim numa teia de espelhos,
Vendo-me nu porém vestido e por baixo
Serei tal um recém-nascido e mil velhos,
Onde será que neste mundo me encaixo?

Enredado ainda ouço seus ecos pela escada,
Suspiros tornam-se lágrimas de incerteza
E sua passagem é pesadelo sem alvorada
Num trilho já trilhado rumo a vera beleza,

Enleado por bruma esbanja-se o encanto,
Rugas grisalhas tornam-se beijos perdidos,
E entre esquinas prolifera indómito o pranto

De quem morreu para mil sonhos coloridos,
Por fim repouso em gélidos braços enquanto
O presente é a saudade de mil anjos caídos…

Planto

Planto para os céus uma semente de ruína,
Esperando de palmas abertas um passado,
Também espero olvidar um dia a doutrina
Que me tolda a vista e não confere estado,

Estendo os braços para o mar inteiro albergar,
Sou filho dos que me antecederam, a quimera,
Fui tantos quanto consegui ser e mesmo amar,
E de tantos ser muitos deixei de ser oh quem dera

Poder ir no trilho do virtuoso, na dança sem nome,
O rapaz feito homem extraviado ao caminho,
Que venha o vero beijo e por mim me tome

Pois este resto é lugar quase por fragmento,
A face lunar, o viajar tão e tão devagarinho,
A parte de mim deixada ao passar do momento.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Estou Pronto

Estou pronto para ser seja o que for,
Fardos são os melhores amigos dela,
Escondem o dito, o perfume de uma flor,
Fazendo noite sem espaço para uma estrela,

Entre margens de estrelas trilhando sozinho,
O poeta perdido de sua própria fragrância,
Onde se terá ele extraviado do seu caminho?
Somos nós deste mundo sua maior distância,

Hesitamos perante a perfídia de um poente, 
Sou parto para a luz num enigma silencioso, 
Outrora sonho grandioso de fronte comovente, 

Sob um céu aberto suspirei de joelho na mão, 
Inocência respirada de novo num olhar ansioso
De tudo um pouco dela, um píncaro no coração.

domingo, 25 de junho de 2017

Estações Vestem-me

Estações vestem-me o peito de dourado,
O poeta perde-se no álcool e na donzela,
Se ele das belas musas sempre foi o afilhado
Permiti-o pernoitar onde reluz uma estrela,

Vai o tempo e vem a dolência de uma espera,
Vai indo no improviso de um jazigo profundo,
Por vezes mal tem tempo para sentir a quimera,
Que de si é toda a sua vida, todo o seu mundo,

Tratava as estrelas como se estas fossem irmãs,
Dormitava no colo da Lua e esperava por Ema,
Assim lentamente se aproximam as manhãs,

Apregoando o júbilo de Deus, o eco de uma vida,
Num instante o passageiro se torna no poema
E então nenhuma passada é largada ou perdida.

Amor, Entre Nós

Amor, entre nós as noites estão perdidas,
Espero no presente que se torna passado,
O sol poente é irmão das noites despidas
E o poeta é o filho delas tal orfão abismado,

Vem a manhã, vem o dia e vem o anoitecer,
Buscando mãos entre o nevoeiro cerrado,
Confesso o percurso errante ao entardecer,
Serei só fragmentos desse trilho quebrado?

Na palma de um velho, toda uma solidão,
Esbatendo as rugas, assolando a restante
Parte que após ter sido refém do coração

Foi fugitiva, oh gente esta vida é passageira,
Porém dá para esperar ou procurar o errante,
Que é o único caminho escondido na algibeira.

O Anoitecer

O anoitecer leva os fios reluzentes da aurora,
A presença de um deserto sem água é a sede,
Eleva-me tal a criança que um dia fui, outrora,
É trampolim para a esperança no sonho sem rede,

Estes vultos são as ausências, as noites sem Lua,
A mármore e a pedra cal de formas esvaecidas,
Erguendo-se da terra expondo-a enfim tão nua,
É o suspiro das memórias um dia enfim perdidas,

Aqui onde o Elísio se alheia da passagem da hora,
Longe daquilo que é percepcionado como gente,
O menino sozinho coloca as mãos na cara e chora,

Pois o mundo não permite que ele seja inocente,
Quando apenas pretende ir por esse céu fora,
Procurando um vaso onde possa pôr sua semente.




Procurei

Procurei com olhos errantes esse seu vulto,
Pelo silêncio das praias desertas e a sua areia,
Pensar nela ainda é de todos o maior insulto,
Espero hesitante pela vinda da maré cheia,

Esbracejo e não dissipo o espesso nevoeiro,
Trauteio uma canção há muita já esquecida,
Sinto falta de mim, sinto falta do ser inteiro,
Caminho sozinho por uma margem perdida,

Almejo uma maior memória ardente e viva,
Permitir viver e ser o fragmento de coração,
A quietude de uma alma que é ainda cativa

De um momento passado, de uma estação,
Estas preces, este outrora que a alma criva
São a esperança que vai de mão em mão.

Porventura

Porventura seria pois de uma alma exilada
A lembrança deixada na berma da margem,
Ainda vou indo no percurso desta estrada
Ignorando se este trilho tem sido viagem,

Saudades dela, de nossas mãos bem dadas,
De instantes pertencentes quase a Deus,
Era outro tempo de promessas quebradas,
Era a beleza captada por estes olhos meus,

A morte sorri-me, ofegante sou o seu passar
Daquilo que outrora passou e enfim é passado,
Daquilo que eu não consegui de todo cativar,

Deixo-te ir pois este coração é transeunte só,
Nada fica para sempre, há que seguir o fado,
Enquanto vou ficando eu, sozinho sob o pó.

sábado, 17 de junho de 2017

Vai-te Embora Rapaz

"Vai-te embora rapaz" - e fez-se noite cerrada,
Quem agora terá esse beijo, esse terno regaço,
Aquela que bela no mundo era toda a alvorada,
Para vida eterna terás em mim sempre espaço,

Suspiro perante ti a memória que é a minha saudade,
Fecha os olhos e descansa, liberta-te desta canção,
Lembrar-me-ei do teu sorriso e da infinita bondade,
Descansa mas permanece para sempre neste coração,

Desde que o rapaz se tornou homem que tempo passou,
Rugas afloraram-se no rosto, o cabelo tornou-se grisalho,
E do que parece pouco mais que instante o que é que ficou?

