sábado, 24 de dezembro de 2022

Um Milhão de Pedaços da Estrada

Suspiros vazios empurrados por goles de vinho,
A visão da donzela pelo canto da mente vestida,
Parece que a encontrei sob a folha do azevinho,
E parece que neste coração a tenho amanhecida,

Pintando espelhos a tons de dias do passado,
Onde a poesia levava os dias na bagagem,
Estou perdido, suplicando para ser encontrado,
Solitário tal gestos inauditos pela paisagem,

O aprendizado então mudado, beijo o desconhecido,
Precisando de oxigénio para poder enfim respirar,
É fácil fechar os olhos e deixar ser o permitido,

Sei que sou um milhão de pedaços da estrada,
Os momentos aos quais me propus finalmente amar,
Então enterrem-me no fim no céu da tela já viajada.




terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Entre a Treva e a Luz

Tenho ainda nós no ventrículo esquerdo,
E luminárias delineiam esse sentimento,
Que é a beleza dos instantes que herdo
Entre a treva e a luz – o seu casamento,

Onde inebriado ouço o esvair das lágrimas
Dum coração pela estratosfera descalço,
Quando tudo o que pretende são as rimas
Para fazer do seu bater tudo menos percalço,

Vendo os anos a passar através da janela,
Os sentidos humedecidos, hoje preteridos
E perpassados pelo avistar de uma donzela

Que era todo o meu pesar, todo o meu voar,
Enquanto eu rastejava, oh quanto a ansiava,
Entretanto assim carecia todo o meu amar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Não Obstante

Objecções e insinuações, para voar instruções,
Ânsias e fragrâncias de tempos já eclipsados,
Entretanto há instantes onde dois corações
São assim todos os caminhos jamais pisados,

E neve incandescente cai só para quem a sente,
Procuramos um sítio ao qual chamar de lar,
Onde poder pernoitar e ir adiante e em frente,
Para a terra dos sonhos, para aquele lugar

Que não tem dono, nome ou sequer apelido,
As saudades de quem ainda não é passado,
É sim uma porção fragmentada de vento ido,

Acredita, por todas essas tormentas te hei amado,
Não obstante do quanto fui queimado ou ferido,
Ainda penso no amanhã, inteiro ou quebrado.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Despeja Uma Constelação No Meu Copo

Despeja um para mim, os sonhos vou segurando,
Escrevo estes poemas por gotas de sol recolhidas,
E esta voz é o erguer das constelações, recuando,
Entre as sombras que nos seguem, ora partidas,

A última nota tornou-se na primeira, sou guarida,
Sítio para pernoitar, para ficar, para enfim sonhar,
Dedilhando esta brincadeira dos céus conferida,
Há-de ser a minha flor de cabeceira, o meu lugar,

Lar livre como o próprio éter, em árvores pousando,
Escutar-vos-ei nas cantigas e nos risos das crianças,
E desse recitar ver-me-eis desde aqui esvoaçando,

O noturno torna-se diurno, a memória torna-se promessa,
Eu dormindo no ombro das constelações e suas danças
Assim o mundo lentamente se vai e tudo o resto cessa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Para Lá Dos Portões Há Sonho

Espera-me acolá a voz do beijo negro outrora concedido,
Tal desabafos deitados sobre esta neve incandescente,
Pintados na alma, gravados no peito, no descomedido,
Fechado entre quatro paredes por mão do tornado crente,

Dedos cuidados procurando descalços um sonho, a paisagem,
De lábios vertidos, os sentidos humedecidos pela enxurrada, 
Viverei de sonhos pois para sonhar somente é preciso coragem, 
Nossos segredos cantados desse precipício da berma da estrada, 

Ensombrados pelo esquecimento da criança em velho tornada,  
Esperamos a manhã, a aurora cobrindo um jardim prazeroso,
Onde nos beijemos com amor numa quimera assim encontrada,

Inexactos, mas certos do brilho da vida, altivos e enfatuados, 
Segurando os meus sonhos dentro deste embalar generoso,
Para lá dos portões da morte, eternamente seremos serenados.  



terça-feira, 29 de novembro de 2022

Saudades De Quem Não Fui

Estas saudades que tenho dos momentos em que não fui,
E dos outros que não tive a oportunidade de por fim ser,
O potencial edifício com mais andares que no peito alui, 
Por não ter sido erguido para além do horizonte do ver,

Há estrelas no então longínquo brilhando eternamente sozinhas, 
Onde os mortos nos ajudam a contar os segundos não vividos,
Afagando nosso peito vamos percorrendo o trilho destas linhas, 
E nesses números vemos no ar os fôlegos até agora dispendidos, 

Que tal chuvas cadentes se mostram em instantes e momentos,
E ao ouvido as aspirações e medos tentando culpar o caminho,
Mercê, mercê perante a sepultura de quem foi só fragmentos,

Pois se há ainda a viver, ainda não chegou o tempo da partida, 
Por isso iremos indo, encarando-o acompanhado ou sozinho,
Nascidos para ser, vivendo para ver para lá da noite contida.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Sou Todos Aqueles Que Permiti Me Tocar

A chegada do instante é um voo inominado,
Tal verdade contida de uma lágrima invertida,
Um carta enfim deixada  ao mais doce cuidado,
De um amor incandescente, a maré tanto querida,

Não obstante do pai ou do filho, o Universal,
É sonho cá em baixo tornado, fôlego achado,
E nós de olhar embaciado definidos no real
Somos os suficiente para desculpar o obrigado,

Por altos momentos de asas soltas a volutear ,
Envoltas pela nostalgia do que está por vir,
Completadas pelo sol a cair e a se enxaguar,

Por aquilo que me há-de a mim, enfim, importar,
Com saudades daqueles que não fui, do elixir,
Por todos os simples detalhes que escolhi amar!

