quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Passa o Tempo Por Mim e Passo Eu Pelo Tempo

Suspiros e almejos perante esta ideia amada,
Passam luas e sóis levados pela brisa e vento,
E sozinho lá vou indo por uma íngreme escada
Que alcança o horizonte mas não o firmamento,

Penso... Sinto-o sob a pele em eterna moção,
Enquanto escalo montanhas feitas de sede,
Envelheço colocando a mão sobre o coração,
Não pretendo esperar a morte e a sua parede!

Ecoo na eternidade de um instante já passado,
Um momento dedicado às ternas lembranças,
Para cada um de vós um beijo bem beijado

Pois quando vos deixar essa será a herança
De quem é assim ao segundo em si eclipsado
Tal brilho passageiro de uma exuberante criança.

Eu e o Universo

SOS murmura esta gente no barco salva-vidas,
Nós somos o orvalho desprendido da manhã
Ou seremos as muitas multidões embevecidas
Que por muito que andem nunca se sentem cá?

Somos naufrágios de fantasmas ainda por vir,
Sob a pele vestida rebatendo ondas e marés
Ou seremos Ícaro orgulhoso ainda por cair
Tendo todo este mundo sob os seus pés?

Somos apenas o Universo de si consciente,
Experienciando tudo o que pode albergar,
A sombra já póstuma do homem ausente

Do instante em que já não é possível amar,
Amigos, ouvi-me! Rápido passa o presente,
Há que o reter para um dia o saber largar.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Até Partilharmos Uma Mão

Ela caminha sobre o Sol, sob o firmamento
E eu sou toda a sombra, a cúpula para o céu,
Estrelas vertendo deste triste olhar luarento,
Sou apenas aqueles que raramente fui eu,

Tragos de beleza e se silencia o sonhador,
Há espectros nas suas mãos de constelações,
Fragmentos de contos cujas vozes de amor
Jamais cessarão, assim ditam seus refrões,

Presenteiem Ícaro com um punhal após a queda,
Partida para os viandantes estranhos à chegada,
Enganando a sombra que este tempo veda,

Uma história para os apaixonados e enamorados,
Sorrisos de soslaio antes que venha a derrocada,
Somos todos só bastardos até sermos amados.

domingo, 20 de agosto de 2017

Trago Aquilo Que Já Esqueci

Trago aos ombros restos da pluma dourada,
Deixando um rasto de sangue e suor ao trilho,
Partilhando os beijos e colocando-os à alçada,
Eu continuo pelo mundo, eu brilho, eu brilho!

Trago nos lábios o sabor de noites já eclipsadas
Ou quando sorvia pelos dentes sólido cimento,
Onde nem sempre fugi das minhas emboscadas,
Porém é nas noites negras a melhor vista do firmamento

Que cai tal escombros na passeata do viandante,
Quase esqueci dos sonhos latentes na algibeira
Ou o quanto esta Vida é passageira num instante,

Este horizonte é entre o real e o sonho fronteira,
O objectivo move-se ora sempre em frente, adiante,
Não permitir estes ossos apodrecer sob esta poeira

Tristeza e Solidão

Estranhos têm passado por estes cobertores,
Dormido dentro da minha pele e consciência,
Pois a este vento tenho perdido os meus amores,
Este caminhar tem sido fruto de impermanência,

Confidencio estes suspiros arremessados à Lua,
Beijos que olvidei e que nos lábios permanecem,
Apenas tenho sido eu sob esta pele sempre nua,
Tenho sido aquele que os vivos vão e esquecem,

Tristeza e solidão no meio da alegre multidão,
Sozinho onde todos passam e ninguém fica,
Não há quem chegue e alcance, partilhe a mão,

Tenho em mim uma alma que chora e grita
Pois tanta gente vem sem preencher o coração,
Sou de ninguém, ninguém é nesta hora maldita!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sou Parte e Todo

O meu compromisso é para com este Universo,
É por ele que esboço e pinto estas constelações,
Sinto-as vibrando sob a pupila, no cair do verso,
Indómitas e selvagens oscilando entre estações,

O meu pacto é solene e é para com o horizonte,
Por aqueles instantes insondáveis e passageiros,
Vestindo a alma, criando entre margens a ponte,
Escrevendo na escuridão com alvor de candeeiro,

Há um reflexo no espelho de um tempo passado,
Que é reciprocidade entre um beijo e uma cantiga,
Como entre o um e o Uno albergo e sou albergado

Pois é a cúpula cerúlea que a todos nós abriga,
Sou irmão do acontecer e de cada instante amado
Uma serenata imensa que a e em todos bendiga.

Entre Palavras e Desenhos

Então exilado à efemeridade de uma lembrança,
Estilhaços de um passado partilhado entre dois,
Sorrisos dados à esperança e inocência de criança,
Sim! Tinha sabor a céu azul limpo, a um futuro pois,

Vejo dois semblantes a reunirem-se em ausência
Das encruzilhadas da vida deixadas por metade,
Gatinhando no escuro por cortinas de existência
Que aparentam não albergar toda uma verdade,

Trago-a no coração, num cocktail feito de magia,
De quando dedos entrelaçavam-se em seu redor,
Alumiando a luz de sol a passagem e treva do dia,

Vertido e escorrendo por cascatas repletas de cor,
Tens palavras reservadas sob a forma de poesia
Onde eu tive esboços e desenhos feitos a amor.