O teu sorriso, o teu olhar num sopro de vida emanada,
Ver-te-ei novamente por cada passo dado, no orvalho
De um amanhã sem tempo de ti, querida avó amada.


terça-feira, 13 de junho de 2017

Discursei tão Bem

Discursei tão bem naquele ido dia,
Quando vieram enfim as maravilhas
Trauteei tão repleto de luz e alegria,
Entre fantasmas e sombras - a ilha,

Suas palavras ópio para a multidão,
Dizendo o impróprio, eu sou a sede,
Estes lábios tropeçando no coração,
Através do impossível caindo na rede,

Vi então a minha flor, uma pétala caída
Num passeio entre um jardim tranquilo,
O silêncio causado pelo caos de uma ida,

Percebei, este poema é uma ode à melancolia!
Pois deixai que da amada seja ainda pupilo,
Eu… que discursei tão bem naquele dia...

Falávamos

Falávamos então de aventuras e de amor,
Abotoava a camisa, colocava o calçado,
Olhava pela janela com asas de condor
E o horizonte num instante era abraçado,

Um manhã voaremos antes dum anoitecer,
Rasgando a pele, entre as nuvens libertos,
Seguindo este trilho deixado pelo alvorecer,
Difundido por e entre suspiros tão incertos,

Ver é reparar no que além do óbvio se alcança,
Florescer ante o escutar atento e o desinteresse,
Onde fica o esquife e o sorriso de uma criança,

A escolha é subtil, perfume esperando tão silente,
Quanto menos esperamos o Universo acontece,
Sou todos num homem em si presente e ausente.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Procuro o Fim de um Arco-Íris

Procuro o fim de um arco-íris bem arrebatado,
Crescente e erecto para os céus tal prometido,
Também inocente e esperançoso quanto ao fado
Em que o homem se submete como apelido,

Procuro silencioso por um tesouro escondido,
Por ouro que não reluz à mera vista comum,
Quem o encontra um dia é então surpreendido
Por alimento que alimenta mesmo em jesum,

Procuro o paraíso dos loucos e mentes sãs,
Por mendigos que escolheram o seu lugar,
O beijo que nutre a passagem das horas más

E por fim ensina ao descrente o que é amar
Pois mesmo que até lá não soe a alguma paz
A vida e a morte sabem pelo seu tempo esperar.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Quebrados Somos

Quebrados somos histórias de dono passageiro,
Irmão, vamos incertos de mãos bem dadas,
Calcando folhas caídas sem mar ou timoneiro
Cúmplice coralinos de perdidas madrugadas,

Segue este olhar e do céu serás a pertença,
A caravela de sonhos procura cais de abrigo,
São margens passadas esquecidas da crença
Suplicando por brisa no rosto tal mendigo,

Somos nós as canções das luas partidas,
Os instantes ínfimos entre a noite e o dia,
Os passos ecoados no claustro em fugidas,

Por este fim, o fundo de toda uma melancolia,
Somos nós as luzências outrora prometidas,
O sorriso num beijo: oh como o queria, como o queria...

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Tenho Tanto de Fado

Tenho tanto de fado como de passado,
Tanto tenho eu de insano como de são,
Reúno imagens e fotos mentais em vil fardo
Que assusta e apoquenta o resto dum coração,

Fragmentos lembram o dia em que era rei,
Espiralando enquanto duas mãos se desfaziam,
Eu criança cujo medo se tornará assim a lei
Pelas sombras que na noite se escondiam,

Entre palavras, doutros lugares quase posse,
A chegada torna-se numa espera enfim,
Cuspimos vogais através de uma rubra tosse

Que parece não entender o real mesmo assim,
Sob a língua torna-se o sabor meio agridoce
De um homem que desconhece o que é o fim.

Pela Vista Desta Janela

Pela vista desta janela cerram-se portões,
Atormentado pelo vazio de um terno abraço,
Respiramos por sorte no meio de dois corações,
Errados ou certos dormíamos na ideia de regaço,

Revelamos a verdade sangrando ao vento,
Estes sentimentos irão um dia subsidir,
O sorriso retornará e num beijo todo o alento
Que um dia pensamos ter deixado de existir,

Já não penso na donzela mais nem menos,
Esta é a noite em que por último respirarei,
Beberei da fonte da solidão seus mil venenos

E procurarei nas vielas o que não consigo encontrar
Nesta viagem perdida, o que amanhã serei
Será só outro sonho que continuarei a buscar.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Poeira e Pó

Poeira e pó sobre o coração hoje cerrado,
Se ainda respiramos somos os sortudos,
Foram os amantes que deram errado,
Estamos amargurados pelas mais-que-tudo,

Poeira e pó e restos de lenços rasgados,
Escrevemos poemas para os deixar à estrada,
Gargantas doridas tornam-se sonhos quebrados,
Do princípio somos fim, quase um nada,

Piscando os olhos há tanto e tanto a perder,
As visões do ventre materno são eternidade,
Ideias são o lugar lentamente a arder,

Sombras preenchem lugares já sem lugar,
O vazio de outro beijo trazem a inverdade
De um homem apaixonado que não sabe amar.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Coração, Porque

Coração, porque me enganas com estas ciladas?
Tropeço em ti, procurando um apaziguamento,
Porém sou refém de tuas mil e uma emboscadas
Que somente me levam para a dor e o sofrimento...

Coração, porque bates e te silencias logo a seguir?
Será que perdeste a luzência e brilho de criança?
Parece que tua paz ainda não está bem para vir,
Será que a tua boémia é apenas uma lembrança?...

Coração, porque não esvoaças mais alto que o céu?
O mundo sem mercê ou sequer um pouco de perdão,
Ainda há tempo para reencontrar aquele leve troféu,

Espero que ainda haja tempo para partilhar uma mão,
Pois à sua ausência pouco mais és que lúgubre mausoléu
Onde dormita para sempre um triste e pesado coração.

Mais um Adeus

"Mais um adeus", uma outra separação,
Procuramos quem não quer ser encontrado,
Até nunca meu amor, vem minha solidão,
Vivemos a ilusão de um sonho já quebrado,

"Mais um adeus", um outro instante passado,
Viva a agonia e miséria, a lágrima do trovador,
Outra vez maldito, outra vez o desencontrado,
Quem vem não o segura, não lhe confere amor,

"Mais um adeus", uma mão que não foi dada,
Dois não alcançando hoje o esbelto horizonte,
O sorriso ido de uma cama fria, não partilhada,

"Mais um adeus" que parece nunca mais passar,
Para o beijar perdeu-se o chão, foi-se a ponte,
Será assim tão difícil ter quem nos possa amar?

