quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Estas Ruas Mudaram

Estas ruas mudaram, estes olhos o mesmo,
São estas as sombras de um dia passado
Que ficaram porém eu sou outro, a esmo,
Hoje fragmento da porção de um bocado,

Não por muito ouvem-se uivos de desespero,
O rosto lunar perdido num lugar distante,
Os ecos das flores amontoadas a zero,
Sendo eu então outro homem e semblante,

Tal como as ruas e as praias, a chamar,
Irrequietas pela noite adentro, o toque,
É simples e dado ao uno e doce amar,

Perdido entre vielas soturnas este coração,
Que vai andando sem destino, a reboque
De uma lembrança que era de mão em mão.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Nem Retratos

Nem retratos numa estante, nem memórias,
Seremos só o que de nós é aqui deixado,
Pouco mais do que poeira de mil histórias,
A epítome de quem se há enfim findado,

A chave para esta prisão, sem abstenção,
Dispersa por onde passamos, eterno beijo,
O poeta a ir enquanto lhe bate o coração,
De olhos semicerrados num intenso lampejo,

E perto da água perdemos nossas pegadas,
Deixamo-nos à intempérie e à sua loucura,
A vida é o seu total, sempre acumuladas,

A melodia sublime desta bela seresta
E vindo a morte e a sua vil amargura,
Há que aproveitar a vida que nos resta.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Não te Vás

Não te vás ou dês triste à noite cinzenta,
Esperando por ela com olhos empoeirados,
É todo um mundo que passa e não se lamenta
De não sermos mais dois corações apressados,

Entrega-te à luz, pomposa e tão airosa,
Que ela te beije tal a mais formosa donzela,
Que nela concebas de amor uma nebulosa,
Que assim encontres a mais brilhante estrela,

Oferece-te ao universo como único presente,
Adormece ao seu ombro, numa eternidade,
Pois quem não sabe é só quem não sente,

E nesse não saber uma ignóbil monstruosidade,
Então que hoje se faça do incrédulo crente
Enquanto vem a poeira e se instala a saudade.

Mãe, Eles Estão a Deixar-me

Mãe, eles estão a deixar-me ficar para trás,
Vai assim o vagabundo até ao final da rua,
Sinto o amontoar enfim destas horas más,
Num vil momento que esvaece e se amua,

Eu vim um dia para ver as suas belas flores,
Para enfim desejar o fim destas tristes horas,
Para dar a mão e ver no varão dois amores,
Passando o Outono, chegando mil auroras,

Já amando fugi e fugiram, azul mostrado,
Soterrado por quem diz ter sido esquecido
Em roupas de areia coberto pelo passado

Vale este segundo de lembranças vestido,
Quase venerando as noites que hei amado,
Pouco sei para além de que quase hei vivido.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Não Vale a Pena Despertar

Não vale a pena despertar, este é o poema,
Vou embora, serei alguém ao sair por aí fora,
Serei o traço de pincel no bonito olhar de Ema,
Vou embora, escorrendo sozinho atrás da aurora,

Serei água, desaguarei em qualquer constelação,
As mãos lançadas ao vento, o beijo dado à beleza,
Procurando sem saber se é verdade ou alucinação,
A única verdade será saber que tudo é na incerteza,

Navegarei a noite, o cerúleo terá espaço em mim,
Cadente e brilhante, serei o brilho de fora da janela,
Difuso na cúpula do céu, esparso na noite sem fim,

Serei também sombra e semblante na treva da viela,
Espaço aberto para rascunho de carvão e giz e assim
Repousarei preenchido e o Universo em mim terá tela.

Então Debaixo das Asas

Então debaixo das asas escondia sonetos,
Pedaços da alma emoldavam a pintura,
Duas almas dançando em ignotos coretos
Enquanto a estrada vinha triste e escura,

Acreditava assim em vestígios do sétimo céu,
Em pedaços esquecidos de instantes perdidos,
Porções de beleza do espaço que era meu
Sentidos ao expoente na mudez dos sentidos,

Vejo o tempo atravessar as ruas deste lugar,
O sorriso é a inclinação de sempre dar a mão,
Naufrágio onde passam segundos a esvoaçar

Rumo ao horizonte indagando restos de perdão,
Passa o tempo no cais de abrigo, é difícil amar,
Assim sou o mais glorioso dueto na maior solidão.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Vestígios de uma Vida

Os vestígios de uma vida dentro do peito vazio,
Cenas moldam esta janela de azuis vidraças,
Arrancando dentes a um velho enrugado a frio
Cujos pincéis concebem palavras e garrafas,

Esperando o reencontro, vagas tal praias desertas
De quem habita somente num belo imaginário,
Assim se pavoneiam incólumes as horas incertas,
Assim esvaecem os traços e riscos deste cenário,

Sonho com os mortos que me antecederam um dia,
Com a donzela que partindo quebrou este coração,
Por restos de som outrora perdido naquela melodia,

Hoje entoada por ecos de gritos e já idos pedaços,
Esta noite pretendo aquela que me beije e dê a mão,
Esta noite só pretendo morrer nos seus belos braços.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Caminhamos

Caminhamos com esqueletos no armário
Por ruas escuras de lágrimas no rosto,
Entretanto somos à lua a passagem do horário
Para onde não brilha, para lá do sol-posto,

Recostado onde os homens se dão perdidos,
Com uma garrafa em mão, lábios beijados,
Pernoitando nesta almofada dos sentidos
Onde os sonhos caem e se dão por quebrados,

Quase esqueci quem me deu a mão um dia,
Não me deixem esquecer quem é lembrança,
Aquela que é toda minha... minha agonia,

Amanhã ainda tenho uma última esperança,
Relembrar do éter traços de vera magia
E resgatar o amor verdadeiro de criança.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Um Poemário

Um poemário para o cansaço da corrida,
Espelhados pelo altivo contorno estelar,
Só mais um pouco, uma última investida
E teremos enfim sítio para um dia respirar,

Difícil é estar tão só, procurando o amor,
Escapa-se-me por entre os dedos descalços,
Onde estará a maravilha sem restos de dor?
Entre ruínas e escombros mil e um percalços!

Ergue-se a onda deixando o que era maré,
Atrás da sombra do ontem já esquecido,
Vivia vendo o mar, adeus, de estrada no pé,

Sou quem ficou na margem não trilhada,
Quem não chegou mas se deu por partido
E assim vai indo, entre o nada e a amada.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Guardo-a

Guardo-a atrás de pálpebras fechadas,
Como lembranças de um tempo passado,
Memória deixada no cinzeiro das amadas,
Quantas vezes este foi usado e quebrado,

Por ecos de ruelas tornadas vielas escuras,
Choro por quem trago neste triste coração,
O naufrágio póstumo de negras figuras
Do tempo em que íamos de mão em mão,

As saudades de quem enfim passou ao lado,
No peito há que matar esse pedaço latente,
Não viver para sempre num tempo afastado

Sem pertença ou pretenso de ir em frente,
Pois das vezes que a vida tenho evitado
Hoje só pretendo plantar nova semente.

