quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

À Cópia da Lua Pt. II: Vela Por Mim (à Ausência da Lua)

21 gramas em entrelinhas aos pedaços
Nestes restos à beira da cópia da Lua,
Por vezes lanço-me leve em seus braços
Esperando pela Lua enquanto o dia recua,

Esta é a varanda do morto e este silêncio
É o da sua ausência onde lhe confidencio
Tal e qual quanto uma cópia me basta,
A ela tal meretriz penosa, triste e gasta,

Hoje o morto quer viver, ele quer vida!
Pergunta à Lua se ela brilhará sobre ele,
Será que ela virá, será que se fará sentida,

Entre a aurora e o anoitecer de sua pele
Serei o revelar da cópia em mim perdida
À ausência da Lua, que ela por mim vele.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

À Cópia da Lua: Vamos Por Onde Não Nos Encontrámos

Olha-a bem na alma, a Lua está acesa…
Ela, a cúmplice deste soneto que escrevo
Eu do outro lado da meia-noite na incerteza
Deste vaguear clandestino a que me atrevo,

Insónias diferentes nesta sombra das cores,
Mementos de restos de poemas e maresias
Em estórias de ninguém pelo céu e arredores
Lua, Lua minha sem dono, rainha das poesias,

Fragmentos da vertigem dos campos estrelados
Por onde íamos os dois, ela sem pé, eu sem chão,
Em nuvens tal poltronas e candeeiros tal Eldorados,

Ela sendo a luz e eu o crepúsculo desta nossa mão
Onde deslizamos em mil gotas em lagos azulados
Nós – este Tudo, este nada entre o berço e o caixão.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Capturai-me: E Fazei-me Sorrir

Por favor, capturai-me a essência,
Não vedes que quero ser capturada?
Sede o espelho da minha presença
Trazei à infindável noite a alvorada,

Ponde a mão na minha mão e vinde
Fechai os olhos e chorai-me ao ombro,
Esperarei por ser a refém num brinde
Por vossa voz para erguer o escombro

Do tempo que não passando se perde
Dentre a entrelinha desta terna espera
Pois se não vierdes que a vida me deserde

Levando-me a última réstia de primavera,
Só preciso desse sorriso como sentença
Trazei-lo na mão da partilha e pertença.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Viagens Pt. III: Por Terreno Familiar

Sou o conceito trazido na nebulosa
Espero ansioso a difusão pelo espaço
Envolto pelo silêncio e solidão brumosa
Neste desejo de me libertar do compasso

Que nem incauta criança a brincar
No afluente em direcção ao estuário,
Fluo e flutuo em mim neste abandonar
De quem sou ao reflexo do calendário,

Aquele que espelha esta subtil silhueta
Perseguindo o caminhar do mensageiro,
Visto ao longe tal esvoejar de borboleta

Trazendo o último àquele que fora o primeiro
E guardando-o no canto do fundo da gaveta
Nesta viagem feita ao toque do travesseiro.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Da Minha Rua: Vejo Milhares de Janelas

Da minha rua vejo milhares de janelas,
Estes olhos que tanto têm por onde ver
Foram sendo esquecidos pelas ruelas
Que o escuro enlaçou sem devolver…

A vista, sem pista, tornou-se na subtil cilada
Fugindo avultada levando o precioso sorriso
Até que a pálpebra ficou tão e tão pesada
Que os olhos olvidaram o que é preciso,

O amanhecer, glorioso sobre a vista indefesa
Enquanto a noite finge ofertar a Lua à viela
Donde mal consigo ver Ema e sua beleza,

Prisioneira de quem não a vê, será ela cega?
Quando o não ver se torna a parede e cela
Há sempre o feixe de luz que a vista sossega.