terça-feira, 24 de novembro de 2015

Esperançando

Esperançando por esta pequena janela,
Pelo nascer do sol, pelo toque da flor,
Pois tenho todo o céu como aguarela
Para aqueles dias feios cheios de dor,

Deste rio de pouco tenho a certeza
Para além de que tudo é tão incerto
E nisso encontro toda esta tristeza
Que a morte um dia me terá coberto,

Por céus e mares fui errando sozinho,
Ninguém sabe quando há-de morrer,
Faço da falta de percurso o caminho,

As lágrimas e o sangue de uma vida,
Por tudo o que ganhar ou então perder
No fim será essa equação para a partida?

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Passeia-se Mais Um Dia

Passeia-se mais um dia meio de repente,
O outrora viandante, inerte, fica na rua,
Ao relento de uma canção tão dormente
Que ele estranhava se esta ainda era sua,

As esquinas desdobravam-se ao luar,
Ele passava só onde a lua brilhava,
Quase incapaz de sentir seu passar,
Será que por lá ele ainda estava?

Ia sorrindo de soslaio à morte amiga,
Inculcava sua sombra aos lampiões,
Murmurando seu fado em cantiga,

Era a verdade de quem em si via o fim,
As estrelas se misturando com os aviões,
E enfim... ansiava o toque do querubim.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Só Uma Hora Mais

Só uma hora mais e o mundo acaba,
Aproveito para dizer o que não digo,
Só mais um pouco e tudo desaba,
É a última réstia de luzência que sigo

Por entre estas meias palavras e olhares,
Haverá rumo para o distante horizonte?
Sem destino basta de para mim bastares,
Procuro trajecto para o passar da ponte,

É o vil silêncio destes versos a sentença
Do homem procurando por si no Inverno,
O sentir falta de poiso, falta de pertença,

Não ter lugar ou sítio no mundo moderno,
Ficar nesta terra fustigada é meio doença
Até quando mais esta loucura, este inferno?

Hoje Debaixo do Sol

Hoje debaixo do sol um pouco de frio,
Sua ausência são os suspiros largados,
Ela nas minhas mãos é o espaço vazio,
É todas as porções que hei abandonado,

Aqueles bocados que hoje aqui não são,
Somos seres do céu aqui na hora errada,
Perdendo as asas, na estrada mero peão,
Deixado só ao despontar da madrugada,

Hoje debaixo do sol sou as lembranças,
Aqueles instantes em que fui inteiro,
O meio da selva, por estas andanças

Deixa um sabor agridoce nesta boca,
Esta minha saudade sob o aguaceiro,
Assim vêm barcos para a minha doca.

A Madrugada é a Terna Companhia

A madrugada é a terna companhia
Para quem vai às noites sem fim,
Sem dormir naquilo que parecia
Irmos nós passando meio assim

Quase em beleza, imortal percalço,
Resumindo toda uma existência
Do menino nu de pé descalço
E há quanto só sente sua ausência,

Correndo então contra as paredes,
Tropeçando na berma da estrada,
Não saciando suas mil e uma sedes,

Era sentir o mundo sobre sua alçada
Deixando seu peito cair em redes
E seu olhar turvo pela vil cilada.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sombras e Fantasmas

Sombras e fantasmas trazendo os dias
De mãos dadas com o que já não é,
Prisioneiro das ruas de fingidas euforias
Sem instante que traga um pouco de fé,

Assim nos esquecemos do já eclipsado,
Até a porção a que chamamos casa
Torna-se parte do já ido, do passado,
Partindo a vontade, quebrando a asa,

Já nem ouso esperar pela madrugada,
Se estes lábios já não tocam nos seus
Lá fora sou a chuva a cair na calçada

O passar do tempo é o secar do olhar
Nem me permite despedir, dizer adeus,
Quanto mais com a bonança esperançar…