segunda-feira, 31 de agosto de 2015

As Lajes Vazias

As lajes vazias e porções da estrada,
Quando dias incompletos vão adiando
Aquela réstia de ar, um pouco de nada
Para um tiquetaque que vai passando,

Socorremos restos da lua e choramos
Esperando pela magia das horas soltas
E onde estávamos um beijo deixamos
A meios suspiros - a melhor das escoltas

Vem a noite meio apagada, sou sozinho
E dentre o que foi e entretanto já não é
Vou-me deixando pelo meu cantinho,

De costas para o sol e perdendo o dia
Houvesse um pouco mais de luz e fé
Ao passar tão vagaroso da hora tardia

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Um Beijo…

Um beijo… e o resto é deixado à estrada,
Este percurso vai sendo largado em escrita,
Onde milhares de estrelas tornam-se nada,
Pouco mais que sombras na hora maldita,

Vêm instantes que se recusam a aparecer,
Partimos na luz diáfana de recôndito lugar,
Para trás a paisagem deixa transparecer
O que em nós deixou um dia de esperar,

Mesmo de copo cheio, só mais um trago,
O rio corre e o vento sopra na rua deserta
E o poeta passa fome no meio do largo

Há quanto tempo não ouvem seus versos,
Há quanto tempo se foi pela hora incerta
Enquanto no asfalto os vê dispersos?

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Se Fosse Nas Asas e Plumas de Um Soneto

Se fosse nas asas e plumas de um soneto,
Voaria para outras margens e prados,
Faria de belo e sublime meu trajecto,
E então seria Amor por todos os lados,

Se fosse nas asas e plumas de um soneto,
Traria o Verão em cada palavra solta,
Confidenciaria à Lua em leve dueto
Uma trova fulgurante à sua volta,

Fosse eu um pouco de sol na noite escura,
Estafeta da palavra em busca anelante
Em eterna jornada em imensa aventura

Querendo só ir um pouco mais adiante
Pois não pretendo ter lar nesta sepultura
Não quero ser Vida em fôlego ofegante.

domingo, 9 de agosto de 2015

Pode Nem Parecer

Pode nem parecer, pode nem soar
Mas há dias em que não há nada
Que nos faça querer levantar
Ou até colocar o pé na estrada,

Há dias que passam sem dizer olá
E não desculpam a falta de palavras
Ao passar do tiquetaque da hora má
Cravam no peito suas mil e uma adagas,

Então coçámos a cabeça e perguntamos
Qual o ponto onde o mundo colapsou  
Onde será que ao sono nos deixámos

E porquê ter a alma limpa não bastou
Pois é ver o mundo que abandonámos
É ver aquilo que éramos e que já não sou.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Morte Sê em Mim

Morte sê em mim, morte em mim sê,
Vem ao homem que a vida não sente,
O pássaro que o céu já não vê e crê
Morrer, só a morte o fará enfim contente,

Morte sê no homem em si perdido,
Que perdeu partes do lembrado
Que perdeu tanto do já acontecido
Que foi até em si parte do quebrado,

Não chorem sobre o seu triste caixão,
O colibri deixou de dançar e voar,
Sob o sorriso não bate um coração

Atento ao beijo, atento ao se dar
Ao abraço da aragem, de mão em mão,
Morte vem, leva o que ainda restar...