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Refém de um Último Beijo

Refém de um último beijo e da sua lembrança,
Da ligeireza com que um abraço é perdido,
Torna o homem novamente numa criança,
Ficando toda uma espera enfim sem sentido,

Pois aguardámos silentes de coração na mão,
Permitindo estações passar e rios chegar à foz,
Hoje não há espaço para conceder seu perdão,
Mas não importa, para o fazer já não há a voz,

Deixando-a deixei parte cativa do meu passado,
Eu morri quando iniciaram a diferir nossos passos,
Momentos e memórias para um futuro partilhado

Não foram o suficiente para manter esses laços
Que envolviam dois numa dança e abraço apertado
Pois que durmam para sempre em mil pedaços.

Poder Adormecer

Poder adormecer nos seus braços de cimento,
Ter simples regaço e descanso, o sonho infinito,
Num retrato a ode de cores a um firmamento
Que embeleza as suas redondezas e é bonito,

Esboçando as emboscadas para um coração,
O poeta acenando a mil e uma despedidas,
Jazigo pleno para quem não soube dar a mão
E se foi perdendo à passagem pelas avenidas,

De dedos esticados quase alcanço a lembrança,
Um momento delicado suavemente retocado
Por mim, quase eu, numa sumptuosa dança,

Para mim todo um almejo alguma vez ansiado,
O ar aberto, o sorriso indelével de uma criança
Que trago nas rugas de um dia outrora passado.

Por Janelas de Vidros Azuis

Por janelas de vidros azuis observamos a vida,
Somos plumas ao vento sendo o voo alcançado
Na queda da montanha até à margem querida,
Sob o indómito desejar de um céu mais azulado,

Procuramos razão para toda uma triste ansiedade,
Para saber que temos céu e chão para o passeio,
O silêncio acontece quando isso não é a verdade
E novamente caímos, reféns desse mesmo anseio,

Almejámos mais do que conseguimos enfim voar,
Passam instantes recordando-nos do findo tempo
Daqueles possíveis beijos que já não podemos dar

E que não há quem pare este tiquetaquear lento,
Há que o permitir, conseguir os passos enfim amar
E esperar que algures belo nos leve este lesto vento.

Procuro na Estrada

Procuro na estrada restos de beleza,
Por instantes que me façam inteiro,
Pois à sua falta só resta esta incerteza
Que ofusca a alma tal denso nevoeiro,

Em certas noites vem-me o cansaço,
A fadiga de para sempre ser aprendiz,
Sou parte, fragmentos sou até pedaço
Que em si próprio diz e se contradiz,

Era suposto ter já encontrado alguém
Que trilhasse comigo a vala incerta,
Estranho caso é ainda não ter quem

Para viver esta vida vivida e sonhada,
À margem ou pela porta entreaberta
Desde que longe fosse eu e a amada.
  

Perdemos o Sol

Perdemos o sol e os passos da estrada,
Derramados em suspiros feitos de luar
Sou espectros de ecos à ida madrugada,
Atento ainda ao passado, procurando lugar,

Para mim não bastam estas mil imagens,
Preciso de brilhos em mim encontrados,
Pois à vista da morte, de cinzas paisagens,
Espero-a onde me perdi, no chão ajoelhado,

Sob a enxurrada pergunto-me pelo destino,
A última despedida removeu todo o fado,
Eu roubo, eu rogo, eu prego tão franzino

Por uma mão na minha ou um beijo dado,
Pois vai passando breve a tarde vespertina
Que não me parece levar a nenhum lado.

sábado, 6 de maio de 2017

Este Desconhecido

Este desconhecido é deste andar a incerteza,
A vigília do instante impregnada no presente,
Confere a esta passagem vestígios de beleza
Salvaguardada no coração do homem ausente,

Pedindo o possível desejando todo o oposto,
Assim me ergo onde os Deuses vão tombando,
Através e no firmamento encontrei o encosto
Para do puramente humano me ir libertando,

Guardo numa caixa toda a dor do enamorado,
O tempo passa e traz-me cicatrizes esquecidas,
Eu que os cantos e esquinas tenho aqui tragado,

Serei mais do que as breves estações perdidas?
Não, pouco mais sou do que um presente passado
E escoltado pelos dias ao rodopio das avenidas.

Era à Margem

Era à margem deste tempo pois era poeta,
Tudo de uma vez era luzência e escuridão,
Era o abrir da porta, o rodar da maçaneta,
No pequeno menino que ia de mão em mão,

Perdia-me só pelas horas enfim transviadas,
Na procura incessante e ânsia pela pertença,
As lembranças doutrora das ruelas beijadas
Pouco mais eram do que uma vil sentença,

Confesso às estrelas o indómito sentimento,
E sento-me esperando por cerúleas escadas,
Que me levem para o céu em contentamento,

Que me mostrem beleza pelas noites erradas,
Pois afinal a palma da mão é só um momento,
Onde as horas enfim se dão por idas e findadas.

Percalços e Encalços

Percalços e encalços na beira da estrada,
Luzências da noite, sombras deste dia,
Outrora era fonte, tudo e quase nada,
Mais do que muito, mais do que podia,

O último dos poetas, beijo-a na testa,
Sou, fui um semblante deste passado,
Hoje outro boémio procurando festa,
Cambaleando torto de si quase abdicado,

Mãe, dá-me a mão, puxa-me para o céu,
Estampa-me o sorriso que foi deixado
Confere-me um caixão que seja só meu,

Um pouco do firmamento tão, tão amado,
Cansado deste andar por campos de asmodeu
Por mim já tão esquecido, por mim tão ansiado.

Passo a Passo

Passo a passo, trilhando este caminho,
Na vereda do sonho vem outra despedida,
Parte-se o coração, sinto-me tão sozinho,
Assim não alcançando a margem querida,

A envolvência do mesmo olhar perdido
Entre arvoredos por ontem ensombrado,
Caindo pelo horizonte em mim expedido,
Sem destinatário e por ninguém esperado,

A brisa e o vento, meus nomes abreviados,
Através da planície, o ausente desta vida
Entre margens de sonhos sempre adiados,

Sou as ruelas, sujo e ímpio, sob a lua partida,
Poças de água choca, pores-do-sol deixados,
Atrás, os ecos largados são ósculo à avenida.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Daqui

Daqui, sonhos ausentes são acordados,
As suas plumas destas costas penduradas,
Estala a madeira sob os olhos cerrados
Pela colina abaixo apanho as enxurradas,

Canta o meu rouxinol e vem a madrugada,
Acredito em princesas e anjos do mundo,
Não sou único, punhos fechados à alvorada,
Sou a montanha escalada pelo vale profundo,

As algibeiras por nós de cabelos alinhadas,
Sussurrado por cada direcção, qual estação
Será lar para o vagabundo? Garras cravadas,

Respiro o afago de Deus e canta o coração,
Porque não me vês tu de peles pigmentadas?
Eu só preciso do arremesso dado pela tua mão.

