sábado, 31 de março de 2018

Do Meu Coração Ao Ar

A premissa é simples, é apenas trilho passo a passo,
Escapando de mim por tanto me querer encontrar,
Escondo-me no nocturno, nos rails e seu espaço
Pois sou tal como os pássaros ansiando voar,

Amor, sou todo roupas rasgadas, a palavra incerta,
O perigo de andar perto do precipício aberto,
Sou a sua queda, a manhã por névoa encoberta
E eu quase a dormir ansiando estar desperto,

Aqueles segundos que partiram, são em mim,
Por isso sinto intensamente, sou furor insano,
Todos os que já fui ressoam quase sem fim,

E no fim sopro as velas e espero ter sido vertical
Pois o mundo é Judas, é a passagem ano a ano
Onde vimos e partimos, ora bem, ora mal.

Ansiando Viver o Instante

De dedos esticados para a outra margem,
Braços oblongos, esperando pela alvorada,
Impaciência é esta moção, é esta viagem
Que tanto nos dá como nos deixa sem nada,

Olhos entreabertos, sou bússola para o instante,
De passo apressado, encontrado e perdido,
Assim por mim passa o vento em tom errante
E vou indo amor, sou da estrada o foragido,

A lira de Orfeu e até Ícaro e a sua queda,
Professo o beijo à berma quase sem querer,
É o submergir em água sendo quase labareda,

Sorrio, sou o poeta meio doentio e salutar,
Agora chegou a minha hora, há que a viver,
Pois este é o único instante possível de amar.

terça-feira, 27 de março de 2018

Quero Tudo, Quero Nada

Margem e pedaço, onde pára o meu querido?
Desejo o impossível, anseio o inalcançável,
Parcialmente perdidos esse é o meu apelido,
Não será esse o único amor realmente habitável?

A busca, a procura, ver-te enfim em sorriso,
Escondendo-me em tua miragem, sem escapar,
Refugio-me no abrigo de mim, isso é que preciso,
Esse é o único instante que é possível enfim amar,

Quando me for, serás para sempre em mim,
Eterna, perene, naquele dia que já passou,
Soletro a sua passagem em maiúsculas por fim,

Frinchas por onde o sol passe e me beije o rosto,
Assim é o fado do homem que o instante amou,
Sou sol e lua onde vivo e morro por quem gosto.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Aquela A Quem Não Há Pertença Mas Eu Pertenço

As ruas fechadas e as vielas  encruzilhadas,
Suspiram-me seu nome num beijo perdido,
Pois meu coração é seu tal carta manchada
Que ignora remetente ou qualquer sentido,

A noite, rainha e mãe dos bêbedos sem nome,
Sou vontade e inverdade do instante eclipsado,
Onde cada homem seu irmão enfim carcome
E o seu rosto é a partida do já extravasado,

A saudade do seu abraço, seu simples envolver,
A mentira do silêncio de um triste coração,
Ela é tudo aquilo que já não consigo conter

A vontade de viver e morrer, a bendita maldição,
Oh amor és o meu tempo e espaço, meu querer
E a minha alvorada e noite, a minha perdição.

sábado, 24 de março de 2018

Quando Ela Se Torna O Ontem

Para casa caminhamos novamente sozinhos,
Dos charcos de água a sua face reflectida,
Ao ir alheamo-nos dos nossos caminhos,
Anseio chegar um dia a essa margem partida,

Escorrego entre as falhas do chão, sou refém
Daquilo que almejo, dos fantasmas no armário,
O viandante esse, sempre procurando o além,
Sua canção é raiz, é o deixar aqui deste poemário,

Abraçando o fortuito, o eterno é ansiado,
Sou absurdo de cabeça erguida para o infinito,
E é neste aqui que o intencional é recriado,

Assim eu persigo a sombra do seu semblante,
Onde mato e morro, me emudeço e sou grito
E ora me encontro, ora perto, ora distante.

sábado, 17 de março de 2018

Amor, Contigo e Para Contigo

Noite, cai em mim tal negra enxurrada,
Fulgurante e extensa varre o horizonte,
Vou deixando rastro sem deixar pegada
Pelo beijo não dado, pela ardida ponte,

Somos os cavalos selvagens correndo alados,
As lagoas dos sonhos, a procura da primavera,
O firmamento aberto e o escapes criados,
O respirar e suspirar por uma nova era,

Dentro de mim demoro, saboreio o instante,
O vendaval do coração, o homem ausente,
Amor dá-me a mão, vem comigo hora adiante

A partida é toda a chegada, é este presente,
Quando já não basta o que é bastante,
Refugio-me em ti esperando ir em frente.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Entre Nero e Romeu

