segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A Ver Estrelas

Decora-me as pálpebras com briosas estrelas, 
Numa tinta sem corrente, esperando por alguém,
Pois assim, assim de repente sou tal como elas,
Acompanhado bem alto no céu e para lá do além, 

Sem ti, sinto-me perdido, não há sequer libertação, 
A sombra da pluma passageira esvoaçando adiante
Não consegue abraçar o Sol apenas esta inquietação
De ombros encolhidos e palavras inauditas, o amante

Que partiu, rasgado e esfarrapado, num silêncio de afogado,
A casa desabitada, por debaixo dos pés o ranger das folhas, 
Os últimos pingos de chuva arrumadas num dia engavetado, 

Procuramos a sede de toda uma constelação, a imaginação, 
O sonho, a quimera, a chuva caindo enquanto vais e olhas
Para os pássaros cantando que nos acordando vêm e vão.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Os Pregos Assentes

Domingos à noite sou rio a entrar em estuário, 
Foz de uma memória, riacho para um instante, 
Indo de maré para maré donde vem o obituário
Do dia inconcluso, o sono perpétuo e relutante,

Há feridas ainda por abrir, sonhos por adquirir, 
Porém enfrentamos quezílias, a batalha infinda,
O corpo torna-se corrente para o céu encobrir
A terra de nuvens, ansiando uma manhã linda,

A maravilha do olhar de uma criança, desinibido,
Inquirido pelas estrelas, as paredes ruem enfim, 
Traz-me conforto, enfim é o princípio do querido,

E os pregos assentes nas mãos e pés caem por fim, 
Ajuda está a vir! O rio fluindo no até então preterido,
Desafogando as quimeras que vão brotando de mim.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Poema da Solidão

Para os poetas, um beijo é quase um desejo,
Um instante no tempo ao vento quase perdido,
Pois o passageiro deixa atrás sombra, almejo,
Somos pluma sem asa num momento já ido,

Carrego-os aos ombros, leves, quase pesados,
O restante é ideia e pedágio, perdão, pecados,
E eu a solidão de meia mão sem outra mão,
O bocado que não ecoa longínquo no coração,

Esperando por bilhete para entrar no comboio,
Ruptura da mente, somos aqui recém-chegados
A um ponto de partida neste trilho tão rastoio

Onde falham as pernas para caminhar, para ser
Pena na boca de pássaro-azul, somos pernoitados
Por um dia que não chega, o horizonte do não ver.