Um Último Beijo

Um último beijo e que venha a estrada,
Seus lábios sepultura neste resto de mim,
Tanto já feito, tanta cor por aqui deixada,
Será mais do que pluma caída do querubim?

A lágrima largada ao desleixo da enxurrada,
À penúria do instante do demónio andante,
Eu, o poeta trovador tocando a trovoada,
Cativo do seu olhar ermo, frio e hesitante,

Em cada rio há um cinzeiro: eu na rua,
Minhas musas, minhas Oressas - sou recluso
Do breve passado, da minha mão na sua,

Saudade deste coração cego e alado a correr,
Saibam que outrora fui parte do sonho difuso
Pois à sua ausência por cá ainda prefiro morrer.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Este Olhar

Este olhar é pastor para as nuvens, o céu,
É amador do visto, sonhador do imaginado,
A perfeição é que nada é meu, nada é meu,
Nem o que trago nos bolsos ou tenho ansiado,

Este olhar é um coração irrequieto a palpitar,
Insano e louco, sem protecção no seu trajecto,
Travo na garganta do que posso experimentar
Indo rascunhando no beijo este breve soneto,

Este olhar é também do lado de dentro farol,
Espaço trilhado e fadado para quem procura,
Mesmo quando este se cega pela luz deste sol

Em si continua sendo a moldura do horizonte,
Onde mais ninguém a si próprio lhe segura
E onde para diferentes margens é ponte.


Estes Versos

Estes versos vêm do mar em branca espuma,
Esbatendo-se e contra o firmamento dispersos,
Caem do céu tal pétalas de rosa, uma a uma,
Para mim são céus, planícies e sonhos diversos,

Estes versos são fragmentos do plural ancestral,
De uma verdade única quase, quase inatingível,
São oferendas para o Deus de tudo o que é astral
E reflexo do homem de pluma aberta e sensível,

Estes versos são ode e apoteose para o instante,
Para aqueles momentos sempre perto do coração
Pois do eterno e imortal somos o perene amante

E o pluriverso em nós é a lembrança e a ambição,
O sorriso no canto da lágrima, a sombra semblante
Cativos da rosa dos ventos e na palma desta mão.

Este Caminhar

Este caminhar é o mistério do luar por perto,
Por onde poucos passam, lugar sem gente,
Para eles a ausência de vida é um deserto
Que se vai passando num passar latente,

Este caminhar é tristeza e toda uma solidão,
O sonho não recíproco, o avançar da idade,
Parece que já não há onde pousar a mão
E que algures perdemos a própria identidade,

Este caminhar é o ignorar, é o desconhecer,
Ter a lágrima a afunilar a vista sem mercê,
É tudo um pouco querer sem conseguir ser,

Este caminhar é este cinzento da estrada,
Trazê-la ainda no coração sem um porquê
Vivendo a busca-la, ansiando por mais nada.

sábado, 15 de abril de 2017

Os Pretextos

Os pretextos para os beijos da viagem
A procura incansável da estrela cadente,
Aquela que risca o céu e se deixa à margem
Da abóbada celeste e do homem ausente,

Aquele vertical caminhando quase inteiro,
Através dos segundos e a canção de embalar
Que é o suspiro da morte e do mestre Caeiro
Tão simples e pequeno num ínfimo almejar,

Desabando e erguendo escadas para o céu,
Oh poeta bardo, rosa e espinho na garganta
Onde todo o passado é tudo o que já deu

Então passou de mão beijada ao seguinte,
O último dia de sol e a chuva que é tanta
Que pede e dá esmolas tal abastado pedinte.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Estes Trilhos

Estes trilhos que conferem a rastos lugar
São a lágrima no sorriso do viandante,
Entre si o espaço de quem não sabe ficar
E se perde tanto em si como no instante,

Assim passam o tempo e as estações,
Num sentimento incólume à sua passagem,
É assim que se esbatem dois corações
E mil dias se estendem numa única imagem,

A pretensão em sorver um amor eterno,
Esperando o néctar de flores esquecidas,
Venham os anjos caídos e todo o inferno,

Vede! Pouco mais sou que todas as partidas
E a sua envoltura num abraço fraterno
Do beijo abdicado em infindas despedidas.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

O Amor Deste Coração

O amor deste coração é uma encruzilhada,
Onde passam beijos e algumas lembranças,
Onde a flecha do cupido se dá por quebrada
E num cofre esquecido se guardam alianças,

Desde menino o sonhador de porcelana,
Frágil e delicado numa infinda despedida
Aonde passa a hora, o dia e a semana
Quando em si próprio já não há guarida,

Esconde-se em redutos desprovidos de cores,
Lado a lado contando as sombras da viagem,
Por vezes olvidando a sua beleza e as flores,

À mercê da intempérie, refém da insanidade,
Até o que tinha por certo se torna miragem
E ele se dá perdido nesta sua terna beldade.

domingo, 9 de abril de 2017

O Reduto

O reduto para os últimos dos sonhadores,
Escapistas da alma e da mente espairecida,
Espiamos parte do não visto e seus amores
São os ósculos impedidos pela despedida,

Escorremos através do leito de uma cama,
Inscientes ao tempo de uma dádiva passada
Em que o rapaz trazia na mão a sua dama
E vinha o mundo à passagem da estrada,

Saudades de tempos idos e outros instantes,
Quando me enlevava num voo sem rede,
Por muito que pretenda tornar a um dantes

É de mim próprio que é por demais a sede,
Assim se esquecem de si os dois amantes
E vamos um sem o outro contra a parede

quarta-feira, 5 de abril de 2017

No Rosto Impresso

No rosto impresso os dedos da noite cerrada,
Perto do desencontro quase encontrado,
Vejo outra meretriz por si embriagada,
Sou ela em mim e o seu cálice tragado,

Outra garrafa de vinho e pinto constelações,
Esboço nuvens e horizontes sem fim,
Desde que não parem com os garrafões
Quase que esqueço de quem sou para mim,

Outro trago e encontra-se enfim a solução
Perdida para quem deixou de se procurar,
Até se perdem as perguntas para a questão

Então deixem-me, não me quero enfadar,
Pretendo a morte do homem de antemão
E nestes embevecidos instantes poder estar.