Ofegantes

Ofegantes perante a perfídia deste tempo,
Árduos instantes, arfando por eternidade,
À sua recusa é ver-me à mercê do vento,
Vejam-me, sou apenas toda uma orfandade,

Cada passo tem um ritmo cujo eco esvaece,
Pedaços de amor, apelos sem destino,
É por aquelas vezes que a vida acontece
Que o homem grande se torna no menino

E que lembro os fragmentos do seu semblante,
O palpitar turvo de coração quebrado
Faz com que o lar pareça sempre distante,

Não vêem que só pretendo o éter resgatado
Do olhar perdido no outrora que deslumbrante
Mostrava amorosamente o beijo tão antecipado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Sonho Com a Terra

Sonho com a terra que enche o coração,
Venho de um sítio procurando onde estar,
Pouco sabia antes de verdade ou antemão,
Onde será que encontrarei o meu lugar?

Confundo lágrimas com restos de riso,
Limpo o rosto com a esperança do amanhã,
Sou tantos, todos a traço tão impreciso,
Nenhum sem se encontrar aqui para já,

O triste com a mulher feliz em lembrança,
Aprendiz de uma grande dor desconhecida,
O sorriso esquecido da simples criança,

Onde será que a dei enfim como perdida,
Quando foi que esqueci os passos da dança
Ou em mim esbanjei e a não dei como sentida?

As Pedras Nos Sapatos

As pedras nos sapatos e um peito vazio,
O resguardo para a intempérie lá fora,
Fechando os olhos espera-se então o frio,
Enquanto ela não vem e assim demora,

Viagens passadas tornam-se miragens,
Dias eclipsados em algo falso tornado,
Resta-nos o ósculo a essas idas aragens,
Todos esses passos hei enfim amado,

Enamorados pelas estrelas - mãos dadas,
Seu coração com o meu é hoje estória
De outros passeios, outras caminhadas,

Algures na margem da estrada em memória,
De farrapos ao vento e roupas rasgadas,
Pertenço a outros tempos, a outra glória.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

E Com o Vento

E com o vento vem uma nova direcção,
Algo suave e mais próximo das estrelas,
Que elas desçam e me confiem sua mão
Ainda tenho tons para pintar estas aguarelas,

Procuramos lar onde um dia fomos perdidos,
Por pódio para descansar uns ossos cansados,
Ainda há tempo para usar os lápis coloridos
E por belas escadarias ter céus rascunhados,

A vida doerá o resto de um pensar entorpecido,
A asa quebrada que não aprendeu a voar,
Tal como o beijo não dado e assim esquecido

O desperdício do poeta que não sabe amar,
Não importa a direcção nem seu sentido,
Importante é saber por onde caminhar.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quem Quiser Flores

Quem quiser flores que plante seu jardim,
Há sorrisos no íngreme instante impreciso,
Fragmentos jazem na metade e é assim
Que encontro caminho no chão que piso,

Mesmo que perca partes da identidade,
Trago-a onde ela palpita pelo coração,
Fecho as pálpebras e vai-se a orfandade
Do esquecimento do resto desta canção,

Canto e choro onde ninguém me vê chorar
Por quem espera de mão em casto peito
E que um dia, espero eu, me possa encontrar,

Pois é difícil ter fé num mundo agreste e feio,
Mais fácil é morrer perdido e contrafeito,
Desde que enfim morra de coração cheio.

domingo, 27 de novembro de 2016

Pensar é Infracção

Pensar é infracção punível com morte,
Ou pior, não vida – “Prometo amor”,
Nenhuma promessa mantida, má sorte,
Espera-se enquanto não passa a dor,

São os melhores amigos deste fardo,
Torturado e anoitecido por um ideal,
Por um porto de abrigo, um resguardo,
Para já sou na tormenta, pelo vendaval,

Desgosto, à falta da chegada sou a ilha,
Procurando quem me deu por perdido
Outrora a península hoje a armadilha,

Pensar é chaga aberta, vento esquecido,
Por vós, eu sou a brisa que a si se trilha,
A tristeza e solidão de alguém desvalido.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Rastos de Sombras

Rastos de sombras dobradas num semblante,
O seu rosto é o meu, vestígio de cicatriz,
Vejo-o chegar no tão longínquo, adiante,
Numa sede imensa que ignora o chafariz,

O reflexo dos espelhos é a ignorância
De um ser e estar que não tem pertença,
Por isso sou entre mim toda a distância
Para a margem que faz toda a diferença,

A guerra das flores não faz prisoneiros,
Não inflige chagas a quem não a tem querida,
Não detém quem sobre ela não é mensageiro

Ou diferencia diademas de uma ferida,
Pois quem vai seja ao sol ou nevoeiro
Por vezes nada mais é que interno infanticida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

E Quantas Vezes

E quantas vezes o sol abdicou de brilhar?
Beijámos a Lua e apaixonámo-nos assim,
Pelo rosto que esquecemos, o rosto lunar
E até pelo muito que não passa por mim,

A resposta à pergunta não feita sou eu,
O olhar amálgama de um pouco de nada,
Vermelho erubescido tal vil Asmodeu
Em mim vivo que nem a pior cilada,

Sombras pintadas no branco da parede,
Rindo dos invólucros largados ao tempo
Somos chagas envolvidas por uma rede,

Sustêm-me violinos, culpa e um olhar
Para o amanhã procurando desatento
Por um eterno beijo possível de amar.

sábado, 19 de novembro de 2016

Beautiful Girls

Beautiful girls do dig the best graves,
As pieces of puzzles bedazzle screams,
Shards of hearts unrelenting like waves,
Wishing for it like never-ending streams,

Further along the path, margins shattered,
And I bothered, wonder about its shimmer,
We lull ourselves to sleep as nothing mattered,
In this communion of faces growing dimmer,

Eventide of beauty, beautiful spark of light,
Where earth meets the sky I’m lost within,
The fairest tale overgrowing with bright

In ethereal grace, free from the gift of life,
Nightfall, evenfall, behold where we begin,
Without words, the netherworld is our wife. 

Deixado e Esquecido

Deixado e esquecido na berma da estrada,
O viandante assim usado tal lenço de papel,
O gosto na sua boca deixava um pouco de nada
Quanto ele se perdia no torvelinho desta babel,

Enquanto ela já se foi, ele por cá ainda ia ficando,
Ao vento e à maré distraído por uma lembrança
E enquanto o seu oxigénio não lhe ia bastando
Morria-lhe então o alento e o sorriso de criança,

Outrora seu coração era dela única pertença,
Invólucro para pinceis e cores de mil amores
Pois nesse ideal jaz então esta vil sentença

De silêncio entoado por um coração abandonado
Alheio ao burburinho proferido em seus arredores,
Desperdiçado e pelo que não virá ainda esperado.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pretendo Sentir

Pretendo sentir o vertido neste firmamento,
Esperando adiante por luz clandestina,
Sou livre e tão disperso é este intento
Mesmo que negra e escura vá a lamparina,

Imagino-a vestida de estrelas cadentes,
Onde o sol se põe, amor abre a porta,
Sinto com todo o esplendor, perdidamente
Com o suor e sangue que me corre pela aorta,

Que nasça a primavera e me beije a boca,
Que as confidências tenham um rosto lunar,
Apenas tenho este olhar e toque para troca,