Componho para o tempo um soneto,
Embalo-o sendo embalado o segundo
E questiono sua urgência, seu aperto
Enquanto por mim passa todo o mundo, 

Ouço a cantiga da sereia, sou cativo,
Perco-me aqui e em mim, encontrado
E quanto mais morro mais ainda vivo,
É o sortilégio e a bênção do já tocado,

Só mais uma para o caminho, sozinho
E vem a multidão rasurando o rastro,
Socorro-me ao abrigo do escaninho

Onde sou o espaço entre Nero e Romeu,
E para sempre o sempre cadente astro,
Sou o suspiro prometido, sou traste, sou troféu!

segunda-feira, 12 de março de 2018

Nada Dura Para Além do Aqui

A noite é anfitriã da passeata dos desencontrados,
Deslizamos ligeiros através de corredores sem fim,
Por onde passamos deixamo-nos em bocados
Tal aventesmas outrora felizes em vida, meio assim,

De lágrimas no riso, é difícil ser o romântico sonhador,
Com o sol nas costas partilhamos esta caminhada,
De joelhos rasgados, costas doridas és tu o amador
Que regozijas e pranteias suspiros ante a escada

Que leva para o céu e para o inferno, eis a procura,
O instante de silêncio onde se vai o ruido de fundo,
Pois a verdade amigo é que nada no mundo dura

Para além do intérmino indomável de cada segundo,
Encontro meus congéneres, da doença virá a cura
E esta é só prosseguir nos passos do vagabundo.

domingo, 11 de março de 2018

O Cancioneiro dos Apaixonados

A noite é a anfitriã das almas desencontradas,
Suspiro pelas alcovas o beijo outrora perdido,
E pincelo o papel com palavras manchadas
Onde seu eco ainda é sussurrado neste ouvido,

A tristeza e a solidão de braços com a melancolia,
O poeta é menino, é almofada para os sentidos,
Enquanto no bolso da algibeira coloca a poesia
Se tornando silêncio, prisioneiro dos já partidos,

Este é o cancioneiro dos já tomados pelo vento,
O vendaval é livre nos meandros do seu coração,
Quando o amor morre e esmorece o sentimento,

Aqui impera a saudade de andar de mão em mão,
De borboletas no estômago, a voz, o chamamento
Entre dois, a falta de fazer parte dessa imensidão.

sexta-feira, 9 de março de 2018

O Desculpa e o Obrigado

O nocturno é o fantasma dos desvalidos,
Di-lo como uma bênção, di-lo como uma oração,
Alheiam-se das vielas os rubis pretendidos
Enquanto nos bastidores se quebra um coração,

Ladeados por espinhos faz-se o caminho,
Vai indo o viandante por onde o levar o vento,
Fechando os olhos vê um beijo, um carinho,
São estes para o trilho o maior ornamento,

Amor, ainda és a rainha, a mulher, a donzela,
Do cavalo branco sem rédea, do rei sem trono,
No firmamento a única e mais altiva estrela,

O sorriso do sonhador, aquele sonho sem sono,
As pétalas da rosa, a guerra das flores, a janela,
O desculpa e o obrigado, a primavera e o outono.

terça-feira, 6 de março de 2018

Dois Estranhos Familiares

Promete-me a Luz e deixa-me ao escuro,
Sou criatura e noite, vitima desta contenda,
Preciso de amor, do toque meigo e seguro,
De nós dois como apoteose desta oferenda,

Pergunto sobre o porquê há-de ser assim,
Distingo o seu semblante, agora e depois,
Pois se eu gosto dela e ela gosta de mim,
Neste instante somente espero por nós dois,

Um chorinho e um brinde ao meu único amor,
A esta dor, a este momento, a este sofrimento,
Anunciando a luz do dia mesmo que incolor,

Não há solução, apenas ânsia e preocupação,
Suspiro seu nome, deixo-o como testamento
Da vertigem irregular da porção de um coração.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Não Pertenço Aqui Nem Além

Pertencer é difícil no ritmo desta vida,
Depenamos a coroa e perdemos o fio,
Quantas vezes vem o inicio, a partida
E esperando ficamos à chuva e ao frio,

É neste aqui a vida e a morte de mão dada,
A viagem tão incerta para o lesto viajante
E eu, jornada, beijo para os lábios do nada,
De poça em poça e de amada em amante,

Nascido em segundos logo desencontrados,
Vai a folha caída pelo vento tumultuoso,
Daqui ao além há espaços albergados

Por um tempo com termo e na face jocoso,
A procura por um lugar, por beijos demorados
Por um poeta escrevendo em tom ansioso.