Pinto Seu Rosto

Pinto seu rosto nas estrelas refugiadas,
A felicidade é dos inconsequentes herança,
Eu sou ponte para seus tudos e seus nadas
Quase homem, sendo o velho ainda criança,

Preciso da procura da linha do horizonte,
Pousio para os sonhadores e seus ideais
Pois à escassez de água e da sua fonte,
Sou eu que de mim ainda preciso mais,

O resto é passageiro fugaz a traço incerto
Sussurrado no intempérie desta ventania
E é somente por ela que me sinto coberto,

Ao céu e à lua e claro ao paraíso venerado,
Que sobrem as contas que matam a magia
Desta bela e breve viagem em tom ansiado.

domingo, 2 de abril de 2017

Tenho Dois Vultos

Tenho dois vultos ao longo da estrada,
Lado a lado, um negro como o breu,
Outro com a luzência do sol à alçada
Sendo eu quem de ambos se esqueceu,

À margem da rua estranhando sua tela,
Pernoito à sua silhueta, quase acordado,
Tento beijá-los mas sou ignorado por ela
Que em mim é a penumbra sem cuidado,

Em ambos vejo este reflexo, tal fotografia,
Porém em nenhum me vejo por completo,
Então dividido fico entre a agonia e a alegria,

Entre a viagem sem margem antes da cortina,
A vós os dois vos dedico a ternura deste soneto
A vós meus vultos, o brilho da minha lamparina.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Este Vago Olhar

Este vago olhar é toda a minha solidão,
O beijo de Judas, o apontar de um dedo
Daqueles sonhos abandonados no sótão,
Hoje esquecidos num certo dia tão cedo,

Pois que seja a lua no firmamento vadio
Pois esta saudade é um véu de veludo
Que não permite a passagem ao estio
Sobrando apenas rastos dum sono mudo,

Refractados por essa longínqua confissão,
Sonho com o dia para cantar pretextos,
Por um lugar onde descanse o coração,

Me habitue à distância entre as margens,
À luz da vela ao vento que dita contextos
Um galho para pousar após estas viagens.

terça-feira, 28 de março de 2017

Varrendo

Varrendo com força a poeira doutra cilada,
Terra no rosto e pedaços deixados de leve
Nas feições da noite infinda esventrada,
Retocando o silêncio tão curto, tão breve

Que sou legado para quem perdeu a voz,
Esta outrora dada aos cantos da avenida,
Quase tal um rio extraviado da sua foz,
Haja afecto no deslumbrar de uma vida,

Haja vida no decorrer do homem perdido,
Deitado num sonho lindo quase acabado
Em constelações do que hei então querido

Que afaga os poros em impreciso traço,
Não recuso nem escuso o suspiro amado...
Para aqui, sou todo o tempo, todo o espaço.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Para Quando

Para quando os sóis caídos te entristecerem,
Eu serei chuva para a estação que não passa,
Servindo as sombras que nos antecederem,
Sem memórias de qual a avenida ou praça,

Nego as roupas rasgadas em cima da poltrona,
A poeira que vai assentando as promessas,
Os compromissos com a verdade e a madona
Enquanto caíamos desamparados às travessas,

Apenas fé e crença num amanhã enfim radiante,
Um suspiro e um pouco de força para respirar,
Por um sol que não se ponha ainda brilhante,

Por um ínfimo instante em que é possível amar
Mesmo que vá e caia e quebre ermo e ofegante,
Talvez num instante não tenha mais que procurar.

domingo, 26 de março de 2017

Tenciono a Intenção

Tenciono a intenção e a vontade de andar,
Sorver a madrugada do céu e tê-la deitada
Por este caminho sem nunca querer parar
E essa vida toda oscular e senti-la amada,

Quando vier a manhã para me levar o sonho,
Outrora eu beijei estrelas e adormeci astros,
Hoje sou a sombra ao sol, feliz ou tristonho,
Deixando atrás brilhantes e radiosos rastros,

Tal uma estrela cadente, tal um brioso poeta,
Sou um pensamento almejando o sentimento,
Nem importa por onde jornadeie neste planeta,

Serei para sempre cativo do diferente momento,
Voluteando gracioso no adejar de uma borboleta,
Através da ponte entre margens sou do firmamento.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Havemos De Ter

Havemos de ter um dia outro dia bonito,
Estalando o verniz e a madeira desejada,
A saudade é esta ânsia deixada por escrito
Tal o lento acenar da longínqua alvorada,

Os beijos prometidos à rosa e o seu espinho
É um abandono, inverno, pecado, aflição,
Este caminho sou eu logo o faço sozinho,
Porém por onde vou ainda partilho a mão,

Relembra-me um sonho em mim esquecido,
O pastor das estrelas, esvoaçando à desfilada,
Alheio, indo a esmo pelo horizonte perdido,

Pretendo mais do que eu, o céu aberto cerrado,
Estourando no grito da estrada que se vê amada,
E por cada instante senti-lo no peito bem beijado.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Assim Chovem Raios de Sol

Assim chovem raios de sol e sou profundidade,
Esperamos pelo breve instante da madrugada,
A pertença é mútua e maior que a humanidade,
Nestes passos largos dados na berma da estrada,

Indulgência é tentar ver um pouco de beleza
Pelas curvas e envolturas deste insano caminho,
Mesmo tendo na mão aqueles restos de tristeza
Que vem o sonho e então nunca estarei sozinho,

Compromissos com a arte do encontro, quase vejo,
O cego torna-se crente e a aventura é desmedida,
Por esta mão partilhada liberta-se também o beijo

Reconheço-o pelas memórias que entretanto esqueci,
Ele é no caos e no acaso, ela pela margem perdida,
Assim se estendem tal oferendas nas asas do colibri.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Somos Encruzilhadas

Somos encruzilhadas às horas errantes,
Navegando desertos procurando amor,
Outrora poetas da longa estrada amantes,
Caleidoscópios brilhantes dispersos em cor,

Vêm as bermas das ruelas próximas do peito,
Mendigo e imploro por um instante de paz,
Por amor para preencher este triste despeito,
Dizer adeus à dor e plenificar as horas más,