Algures por lá irei, esteja calor ou frialdade,
Mesmo que suspire pela falta estelar,
Mesmo tendo do que já não é saudade.

domingo, 13 de novembro de 2016

Sou Filho Elísio

Sou filho Elísio de mão na cintura,
Vida tão pesada, vida avariada,
À procura por vestígios de candura
Dando o coração de mão beijada,

Próximo do fim neste cetim de verão,
Perto de quem não somos, sem sentido,
O cruel destino do viandante é o não,
A paragem em si e o abandono do cupido,

Houvesse quem escutasse sua voz,
Um lugar bonito para soltar o colibri,
O porto de abrigo no fundo de nós

E o seu único instante agora e aqui
Tal rio afluente correndo para a foz
Do lado de dentro contido por si.

sábado, 12 de novembro de 2016

Por Onde Vamos

Por onde vamos, vamos lado a lado,
De mão bem dada com a incerteza,
O coração em trapos veste-se calado
Ainda buscando por traços de beleza,

Aqui vamos com ninguém além de nós,
Nesta vigília, neste sono esta procura
Perene por vestígios de uma una voz
Enquanto não se encontra a ternura

Própria do cais de abrigo do amador,
Espera-se luz do sol vinda da aurora
E esse é o pior castigo do sonhador

Andar sem passar, imaginar o inaudito
Sem entender a passagem desta hora
E do que possa ser pelo segundo maldito.

Através do Mesmo Azul

Através do mesmo azul na vidraça,
As gotas d’água irrompem lá fora,
Vejo-as cair em tal beleza e graça
Que por instantes esqueço o agora,

Caem tão ternas na palma desta mão,
Brandas e leves agraciando o telhado,
Quase as consigo sentir neste coração
Que quase parece trazer-me um recado,

Já chega de trevas, já chega de ansiedade,
Está na altura de partir e quando me for
Espero perceber qual é mesmo a verdade

Pois por cá tem sido tanta e tanta a dor
A tristeza, o sofrimento e a saudade
Que parece que um dia morrerei de amor.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sentado Atrás

Sentado atrás dos degraus num banco de jardim,
Onde o corrimão é varão para o sorriso,
Construindo escadarias para o céu em mim
De brisa na face e maresia é que é preciso,

O sonho envelhece e morre tal como nós,
O sorriso também murcha e fica enrugado,
Bom é jamais esquecermos aquela voz
Que dita o que em nós é perdido e achado,

A nostalgia é barata de se ter e acreditar,
Enquanto o mundo não vem e se pára enfim
Num ruído estrondoso difícil de escutar

Nem sei se confere pluma ao caído querubim,
Pois não é peça fácil alguns instantes amar
E aceitar o mundo a girar e rodar assim.

Procuro Escadarias

Procuro escadarias que permitam jamais descer,
Por dias que se alarguem eternamente,
Pelo sonho que não sabe o que é morrer
E que de queixo erguido vai em frente,

Pela pluma perdida daquele anjo dourado,
Aquele que voa alto no sorriso de criança
Do trampolim salvo e por éter resgatado
De uma eterna busca, uma eterna dança,

Pela imperecível crença que tanto faz acreditar
No encontro enfim da linha do horizonte,
Ter também razão para esta passagem amar

E ser para todos os segundos a ponte,
Por sabedoria quando for preciso falar
E ter a força para subir monte atrás de monte.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Prisioneiros Reféns

Prisioneiros reféns em liberdade deixados,
Cativos de nós próprios e desse devaneio,
Ingratos, nesta terra de joelhos prosternados,
Este lirismo é de olhos fechados, o anseio

De um povo em si, por si enfim esquecido,
Licores, cerveja e uma ou outra bebida cara,
Que se derrame sangue e se o deixe arrefecido
Num golpe de estado, haja um ideal, tomara!

Há que derrubar o ditador do lado de dentro,
O suspiro que andam a ditar pela alcova,
O sussurro circunscrito por onde não entro

Que é aqui desprezado à estrofe e à trova,
Os destinos se encontrarão pela noite dentro
Libertem-se plebeus! Faça aqui sol ou chova!

Cortejo as Estrelas

Cortejo as estrelas na noite sem fim,
Minhas únicas amadas neste caminho,
Serão elas também enamoradas por mim
Ou irá este olhar ficar grisalho sozinho?

Içando este corpo tal uma bandeira
Percorrendo o céu deixado para trás
E os segredos guardados na algibeira
Ajudam ao lento passar das horas más,

Estrelas, neste ombro podem repousar,
Enquanto as cicatrizes se tornam coroas,
Nunca é tarde para reaprender a amar

Assim penso no instante repleto de flor
A se reflectir por inteiro em azuis lagoas,
Por favor, reensinem-me o que é o amor.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Andando Nu

Andando nu sobre alguns vidros partidos,
Fragmentos de quem fui ao ontem lançados,
Ao longe de perto – gritos algures perdidos,
Esperanças e sonhos enfim despedaçados,

Sombras onde não interessa - não importante,
Luz aqui ainda procuro e restos de aguarela
Enquanto ouço a melodia ainda distante,
Pudesse não chover, pudesse não ser ela

A razão para ostentar ainda esta respiração
Ofegante por ter mão nesta cruel estrada
Pois ao parar do mundo, deter da estação

Parece que de tudo fica apenas nada,
Parece que é hoje que pára este coração,
Deixem-no perder o pé mas face à alvorada.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Estas Veias

Estas veias são um mapa azul de vida,
Uma corrente que passa num segundo
De um momento sempre em partida
Que é fenda para um amor profundo,

Incontido sou, pássaro de asa rasgada,
Sorriso breve desvanecendo ao tempo,
Aquele grande último beijo da alvorada
Porém perdido à passagem do vento,

Dedilho palavras que jamais escutei
Enquanto a brisa as vai empurrando
E com o seu passar apenas e só sei

Que por vezes não é apenas esperando
Que se faz a criança que um dia troquei
Por este homem a si mesmo procurando.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Leva-me o Céu

Leva-me o céu, a carícia que pretendo,
O teu sorriso, quanto te estranho,
Há já tantos dias vou ainda tremendo
Sem recordações envelheço no rebanho,

Uma recordação sem lembrar vamos esquecer,
Entre as paredes restos de sua fragrância
Silêncio e pedaços de uma voz a morrer
Percorro todos os quilómetros, a distância,

Só peço ao caminho uma última força,
Que me deixe seguir a cantar sem amanhã,
De um longo inverno que por mim torça,

Como uma ilusão enganamos o tempo,
O sonho triste que vai sorrindo cá
A sombra, seu eco, meu oxigénio e alento.