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A Beleza No Imperfeito

Por favor traz porções de maresia para eu suspirar,
Procurando momentos semi-perfeitos aos bocados,
Chegou a altura, chegou o momento de tudo arriscar,
Pois há vezes em que é preciso mudar nossos fados,

O destino do homem inteiro tornado quase porção,
É a verdade inaudita, o caderno ainda por escrever,
Não busca assim o mistério do ser ou a sua resolução,
Somente instante melhor que antes, instante para ser,

Então refastela-se no sangue e lágrimas concedidas
Para o pulsar do coração e o olhar além do horizonte,
Neste caminho onde se vêem as cores mais coloridas,

Que são necessárias para pincelar os montes e colinas,
Aquelas que vai ultrapassando e criando em sua ponte,
Há beleza no imperfeito, belezas infinitamente divinas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Entre o Sonho e o Real

Percorrendo os aros da pele como o paraíso,
A fragrância do cabedal de notas de suicídio,
Camas feitas e barbas desfeitas num sorriso,
A estrela da manhã e a sua queda o subsídio

De homens que foram esquecendo o que é ver,
As camisas passadas por trilhos desconhecidos,
Tipos de contos de fadas, será isto o que é viver?
Tentando apagar vestígios de sonhos coloridos,

Estranhando este respirar, esta procura incessante,
Apesar de tudo, pergunto-me "Quando aprenderei?"
Fechando os olhos e o ver num fôlego inebriante,

Aproximo-me do fim, deste uno momento final
Esperando a sua deixa deixada pois por fim sanei
No aprender a distinguir entre o sonho e o real.
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Vertem-se Aguarelas

Abro a boca e em cascatas se vertem aguarelas,
Em palavras inexistentes e silêncios entre nós,
Onde vão ressoando os ecos através das janelas,
E onde as paredes repousam nos nódulos da voz,

A passagem é ligeira, a fronteira de uma ampulheta,
Hora de ponta onde passos se escoam na calçada,
Pela estreiteza das ruelas, pela vileza da sarjeta,
Tudo passa e nada passa, é o poder da estrada,

E ainda tem sinais vitais a verdade deste fado
Cantado na orla da maré, trauteando ao vento!
Tenho-nos ausentes no presente, futuro e passado,

Numa terna balada hás-me cativado tal flor estrelada
Do mais brioso páramo, o brilhante de que sedento
Estou, sou culpado de as seguir até à doce alvorada! 


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A Asa Latente

Tenho o interior por teias de aranha ornado,
Sombras dançando noite dentro neste quarto,
Com sonhos lúcidos e por eles sendo inebriado
Neste uno fôlego nu e desnudado enquanto parto

Para outras planícies e margens, fragmentos
De mim vagueando entre os dias do outrora,
Ouvindo mil corações quebrar nos aposentos
Da solidão, da confusão, da contusão do agora,

Dedos esguios percorrendo o cabelo da noite,
E eu beijando-a entre mil vultos e semblantes
Então conhecia o o sonho e o seu terno açoite,

Perseguindo a aurora, construindo uma casa,
Um lugar para descansar os ossos como dantes,
Erguendo um bastião, latente ao coração e sua asa.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Aonde Estás?

Trago o olhar ao peito numa alcova perdida, 
Desabafo-o às ruas e às pedras ladrilhadas,
Procurando onde sonhar - a margem querida, 
O resto - naufrágio dos seres, almas encalhadas,

Um lugar então esquecido, o sonho que não vem,
Quando apetece levantar voo, plantar o turbilhão,
E que desse erguer então mil e uma ideias viessem
Para criar escadas para o céu, para levantar em mão

O que não é dado, mas ganho na aventura da Vida,
Aquela cuja vela vai ardendo demasiado brilhante,
Parece, mas não é, traço brunido da vista envolvida,

Sustentando o peso dos querubins num desfile vistoso,
Quando o tema é o Amor, quando a verdade é semblante
Esguio pergunto – “Aonde estás?” - porém ainda inexitoso.

O Poema Que Trago Entre Os Lábios

Escreve-me na certeza abrupta de dois lábios,
Descontinuados à cintura, somos só fantasmas,
Outrora por nós cravaram nas estrelas provérbios,
Longe das ruelas e vielas que conferem miasmas,

Esta ausência é capaz de lentamente matar o vazio,
Temos silêncio de onde duas vozes eram erguidas,
Por isso das primaveras e verões se fez enfim frio,
E a ampulheta proporciona estas estações perseguidas

Por fumo e nevoeiro, por um eterno e solitário luaceiro, 
E assim perdíamos os cabelos do vento, o calor do Sol,
E do próximo se fazia o longínquo e da abóboda o aguaceiro,

A verdade é que trago essas gotas num sonho envolvente,
A ela em cada dádiva, só a ela em cada ínfimo anzol,
Num coração em prato decorado a luz ainda reluzente.

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Debaixo dos Lençóis

Por vezes escondo-me por baixo dos lençóis,
Procurando a luz da qual me vou escondendo,
Por lá vou deparando-me com mil e um anzóis,
Quase escapando do moto do "quase fui vivendo",

Esta é a viagem nunca feita, a verdade por existir,
A realidade inacabada, o real por mim esquivado
Pois se viver apenas no real acabo por me reflectir,
Do pedaço de um inteiro me tornando num bocado,

E pretendia encontrar-me onde por fim me escondo,
Num terrível meio termo que não é de todo viver,
É adiamento da alma, reunião com algo hediondo,

A vontade de não sorrir, a necessidade de não ser,
O escape por dentro de um quadrado redondo,
Para encontrar assim a chama do meu querer.

domingo, 2 de outubro de 2022

O Escape

A escapatória é a fuga entre braços esquivos,
Relutante e petulante, vou procurando o amar,
Parece que por vezes encontramos os fugitivos
Que um dia deixamos de querer encontrar, 

Escasseia o que falta, um pouco mais de coração, 
Então, um sorriso rasgado propelido pelo ar,
Pretendo que saibam que vai de mão em mão,
E que nunca o pretendi alguma vez abandonar,

E hei-de refutar quem o contrário me disser,
Sobre o voo na rosas entre diversos cantos,
Não obstante do que houver ou ainda vier, 

