quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Entre Dois Corações Através do Tempo e da Distância

Nesta praia vejo porções de passos emparelhados,
E a sua mão na minha atravessam o lesto oceano,
Onde se aventuraram alguns marinheiros encalhados,
Por onde fomos adiante perante as ondas e o insano,

Nostalgia do que passou e dos instantes ainda por vir,
Saudade de momentos em que em um nos fundíamos,
Num terno e eterno sonho sonhado a chorar ou sorrir,
Contornados a corações de papel, onde belos urdíamos

Firmamentos repletos de estrelas entre horizontes distantes,
Apesar da distância, trago o seu coração neste coração,
Ondulando de onda em onda em doces beijos mareantes,

Trago-a no espaço que corre atrás do tempo, nestes ventos
Que afastam e unem duas almas solitárias juntas pelo vagão
De uma Vida e seus caminhares e seu inabituais cruzamentos.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Até o Amor Dói

Que abismo abrirá este cárcere para matar esta dor?
Cairei tal estrela cadente entre as nuvens adjacentes,
À sepultura de uma vida, entre os dentes de uma flor,
Até o amor dói para os crentes ou mesmo descrentes,

Preciso de oxigénio e que me ensinem enfim a respirar,
Pois de olhos fechados perco o meu sítio, perco o lugar
Que me mostra o além do horizonte, o doce nascente,
Até o amor eleva o doce crente ou até para o descrente,

Esquecemos os votos, ficando apenas com a nostalgia,
Que é ilusória, que é fictícia, um pé para trás da berma,
Amor, percebe-me, só pretendo aquele pouco de magia,

Não as migalhas que semeias nesta fonte de água sedenta,
Não as côdeas que plantas nesta ria com esta tristeza enferma
Que me prende, que me amarra, que em mim vem e rebenta.


quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Beijo Dado no Pavimento

Estorva-me este beijo dado no pavimento,
Serei substrato sob o solo enfim deixado,
Por cada passagem do instante, do momento,
Parece que por mim jamais fui ainda perdoado,

E apega-se na vista um lenço tecido de poeira,
Vejo menos com cada passado aqui conferido,
E logo se me quedo, recaio, me dá a canseira,
Da estrela cadente através de um céu querido,

Vou escutando uma voz dentro de uma cave fechada,
Questionando se pretendo tudo ou se quero nada,
Eu, a sombra de um vulto, o vulto tornado semblante

À distância de um além do horizonte, o petiz infante
Em que cujo olhar cabia o céu, esquecido à orfandade
De um beijo dado no pavimento numa eterna beldade.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

E Esmorece-me o Chão

Estas antigas feridas tornam-se numa prisão,
Respiro restos de ar de um sítio sem pertença,
Agora que dois se afastam do bater do coração,
Baixo o olhar, esmorece o ânimo, vem a sentença

Onde sou juiz, júri e carrasco de um olhar penante,
Despeço-me da alegria de viver, revolvo as costas,
Bebo da fonte desta sede e esta água é estagnante,
A morte do sonho, o largar da mão, a cair das encostas,

E falta-me corrimão tal é a ausência de um porto de abrigo,
É óbito da quimera, as mentiras adjacentes, a bater no fundo, 
Transformando Éden no Inferno, de amor sou ainda mendigo,

E estou cansado de não dormir, este é um dia moribundo, 
De que me serve sonhar se depois acordo? É este perigo
De amar de que ninguém fala, a dor de acabar em segundo.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Em Busca do Lar Interior

Nos olhos trago o mar, um oceano e um deserto,
A ti, envolvida por lençóis, pela brisa envolvente,
Vou ouvindo o trautear do relógio sempre incerto,
Porém, desta vez, nesse tiquetaque há algo diferente,

Parece bater mais próximo do ventrículo esquerdo,
Permitindo o sonho erguer-se para lá deste horizonte,
E sentindo na sua plenitude e ser na ausência do medo,
O deixar de ter sede da própria sede, enfim beber da fonte!

Para trás um Inverno longo por gerações e épocas contado,
Entre lembranças difundidas por um eco entretanto disperso,
Esta é a ilusão de um tempo retornado finalmente em passado,

Essas sombras dançando nas paredes serão vultos na madrugada,
Alcançando o zénite, as roupas usadas deixam de servir, e eu absterso,
Procuro o sítio para chamar de Lar, deixar por fim de ser servente da estrada.

Reflexões Efémeras e Transcendentes

O silêncio destas palavras traz-me serenidade,
É efémero pensar que para sempre aqui estarei,
Será que deixarei aqui uma marca na eternidade,
Algum vestígio regular daquilo que fui ou serei?

A luminosidade que ao peito é brisa então trazida,
É um subtil beijo na aurora, sussurro na alvorada,
Lamparina entre a escuridão crepuscular aduzida,
Por vezes, sou os ecos entoados através da estrada,

Aconchegado no sonho, há ternura e esta encantação,
O céu fica mais estrelado, é a serenata aos sentidos,
E neste espelho vejo finalmente esta minha reflexão,

Esta é a altura para nos erguermos da silente sepultura,
Tomarmos novamente as rédeas destes fados enaltecidos,
Despertar a claridade para além do horizonte e sua envoltura!