quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Pelo Oceano Tolhido

Braços vazios e promessas levadas com a manhã, 
Caminhamos pela água sonegando-a por estrelas,
Têm as escadas para o céu ontem, hoje e amanhã,
Sentindo-as nas mãos vamos colocando-as em trelas,

Estas cicatrizes são memórias que nunca esqueceremos, 
Instantes hoje sem voz, coloridos pelo pincel do tempo,
Parece que estes dias são apenas para contemplarmos,
A vida é termo cinza, árvore cujo fruto vai com o vento, 

É a tempestade e a calamidade do embate do coração,
Ondas de esperança e o rosto por lagrimas preenchido,
O conforto não virá e invés virá a chuva, virá a moção,

Adormecemos com fôlegos curtos em oxigénio enrustido,
Num mapa arterial delineado nas veias, no galope da canção, 
E nessa narrativa, nossos beijos vêm e vão - pelo oceano tolhido.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Para de Mim Ser Menos Distante

Um sonho para um insomníaco e por fim há sono, 
Despachai-vos e esperem, este é de loucos o barco, 
Pois esta tentativa de sonhar é pé sobre folha de outono,
Sem outras estações, neste rosto encontrareis um charco, 

Para além do horizonte, o caminho estreito torna-se casa, 
Vivendo a Vida como se não houvesse algum amanhã,
Vamos beijando a abóbada celeste fluindo de asa em asa,
Assim alimentando uma esperança que é tudo menos vã,

Pintando segundos refractados por espelhos poeirentos, 
Lembrando a criança de uma vida regressada, a estória,
Como bolas multicolores dissipando-se na rosa dos ventos,

Por vezes esta mascarada cansa-me, e eu somente semblante
Vou procurando qual o lugar, qual a casa, qual a escapatória
Para fugir, para reencontrar, para de mim ser menos distante.




domingo, 14 de agosto de 2022

Esquecendo a Eternidade

Sim, amanhã se me afogar nas águas rasas, 
Dar-me-ias a mão, puxar-me-ias para cima?
Custa-me a voar com estas quebradas asas,
Vasculho o páramo para a estrela mais ínfima,

Preciso de brilhar, ser a constelação mais brilhante
Que concede esperança ao triste e lúgubre sonhador,
Imortalizado ao passear, deixando um rasto fulgurante,
Numa infinitésima dança como para sempre amador,

Lancem-me no mais alto dos devaneios, o sonho alado, 
Caminho tal os pássaros pelo azul celeste então estirado,
E então ar fresco acorda-me, cessam as vozes dos malditos,

Perdido trago mapas colados nas sobrancelhas em gritos inauditos,
E amor em pulsos cortados e largado à indiferença de um olhar,
Vos apresento o viandante que lentamente vai esquecendo o voar.

(E cuja eternidade vai deixando de o ecoar...)

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Não Abstido de Amar

As ondas eram na mão então docemente trazidas,
Uma lágrima no oceano para o ver a transbordar,
Hasteávamos a vela e deixávamos a costa querida
Pois não é possível para sempre no dia pernoitar,

A janela do vidro azul sabia também o nosso apelido,
Entretanto prostrado atrás por nunca ter cicatrizado,
De tantas vezes ser translúcida num olhar esquecido,
Chamava-lhe de irmã pois no fim nos ter encontrado,

E aqueles que nos fizeram esquecer esse cantarolar,
O murmúrio que ecoamos pela vizinhança do sonho,
Mais tarde ou mais cedo iremos por fim reencontrar

A verdade que é nossa e de um caminhar mais risonho,
Ao destino desvendado por um Deus não abstido de amar
E um Amar altivo iluminando o escuro e o medronho.