Por isso vou pregando a minha vida tal poema,
Ressoando no eco do "eu o homem entre tantos",
E que a resposta não tem nem solução ou problema.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Resquícios do Verão

Entre os resquícios do Verão e da sua melodia, 
Vem o impulso para partir, fugir destes braços,
Então caminhando sobre pontes e nesta rebeldia
Olhava directamente para o sol e os seus traços

Confinados entre as paredes de um coração,
Sem pranto, num instante que nem é partida,
Apenas com tempo para uma última oração,
Cravado um nome numa estrada inadvertida,

Outrora já foi, agora ausência do seu semblante, 
Os dias em parada passeando-se diante mim
Tal grito ecoado ao longe e hoje tão distante,

Parece que já não há espaço para ser mais assim, 
Cantava com gritos ainda na garganta inobstante, 
Círculos ao contrário e a Vida mantida em frenesim.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Entre Cubículos

Sem respostas, pelo peso de cubículos esmagados,
Por um pouco mais deixamos um trilho de migalhas,
O silêncio tem olhos, mantenham-se das janelas afastados,
Essas órbitas trazem o lutar ou fugir portanto tragam as tralhas,

Arrastado por entre as vielas da cidade, por entre o azul aguaceiro,
É apenas água, somente chuva, só lágrimas, a sempre presente dor,
Tiraram-me as sementes mas ainda guardo uma flor de um luaceiro,
Paranóico de amor e morte, não temais o facto de sermos simples amador,

E agora que todos ouvem os pregadores do vazio, beijo-vos as mãos,
As palavras gotejando através do seu queixo, as sarnas removendo,
Onde ia suspirando: "Quase que me perdia aqui entre as multidões",

Ninguém aqui é ouvido, ofegante num conforto da reflexão de um espelho
"Há alguém ai fora?" - estes passos continuam a descer e descer, moendo,
Um respirador de uma cave, e eu a ir indo entre cubículos - o jovem velho.

domingo, 11 de setembro de 2022

Desbridado

Vou, desbridado, com os olhos a dançar, cintilantes,
Pincelando nas telas orbitais cores vivas, aprendizes
Do que pode acontecer enfeitado por flores flamejantes, 
Aqui sinto a mão divina na minha mão, somos felizes, 

Envolto no suspiro de uma vida, num tom esperançoso, 
Sinto a passagem luzidia perfumada a tons multicolores,
Inebriados ao tacto, no corpo tornado sorriso solaçoso
Pois estanca a lágrima, inconfessável nas suas indolores,

Trago este olhar repleto de querubins altivos do paraíso,
Assim a vigília, entre escarpas aguçadas, meu caminho, 
Indo passo a passo em frente mesmo quando indeciso,

Desejando sob estrelas cadentes, ecoando a eternidade
De mão na mão, um mapa com estradas quase quietinho,
Fechando os olhos serei parte transcendente da efemeridade.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Um Poema Para Quem Ecoa As Constelações

Este solitário poema é para mostrar ao mundo
O traço imperfeito da mão do poeta, o esboço,
O passo deambulante prostrado do vagabundo,
É um presente misterioso entre o velho e o moço,

Os assentos com lixívia são a charada em verso,
Acordando perdido num quarto outrora sonhado,
Perseguindo sombras na parede assumo-me imerso
No luar pejado através de mil noites no chão enlaçado,

De onde venho não é para onde vou, é refeito sentimento, 
A vida por lunetas rítmicas de compassos perfeitos e canções
Duma caixa de música a tocar assim reflectindo o momento,

Sonhamos e acordamos e assim seremos todas as multidões,
A ideia de um destino rasgado, de roupas usadas, fragmento
Ecoado em lembranças de um sítio chamado casa - as constelações.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Pelo Oceano Tolhido

Braços vazios e promessas levadas com a manhã, 
Caminhamos pela água sonegando-a por estrelas,
Têm as escadas para o céu ontem, hoje e amanhã,
Sentindo-as nas mãos vamos colocando-as em trelas,

Estas cicatrizes são memórias que nunca esqueceremos, 
Instantes hoje sem voz, coloridos pelo pincel do tempo,
Parece que estes dias são apenas para contemplarmos,
A vida é termo cinza, árvore cujo fruto vai com o vento, 

É a tempestade e a calamidade do embate do coração,
Ondas de esperança e o rosto por lagrimas preenchido,
O conforto não virá e invés virá a chuva, virá a moção,

Adormecemos com fôlegos curtos em oxigénio enrustido,
Num mapa arterial delineado nas veias, no galope da canção, 
E nessa narrativa, nossos beijos vêm e vão - pelo oceano tolhido.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Para de Mim Ser Menos Distante

Um sonho para um insomníaco e por fim há sono, 
Despachai-vos e esperem, este é de loucos o barco, 
Pois esta tentativa de sonhar é pé sobre folha de outono,
Sem outras estações, neste rosto encontrareis um charco, 

Para além do horizonte, o caminho estreito torna-se casa, 
Vivendo a Vida como se não houvesse algum amanhã,
Vamos beijando a abóbada celeste fluindo de asa em asa,
Assim alimentando uma esperança que é tudo menos vã,

Pintando segundos refractados por espelhos poeirentos, 
Lembrando a criança de uma vida regressada, a estória,
Como bolas multicolores dissipando-se na rosa dos ventos,

Por vezes esta mascarada cansa-me, e eu somente semblante
Vou procurando qual o lugar, qual a casa, qual a escapatória
Para fugir, para reencontrar, para de mim ser menos distante.




domingo, 14 de agosto de 2022

Esquecendo a Eternidade

Sim, amanhã se me afogar nas águas rasas, 
Dar-me-ias a mão, puxar-me-ias para cima?
Custa-me a voar com estas quebradas asas,
Vasculho o páramo para a estrela mais ínfima,

Preciso de brilhar, ser a constelação mais brilhante
Que concede esperança ao triste e lúgubre sonhador,
Imortalizado ao passear, deixando um rasto fulgurante,
Numa infinitésima dança como para sempre amador,

Lancem-me no mais alto dos devaneios, o sonho alado, 
Caminho tal os pássaros pelo azul celeste então estirado,
E então ar fresco acorda-me, cessam as vozes dos malditos,

Perdido trago mapas colados nas sobrancelhas em gritos inauditos,
E amor em pulsos cortados e largado à indiferença de um olhar,
Vos apresento o viandante que lentamente vai esquecendo o voar.

