quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Quarto Sob o Tecto Pt. III: Do Quarto Para o Que É Lá Fora

O quarto sob o tecto onde vivem estrelas cadentes,
À sua queda e reencontro ora as perco ora me revejo
Numa razão para o Verão quebro o elo aos ausentes,
Vai-se o ruído de fundo, vindo o toque em tal almejo

Que apenas importa a vista acima do topo da colina
Do caminho torneado a ouro pelas crianças do Elísio
Onde Ema, sua irmã, se torna no firmamento bailarina
E as abraça e as beija a dois passos e meio do paraíso,

Calma… Suave ouço daqui a canção do querubim
Doce e lentamente quedando-se no cimo da pestana
Adormecendo o meramente humano que há em mim,

Sublime passa diagonalmente de mim pela persiana
Sendo no que é lá fora, relembrando naquele chinfrim
Que quando a Beleza é tão bela deixa de ser humana

(… Torna-se Amor).

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Quarto Sob o Tecto Pt. II: Ao Saber Pelo Que Viver e Dar a Vida

Os heróis nascem quando sabem pelo que morrer
Da bruma da sua queda vem a póstuma inspiração
Que dá vista a quem não conseguia sequer se ver
Quanto mais obter da Vida uma superior razão,

Do murmúrio áureo aos ouvidos de quem escuta
A arte do jornadear pelo trilho dos deuses é opção,
Pois antes do aceitar há uma imensa e infindável luta
Culminando no saber quem somos e à sua aceitação

Vão-se as máscaras e aquela noite branca e infinda,
Despertámos do sono sem sonho no distante escaninho
Regressando ao Aqui enquanto o Hoje cá se deslinda

E apesar de preferir viandar acompanhado a ir sozinho
Não temerei a luz ofuscante ou o negro escuro à vinda...
Da vida à morte ambas beijarei, isso aqui e agora sublinho.

O Quarto Sob o Tecto: Do Firmamento Nocturno

Este quarto à noite simplesmente vira recreio
Onde uma lamparina ondeia e fulge entretida
Pelo firmamento do ontem num doce passeio
Enquanto aponto os cantos onde ela é reflectida

Pois pela noite somos todos igualmente belos,
Plácidos à espera do resvalar do que tem sido,
À medida que ela nos passa a mão pelos cabelos
O silêncio ganha a voz que se delineia após o ruído

Da tormenta, a longa estadia nos olhos dos torvelinhos
Que quando vem a acalmia o desterro ermo vira flor
E sorrimos vertidos no tecto já não estando sozinhos

Assim resfolgando lembrando nosso nome e a sua cor
Onde o segundo acontece e nos leva pelos colarinhos,
Aqui pretendo ir para onde quer que o dia seja ou for.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Poema Refém: Do Segundo Que Não Acontece

Alguns poemas começam assim do inaudito
Sem alguma coisa planeada ou para dizer,
Esse não dito interroga se pode ser um escrito
Ou se será só mais uma linha no bloco a se perder,

Pois há alguns dias que não são bem, bem dias
Porque passam por nós sem algo nos conceder
Para além de uma cinza silente de meia travessia
Que parece nem ser o crepúsculo nem o alvorecer,

Onde não há almofada ou camioneta que valha
Pois o tempo esquece-se de si quando se lembra
Que passa ligeiro e vagaroso ao fio desta navalha

Cuja tácita balada acorda tanto quanto adormece
Neste limbo onde se é o que a ausência relembra
Do sítio que é refém do segundo que não acontece.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Ósculo: Nas Pegadas do Viandante

Deixei o caminho para o que é lá atrás
Pois nele ainda caminho para o que será,
Estas pegadas são o que a nébula aqui traz
Em reflectidos improvisos da supernova cá

Submete-se o mundo ao caminho como lar
O ósculo do viandante ao trilho em passagem
Vê-se nas pegadas dadas, no que soube tocar
No visto e escutado que ainda soa a viagem

E que é tão breve que nem parece acontecer
Porém, serei eu a passar por ela em vislumbre
Ver-me-á ela pelo canto do olho e em parecer 

Espero que tenha sido a doce, doce distracção
Pois neste intervalo sou arrojado ao deslumbre
Que é o Amor partilhado até ao assentar do caixão.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Trago Comigo: Todos Os Que Me Tocaram

Toda a beleza que tenho aqui visto
Tenho partilhado com os chegados
E eles também se têm observado nisto
Pois a beleza é de todos nela revelados,

Tenho desejado o premente não desejar,
Insano e ofegante em busca do retorno,
Quão indesejável é esse sentido, este lugar
Onde o mundo pára e o usa como adorno,

Acreditai, estes versos não são de todo meus,
São os escritos dos lugares e de quem lá passou
E ao se ver nela reflectido fugiu ou ora por cá ficou

Por vezes sem um obrigado ou sequer um adeus
Porém nesta passagem entre Orfeu e Prometeus
Agradeço os beijos e feridas naquilo que aqui sou.

… e do resto?… do resto o que fica será um dia no que restou.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Palavras Pequenas?: A Viver a Vida de um Poeta

Sim… Sim morrerei de pé e de olhos abertos,
E ao seu abraço saberei o que é a solidão,
Adeus querida luzência de fulgores incertos
Parto sem destino à passagem da estação…

Por tanto ter corrido o mundo não esperou,
Por tanto tudo e nada ter e ter tanto querido
Parte tenho sido em torno do que não restou,
Almejo sem pensar e chego sem ter partido…

Porém por vezes sim, aconteço na pertença
Que é do momento e do momento apenas
E nesse belo, belo instante a cruel sentença

Que adorna e fere no brilho destes diademas
(Amor…) beijai-me as pálpebras e reaviai-me a crença
Deixemos o mundo ir, tornemos as horas plenas.

