segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Haverá Momentos

Um pouco de sol e um poço de desejos, 
Haja asas para esboçar, evocando os almejos
Que trazem Deus do universo para a terra,
Suspenso entre ambos desde o que o tempo encerra,

Tenho água rasa na nudez destes lábios,
Inesgotável na mudez de homens sábios,
Já há navios sem voltar ao seu porto,
Digam-me se têm lugar para eu ir vivo ou morto

Pois a queda é vigília, é parte da embriaguez,
É o grito mais baixo, é quase aquela surdez,
Há bruma entre o sonho, treino para a verdade,

Pois de tanto querer, acabo sempre na saudade,
Há solidão envolvida em sacos plásticos
Em tons de aguarela, em beijos espásticos.




terça-feira, 17 de agosto de 2021

Não Consigo Ver O Luzir Das Estrelas

Onde o rio atravessar o lago serei levado, 
Fazendo as malas, chegou a hora de partir
Para outro testamento, para outro legado,
Esta é a verdade que hoje me deve vestir, 

Onde o vento atravessar o ciclone serei petiz,
Com nuvens às costas, este sorriso é perdido
Pois desencontrou o coração ou um beijo feliz,
Assim segregou a mente da alma e do sentido

Que era milhões de galáxias, ao peito constelações, 
Não obstante dos ecos passados dados na eternidade,
Daqui nenhuma rima é escrita entre estas divagações,

Esperando por um sinal do outro lado da insanidade,
Disseste que me encontrarias na luz e suas refrações
Pois daqui nenhuma terra é nossa, só a efemeridade.

sábado, 14 de agosto de 2021

Quando Me Levantar

Há lembranças sim no fundo do caldeirão,
E eu cego e torturado por uma memória
Que me atormenta a porção do coração, 
Que me desdenha tal uma outra história,

Lançamo-nos no musgo, isto é quase amor,
Faço cicatrizes no meu peito, no imperfeito
Ser que tenho, lembro-me de setembro a dor
Que é minha e de quem vive e morre no leito

Pois devias ter visto o meu funeral, foi apoteótico, 
Os enlutados presentes tão novos para se apresentar,
Pesadelos sobre o mar, compartimentos no exótico, 

E eu sem conseguir caminhar, sem conseguir trilhar
O espaço entre aqui e o além, a harmonia, o caótico,
Liberta-me desta noite, há tanto a ir e ainda a chegar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Ver Nascer a Primavera

Bebamos hoje à exumação do sonho sepultado,
Aquele que brilhava, que comecem as estações
E haja o sabor de lábios e que sob eles abrigado
Haja tempo para viver do alto desses corações, 

Despertamos os astros guardados na cabeceira, 
Limpando as teias de aranha do anseio suspirado,
A Valsa de Orfeu trazendo mil ideais na algibeira
E eu, sôfrego, procurando o passo outrora trilhado,

Esta tela de aguarelas longínqua da estrela da tarde
Aguardando pincel subtil para o encanto da Vida,
A descida de uma estrela que a mim me resguarde

Para ver nascer a Primavera, é um amor a transbordar,
Procuramos a luz ao fim do túnel, a ímpar alma querida,  
Entre ambas sempre haverá uma cantiga para cantarolar.




quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Assim Passo as Noites

Esta vida vertendo-se no olhar para cataratas frias, 
A mentira foi a crença, esta vontade de pertencer,
O aguaceiro dos meus olhos, estas preces vazias,
Quando tudo o que pretendo é o permitir acontecer, 

Lembro-me do que já vi, o fôlego da morte de perto, 
Anos desperdiçados misturando-se com o ver do poeta,
Por favor, beija-me, beija para longe os espinhos e decerto
Que o amor exalará desses olhos não de uma forma obsoleta,

Assim passo as noites acordado, esperançando vossa vinda,
E esta vida significa mais pois há fagulhas perto do precipício, 
E delas se alimenta a alma, e delas se faz a constelação infinda, 

Assim passo as noites sem dormir, escutando a queda do aguaceiro, 
Um punhal cintilante no coração da verdade e por pouco o resquício
De um dia não terminado onde estes lábios não beijassem o cinzeiro.