(E cuja eternidade vai deixando de o ecoar...)

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Não Abstido de Amar

As ondas eram na mão então docemente trazidas,
Uma lágrima no oceano para o ver a transbordar,
Hasteávamos a vela e deixávamos a costa querida
Pois não é possível para sempre no dia pernoitar,

A janela do vidro azul sabia também o nosso apelido,
Entretanto prostrado atrás por nunca ter cicatrizado,
De tantas vezes ser translúcida num olhar esquecido,
Chamava-lhe de irmã pois no fim nos ter encontrado,

E aqueles que nos fizeram esquecer esse cantarolar,
O murmúrio que ecoamos pela vizinhança do sonho,
Mais tarde ou mais cedo iremos por fim reencontrar

A verdade que é nossa e de um caminhar mais risonho,
Ao destino desvendado por um Deus não abstido de amar
E um Amar altivo iluminando o escuro e o medronho.

terça-feira, 26 de julho de 2022

A Contemplação do Poeta

Escuta-se uma voz ao longe, pequena e esvaecendo,
Por segredos tornados cicatrizes e lábios então rachados,
Alcançando o precipício pondo as montanhas tremendo,
Que não falte a sorte de uma vida com todos os seus bocados,

Desde a manhã em que acordo até à noite em que adormeço,
Aí vem o anoitecer num despertar de um céu deveras estrelado,
E ela com uma grinalda feita de astros na cabeça que teço
Em poesia cuja reflexão é nos lagos um amor enovelado

Por milénios passados, silenciosamente tecidos pela atenta mão
Do trovador, que com ou sem dor, vai mostrando a face de Deus,
E assim caminhando para a montanha, condecorando o coração, 
 
Emudecido, calado, com vultos aos seus pés, no céu só um semblante,
Que num momento, num instante, tanto nos acena como nos diz adeus!
E o desejo do poeta é esse meio que ele completa num único olhar vigilante.
 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Prisioneiro De Um Abraço e Beijo

Há um escape entre os nós das nossas mãos, 
As pontas dos dedos enrugadas por fim dadas, 
Elas vão até aos ventríloquos de um coração
Dividido entre dois e as suas águas furtadas,

Há pontes para o além no sorriso da donzela,
Navegando entre marés do ciano mais azulado,
Deixando flores desse brilho d'oiro numa tela
Lembrando que esse brilho é sempre partilhado,

E à distância entre os nossos lábios assim enlevados,
Nesse breve instante somos da Vida companheiros,
Trazendo indentações de asas, de céus esvoaçados,

Que nesta visão são maiores que quaisquer aguaceiros
Que diagonalmente caindo nesta boca tão imaculados
Me tornam o vosso abraço e beijo, sou eu vosso prisioneiro.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

O Pronome Para o Dia

Trago as mãos enrugadas de tanto as ter aqui vestidas,
Por noites estreladas findando a solitária caminhada,
Pintando paletes de outros dias e as suas despedidas
Sombras nos montes para esta Vida que rascunhada

Soava a mais, mas eles não ouviam, não sabiam como, 
Acalmados pelo suave toque dos dedos do artista,
Que apesar  de livre nos olhos tinha apenas fumo
E breu, da noite escura, da ode olvidada do paisagista,

Tons mudando de tom, esperançando com o potencial,
Há beleza na mudança, no temporário, na possibilidade,
Equaciona o adiante seja este então diferente ou igual, 

Quadros pendurados em corredores sem nome, e a fome
De mais, de ser o homem das roupas usadas, sem idade,
Ouço o estático, o barulho branco, sou deste dia o pronome.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Canto

Canto as cantigas de amores ainda trazidos,
Cantando epopeias doutras épocas já passadas,
Lábios e beijos de amor um dia e outrora sentidos,
Hoje com a cabeça ao ombro destas horas cessadas,

Pergunta-me quem sou e o que este olhar vê e procura,
Qual ponte é horizonte e qual lugar dará enfim guaridas,
Quando o tempo se torna água que tanto bate até que fura
Começamos a confundir os encontros com fugidas,

Murmuremos a fonte da poesia em doces palavras 
Ao ouvido, quase sussurrando o adeus jamais ouvido,
Perdido numa prisão de reflexões de trevas obscuras

Esperando a vogal que jaz entre as linhas do poema,
Nadando na água em busca do tesouro querido,
A iluminação da mente e a entrega do diadema.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Por Vezes os Outros Vêm a Mim

A paixão por um beijo adagiado estancado no peito,
Enamorado por um gesto quase consumado em vida, 
A vida vira meia morte por alívio, remédio, por respeito, 
Entre dedos as mãos de Rhea nos últimos restos desta dívida, 

Cama de rosas impaludada, enfim em frente o jardim do Eterno, 
Um toque de alaúde e caem todas pérolas dos seus pés, 
Rasguei as asas para andar com os humanos, oh tão ingénuo, 
É mera luz e restos de sonhos dentro de vagões indo invés 

Do caminho da graça, este vestido rasgado das paradas atrasadas, 
Aí meu amor, a nossa dor, a nossa vida, trouxesse o restante deifico,
Esta é a a minha serenada a quem atravessou, aquelas outrora amadas, 

Por isso sereno a madrugada, por isso as indentações do coração são sorrisos, 
Conto os segundos para a manhã, fujamos para algures bonito, por lendas Élficos! 
Depois descansaremos num majestoso lugar… já ouço os passarinhos cantar, amor meu... já ouço os passarihos a cantar….