Confidências à Lua: Sobre a Espera da Metade

Gentil Lua, encontra-nos no Sol em breve,
Vinde a mim meu doce e eterno Amor,
Retocai de novo este doído peito de leve
Pintai-o a sonhos que lembrem vosso sabor,

Esperarei uma eternidade se tal for preciso
Desde que nosso reencontro aconteça
Sereis então o sorriso dentro deste sorriso
Pela infinda espera tê-la-ei como travessa,

Deixarei de temer a sombra da noite infinda,
Pois convosco comigo será tão mas tão breve
Então vinde doce Amor, a noite vai cedo ainda

E eis que escuto suas palavras cantadas que sigo
E do reencontro que o coração ainda se atreve
Deixei-a para trás pois a ela trago-a ainda comigo.

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VIII: Ao Caminho Como Morada

Olhando para fora caí para o dentro profundo,
Aproximaram-se os aventesmas da longa estrada
E a vida e a morte revi e senti somente num segundo,
Dei-lhes a mão… por ambos a alma ficou enamorada,

Eis que o sono sem sonho cessou perante esta sede,
Insaciável e interminável sobre e sob este tudo e nada
Incontidos pelo sufocante cinzento destas seis paredes
Aventuro-me a fazer do caminho minha única morada

Que a última maré este ósculo enfim e finalmente sustenha,
Pois digo-vos do fundo da fornalha desta ardente alma:
Não há nada nem ninguém que a contenha,

Nem vós meus ternos e demasiados amores o fareis,
Hoje serei no que o ontem deixou nestas palmas
Revivam-me e matem-me mas o sonho não me tireis!

Quatro Estações: Apenas Num Dia

Quatro estações contidas apenas num dia
Certo como a ténue linha que as separa
Mera cortina de bruma, meio toque de magia
Aqui acentuados nas expressões desta cara!

Sucedem-se as lágrimas alternadas por riso,
Crescem as flores e quedam-se as folhas
E para todos estes instantes de pontes preciso
Para alumiar e escurecer o trilho das escolhas

Pois sou recipiente para o acontecimento,
Quer no espaço ocupado como no vazio,
Legado para quem no simples tem testamento

Por isso ora corro, ora aluo no infindável sono
Que é o sonho despertado a quente e a frio,
Para mim, o rei sem coroa do reino sem trono.

Aos Querubins: As Mazurcas e o Ósculo

Na companhia de querubins além do véu do sonho,
Tão alto vivem que a névoa da terra não os alcança
E ao seu lado tenho esvoaçado tão alado e risonho
Com a espontaneidade do olhar de uma criança,

Assim nem pesam nas asas outros dias de melancolia,
Errante pelas nuvens sobre e através da luz indecisa
Aqui vão-se as noites brancas que são no dia a dia,
Aqui há oxigénio e beleza para o que a Alma precisa,

Lá de cima isto parece-se com becos premeditados,
Eu, aprendiz a Deus, só pretendo ser nesta pluma
O poema audaz e as mãos e os dedos esticados

De quem sonha e as retorna do sonho uma a uma,
Visão a visão, por crianças querubins osculados,
Trarei para cá esse abraço e o que ele perfuma.

Sobre o Rasto Cadente : … E Essa É a Verdade

Tal estrela cadente é o rasto atrás deixado
Que perdura o suficiente para ornar o céu
E que em breves instantes se torna passado
Por isso que estrela ousaria chamá-lo de seu?

Olha-as e vê-as nessa sua graciosa queda
Somos todos irmãos ligados pelo firmamento,
Quer no trilho eleito quer no atirar da moeda
Logo relevante e não importante é cada momento,

Juntos, são eles que deixam o rasto dourado,
Portanto cintilem e fuljam com toda a intensidade
Sois vós que embelezais este páramo amado

E de todas essa é a maior, maior verdade:
Escolher nossa cor e remeter-nos ao trilho ansiado,
Não são as estrelas… é a nossa  própria cor a cara-metade…

… O Reencontro: E Estou Enfim em Casa.

Envolto em seu abraço estou em casa
Neste terno chegar torno-me menino
E pluma esvoejando de asa em asa
Vagueando os confins do sonho coralino,

Dos outros encontrei algumas certezas
Não importa o seu elogio ou desdém
Pois surgem em esperadas surpresas
Mas será que de suas paredes sou refém?

Podem passar estações no tempo enquanto,
Pois de repente, de repente sou no repente
Súbito que é neste nosso mais que tanto

Que não é posse mas é em quem o sente
E que bom é sentir o lar neste entretanto,
Adormece-me Amor, estou em casa… em casa para sempre.

O Espelho: Limpando o Ser que É

Limpando a pele do espelho com sabão de rosa,
Brusca e suavemente até nele por fim me ver
Pois sou um breve poema e não uma longa prosa
Que no espelho o tempo e espaço ditam neste ser,

Olvido as lembranças ainda não concretizadas,
Esqueço os anseios ao que é para lá do distante,
Do rasto o bom e o menos tenho tido como amadas
Que se reflectem no espelho e no caminho adiante,

Espelho, extingue também este perfume feminino
Que perdura tanto que é parte cativa do caminho
Porém só anseio um Amor, apenas um destino,

Este espelho aconteceu para pela bruma ser quebrado,
Até o sujo e limpo que tem será e voltará um dia ao divino
Que seja areia então sob a espuma do mar já navegado.