terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Fragmentos da Ausência

Sou a porção e a brecha dentre o pavimento,
É a frágil ferida como oxigénio em pedaços,
Esta não pertença é fatigante, traz o fragmento,
Insatisfeito e contrafeito vou perdendo os laços,

Estas mãos penitentes criadas pelo sonho rasurado,
A lágrima do ontem, o arrependimento do amanhã,
Tentando encontrar o sol enquanto sou encurralado,
Almejando a presença de quem se prostrou numa maca,

O silêncio é a voz dos perdidos, o beijo não retornado,
Até um dia, expressa-me nesta partida, numa mão vazia,
Entre vagões oxidados, anjos caídos e um coração pesado,

E eu já estive por cá, eu já fui mais hoje do que presente,
É o precipício que acalma homens como eu, venha o dia
Do descalabro, do ensejo do e para o eternamente ausente.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Reflexões de Encontros e Desencontros

Prolongo o fôlego do terno reencontro almejado,
Por isso vou respirando no meio desta tristeza,
Pois por ela fui enfim e novamente encontrado,
Quero de novo cantar as vicissitudes da beleza,

Perceber que há espaço para ainda ser sonhador,
Que o beijo é melhor quando a dois é partilhado,
Sim, sou amador com donzela esbelta e amada,
Trago-a no peito, no vislumbre do coração acenado,

E na roupa usada colocada sobre a cadeira empoeirada
Coloco segundos, ela já é demasiado pequena para agora,
E esta é a dor de olhar e não ver pelo espelho da retaguarda,

A dolência da não morada, da tentativa de lar quase em vão,
Fecho os olhos e imagino que finalmente vamos todos embora,
Esta é a consequência de quem não consegue colocar o pé no chão.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Dentre Pausas e Ciclos

Esperando o retorno do fôlego, o assentar da poeira,
Não procuro o que já encontrei, preciso de repousar,
Entre as folgas do pavimento liberta-se esta canseira,
Esquecendo o momento eclipsado que não irá retornar,

Expresso profundamente o almejo desta ímpar caminhada,
O bocado pertencente ao soalho que vou enfim passando,
Entre o espaço dos tijolos desta prisão, há uma escapada
Para outros tempos e ventos que aqui ainda vão soprando,

As chuvas caídas pelo chão escorregadio de outras estações,
Mostra o quão é importante respeitar o instante e sua pegada,
Pois quando desaparecermos será preenchido pelas pretensões 

De novos e desconhecidos momentos, de uma renovada jornada,
Entre os segundos que, entretanto, fui, o turbilhão e os furacões,
Trago-os a todos nas algibeiras, dentre os dedos, na alma cravada! 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Segundos Enrugados

Sou frases perdidas, o pássaro azul de asa quebrada,
De olhar ermo, pele pálida e plumas arrancadas, 
Perguntando se o voo é somente partida sem chegada,
Aonde as sortes foram sob a chuva gélida esbanjadas,

Que não falte um sonho a este mar de esquecimento, 
Pretendo só apenas mais um instante, silentemente, 
E despertar novamente com rubro em sentimento, 
Pois dissolve-me o recordar, a rubrica do antigamente

É peso e tristeza, a ilusão é a passagem para a carícia, 
Estranho-me a mim, confundo as palavras com a voz
As bermas das ruelas recorrem a abraços,  que delícia, 

Imagino a melancolia que passa entre os vidros azulados, 
Onde me pesa o Inverno, o rio que não alcança a Foz, 
Revendo o espelho de outros segundos enrugados. 




quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Versos da Astral Biblioteca

Através destas veias correm-me ideias e inspiração,
Escrevo acerca da Obra Superior, a Astral Biblioteca,
O pulsar perene que encharca as artérias, o coração,
O olhar e Ver que se expande e nunca terá hipoteca,

Através destes pulmões respiro o ar de mil idos profetas,
A verdade inescapável que submete Deuses à humanidade,
O esbelto rascunho que contem o fôlego de outros poetas
Que concederam ao Mundo vales e montanhas sem idade,

Através destes dedos rabisco estórias sobre a profunda beleza,
Mesmo que por vezes esta se rodeie por vidros azuis tornados,
Sim, não finjo ser para sempre feliz, reconheço bem essa tristeza

De ser diferente, de ser petiz, porém aí mesmo há também aprendizado,
Conhecer que há limites mesmo para o Homem Inteiro e sua destreza,
Saber que por vezes nem de nós mesmos somos sequer um bocado.

Entre Comboios e Anjos de Sessenta Toneladas

Mil comboios passando sem parar nesta estação,
Tais aqueles pores do Sol por um gesto atrasado,
Com óculos escuros parece que se escapa o Verão,
Portanto esqueço seu brilho no olhar estampado,

A queda na Terra de um anjo de sessenta toneladas,
Vejo sua estrela cadente entre as nuvens escondida,
As cicatrizes das suas pálidas costas, as asas quebradas,
Suficientes para colocar o firmamento sob sua guarida!

Esmerada a Luz que avança acima do céu diante os portões,
Deixamos os segundos prisioneiros para trás, na retaguarda,
Pois esquiva-se os ontem, lotado e apensado sobre os vagões,

A chaminé a rugir, o vento a uivar, chega-me a linha para trilhar,
Mesmo que estas se esquivem entre as rodas desta resguarda,
Esta breve e esbelta viagem ainda está para um dia recomeçar.

Ode à Conexão Profunda

Há algo no seu olhar maior do que esta Vida
O beijo solta-se quando enfim lhe dou a mão,
Sinto-me a esvoaçar numa chegada merecida,
Assim repleto e preenchido por ela neste coração,

Os seus lábios são mesmo à minha certa medida,
O seu deslizar sempre perene diante cada estação,
Sinto-a dentro do peito eternizada, tão querida,
É o Sol que nasce e a Lua que se põe na monção,

Há algo indescritível no seu rosto pela luz rascunhado,
Uma bênção num sorriso largado, numa envolvência,
Pois simplesmente ela é tudo com o que tenho sonhado,

Em boa e completa verdade, ela é a minha essência,
Acredito que somos duas almas criadas do mesmo bocado,
Ela traz-me crença, traz significado para esta minha existência.