sexta-feira, 1 de julho de 2022

A Guerra das Flores

Sou o órfão de uma geração hoje e agora esquecida,
Dum passado nunca longe, cicatriz jamais perdida,
Procurando porto de abrigo para lá da tormenta,
Ao coração uma grinalda de espinhos o ornamenta,

Quem me levou o sorriso conheceu minha queda,
Por onde vou sozinho na clausura desta vereda,
Com imagens mentais de um momento eclipsado
Por si próprio, o sorriso que é só de um bocado,

Desconhecido sou, as razões vazias de potencial,
Amanhã talvez não consiga mais, que não usual,
Olhos completamente abertos sem conseguir ver,

É preciso oxigénio, possivelmente para viver,
E quando o sono chega, já nem sei como sonhar,
Restam estes lábios que em guerras souberam beijar.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Este Apelo

Vestidos alíferos dançando na palidez do luar,
Eu vendo ornamentos e rostos sem semblantes, 
Quem dera ter alguém em quem poder encostar,
Pois o beijo só é beijo se for entre dois amantes,

É a perfídia do antes alimentando-se do depois,
Sinto o tremelejar de uma noite sem dormida,
Um oceano preenchendo o espaço entre dois,
Onde vou perdendo de vista a margem querida, 

Numa voz que celebra o tempo e a sua passagem,
Uma tapeçaria pendurada do céu, mostrando vida, 
Fica o silêncio familiar de quem escuta a aragem,

Precisando de encontrar a luz, de sonho do pesadelo, 
Cada lugar e cada estar, faz um feitiço nesta lida,
Pois que as minhas ninjas e musas ouçam este apelo.

terça-feira, 28 de junho de 2022

As Horas Hediondas

 Vou dormindo pensando quase estar despertado,
A ruga aflorada na pele, essa verdade escondida,
Não é perceptível do topo da montanha, acordado,
Acredito ainda ter por sonhar, mas vem a despedida,

A dor é real, a mágoa é pertença de batente coração,
Porque não? Porque não haveria de por fim o fazer?
Vou perdendo a quem dar realmente esta minha mão,
Cada vez se torna mais difícil de acreditar ou de ver,

Este cadáver esmorece com o vento e as suas ondas,
A vida pesa-lhe assim como lhe pesa o seu passar,
As horas vêm e vão tornando-se assim hediondas

Cerrando os olhos, permitindo por fim o anoitecer,
Até quando poderei dobrar este corpo antes de quebrar?
Até quando percorrerei este caminho sem nele fenecer?

sábado, 18 de junho de 2022

O Homem Tornado Deus

O sol no passadiço relembra as odes do passado,
Preciso de prados para poder enfim respirar,
Reflectindo o beijo dado no instante eclipsado,
O fundamental é ter espaço onde a cabeça pousar,

Que haja raízes, troncos e ramos bem erguidos
Para a abobada celeste ter em eterna celebração,
Por mapas azuis de Vida deixados e por eles vestidos,
Por vezes não são o suficiente para perceber o coração,

Ou sim, ou não, nada de meios termos, de incertezas,
Pretendo sorrisos e choros imensuráveis, o ilimitado
No rosto traz as rugas de uma criança e as suas belezas

Constam no cardápio de Atlas, para sempre o brilhante
Entre as palmas das mãos, num momento diz o ditado
Do homem tornado Deus ou num caminho semelhante.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Por Aqui Ou Por Lá

Pétalas de flores lançadas do alto de uma varanda,
Enquanto elas caem vou procurando por mim,
Indubitavelmente a vida é sempre esta ciranda
Que por vezes nem parece um dia chegar ao fim,

Quatro homens carregando um lúgubre caixão,
Quem diria que o enaltecido seria nele contido,
Assim lentamente deixou de bater um coração
Que entre passos dados se deu pela noite vestido,

Agora vem o reino do além feito para os sonhadores,
Eu nem sei se me acerquei, se me dei por encontrado,
Quanto mais qual é o procedimento, qual será o estado

Para me libertar enfim destas fúteis e terrenas dores,
Porém a certeza vem da incerteza: como será o amanhã?
Desconheço por inteiro seja vida ou morte por aqui ou por lá! 

domingo, 5 de junho de 2022

Aos Caídos

Os vestidos de Outono em bonecas de porcelana,
Enquanto atiro ao ar esta velha roupa usada,
Nas curvas conturbadas desta estrada insana,
Por onde ninguém passa e a passagem é cessada,

Fios de papagaios largados, enfim conseguimos voar,
Se seguir os trilhos dos vagões a casa terei chegado?
Ignorando os passos dados e onde eles hão-de ecoar,
Suspira aquele que outrora caiu sozinho e postergado,

Aos esquecidos esperando perante os portões dos céus,
Por cada eons os caídos suplicando e rogando entrada
Acenando à redenção do paraíso, removendo os véus,

Suas asas de plumas arrancadas, removidas de intenção
Implorando santuário, o pecado ou bênção perpetrada,
Vamos ansiando o altivo mediante o bater do coração.



sexta-feira, 27 de maio de 2022

Poema para Alguns

Alguns afogam-se em infinitos poços de desejos,
Sem nunca se permitirem alcançar o desejado,
Assim sucumbem em si entre mil e um latejos,
Sem jamais conseguirem chegar ao almejado,

Sentados nas alamedas de uma vida por viver,
Sem dormir não haverá o sonho ou a chegada,
E eu preciso de ser diferente, preciso de ser
Pois somente assim chegarei à luz procurada,

Por cada oportunidade eclipsada há lamentos
De quem não tentou alcançar a mão e beijar
Os lábios do vento em coração de fragmentos,

Terminando, pegamos as roupas do dia anterior,
Aqui apenas brisas sem significado para amar,
Da eternidade para uma realidade então excelsior!