O Dia em Que Ela Partiu

Aonde vamos ouvem-se suspiros à desfilada,
Sorria e preenchia-me com confetes este olhar,
Assim caminhamos rumo a uma encruzilhada,
Enquanto, triste, o sol se esconde e vem o Luar,

Lanço-me do precipício e areia e oceano absorvo,
Viramos as costas para o mar, trago sal nos olhos,
Cadáver a cadáver vamos distraindo o negro corvo,
Esbatem as ondas serenamente contra os abrolhos,

Mais um adeus, uma ferida aberta quase superficial,
Murmúrios sobre os rochedos, sem troca de promessas
Esta é a eterna elegia, a dor de não ter nascido igual,

Outra vez solidão, outra vez esta dor neste coração,
Lá vai o poeta, transviado à hora por errantes travessas,
Chama-me pelo nome e pinta-me como uma constelação.

Quando Um Dia Vier à Minha Procura

Lembro-me das horas um dia encontradas,
Como que ruas permanecendo em quietude,
Passando por segundos de algumas estradas
À sombra de escombros chamados solitude,

Do alto de uma colina um clamor em apelos,
Rasgava a pele e caminhava quase erguido,
Vinha então a neve, folhas, o sol e mil gelos
E no meio da paisagem era o poeta perdido,

Olhava para Ema com olhos feitos de luar,
Enquanto ela trepava cascatas de estrelas,
Era nela que era focado todo o meu olhar,

Pois se um belo dia eu vier à minha procura,
Lembrai-vos pouco mais fui que estas vielas
Que bela bênção e fardo, do berço à sepultura.

O Poeta Lamentando o Falecimento da Amada

Esquecimento é o único nome daquele semblante,
Vómito e convulsão para o coração apaixonado,
Cada passo dado é um eco ainda mais distante
De uma palavra que infelizmente se há quebrado,

Dormito onde as estações passam sem herança,
Esperando pela mão da donzela com a sua graça,
Enquanto me vai deixando aquela bela lembrança
De dois tal como um num reflexo de uma vidraça,

Oh outrora num beijo partilhado era toda a magia,
Passavam eternidades vividas em breves segundos
Que esvoaçavam através de noites onde vinha o dia

Por telas e pincéis, beijos e abraços, mundos e fundos,
Confesso por vezes a envoltura de toda uma nostalgia
Revertendo-se no olhar triste deste pequeno vagabundo.

Ansiando Amor ou Solidão

Vou vivendo de plumas e pedaços de quase nada,
De ideias estilhaçadas lançadas a restos de vento,
Suporto pedregulhos com ombros em derrocada,
Tendo o trilho adiante como intuito, como alento,

Só pretendo quem me queira - um voltar a casa,
Por um abraço que faça os outros enfim esquecer,
Aquele voo mesmo que breve por quebrada asa
Tenha apenas uma oportunidade de por fim viver,

As cicatrizes são as lembranças nunca perdidas,
O passado é companheiro neste breve caminho,
As esperanças e ânsias ao mundo são queridas

Pois são o que permite continuar eu sublinho,
Procurando pastos verdes por mil e uma saídas,
Por um instante eterno ou um eterno eu sozinho

Enquanto o Amanhã Não Chega

Resguardo para a intempérie, vem o amanhecer,
Cinzento e grisalho, dormitando sob o horizonte,
Sou os vértices e os cantos num terno acontecer,
O esmo poético, o poço, a sede e a sedenta fonte,

Pertenço à aldeia de crianças de um imaginário,
Brincando e ansiando num toque de incerteza,
É assim que se pincela a matiz e tom este cenário
Com ternas esperanças e fragmentos de beleza,

Amanhã quando o sol se puser terei com ele ido,
Serei porto de abrigo para a Lua e a sua promessa,
Ela tem sido a chegada sem nunca ter mesmo partido

Adormeço nos braços do entardecer desta travessa,
Por vidros azuis até um dia o tempo me terá esquecido
Portanto descanso no que este olhar luarento confessa.


Enquanto Se Espera e Ela Não Vem

Vigílias à luz da candeia perante a janela,
O sol poente a companhia com a eternidade,
Procurámos conforme esperamos pela donzela,
Pelo beijo de uma vida com píncaros de saudade,

Vigílias sob a noite luarenta de um soneto perdido,
Assim lembro o passado, os segundos e a sua sede,
Até ela vir, beldade com um céu de estrelas vestido,
Sou refém de uma vontade que não quebra nem cede,

Um pássaro negro esvoaça e confidencia seu medo,
O homem velho e sozinho corcovado numa esquina,
E a morte erguendo-se sobre ele nunca tarde, cedo...

É o crepúsculo torneando-me a vista e o horizonte,
Apenas conto com o brilho de uma frágil lamparina
Que para o poeta trovador é margem e em si a ponte.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sou Semblante Para a Sombra e Sol

Caminhando o esboço pintado pela alameda,
Eu sou rascunho para a sombra e sol em mim,
Passo a passo o eco alastrando-se pela vereda,
Esta viagem é o enlace entre o princípio e o fim,

Sou casado com a estrada e a sua hospitalidade,
Aqui hoje, tentando deixar de procurar,
É a intempérie num longo beijo à saudade
Cujo espaço em si já não tem mais lugar,

A silhueta de outros dias um dia eclipsados,
À mercê de uma brisa no rosto encostada,
Sou criança e velho ao trilho lançados,

A seta do cupido ora certeira, ora quebrada,
O amanhã vem longe e os ontens são passados
Por uma mão incerta de uma brisa amada.