quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Tal Mariposa

Ninguém repara em nós enquanto passa o mundo,
Os transeuntes deixam-nos num sítio bem escuro,
E eu cheio de escarro, pus e sangue tal vagabundo
Em torno de uma luz rodopio, o Sol ainda procuro,

Falha-me a visão, cego hei-me tornado meia vida,
Carecido de fontes, montanhas e planícies, liberto
Perante a perfídia do tempo, a ventania no peito ida,
Porquê criar estas pontes se o segundo é tão incerto,

Sou recém-chegado procurando uma mão singular,
Um beijo na testa que dure eternas eternidades, 
Enquanto que é tão simples ir é tão difícil chegar,

E faz frio invernal, calco as folhas caídas a meus pés,
Ouço o riso de quem passou em frente, as saudades,
Pois agora sei, irei sempre adiante, jamais irei de rés.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Quando Cair O Outono

Mal consigo lembrar de alguém para este Outono, 
Assim trago neve no olhar, como sempre, definido, 
Conforme o sol se aproxima do seu seguinte sono,
Somos agora amigos perdidos num beijo dolorido, 

Olha, algo aconteceu nesta pele submersa, interna,
Crescendo onde prosperam aqueles sem abrigo,
Estamos no caminho quase certo, vejo a lanterna, 
Vamos assim nos conhecer, já não em mim me ligo, 

Ainda assim, eu sinto que sei, embora não saiba bem
Que minha mais do que querida, esta é a única canção,
Temos cores, pérolas e poesia neste momento com ou sem,

Qual o problema com a vaidade, porque não abraçá-la?
Basta ir devagarinho, com o pé na palma desta mão,
Assim se chega longe, a melodia é possível cantá-la.  

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Acenando ao Silêncio

Acenando o silêncio destas luzes apagadas,
O sono que não vem, é cruz e é desamparo
Para o sonhador vaivém, cortinas cerradas,
Trazendo fagulhas para deixar o dia claro,

Indo no holofote, dedos por janelas apontados, 
O mundo, entretanto, mudou perante este olhar,
Quatro estações num dia por sol e lua pautados
Através do passageiro, pratos ainda por lavar,

E eu a escutar a chuva que não vejo, o desejo
De dormir numa cama feita, a dor do tratante,
Ansiando o ardor da manhã, o seu único beijo,

A ajuda está a vir! Ouvi num instante um murmúrio,
E o meu coração tão distante, e o pulmão ofegante 
Rezando por paz, suplicando por um bom augúrio.


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Numa Poça de Água

Numa poça de água reflicto o rosto do passado, 
As marcas superficiais e a cicatriz já profunda, 
Os rastos cadentes são do trilho o caminhado
Tal cinza de cigarro esbatido na bruma vagabunda, 

Dentre o sol nascente e poente fulge o firmamento, 
Tanto espaço para o olhar espargido no telhado,
O sussurro deste suspiro é porção, é fragmento  
De coração esbatendo nos carris do eclipsado, 

Transbordando a noite perante o beijo do dia, 
E eu com saudades da sua verdadeira melodia, 
De braços sem meus braços num abraço eterno

De uma vida rascunhada a aguarelas num caderno,
Caderno esse com margens e bermas, leves curvas,
O dia está prestes a raiar por entre estas noites turvas.