A Lanterna do Viandante

Brilha no escuro a lanterna do viandante,
Dispersando o nevoeiro e a noite pesarosa,
É ele o cúmplice da Aurora Boreal, o amante,
A rascunhar no caderninho sua poesia tal prosa,

Por trás dessas palavras há uma estória de encantar,
Através de cada passada dada e deixada no passado,
É ele o parceiro das Luzes Nortenhas e esse amar
É leveza no peito, é o voar para sempre num bocado,

Há vários compassos a apontar para o eventual destino,
Para o qual caminhamos estejamos achados ou perdidos,
Um dia ele há-de deixar o seu semblante no céu azulino,

Até lá, lembrar-nos-emos dos fantasmas que nos perseguem
Pela noite escura, acendamos a lanterna pelos dias concedidos
Pois aí brilha Deus e todos os princípios que no hoje nos regem.

sábado, 21 de maio de 2022

Só Por Hoje e Para Sempre

Só por hoje deixemos a desesperança para trás,
Que as lágrimas parem de criar rios na estrada, 
Estas rugas nos olhos que carregam as horas más
São as gerações dos que morreram na rua nublada,

Se o amanhã não existir serei fantasma sem sorte,
É preciso procurar o sol enquanto não vem a noite,
Percebam-me, não pretendo ser refém desta morte,
Quero encontrar uma luz onde essa luz não pernoite,

E estas memórias tornam-se na semente do sonhador, 
Enraizadas no seu coração dando frutos majestosos
Que superam os tempos e ventos repletos deste amor

Maior do que os homens, a busca da parcela do Inteiro,
Que será trazida somente em vestidos belos e formosos
Por ares mais do que airosos no caminho do forasteiro!

domingo, 15 de maio de 2022

Somos a Mão do Universo

Mantendo os pés no chão o voo é sem algemas,
Sem dó e sem penas, procurando e dando amor,
As estações caminho para fugir dos problemas
Que são porções inadequadas de beijo, que são dor,

Pois esse pedaço de história é todo  um passado,
A altura da falésia vai deste chão até ao coração,
E eu sou o raio de sol tornado na espera da moção,
Aquele momento único em que Deus é revelado,

Há poesia para quem em poesia ainda acredita,
No olhar, no toque de um instante ainda por vir,
Pertença ao tempo que a ampulheta ainda recita

Num terno pulsar que mais do que chegar, soa a partir,
Entre este aqui e o depois astros no sideral em órbita
Que ensinam  que há tanto a chorar como a sorrir.

sábado, 7 de maio de 2022

Assim de Repente

Assim de repente, sinto a falta de toda a gente,
Dos sorrisos partilhados e na face delineados,
Dos olhares a apontarem iguais a se somarem
Em que duas mãos dadas eram no coração aliviadas,

Emudecendo os lábios aguardando um novo beijo
Que tarda a chegar, que aparenta nem sequer vir,
Entregando esta alma num simples e doce almejo
Antes da querença de um anseio de chegar ou partir,

Este sentimento é batimento cardíaco, vontade de voar,
Mesmo quando vem a queda, quando é difícil acreditar,
Quando não subimos à tona e respirar torna-se complicado,

Ou até quando beijar sem medo se torna em trilho nublado,
Não temais irmãos e irmãs, por vezes é assim o caminho
Que vamos andando seja em conjunto ou até mesmo sozinho.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Frente ao Coração

Incendiamos amanheceres em valsas feitas ao pé-coxinho,
Através de suspiros silenciosos que não esquecem a eternidade
Ou um outrora de cores pintadas ora depressa ora devagarinho
Que convidadas à ausência de fulgores vou supondo à reciprocidade,

Esprememos as noites da sua bruma, daquilo tido como real escuridão,
Dançando a pé-descalço na parte funda do lago, de olhares sossegados
E de almas preenchidas, enxaguadas dos seus caminhos, da sua moção,
Se dependesse de mim seriamos todos pela luzência do sol tocados,

Pincelando as estrelas e os astros cadentes num pouco mais de proximidade
Daquilo que somos supostos ser, perto do que tem sido só esquecimento,
O legado silente do testamento tácito, o Inteiro e a sua completa serenidade

Para um dia olvidar os apelidos terrestres aprendidos e a sua confusão,
E poder chorar de tanto rir estando entre este divórcio e casamento
Enquanto vêm os dias em nascente e corremos em frente - frente ao coração.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Distinção

Há presenças pelo esquecimento que se vão esvaindo,
Com olhos embevecidos em aléns de perenes procuras,
Cantando uma canção misteriosa que a si própria se traindo
Vai apagando os lampiões e velas deixando ruelas escuras,

Por onde semeamos silêncios e o seu subsequente alarido,
Através dum tempo que não é nosso a ampulheta quebrada
Reflecte o outrora e o para sempre, num beijo quase preterido
Em espelhos, o sorriso e dia soalheiro para ser encoberto na estrada

Branca onde o luar é bebida e sede para quem se atreve a passar
A ponte que liga as margens, saudades dessas memórias queridas,
Pois trago a poeira dos passos que não dei na algibeira, o caminhar

De mil poetas que nunca chegaram, a solidão do altivo sonhador,
Lugar e abrigo para a claridade, não obstante das chegadas e idas, 
Neste momento onde aqui distinguimos os fãs dos eternos amadores.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

O Primeiro e o Último Verso

As plumas que eram parte de asas espalham-se pelo chão, 
E eu, aprendiz de Ícaro, por ventos e tormentas subjugado,
De joelhos prostrado, suplico a quem me confira a sua mão,
Pois os danos da queda deixaram-me um pouco desamparado,

Procurando o céu e a abóboda inatingível tal rua e recreio, 
O anjo caído feito poeta inquisitivo, feito em indómito astro,
Adormecendo nesse pensamento sem qualquer medo ou receio,
Largando assim no celestial um rodopiante e cadente rastro,

O corrimão para o além vem para aqueles que são ousados,
Para os que recuperam luz da treva e da sua nebulosidade, 
Pois no final serão sempre esses os infindáveis bocados

Que satisfazem o Inteiro, Deus a falar através do Universo,
Trazendo finalmente para o terrestre Sol e a sua claridade
Criando por fim na e da alma o primeiro e o último verso.