De olhos iridescentes, descanso em regaço,
Para assim eternizar o coração hoje ausente,
Buscando conforto na ternura de um abraço,

Ambas sombras reflectindo a luz perdida,
Só anseio acordar este coração dormente
E marear esta barca para uma costa querida.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Beijos de Boas Noite

Beijos de boas noites enquanto não chega a manhã,
Poços sem fundo e a alma em si prisoneira,
Escapes com sapatos de chumbo e pés de lã
E restos de vestidos rasgados atirados na lareira,

Entre dias, agonias e pedaços de fragmentos,
Irradiam minhas alegrias deixadas a metade,
São pertença do poeta seus mil e um tormentos,
Trago o esquecimento de toda uma vontade,

Vimos do resto esperando um beijo leve,
Esvoaçando, perdurando, lua na algibeira,
Sendo tão pouco, sendo tão pequeno e leve,

O beijo que não passa quase alcançado,
Deixando os poucos num pouco de poeira
E no pouco quase, quase nunca beijado.

terça-feira, 14 de março de 2017

Nego a Indecisão

Nego a indecisão face à encruzilhada,
Onde estás sonho alado, asa de primavera?
O amor sozinho sabe a pouco, sabe a nada
E não compensa a insanidade da espera,

Trazendo no olhar o beijo imenso de outrora,
Os ecos dos passos suspirados à berma da rua,
Aonde passam os segundos e não vem a hora
Todavia confessamos o feitiço da briosa Lua,

Largamos as malas carregando seu conteúdo,
Aos ombros fantasmas, vultos e semblantes,
Entre trevas e luzes jaz apartado um miúdo

À procura do que se alheou da sua algibeira,
De cores e íris para as ser enfim suas amantes,
Da interrupção da morte do poeta, desta canseira.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Sou o Filho do Meu Pai

Sou o filho do meu pai e o meu pai é a ruína,
O viúvo da boa vida, desta geração órfã,
A orfandade é pertença, herói e heroína
Sem ver o brilho de um frutífero amanhã,

Passeio breve para a intenção de futuro,
Beijo curto na testa de Judas o pregador,
Liberado porém rodeado por um muro
Cuja parede é feita dele próprio e labor,

Geração sem propósito, perdida no trilho,
Desejando estrelas sem conseguir voar,
Assim morreu o pai, assim morrerá o filho,

Minha viúva és mátria ausente à intenção,
Devagar devagarinho esquecendo o sonhar,
Actualmente quase sem céu, quase sem chão.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Esta Saudade

Esta saudade de um tempo passado é uma ilusão,
Arrastando segundos para baixo e eu ensobrado,
É como suster a respiração dentro de um caixão
E numa esquina da noite cair então recostado,

Estas crenças póstumas, esta vontade de viver,
De quando eu era nome e verbo para esvoaçar,
Largam na praça palavras suspiradas a esquecer
Outros tempos, outrora e quão difícil é se dar,

Beija-me as cicatrizes e faz do amanhã promessa,
Há clareiras para receber em júbilo nosso enlevo,
Então seremos sóis a esbater a sombra da travessa,

O espelho do já não visível em esbelto sentimento,
Acreditai em mim, até juro ir por onde não me atrevo,
Assim espero que o mundo se deslinde deste sofrimento.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Sonhos Frágeis

Sonhos frágeis do quase-homem a quase sonhar,
Desfloro virgens no seu coração e sou partida,
E por onde vou jamais fico pois não sei ficar,
Serei sombra póstuma de uma primavera querida,

Adormeço no regaço de fantasmas e semblantes,
Vultos negros e opacos, seu rosto ainda é o meu
E todos em mim são as lembranças ora distantes,
O palpitar deste coração bate inquietamente no seu,

O cansaço da viagem, ofegante entre os lençóis
De uma estrada intransigente passando por mim,
Mal tempo há para ver o rio, ouvir os rouxinóis,

Sou refém e prisioneiro de mim e dos segundos,
O aprendiz a homem, a criança perto do seu fim,
São todos eu e em mim, todos os meus mundos.

Dormito Para o Amanhã

Dormito para o amanhã pela noite sem fim,
Colocar o lápis no caderno é encruzilhada,
Pois à escassez de cor, vejo que é assim
Que não sai nada, não sai nada, não sai nada!

Por onde agora passo parece já não haver lugar,
Sou o aventesma deslizando entre as cortinas,
Com tanto já feito e com tão pouco para contar,
De olhos rasos de negro anseio por mil lamparinas,

Entre flores tristes e baldias tombo do firmamento,
Sem brilho onde enfim possa docemente repousar,
Por vós ainda ecoa a silente voz a todo o momento

E bate calado e esventrado um quebrado coração,
Aguardo o fim pois inícios já não sei principiar,
Então que venha a sombria morte e me dê a mão.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dias São Precisos

Dias são precisos para respirar este instante,
Passeando pela berma do silêncio escutado,
Vêm cores passadas onde o lunar é errante
Das formas e feições que lembram o ansiado,

Estrelas cantando um rio de sonhos cadentes
Onde as nuvens são barquinhos a navegar
Quase tornam o céptico novamente crente,
Quase tenho de novo nas constelações lugar,

Entre as mãos trago o resplandecente amor,
Aqui esquecido à silaba ainda não proferida,
Mais forte que a morte, toda a alegria e dor,

Guardo a esperança no peito desta brisa ida,
Onde esvoaço alto indo em asas de condor,
Não sou do povo, em mim sou apenas partida.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Beijos e Elegias

Beijos e elegias são o mesmo para o poeta,
Abraços ou caixões assim tanto se lhe faz,
Vem a vida e sua preguiça à hora indiscreta
É a ausência de futuro através das vielas más,

Morrermos nos braços de quem é passado,
A espera de quem vê o mundo a passar,
Silêncio à viagem e ele à noite encostado
Indisposto a aprendiz ignorando como amar,

Então, errantes, desejamos a lua e o sol,
Aprendiz a amador, pássaro sem pluma,
Suspiro pela alvorada refém do seu anzol,

Vai por cruzamentos há muito esquecidos,
Seu olhar esvaecido entre a densa bruma
Assim um dia partirá de braços estendidos

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Entre Roupas Rasgadas

Entre roupas rasgadas e lençóis amarrotados,
Ali havia espaço para o derradeiro abraço,
Agora só há tempo para olhares apressados
Meio perdidos à inexistência de vero regaço,

Suspiro às ruas por um instante passado,
Colorindo a abóbada a traço impreciso,
Por este olhar quase vejo o já quebrado
Enquanto esperamos o regresso do sorriso,

Coleccionámos pensos-rápidos para as cicatrizes,
Adormecendo no colo do sono sem sonho,
Lembrando vezes em que fomos mil meretrizes

Acossando a sombra da noite pelas vielas da vida,
Perseguindo o éter fosse este alegre ou tristonho
Sendo pouco mais do que pertença na despedida.