Um Dia Sim

Um dia sim, serei maior do que eu,
Harmonia na vida que beija a onda,
Esperanças onde estiver o fim meu,
Amor que me faça passar outra ronda,

Quem quiser ser feliz que seja lembrança,
Tomara que não esqueçam onde passaram
E quando um dia morrer a sua criança
Que saibam que foi quem outrora deixaram,

Corram, esqueçam quem já morreu em si,
Um bocadinho de quem foi estrela passada,
Aquela bela menina ainda deixada aqui,

Sonhada em casas e labirintos de outro tempo,
Foi só mais um passo nesta estrada
Enquanto quem lembra já perdeu seu intento.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Estranhos Obscurecidos

Estranhos obscurecidos no leito da porta,
Sombras de um longínquo outrora passado,
Passeiam-se em redor de uma árvore torta,
Inspirando o tempo que há então restado,

Amor, somos somente estranhos hoje em dia,
A perdição das vielas escuras, o sofrimento,
Dessas estações tenho em mente tal fotografia
Enquanto a perdi, perdi-me a mim no momento,

Tu eras a mais bonita com o teu vestido de gala,
Procurando-te onde não me encontro – adeus,
Prostro-me tal morto no vazio de uma sala

Não sou convidado para dançar, foi-se a dança
Que continha toda a beleza desses olhos teus
Nada mais, nada mais que uma lembrança.

sábado, 29 de outubro de 2016

Amor, Ainda Veremos

Amor, ainda veremos de novo a estrada,
Entre o choro e o pranto de uma tentativa,
A imerecida busca por aquela almofada
E a continuação da findada narrativa,

Olho nos meus olhos e vejo porções pequenas
De restos deixados pelo ontem em desmazelo,
Algures onde descansa toda a minha pena,
Algures onde este sonho é só pesadelo,

Durmo e perco a luz e a perda de paisagem
É tanta de que é óbvio que falta espaço,
Que a ideia em si é somente triste miragem

Enfim contornada por giz de embaciado traço,
Onde foi que perdeste a crença na viagem
E o mundo se revoltou morto e escasso?

O Espelho Tem Duas Faces

O espelho tem duas faces, só um rosto,
Cicatrizes e a sua beleza, olhos de poeta
Que desvanecem no horizonte tal encosto
Para o ainda não visto ou tirado da gaveta,

Nunca verão pelo olhar de um poeta enfim,
Desejamos contra desejos esperançados,
Brilhamos apagados e extintos em mim
Enquanto por nós algures somos esperados,

Sonhamos com o não sonhado a traço impreciso
E quando acordámos somos rosto sem face,
Não acordados sempre procurando o paraíso

Na moldura que não dorme, deixem-me ir
Pretendo ser uno nesse derradeiro enlace
Sentirei enfim neste não saber o que sentir.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Adiante Trilhos

Adiante trilhos cravados e encruzilhadas,
Atrás de nós somente a poeira do passado,
Aqui o ser abstinente de ideias ancoradas,
Quem quereria só por si ficar a seu lado?

Olhos dialogam verdades já esquecidas,
A morte em vida sem reflexo no espelho,
O viandante estagnado e suas horas perdidas
Outrora a criança esperançada, hoje o velho,

Quietude escutada, a penúria no céu estelar
Que suspira entre murmúrios bem baixinho
“És sono, até quando poderás por cá ficar?”

Vem o Inverno, enfim aceito sua imensidão,
Por ele irei e farei meus passos só e sozinho
Enquanto se não me cura o sopro do coração.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

As Esquinas na Noite

As esquinas na noite ouvem este pranto,
Ressoando seu nome, as noites de paixão,
Aquele sorriso, aquele beijo soube-me a tanto
Que já não sei se conseguirei um dia dar a mão,

Amo-te ainda Ester, sou ainda cativo dessa fragrância
Que sossega e importuna neste resfolego cansado,
Mesmo de que hoje em dia só tenhamos distância
A verdade é que de mim levaste um grande bocado,

O azul destes olhos é teu, abafa os nossos instantes
Pois agora que havemos, finalmente, terminado,
Outrora fomos do mundo seus únicos amantes!

Porém o destino e sua insanidade assim tece
Não obstante do quanto havemos tentado
O tempo continua e o mundo se esquece.

Emaranhado na Neblina

Emaranhado na neblina da alvorada
Que ao longe apesar de me saudar,
Parece não chegar, não saber a nada,
Para além de um instante a se recuar

Para outras tramas passadas de beleza
Horizontes e apenas uma lua tão cheia,
Agora esboçado a cores azuis de tristeza
Riscos e rabiscos, prisioneiro de uma teia

Onde não há lugar para poesia ou dar a mão,
Somos levados ao vento pelas marés adiante
Ai, quem me dera ser o poeta de tua eleição

Que fosse por um mero momento, um instante,
Esta vida merecedora de ser vivida faria então
Deste amador e do seu trilho menos errante.

Promessas Tolhidas

Promessas tolhidas por acções fracassadas,
E em redor ao sol e a sua refulgência,
Suspirando o silêncio das lembradas,
Que parecem só fantasmas à tua ausência,

Confesso às estrelas o beijo não entregue,
A porção do coração não dada por completo,
E do um dia dito a ponta do icebergue
Dos afectos ainda jazendo por perto,

Confesso pensar nela a todo o momento,
Na lembrança que se alastra para o futuro,
Numa espera esperançada sem cabimento

Que de tanto se distorcer me deixa no escuro
De um triste lugar sem espaço para o sentimento,
Não me falem mais dor do coração, sei quanto é duro!

Beijos e Abraços

Beijos e abraços a quem por si espera,
A rota do indivíduo é verdade, é caminho,
Lugar, saudade do já esquecido oh quem dera
Ter sítio ao sol, pedaço e não ser tão sozinho,

Esperançados por quem beija com o coração,
Madrugada que nunca chega espero por ela,
Procurando quem não vai, alma na mão,
Porção encoberta do resto da estrela

Que brilha e fulge por cada passar de estação,
Enquanto o palhaço não sorri, a ave não voa
Ancorada ao tempo, tempo sem sazão,

Crepúsculo vem e leva o que aqui sobrar,
O viandante moribundo, o colibri à toa
Porque aqui estranhos somos do que é amar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Passos Dados

Passos dados e pulsos quase rasgados,
Amor, já esqueceste o nosso caminho,
Os beijos da tarde ao céu ofertados
Agora só mais um substrato ao ser sozinho

Que eram, que foram, que já não são,
Suspiro onde surgem restos dessa ausência,
Onde faltam pedaços enormes do coração,
Tanto que já nem o sinto tal é a dormência,

Pudesse eu repousar de novo ao teu lado,
Ser de nossa paixão o eterno escravo
Por essa jornada que é meu bocado

E nessa estação ainda para sempre algemado,
Perdido e no bolso sem nenhum centavo,
Com tantas saudades das porções que hei amado.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Para Este Mundo

Para este mundo parece não haver lugar,
Enfim sozinhos, longe e distantes,
Não a vejo à minha procura a esperar
E prendendo segundos mato os instantes,

Lembranças de um tempo hoje partido,
Inocentemente já não sei daquele beijo
Que separava galáxias em tom colorido,
Hoje em dia mal estrelas no céu vejo,

Apenas chuva e porções de um passado
Que engana, que já não é verdadeiro,
Assim sucumbimos ao trilho errado,

Impinjo as sobras às sombras do amanhã
Porém ainda admito meu amor por inteiro
Nesta lágrima que trago por onde quer que vá.