domingo, 10 de abril de 2022

Para Me Abraçar

Acolhe-me o voo dos pássaros, um desabar de solidão
Dos apelidos que sobrevoei, as flores, as pedras atiradas
Aos meus pés, esta história contada no bater do coração,
Pelo menos o rio sabia o nome destas cicatrizes demarcadas,

Estas pálpebras com o horizonte pintadas, em breve serei um caixão,
Há que viver esta vida, levar o pincel à tela e senti-la perto, sentida,
Suspeito por procurar e por fugir de quem me quis outrora dar a mão,  
E estas carícias tornadas retoques, por curva e contracurva proferida,

Abscondido do lume de dois lábios, das sombras no quarto do poeta,
Fugidias onde o tempo se foi, memórias em jazigos, no olhar o beijo
Há muito perdido na rua tal aquele que do amor se tornou proxeneta,

E eu entre margens, sem ir e sem ficar, sem partir e sem um dia chegar,
Bebendo de minha sede, a procura da espera, o anseio tornado almejo, 
Quando virá aquela donzela para preencher o abismo, para me abraçar?
 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Nunca Encontrei o Meu Poema

Então ela sussurrava: "Nunca encontrei a minha poesia",
Por campos e prados de um outono que não parecia acabar,
Um relance ao sorriso do sol que sabe os píncaros de magia
Que foram passando, tépidos e mornos antes do mundo desabar,

Então ela pedia ao vento para permitir que a Lua esperasse 
Por almarges e pastagens, levava o suspiro a novos lugares,
Num último carinho suplicando para que o verão voltasse
Qual nascente e poente, por beijos tudo menos vulgares, 

As saudades eram de um tempo ainda por vir, tão reais, 
Ao som de um piano de fundo, um ruído minimalista
Preenchia-lhe o olhar o caminho de passos imortais

Quando tudo o que pretendia era de um astro o toque, 
Pois o coração ardia, naquela alma tão sentimentalista, 
Que assim traria o âmago do éter atrás ou em reboque.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Lamento do Sonhador Que Vai Deixando de Sonhar

Sussurra-me um cantiga feita de altitude, 
Saudades da bênção do coração, do aqui, 
Das profundezas da minha enorme solitude
Queria contar com a ventania das asas do colibri,

Estas palavras confundem-se com a voz da brisa,
Quanto tempo esta espera tornada em mim procuras,
Estranho este semblante que fala tal uma doce poetisa
Que vai escrevendo linhas da mais alta das alturas,

Rosa és falta, uma memória tornada em recordação,
Entardecendo,  que me vai trazendo o sono da morte,
Inverno longo tornado em história, tornado em ilusão,

E eu, eterno sonhador eternamente buscando a sua consorte,
Sou o primeiro a sorrir, a recair neste lúgubre fado canção
Quando apenas pretendo saborear a vida e largar a morte.

quinta-feira, 10 de março de 2022

Para Quem Vai Deixando De Sonhar

Há um pouco de vida no cadáver na morte,
E um dia sim seremos escuridão e então?
Na vida somos seixos um pouco à sua sorte,
Uma comédia deixada à metade do coração, 

Linhas ainda por traçar, pontos mal desenhados, 
Enxovalhados, retratados por instantes de espelhos
Envolvidos por dobras de lençóis amarrotados,
Sujos por dentro, portões mal fechados por velhos,

E há vontades de escrever, porém sou desconhecido, 
A queda do sonho quando para trás o vamos deixando, 
Tenho tantos ainda por cumprir, esse anseio embevecido, 

Subam ao mastro, há um pouco de vida por viver, por ver,
Apesar do medo de ao nada a cometer, vamos beijando
O céu há hipóteses ainda para permitir ainda aqui ser.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Retraçando os Passos Onde Encontramos Amor

Numa tela vai-se pintando uma valsa de alvos vestidos, 
Sua pálida pele, silhuetas latejando dentre a distância,
Não precisamos de uma canção pois há ecos contidos,
Reparem, aqui encontramos Amor e a sua relevância, 

Ele enfim se encontrou no silêncio, absolutamente perdido, 
Suas vozes irascíveis, por utopias que precisam de remédio, 
Esta fantasia é um vazio gritado por teres o sol concedido
E no seguinte segundo o teres coberto a Lua em tal repúdio,

Cerrando os punhos, fechando os lábios, o exílio da madrugada,
Deixamos a crença para trás, o almejo de respirar um sonho lindo, 
De um amanhã que se tornou no passado de uns outros pés à estrada, 

O seu abraço, o meu olhar, uma ode à perfeição em substância, 
Desperdiçamos o que outrora fomos, esse néctar vai esvaindo,
Reparem, aqui encontramos Amor em toda a sua importância.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

A Queda de Ícaro (Poeta) e o Seu Som

Este é o burburinho da ruela, mera conversa de esquina,
Estrelas cadentes recaindo em braços suspensos no ar,
Simples fotografia do mundo na alma de quem imagina,
A queda de Ícaro na perfídia desta luz demasiado invulgar,

Curvo a cabeça perante o conter de instantes acumulados,
Fragmentos de uma Vida inteira, destilando na ampulheta,
Embalado numa cadeira de sonhos, fracções e até bocados,
Para o além, para o longínquo até ao lugar onde alui o poeta,

Alguns vão dizendo de que o seu corpo jamais será encontrado,
Haja ou não escadas para subir ao céu, sem sonho, de cama desfeita,
Pois são tempos estranhos quando o último anseio é da Lua pendurado,

Quando só queríamos a aurora, a madrugada de um amanhecer por vir,
Esta é a sua queda, o quão apetece tornar em viúva esta ânsia imperfeita,
Esperanço que ele sonhasse com Glória, livre enfim num sorriso, num ouvir.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O Tentar

O murmúrio do riacho vai alçando as plumas do vento,
Lembra os quilómetros feitos, o tempo em cada perna,
As lágrimas, sangue e suor deixados por cada momento,
De uma outra partida e destino sob a luzência da lanterna,