Por Vezes

Por vezes sou só a poeira sob o soalho,
Outras as bugigangas esquecidas no sótão,
Porém em vida serei mais que um espantalho
Em renúncia de anos vertidos num caixão?

Espero onde me perco, o beijo esmorecido,
Em vielas feitas de promessas quebradas
De quando o seu olhar era por mim lido
E por nós para o céu ainda havia escadas,

Sou apenas consoantes esperando a vogal,
Para dar sentido e êxtase à mirabolante viagem,
A palavra escrita no seu eixo, à marginal,

Confere à procura algibeira até à passagem,
Esperando por um regaço longe do abismal
Por uma réstia de amor, para o coração aragem.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

À Vigília

À vigília desta longa noite sem fim, sorrio,
Tenho aqui cestos vazios e papel amarrotado
De um tempo em que era um simples vadio
Sendo deste próprio trilho desencontrado,

Sem reaver rimas, mudando estas estações,
Como o lento relembrar de uma fotografia
Que não conseguiu captar as constelações
Seremos para sempre contrários à travessia?

Por onde o vento vai levando restos de amor,
Pelo menos aconteceu, senti seu alvorecer
No brilho ocular de uma criança e sua cor

Pretérito perfeito da lágrima, deste chover,
Quando o dia cair já não sentirei essa dor
Hoje sou a madrugada deixando acontecer.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Liberta o Poeta

Liberta o poeta do cerco desta muralha
Nesta noite feita de pedaços de cinzento,
A guerra das flores vem e a sua batalha
É o céu de lado e do trovador o lamento,

Assim se repetem os passos nesta calçada,
O brilho tremeluz na candeia da ansiedade
E novamente vem ela, vindo em noite cerrada
Por onde nada passa à excepção da saudade,

Seguindo restos de fumaça onde não há fogo,
Por fragmentos de um sentimento já extinto,
Vem dia quanto eu imploro, quanto eu rogo,

Trazendo ao amor vestidos rasgados e caídos
Onde só há copos de água que haja de tinto,
Por fim nos dêmos como loucos e perdidos...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pendurada da Lua

Pendurada da lua hoje a terna Ema existe,
De um alpendre avisto-a em sua brincadeira,
Umas vezes tão e tão alegre outras triste
Porém sempre a acordar-me desta canseira,

Sinto-a onde os dedos alcançam o horizonte,
Onde os pés descalços lembram a areia
De um deserto onde por vezes não há ponte
E quando há esta é feita de pedaços de poeira,

Ema, coloquei-te na gaveta de um bonito sonho,
A régua e esquadro em rascunho de firmamento,
Algures somos parte do mesmo estelar risonho,

Algures somos parte de um único momento,
Virando as costas a este mundo enfadonho,
Somos faces opostas do mesmo fragmento.

Todo Eu Sou

Todo eu sou pássaros querendo voar,
Em mim reféns, em mim a cela distante,
Todos eles anseiam o momento de escapar
Pelo fogo ardente, por um voo inebriante,

Todo eu sou colibri procurando cores,
Em mim prisioneiras, em mim parte cativa,
Buscam algures onde perdi mil amores
E nessa procura fazem de mim parte viva,

Todo eu sou pluma esvoaçando ao vento,
Abraçando nuvens, esboçando constelações,
Vendo onde há vista neste olhar luarento

Por onde passam ágeis pássaros e estações
Quando tudo que é vida é moção, é movimento
E tudo o que flui flui entre diferentes corações.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Primeiro Houve Amor

Primeiro houve amor e todo o esplendor
Do beijo ao abraço largado no regaço
Da juventude em proa e tanta cor
Que de mim ainda falta um pedaço,

Em cimento é o cinzento tão inevidente,
Há flores recentes na nossa sepultura,
Assim marcham sobre a vala do ausente
Por obscura sorte para sempre à procura,

Perdidos há muito no espaço e no tempo,
Semblantes que anseiam dar enfim a mão
Através de um só beijo em contratempo,

Mudaram as sombras ficou o mesmo vulto,
O aprendiz a amador com o seu coração
Que suspira uma prece devoluta ao oculto.

Estes Lábios

Estes lábios prenúncio para a alvorada,
Conferem-me um pouco de firmamento,
Alguns têm-no no olhar claro da amada,
Outros na impermanência de um momento,

Queridos amigos sou beata num cinzeiro,
Outrora brilhava ardente sobre a planície,
Parece que um estranho levou o candeeiro
Ficando eu no escuro, longe da superfície,

Almas desencontradas são aqui procuradas
Onde jazem desejos e ânsias doutros tempos,
Quando foram percorridas mil e uma estradas

Algures à margem ficaram restos desta vida,
Tal gotas de água, vertendo-se noutros ventos,
São pedaços de beijos assinalando a partida.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A Lua Escutava

A Lua escutava as confissões dos perdidos,
Recolhendo no seu colo seus tristes lamentos,
Assim tal poetas se sentiam finalmente ouvidos,
Enquanto o mundo era seu no passar de mil ventos,

O Oceano esquecia suas próprias ondas ao deserto,
Um rosto de areia as embebia magistral e soberano,
O rebatimento então dava-se por inteiro, tão incerto,
Era tal a Primavera dando-se por mero acaso, engano,

O Céu por fim jurava Amor puro e incondicional,
Por favor desce à terra, enfim a poesia faz sentido,
Nasça o seu beijo, adeus Morte tão vil e tão banal,

Via-os luzentes no claro olhar da minha amada,
O dia espreitando no raiar de um sol prometido,
Trago-os sobre o ombro nesta viagem pela estrada.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Do Lado de Dentro

Do lado de dentro pedras da calçada,
Vendo para fora os tijolos deste muro,
Aqui parecem conter um enorme nada
Sem uma candeia para alumiar o escuro,

Sorrio para a sombra deste semblante,
À rima de um Outono então esquecido,
Dá-me a mão e passeemos pelo instante
Até esqueço que há muito este há partido,

Somos o murmúrio largado no suspiro,
O eco dos passos deixados na margem,
Quase sinto seu passar em remoto retiro,

És abismo em mim porém parte da viagem,
Sou parte do já eclipsado que ainda respiro
No olhar azul de quem ainda vê a miragem.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Levá-la-ei

Levá-la-ei para casa, sem olhar para trás,
Afogar-me-ão por dentro mas até quando?
Outro dia sou passageiro pelas horas más,
O sol erguer-se-á assim é seu memorando!