Chuva Aberta

Chuva aberta, escorrendo pelo cabelo solidão,
Ouvia então o relógio encostado à parede,
Adormecia ao ombro de quem não dava a mão
E nada neste Universo saciava esta sede,

Nenhures tremia de frio sem cais de abrigo,
Reticências após o perdido passageiro,
Cruzando esquinas tornado mendigo
De amor sem ter no barco timoneiro,

Simples a giz riscando seu próprio contorno,
Simples sem sonho ou sono, só à procura
De um lugar onde já não havia retorno

Pois soa a lar, parece ser uma aventura
E ela era coroa, sabia a altivo adorno
E a chave sem saber o que é fechadura.

Quanto Mais Perto

Quanto mais perto vou mais longe dela estou,
Partido coração porque teimas tanto?
Não vês que este é o preço de quem amou
As mortes dos sorrisos dados neste pranto,

Onde não cabe luz de nenhum solarengo sol,
Apenas espaço para negrume e solidão,
Assim caem os poetas em seu próprio anzol,
Sem a amada para abraçar ou dar a mão,

Suspiramos uma tristeza que não tem fim,
Ansiamos a morte sem alguma despedida,
Pois aqui se fragmentam homens assim

Almejando por vida mas não a tendo sentida,
Que mais pode um velho trovador fazer enfim
Se não há luz, dia... só uma eterna descida?...

Troco um Poema

Troco um poema por um pouco de vida,
Um sonho por um brinquedo de criança,
Um anseio, um desejo e vem a despedida,
A morte de Ema, amor só em lembrança,

Troco uma canção por qualquer sorriso,
Um olhar de beleza por uma paisagem
E desse ver rascunharei a traço impreciso
As linhas que fazem deste andar viagem,

Troco sozinho um último trago de magia,
A lágrima que jaz no homem moribundo
Seria suficiente para trazer luz ao dia

E aquele sentimento de amor profundo
A quem passa e passando deixa a poesia
No caminho em si e do ido ao segundo.

Somos Sombras

Somos sombras de um longínquo passado,
Sobras deixadas na berma da estrada
Por onde um dia fomos juntos, enamorados
E o mundo era lar, repouso, almofada,

Por ruas desertas hoje vagueando perdido,
As lâmpadas noturnas revestem o caminho
E a tua ausência dele a morte do cupido
O frio vem da falta, falta de amor, de ninho,

Esperava por ela muito antes de saber esperar,
Encostava beijos onde não havia abrigo
E morria de amores só por suspirar

E a sua memória é o mais cruel castigo,
Já nem me apetece construir ou andar
Pois do seu amor me hei tornado mendigo.

Enterrem Estes Ossos

Enterrem estes ossos cansados em poeira,
Este olhar é cinza enrubescendo a paisagem
Por onde tinha passado em simples brincadeira
Hoje falta-me a vontade, falta-me a coragem,

Assim é amor que preencho as horas,
Prendendo minutos com porções de nada,
Nem esperançado com estas demoras
Muitas vezes nem pondo o pé na estrada,

Repleto de areia neste olhar de asfalto,
Paralelos na garganta e pedras no peito
Algumas quase safiras outras só cobalto,

Sabes, não durmo à noite por tua ausência,
Um espaço vazio do que outrora foi feito,
Agora só outra ode em vida à abstinência.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Em Mim Vejo

Em mim vejo esta cor meio cinzenta,
Tons que entre o preto e o branco
São os rascunhos desta sebenta
Pelo trilho largado e o seu solavanco,

Pedras como travesseiro e cobertores de neblina,
Adormeço sem saber se haverá salvação,
E atrás de colina vem sempre outra colina,
Parece que não há espaço para o coração,

Já esquecendo partes que soavam a vida,
Aos instantes belos que eram voo alado
E que quando esvoaçando a faziam sentida

Há quando tempo se terá assentado tal estado
E deixado enfim partir a terra prometida,
Parece que no final nada havemos amado?

Tão Longe de Mim

Tão longe de mim está enfim a chegada,
Há quanto tempo terei eu mesmo partido?
Sei que a estrada tem sido a única amada
Pois todas as suas curvas tenho sentido,

Se soubesse do que precisa o coração,
Se entendesse quão difícil é encontrar
Então talvez por vezes fosse sim e  outras não,
Permaneço aquém do saber o que é amar,

Até vós, quanto vos tenho procurado,
Por bares perdidos nas vielas e bermas escuras,
Os cinzeiros e fundos de garrafas tragado

Batendo com a cabeça e entrando nas sepulturas
Será que também as tenho mesmo amado?
Não... Perdi a palavra tal como vossas ternuras.

Impaciência, Espera

Impaciência, espera só mais um pouco,
Assim se ornam os portões para o céu
E como tal se separa o são do louco
No resto do firmamento que é meu,

Em partilha e aceitação respiro o mundo,
Eu, o eterno viandante, amador por escolha
Como tudo se muda tão rápido, num segundo
Ao vento serei mais do que uma folha?

Rascunho sorrisos em pedaços de papel
E logo os envio para onde houver abrigo
É esta a insanidade deste carrossel,

Será este outro tom para meio castigo,
Tão frágil e delicado és tu oh Joel,
Não precisas mais de amor, precisas de um amigo!

Àquela a Quem

Àquela a quem meu coração é pertença,
De mão beijada a lado com a incerteza,
Porquê tanta frieza e tanta indiferença?
Assim só me causas píncaros de tristeza,

Brisa passageira é que é tanta a saudade,
Parece perpétua, jorrando infinitamente,
Perde-se a noção, desencontra-se a metade
Nesta árdua contenda do ser abstinente,

Teimando pela primavera e seu nascimento,
Por beija-flores deixando-se à brisa,
Ou seria mais largando-se ao vento?

Amor eu te digo, quanto ainda te procuro,
Nesta hora maldita invita-se a poetisa
Ao lugar onde ainda perdura o obscuro.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Procuro por Restos

Procuro por restos que se completem,
Estrelas fundidas quando vem o entardecer,
Que de suas fagulhas beijos enfim restem
E que em seus fragmentos aprenda a viver,

Pois morrer é tão fácil para o sonhador,
Pousa no seu ombro e suspira morte
Porém tão mais difícil é admitir o amador
Que repousa dentro de si e se deixa à sorte,

Alguns acordam e vivem uma vida plena
Cores e pincéis encerram seus horizontes,
Rumo ao oásis do deserto que serena

Sossega a calma e fulge, vai-se a saudade,
Breve bebe-se a água de mil e uma fontes
Enquanto não se encontra a outra metade.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O Pôr-do-Sol

O pôr-do-sol é este amor tão sozinho,
Desabrigo para o que já não tem lugar,
A primavera fugidia deste lúgubre caminho,
Saudades dela ao meu lado a caminhar,

Penso nela e este coração torna-se tanto,
Praia sem mão dada, jardim sem flor
E há poesia nesse distorcido encanto
Que é tão longe deste inexistente amor,

Tal estrela perdida passando o firmamento,
Por instantes alarga-se o sorriso do sonhador
Mesmo que só por um segundo, um momento,

Hoje espero pelo passado desse mútuo ser
Onde o que passa não sabe apenas a dor
Pois à falta de reciprocidade prefiro morrer.

sábado, 1 de outubro de 2016

Era Poeta

Era poeta pois construía pontes e não muros,
Recobrava o todo onde só havia fragmento,
Alumiando a parte do céu onde era escuro,
Sendo pincel de cor e tela para o firmamento,

Tornava em berço qualquer uma sepultura,
Seu sorriso era Sol para qualquer rosto lunar,
Assim dulcificava incansavelmente a amargura
Que o Homem esquecido de si não podia amar,

As estrelas e a Lua eram as suas melhores amigas,
Ele, trovador do azulino, sonhador do não sonhado,
A todas embalava com as suas melífluas cantigas

Frágeis e altivas com o beijo de poeta lado a lado,
Era o Amor verdadeiro esvaecendo as fadigas
Das pontes às margens que então havia cruzado.

