segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Resquícios do Verão

Entre os resquícios do Verão e da sua melodia, 
Vem o impulso para partir, fugir destes braços,
Então caminhando sobre pontes e nesta rebeldia
Olhava directamente para o sol e os seus traços

Confinados entre as paredes de um coração,
Sem pranto, num instante que nem é partida,
Apenas com tempo para uma última oração,
Cravado um nome numa estrada inadvertida,

Outrora já foi, agora ausência do seu semblante, 
Os dias em parada passeando-se diante mim
Tal grito ecoado ao longe e hoje tão distante,

Parece que já não há espaço para ser mais assim, 
Cantava com gritos ainda na garganta inobstante, 
Círculos ao contrário e a Vida mantida em frenesim.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Entre Cubículos

Sem respostas, pelo peso de cubículos esmagados,
Por um pouco mais deixamos um trilho de migalhas,
O silêncio tem olhos, mantenham-se das janelas afastados,
Essas órbitas trazem o lutar ou fugir portanto tragam as tralhas,

Arrastado por entre as vielas da cidade, por entre o azul aguaceiro,
É apenas água, somente chuva, só lágrimas, a sempre presente dor,
Tiraram-me as sementes mas ainda guardo uma flor de um luaceiro,
Paranóico de amor e morte, não temais o facto de sermos simples amador,

E agora que todos ouvem os pregadores do vazio, beijo-vos as mãos,
As palavras gotejando através do seu queixo, as sarnas removendo,
Onde ia suspirando: "Quase que me perdia aqui entre as multidões",

Ninguém aqui é ouvido, ofegante num conforto da reflexão de um espelho
"Há alguém ai fora?" - estes passos continuam a descer e descer, moendo,
Um respirador de uma cave, e eu a ir indo entre cubículos - o jovem velho.

domingo, 11 de setembro de 2022

Desbridado

Vou, desbridado, com os olhos a dançar, cintilantes,
Pincelando nas telas orbitais cores vivas, aprendizes
Do que pode acontecer enfeitado por flores flamejantes, 
Aqui sinto a mão divina na minha mão, somos felizes, 

Envolto no suspiro de uma vida, num tom esperançoso, 
Sinto a passagem luzidia perfumada a tons multicolores,
Inebriados ao tacto, no corpo tornado sorriso solaçoso
Pois estanca a lágrima, inconfessável nas suas indolores,

Trago este olhar repleto de querubins altivos do paraíso,
Assim a vigília, entre escarpas aguçadas, meu caminho, 
Indo passo a passo em frente mesmo quando indeciso,

Desejando sob estrelas cadentes, ecoando a eternidade
De mão na mão, um mapa com estradas quase quietinho,
Fechando os olhos serei parte transcendente da efemeridade.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Um Poema Para Quem Ecoa As Constelações

Este solitário poema é para mostrar ao mundo
O traço imperfeito da mão do poeta, o esboço,
O passo deambulante prostrado do vagabundo,
É um presente misterioso entre o velho e o moço,

Os assentos com lixívia são a charada em verso,
Acordando perdido num quarto outrora sonhado,
Perseguindo sombras na parede assumo-me imerso
No luar pejado através de mil noites no chão enlaçado,

De onde venho não é para onde vou, é refeito sentimento, 
A vida por lunetas rítmicas de compassos perfeitos e canções
Duma caixa de música a tocar assim reflectindo o momento,

Sonhamos e acordamos e assim seremos todas as multidões,
A ideia de um destino rasgado, de roupas usadas, fragmento
Ecoado em lembranças de um sítio chamado casa - as constelações.