As escadas ascendentes para o céu aberto,
Exílio para os caídos, os ruídos abafados,
Perdidos no santuário do homem incerto,
Plumas ao vento e com fantasmas alçados,

Hoje espalhámos palavras ao sabor do vento,
As cicatrizes e pedaços de silêncio quebrado,
Passeio sozinho no pátio em tal vil tormento

Cujo rosto é arco e flecha no coração partido,
Sou seu beijo, candeia neste escuro estirado,
Que veja assim enfim o sol outrora prometido.

Ser - Vi

Ser - vi no canto do olho a vindoira manhã,
À sombra do homem que é de si  fugitivo,
Entre a noite e as beatas do cinzeiro amanhã
Serei refém do sol-posto em meio adjectivo,

O suficiente para me manter em tal clausura,
No instante passado que aparenta não passar,
Olho para trás e rememoro dias de ternura
Que estupidamente teimam em não ficar,

Errando entre tramas de realidades diferentes,
A distância algoz entre mim e este semblante,
Sou em mim porção e fracção de um presente

Que se negligencia por quem é só passado,
Quando do céu deveríamos ser o amante,
Um SOS, um socorro em silêncio fraseado.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sussurram as Folhas

Sussurram as folhas à margem da estrada,
Entre o asfalto a vista de uma última flor,
Adormeço os sentidos em terna almofada,
Sou o romântico que se estranha do amor,

Vem a ilusão de quem prende uma vida,
Pouco ouço da bela serenata do trovador,
Queixume das almas cansadas em partida,
Assim penando se disfarça toda esta dor,

Ficou a saudade e píncaros de nostalgia,
Hoje a pretensão é jazigo para o sonhador,
Logo cessam as vozes que alteiam a magia,

O desejo é ânsia toldada no mais alto clamor
Nele onde nos erguemos em tons de poesia,
Sobre o vale abrindo nossas asas de condor.

sábado, 21 de janeiro de 2017

As Pedras no Asfalto

As pedras no asfalto são parte do muro
Onde o triunfo é estigma no sonhador,
Assim a candeia se pavoneia no escuro
Em ignorância sobre o que é o amor,

Os sorrisos tornam-se beijos à calçada,
De cabeça aberta e de dentes partidos,
Por onde estaria a alma desencontrada
Quando até os instantes já eram idos?

O resto cãibras no ombro do quase morto,
Nelas a recusa para a moção, para a vida
Pois então não havia abrigo nem porto,

Tornando-me eu parte desta encruzilhada,
Quase vejo em mim o ponto de partida
Neste caminho cujo rumo é face a nada.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

É Este Tempo

É este tempo que leva o tempo embora,
Eu sou o estranho olhando o abismo,
Ouvindo a enxurrada a cair lá fora,
A realidade é carrasco do romantismo,

Prisioneiro em mim nesta inútil paisagem,
A brisa não sentida a saudade lembrada,
Seu rosto tornando-se parte da miragem,
Então este caminho, sozinho, é quase nada,

Fecho os olhos, suspirando outro sorriso,
Outrora íamos ligeiros de mão em mão,
Hoje orno as estradas a passo indeciso

Num mundo onde já não importa o coração
Porém de amor, de cor, de flores preciso
Terei enfim perdido seu tempo e estação?

sábado, 14 de janeiro de 2017

Nunca Houve Um Momento

Nunca houve um momento enfadonho,
Escorro por mãos para o rio de plumas,
Passam as noites e demora a vir o sonho,
Sou náufrago em mim e coisa nenhuma,

E o vento uivou, o vento passou por aqui,
Deixando o instante, levando o passado,
Quedo-me no silêncio do pestanejar em si,
Preciso de céu e espaço para o ansiado,

Esta dor de peito, esta leve dormência,
Escrita no olhar de que tem de esquecer
Para se lembrar de si, não sua ausência

De quem há partido, de quem quer morrer,
Estas são palavras de amor e condolência
Para Deus, para o destino enfim acontecer.

Recordando Outro Rascunho

Recordando outro rascunho e identidade,
O coreto onde ia murchou e derrocou,
Anoitecendo e alimentando a ansiedade
De quem se perdeu do fôlego e suspirou

Por saudade, soldado dos tão perdidos,
Vivia a me procurar e o resto era só morte,
Eram então precisos mais de mil cupidos,
E a noite vinda esvaecia toda esta sorte,

Encostado ao meu ombro, beija o firmamento,
A morte aproxima-se neste lento pestanejar,
Porém este é o único instante, o momento

Para finalmente reaprender a chorar
E mostrar o que está oculto por dentro
Enfim percebendo onde irei acordar.

Escadas em Espiral

Escadas em espiral vou descendo sem varão,
Calma ainda não é tarde, passa o mundo,
Daqui o poeta se embala com a sua canção,
Aonde quer que passe é sempre vagabundo,

Proclamo endechas e elegias aos nascimentos
Da beleza em negridão que tanto lhe afigura
Esta presença atormentada por momentos
De outras eras, da fadiga vinda da clausura,

Alguém bate à porta, arauto desta mensagem,
Quase vejo colinas e searas ondulando ao vento,
Escrevo-lhes versos em silêncio tal homenagem,

Dedico-lhe beijos nunca dados, o eclipsado fim,
Quebrarei um dia estas ponte, este sentimento
Que adia os dias de vida que não vêm enfim.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Perseguindo Fagulhas

Perseguindo fagulhas feitas de nada,
O rosto da lua de costas para o poeta,
Hoje não haverá voo por esta noitada,
Pela algibeira ficará a cor da borboleta,

Deito-me e adormecendo nesse repouso,
O sonho sublime ofegante por serenidade,
Entre um trilho de plumas onde ainda ouso
Escapar à asa quebrada sob a sua beldade,

Ansiando por ela, seu fantasma, sua aparição,
Um enigma suportado por um Elísio em poeira,
Esparso nisto, uma jornada de um uno coração,

Ambos perdidos na enxurrada daquele beijo,
Esquecido enfim entre os espinhos da roseira,
Sim, morreria agora, só por um último desejo.