Invadem os Olhos

Invadem os olhos poeiras de um deserto,
Lágrimas agridoces emanam desse pó,
Aonde posso ir se indo vou incerto
Sufocando em amor e seu cruel nó?

Lembro-me de quando íamos lado a lado,
De sonhos em mão, num só caminho
Pois de todo ruído me vejo enfim calado
Na berma da estrada tão totalmente sozinho,

Suspiro ainda assim por sua lembrança,
Por cada segundo passageiro no instante
De quando trazia o dia em sua leve dança

Para mim um pouco de sol era o bastante,
Para me fazer sorrir que nem uma criança
Numa nuvem longe deste inferno de Dante.

Este é o Último Sorriso

Este é o último sorriso para o resto da vida,
Vejam-no bem em breve será passado,
Sim tenho sido porções de uma partida
Sem nunca me ver enfim chegado,

Num tesoiro repouso e leva-me o mar,
Doce esquecimento, tolhido pela corrente,
Sem mais pertença salto deste patamar,
Indo em queda indo sempre em frente,

Hoje enfim respirarei esta água salgada,
Serei parte deste grande e imenso oceano,
Não mais uma seta triste e quebrada,

Cessem as preces de um sonho leviano
Fui desta vida a pérola desencontrada
Pois deixem-me ora ser o ouro neptuniano.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Amor Admito

Amor admito enfim minha indecisão,
Toda uma vontade de partir desta vida
Pois se a minha não passa de um senão
Fatigado cedo a esta eterna despedida,

Roupas vazias vestem cadeiras despidas,
Pela porta de trás chegou o pôr do sol
E metades de um coração são nas partidas,
O meu ferido de boca neste triste anzol,

Oh teu amor infinda coroação de estrelas,
Colhendo o perfume do teu único beijo,
Seria completo se fossemos parte delas

Pois o teu olhar ainda é tudo que vejo,
O resto é tempo sem espaço para ser,
Nesta vida estúpida que teima em não morrer.

domingo, 25 de setembro de 2016

Amor Levaste-me

Amor levaste-me a parte bonita do verão,
O sorriso aberto, o sonho de criança,
Partiu a alegria, quebrou-se o coração
E ao esquecimento deu-se a esperança,

Quem preenche hoje o teu terno abraço,
Quem diz ao teu ouvido frases de amor,
Quem te dá a mão em esbelto laço
Ou confere ainda ao teu dia porções de cor?

Eu já não sou, eu só lama na tua sola,
Restos de um ontem que nunca foi,
O amanhã até já nem me consola

Sou a ruína do único soneto - teu beijo,
Se soubesse o quanto este inferno me dói
Ou quanto o teu olhar é ainda tudo que vejo...

Porções Dela

Porções dela no arquear da avenida,
Fragmentos deixados nas ruas desertas,
É estranho pensar que toda uma vida
Seja quebrada por estas horas incertas,

Pelo rio que não flui para os mares,
Por onde vou não a vejo encontrada,
Vêm fantasmas de nós os dois em lugares
Onde lhe dei a mão e chamei de amada,

Água fecha-me as pálpebras e esvaeço
Para sítios nossos, nosso caminhar
E nesse penoso pensar assim adoeço,

Sem termos mais caminho para andar,
De que me servem as pernas se nelas tropeço
Devido a este coração não saber parar...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Esta Solidão

Esta solidão é perfeitamente esculpida
Por mãos entorpecidas a esquecimento,
Parte da estação, parte do que é a vida
Que se vai passando a cada momento,

Por vezes a negrura não se torna passado,
Tempos que não passam de forma alguma,
Assim morrem poetas, bocado a bocado
Oferecendo-se ao vento e coisa nenhuma,

Procurando quem não quer ser encontrado,
Suspirando por ela e ela então viúva de nós
Parece que o mundo não quer ser rodopiado

Parece que os rios já não almejam pela foz
E que parte completa de nós havemos deixado
Nesta viagem tão silente onde buscamos voz.

sábado, 17 de setembro de 2016

Procuro por Momentos

Procuro por momentos que durem uma vida,
Por dias de Inverno passando por um Verão,
Nesse silêncio encontrado porções da avenida
E seus sonhos frágeis perante o sublime portão,

Por onde passa apenas quem de si é esquecimento
Pois hoje é memória de quem um dia foi o passado,
Quase acalma o fantasma e mitiga o seu tormento
Enquanto quem passa o acompanha lado a lado,

Fragmentos de passos adiante sempre ecoando,
Onde alguns se perdem e outros são encontrados
Quase nunca esperando, quase nunca abrandando,

Vamos indo e sendo por completo ou aos bocados,
Vestido a trapos d’ontem que assim se vão largando
Para o regalo de uma almofada de um amanhã embalados

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Embalando-se

Embalando-se na ponta da lua crescente,
Adormecia solitária não fazendo nada,
Aguardando pela frase, o poema ausente,
Era o pé descalço, o não chegar da alvorada,

Outro lamento deixado à margem do tempo,
Num outro instante aqui não pertencente,
Onde se caminhava à intenção do vento
O seu único amigo, único confidente,

Sorrisos dispersos pelo traço deste céu,
Pensava poder agarra-los a todos assim
Porém esquecia que nem isso era seu

Era sim refém do momento e sua canção
Quase inaudível para o altivo querubim
Que lembrava de quando era uno o coração.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Andei

Andei dias a fio com pincéis rascunhados,
Procurando perfazer porções da tua cara,
Por esquinas e cantos tantas vezes mudados
Que na planície se escondeu nossa bela seara,

Pergunto ao tempo a razão para este lamento,
Quanto mais incerto menos bate o coração.
E então? Só morte espera este envelhecimento,
Ajoelho-me perante sua sombra e peço perdão,

Desculpa já não ser o jovem de sonhos às costas,
Esperançando e sonhando para lá do horizonte
Viandando para lá do sol, para lá das encostas,

Folegando estrelas e dormitando no monte,
Quando todo o risco eram simples apostas
E para todas as margens ainda havia ponte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Encontro-a

Encontro-a no fundo desta garrafa,
Perco-a e me perco a mim mesmo,
Sei que este dia a dia assim me estafa
Por isso nublado vou trilhando a esmo,

Impregnando-me no fluido da taça,
Sorvo o néctar que um dia trará morte
Porém não sei mesmo mais o que faça,
Quem diria que um dia esta seria a sorte

De quem foi e parece nunca ter chegado,
Sorvido assim em longos contratempos
Pela perfídia do trilho em si emaranhado

Almejando aonde não me levam os ventos
Parece que estou em mim quase sepultado,
Parece que já não há vista para os firmamentos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Trago-te no Meu Peito

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Espera aqui, um dia voltarei em promessa,
Suas mãos vacilantes tremiam de ansiedade,
Tua cara, o teu olhar, o teu beijar me interessa,
Esteja ou não esteja no torvelinho da tempestade,

Ama-me e deixa-me morar para sempre no teu coração,
O resto é habitação esquálida, sem espaço para nosso olhar,
Confere-me abrigo, sê o porto e terás em mim toda a razão
Para levantar escombros e contra todo o mundo assim pelejar,

As minhas belas estrelas são tuas também, somos exploradores,
De galáxias ainda não descobertas e luas um dia olvidadas,
Dá-me a mão e lar será onde estivermos com olhos de pintores!