Esse suspiro quase indelével é vínculo para uma eternidade,
Tal passo ligeiro no corredor do Universo atentamente a ecoar,
O som esmorecendo, haja luz entre esta terna nebulosidade
E vagões nos trilhos e esses trilhos enfim remetidos no olhar,

Pois hei-de a ir buscar, essa verdade em aparência distante,
E retornar partes da tela levemente como uma alba a renascer
Dentre a fagulha nas rugas do rosto de uma criança diletante

Que vai à procura de cometas e astros sendo a subir ou a descer
O sonho, amarrando pedras nos pés também para ficar, não obstante,
Do abraço ao colhido, ao voo desgarrado, do tentar e tentar e tentar viver.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A Esperança Voltará

As pegadas ecoam no espaço entre esta poça e eu,
Parece que já passei por aqui, aqui jazem lembranças
De pedras lançadas em lagos protegidos por um luar seu,
Era um caminhar sem o poeta se sentir perdido nas andanças

Que eram suas, as estórias contidas no vento e véu do instante,
Levadas para outras possibilidades, levadas para outras cercanias, 
Por lugares por encontrar onde nos escondíamos da nossa amante
Enquanto o presente era levado para o longínquo por certas ventanias,

Sua fragrância persiste no mínimo detalhe da mais pequena coisa, 
Luzindo entre memórias e tecidos agora rasgados ao esmo da estação.
Hoje ainda vai preenchendo o canto do olho onde um gentil colibri poisa,

Dentro de um raio de Sol ela virá um dia e quando cair a chuva virá também,
Ergue-se o turbilhão, levanta-se a tempestade, o aqui é propriedade do coração
Que sem objecção permite a vida acontecer onde a espera e procura ainda bebem.
 

sábado, 29 de janeiro de 2022

Entre o Ver e o Horizonte

A minha voz canta cantigas feitas somente de amor,
Ao clique vagaroso do tempo onde lacrimejando
Vai rascunhando apelidos dentro de bolhas incolor
Tal sonho presenteado em cada trilho alcançando

A Aurora-Boreal, o jardim de Éden, a absolvição e redenção,
Acalma a calma, as flores crescem e o sol brilha intensamente,
É a manhã vindoura, a aventura reconhecida do coração,
Até ser colhida pela noite quase assim de repente,

E esta saudade do que está por vir palpita na alma,
Embalada por quilómetros em perspectiva efectuados,
Somos abreviação de uma estória guardada na palma

De uma mão fugidia dividida entre o horizonte
Pois defronte a sua linha e seus poderes ilimitados
Para um ver que não se encerra por enfim ser a ponte.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

As Coisas Por Trás Do Luar

Divagações entre os lençóis de uma manhã adormecida,
Traições de uma flor que para o sol não se floresce,
Dentre o orvalho há um trilho de uma imagem querida,
Em frente de um amor que frente a si se entristece,

Sussurrando que estas são as coisas por trás do luar,
Bastando um pouco de paciência, de constância,
Assim os vagões encontram os trilhos e em nós há lugar,
Pois de onde vim agora só há o vento e a sua distância,

Estes rostos ornamentos para roupas desgastadas de areia,
Veste o tempo na ruga e cicatriz de céus outrora coloridos,
O nome sempre o mesmo, porém vai mudando a candeia,

A fome de infinito, de mais, estejamos achados ou perdidos,
Satisfeitos pelo universo reluzente habitante nestas veias, 
Perfeitos são os desígnios superiores pela abóboda difundidos.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Num Momento

Trazendo o Sol, a esperança é a última a morrer, 
Sob a língua que chama, o prefácio debruçado,
Vemos o mundo saindo da orbita, a esmorecer
Num fragmento do inteiro, a porção do bocado, 

Desabafo uma lamúria onde o vento é senhor,
Os caminhos de contracurvas, ai que saudade,
Por onde íamos sem caução, somente com amor,
Só assim encontrava-mos o trilho para a felicidade,

E desta forma podemos acabar com esta tristeza
Independentemente se sozinhos ou acompanhados,
Tal como o Sol nascer amanhã, essa é a única certeza,

E quando chegarmos saibamos dar-nos por partilhados,
Fechando os olhos, nessa escuridão prospera beleza,
Sê-a, indómito e leve, num momento por fim amados!

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Pintando A Paisagem

A viuvez das cores vivas transbordando na palete, 
Ao centro, esquerda e direita, o pincel é dançarino, 
Traçando os berços e urnas em cima do cavalete
Vai extravasando para um único instante e destino,
 
Suas cores, sinais iridescentes duma aragem passada, 
O ponto preciso, sempre esvanecente, sempre presente,
Nascendo de palavras jamais ditas, vem a debandada,
O poema na mão concebendo um turbilhão ascendente,
 
Da tela para a paisagem, assim também sou rascunho,
O Ver é o pincel, a alma a tinta mediante a sua idade, 
E heis a obra-prima de uma vida de linha a gatafunho, 

Entre a terra, o mar e o céu, sem divisas nem bandeiras, 
Vestido com a vestimenta do divino, sem vaidade, 
Só saudade de quando nossas mãos eram companheiras.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Uma Estória Digna De Ser Contada

Preenchido trazendo vento nas palmas das mãos,
Levantem as âncoras, baixem as velas dos mastros,
A carteira vazia, pois, vem cheia a algibeira de bênçãos,
Podendo não ter muito a mostrar, temos histórias e rastros

De quem passou e viu sóis e luares a nascer e a se pôr,
Porque há estórias ainda por viver e a um dia a se contar,
Este céu, abrigo para quem mais que o deseja, é nosso amador
Que sorrindo se lança querendo o eterno um novo dia alcançar,

E ao ecoar, ecoa dentro de uma perpetuidade jamais capturada,
Assim se plenificam os bolsos com belos momentos e instantes,
Cada um deles quase, quase tocado, de mente aberta e alma focada,

Deste ponto adiante de certeza de que nada mais será como dantes,
É que de tanto querer, não pretendemos mais do que quase nada, 
De tanto querer só aspiramos que o sonho surja das noites restantes.