Lar será onde estivermos, chuva primaveril passageira e nós dois,
Amantes dos vales, planaltos e montanhas um dia já ultrapassadas,
Trago-te no meu peito para onde quer que vá e sobre nós dois mil sóis!

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Estes, suspira-me ao ouvido estórias que o tempo foi levando,
De ventos esotéricos de outras épocas em que ia-mos lado a lado
Confesso, para alem de nossa Beleza conjunta, pouco vou almejando,
Todos aqueles instantes, todos aqueles momentos levados aos bocados...

Agradeço a impossibilidade de nosso encontro, de nossa história de amor,
E que por vezes, alguém, vê o seu caminho cruzando tal estrela cadente,
Agora que o mundo diverge, apenas te digo que ainda tenho o teu sabor
Nessa passagem tão breve que apenas realmente conhece quem a sente,

Estas palavras são fotografias para quando esqueceres a minha face,
Para quando outro tomar o meu lugar, essa elegia sem interlocutor,
Que me há-de matar, até lá sabe, fui todos que pude ser no desenlace

Da abertura da cortina para nós, a peça pode continuar, basta acreditar!
E fazer por alcançar o que parece ser o horizonte – tudo isso é Amor!
A insanidade, a dificuldade acrescida é preciso tanta coragem para amar.

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Estas Ruas Impregnes

Estas ruas impregnes de estilhaços silentes,
As palavras não ditas, a perversão das proferidas,
Parece que somos filhos de pais ausentes
E que jamais chegamos pois somos só partidas,

Nesta comunhão de insanos, nesta estação,
Onde as eras não passam, somos folhas
Em queda livre pelo périplo do coração,
Não interessa o decidido nem as escolhas,

Pois nesta vida somos só marionetas,
Pedaços largados nesta pele vestida,
Perdendo objectivos, perdendo as metas

E todo o querer de uma passagem sem sentido,
Já não tenho coração para outra despedida,
Porém já nem sei bem o que tenho querido.

Longe

Longe é uma palavra fria e distante,
Suas sílabas em minha língua travadas
E este corpo tão triste, moribundo e ofegante,
Parece ser só abrigo para as trovoadas,

Procuro-te na beleza sempre tida no aqui,
Hoje - apenas outra vista para o passado,
Sabes?... Tenho tantas e tantas saudades de ti,
Que de mim pareces ter levado um bocado,

És o lugar que me trouxe enfim felicidade,
Agora o fantasma ao pé da minha cama,
Ainda tento alcançar-te de verdade,

Porém parece que a vida ainda me chama,
Então deste canto escuro face à nebulosidade,
Sei a cor das lágrimas de quem ainda ama...

Preciso Dela Sim

Preciso dela sim, que nem água vertida
Nesta boca sequiosa de tudo e de nada,
Farta-me tanto o adeus, a despedida,
Cansa tanto colocar sempre o pé na estrada,

O viandante enfim parou entre margens,
No fragmento que é resto, que é ponte,
Ofegante de novos trilhos, novas viagens,
Na impossibilidade de alcançar o horizonte,

Pesava-lhe o céu, carregava peso morto,
E a sepultura sussurrava-lhe de perto,
À procura de uma fonte, à ida pelo deserto,

Oh como se tornara este mundo incerto,
Serpenteando-se assim ao caminho torto,
Enquanto seu olhar se perdia absorto.

Temos Telas

Temos telas nas palmas das mãos,
Belos pincéis nas pontas dos dedos,
São lembrança quando se vão os chãos,
E à presença voltam mil e um medos,

Amor, preciso de ti que nem oxigénio,
Para passar a tenebrosidade destes dias,
Podia passar o mundo, passar o milénio,
Porém ainda acredito que exaltamos magia,

Suspiro pois sei que um será enfim dois,
Que nossos caminhos divergem no futuro,
Mata-me então, não me interessa o depois,

Viver aqui tem de ser assim tão duro?
Silencio minha mudez e refugio-me pois,
Nesta minha vala comum de amor obscuro.

Nossa Antiga Casa

Nossa antiga casa é invólucro para fantasmas,
Lar para ternura largada ao passado,
Um inteiro coração em imensas chamas,
Uma lembrança bela do já terminado,

Porém continua tal galinha sem cabeça,
Ensanguentado o chão com sua tristeza,
Porém dava tudo o que me interessa
Para fazer ainda parte dessa beleza,

A próxima paragem é nevoeiro feito de poeira,
O cangalheiro anda em lembrança
E do meio deste pó, desta canseira,

Morre em mim o último sonho da criança,
Fenece a última esperança solteira
Por juntos nunca termos perdido a aliança...

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Cenas

Cenas de cinema formam a janela,
Estendidas de moldura em moldura,
Mil instantes tal cores pincelam-na
Tocando sem tocar cheio de ternura,

Esconde-se o Sol em qualquer sepultura,
Só um pouco de ontem nesta algibeira,
Objecto do fruto de quem ainda procura
Porém já esqueceu a chuva na esteira

Que era de quem vivia à sombra do sonho
E nele era parte de fragmento maior,
Hoje o aguaceiro deixa-me tão tristonho

Que parece nada existir para além dela,
Assim se perde o sorriso e porções de cor
Enquanto que por nada se preenche esta tela.

Hoje Celebremos

Hoje celebremos a morte do sonhador,
Aquele abatido do alto, perto do sol,
Saibam que ele era o último real amador,
Seu riso equiparado à canção do rouxinol,

Percebo agora que sem penas ninguém voa,
Que sem cor não há pincel preenchido,
Por isso voo meio perdido, meio à toa
Por vezes sem ter da paisagem nada retido,

Fecho o amanhã e sua chave é perdida
Por dias passados levados adiante,
São ventos que apenas conhecem a despedida,

Se bem que por vezes não seja o bastante
Para animar a alma por eles colhida
Nesta corrida que me deixa tão ofegante.

Para Trás e Para a Frente

Para trás e para a frente, despretensão,
Sozinho de negrume em boteco a boteco,
Quase pouco, ouço o olhar chorar de paixão,
Batalha infinda onde somos par do caneco,

A verdade é segredo para outro dia,
Mal ouço o perdão do que ainda não cometi,
Sou valsa comum, a perca da magia,
De quando era toda a luz e o sol em si,

Perdoa minha volúpia tão desmedida,
O voltar de um século que não volta,
Sabe, apesar de me perder ainda és a querida,

O cais de abrigo para o homem perdido,
A margem da aragem que se quer livre e solta
Neste bater meio teu mas meio dolorido.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O Tempo Passa

O tempo passa e esquece-se docemente,
Eu, todo o espaço entre duas margens,
Vou caminhando rápido e lentamente,
Perfazendo-me num resto destas viagens,

O tempo passa e esquece-se negligente,
De nossas mãos reflexos do firmamento,
Assim paro de respirar meio de repente,
Ecoando pelos corredores este lamento,

De quando tempos passavam sendo nossos,
Instantes tornados memórias de primavera
Que para sempre me atravessarão os ossos

Mesmo que um dia pareçam de outra era,
Neste peito batem em mil e um alvoroços,
Até vos reencontrar, serás vós só uma quimera?

domingo, 14 de agosto de 2016

Alguém Me Dá

Alguém me dá boleia para a morgue?
Vestígios de roupas por sombras ladeadas,
O mundo sonolento me há deixado grogue,
Visto-me de restos de lembranças deixadas,

Escuro quarto onde pernoitam perdidos,
As portas sem rumo, fecho as cortinas,
Era por eles que abria os olhos e vertidos,
Eles me concediam alegrias divinas,

O sonhador é o único que pensa ver alguém,
Somos cercados por dias já numerados,
Tornando o negro em cinza, com ou sem

Onde passam aqueles que fomos um dia,
Todos os sóis e luares sempre esperados,
Vede, só espero por um beijo de magia...

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Enfermos São

Enfermos são estes que ficam hesitantes,
Este lugar é país para almas penadas,
Da janela ouço lamentos distantes
E não durmo fruto de mil noitadas,

Tanto falta e tanto mais há-de faltar,
A ferida aberta é a prece silenciosa
E enquanto não basta o que bastar,
Extingue-se parte da ânsia preciosa,

Assim para o mundano se perde o poeta,
Fado triste este da incerta madrugada,
Nevoeiro nublado pela escuridão preta, 

Enquanto não há pé que se lance à estrada
Vai-se lentamente a areia da ampulheta,
Somos refém do prisioneiro do conde de nada.

O Olhar Das Pessoas Já Não Me Diz Nada

O olhar das pessoas já não me diz nada,
Vagueio, tal folha no rio, sem destino,
Perdi a ponta de esperança, o pé na estrada,
Tantas estrelas idas neste olhar clandestino,

Devagar, devagarinho o riso vai assentando,
Sou o resto que ficou não sendo levado,
E daí ninguém me ouve gritando e gritando,
Não vedes que com toda a alma hei amado?

Os passos dados parecem levar nenhures,
Ardentes sedes que não encontram extinção,
E pensar que tive lugar um dia, algures,

Uma mão caminhava alada com a minha,
E eu sorria, do mundo conhecia perdão
No longo trilho de uma vida sozinha.

A Frieza

A frieza da parte de uma cama vazia,
É ausência da fragrância de amor,
Vista na escuridão de um meio-dia
É difícil ver então porções de cor,

Pouco mais que nada há aqui ficado,
Ventos e marés refúgios doutra margem,
E eu que nestes dias tenho pernoitado
Ainda tenho em mente parte da viagem

Feita com amor e carinho por cada bocadinho,
De sorriso e lágrima de mão em mão,
Assim era feito de detalhes nosso caminho,

Assim ia batendo alado um coração,
Por isso escuta, fala então baixinho,
Aqui foi onde deixamos nossa constelação...

Um Dia Ela Foi

Um dia ela foi em mim a partida,
Breve lágrima em olhos rasgados,
Levando os sonhos de uma vida,
Enfim caindo por céus desmoronados,

Pergunto se um dia seremos reencontro,
A fragrância de primavera e amor,
Seja onde for que haja novo encontro
Pois já não mais aguento esta dor,

Passa a poeira de um vento antigo,
Por um lugar só todo em lembrança,
Mal encontro paz, serenidade ou abrigo

Em mim morre a esperançosa criança,
Quando nem a morte é o pior castigo
Assim se perde a última lembrança.

Vida Que

Vida que tanta morte vai deixando,
Vaga é fatiga, percurso da estrada,
Eu, pela orla do tempo passando,
Vou largando a onda desamparada,

O vento leva as fundações construídas,
O bocadinho de magia que pertencia
À hora dos amantes, às saídas,
De todo um ser que tanto queria,

Somos murmúrio no ondear da maré,
Ruído de fundo de uma era findada,
Assim perco a esperança e a fé

De um dia ter algo, ser alvorada,
Como as árvores morrerei de pé,
Não implorando mais por nada.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Via Uma

Via uma donzela perto do mar,
Seu cabelo a onda da perdição,
Um abrigo para a tormenta sonhar,
O apressado tiquetaque de um coração,

Pela cálida areia ia de pé descalço,
Todo o meu mundo o seu refém,
Seu olhar o reflexo de um espaço
De que já não há lugar cá ou além,

A vida é cadáver e a mão beijada,
Em dia em que deixa de sair o sol,
Perde-se sonho, a esperança é quebrada,

Vai a donzela deixando o seu mundo
O poeta na sombra do seu anzol,
Recaíndo num fosso sem fundo.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Vai-se Passando

Vai-se passando o que sublinha,
Escrevo no caderno uma pintura
Digna de uma qualquer entrelinha
Enquanto se aguarda pela sepultura,

Nasci obviamente fora de meu tempo,
Deveria passear pelo jardim do Romântico,
Sabeis, aquele que se dá ao vento
E pernoita ansiando junto do Atlântico,

Observando a queda de estrelas cadentes,
Contando as bolhas oriundas do mar
Esta é a forma deste coração sentes?

Esta é a sua única forma de trabalhar,
Pois o resto passa tão, tão ausente,
Que se vai esquecendo o que é sonhar.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Esticamos a Pluma

Esticamos a pluma no sonho alado,
Parte do resto de uma lembrança,
Era nesse espaço, breve bocado
Que sorria, que vinha a esperança,

Não importa o que vem amanhã
Se hoje procuro quem me espera,
Pode vir pela tarde ou pela manhã
Desde que traga gosto a Primavera,

Teremos um dia um beijo, alvorada,
Por um pouco de liberdade, descanso,
Enquanto não vem ainda a madrugada,

Portanto celebramos hoje quem virá,
Dedos esticados e o horizonte alcanço
Braços abertos e o sonho um dia será.

sábado, 18 de junho de 2016

Perdido Entre

Perdido entre as fileiras de nevoeiro,
Na bruma que existe somente em mim,
Esperançando enquanto vem o aguaceiro
E a vida se desfaz mais ou menos assim,

Procuro por ela onde ela já não está,
A tristeza própria de quem almeja,
Vagueio sem rumo porque será?
Escondendo o olhar que lacrimeja,

Sou os ofendidos e os humilhados,
Os pobres diabos na berma da sarjeta,
Os fragmentos de sonhos quebrados,

Os sonhos sonhados pelo poeta
Erguidos por horizontes azulados
Envolvidos no voo da borboleta.