quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Às Três Cores Pt. III: A Encruzilhada de Todos os Dias

Vi um homem numa encruzilhada,
Três faces possíveis ao tão iminente,
Das três só uma era viável calçada
Para poder ser dentro do recipiente,

Um arredou caminho, voltou atrás,
Adiante tudo era sombria incerteza,
Temia os segundos pelas horas más
E desdizia-os não vendo a sua beleza,

Outro foi em frente sem qualquer medo,
Não se arrependia do ontem eclipsado,
Para ele nunca era tarde ou sequer cedo,
Ia sempre em frente mesmo estando errado,

Outro porém escolhia e depois caminhava
Ora então escutava o vento ou a sua voz,
Cada instante seguia ou se desviava,
Sim, era ele o mais sábio de todos nós,

Era eu quem de longe ao perto os era,
Vestindo todos nesta rasgada pele,
A inocente presa, a maculada fera
Passageiro e barco para todos eles.

Ía o Poeta: A Covardia da Falta de Chão

Era ver a canção sem o cancioneiro,
Já nem me lembrava tal história,
Parecia barco sem timoneiro
Ou lembrança sem memória,

“Não há sitio pois caibo em todos”
Lamuriava então o poeta à parede
“Perdi o pé, olvidei-me dos modos,
De tanto beber esqueci qual minha sede”

Errante, sobre as areias descalço,
Sob o peito suas mãos tão frias,
Havia ecoado o conto do poeta falso
Por isso descia por infernais escadarias…

Sem crer nas palavras que proferia,
Sem acreditar na beleza que vira:
Outrora fora, hoje era noite sem dia,
Era o caminhar que ele próprio traíra,

Restos de estrelas caiam-lhe entre os dedos,
Havia toda uma viagem sido em vão?
Perguntava-se para onde foi a coragem por medos
E onde é que foi que o mundo lhe partira o coração…

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Dia: Hoje

É o dia em que irei alcançar a aurora,
Espero ser a ave que voará mais perto,
Hoje é o dia em que irei enfim embora
Algures onde o páramo for bem aberto,

Por esse esvoaçar voo e vou pensando
No instante em que parti e na chegada,
Até me pergunto desde e até quando
Será este voo o colibri ou só sua fachada?

Deixo-me ir, vou-me e deixo-me um pouco,
No olho do torvelinho ao desenlace da asa,
Então berro e grito bem alto até ficar rouco

Deixando a terra atrás pois o mundo só atrasa,
Ainda e vejo, num beijo ao insano, ao louco,
Deixo-me pois caminho sobre o ar, em casa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Às Três Cores Pt. II: A Vertigem do Carrossel

Na vertigem indomável do carrossel
Que sanem as cicatrizes d'ontem acolá,
Aceitando o beijo efémero da Babel,
Serão elas as medalhas de amanhã,

Relembrem o rouxinol que perdeu o canto
E que por vezes é tão bom sentir saudade,
Há vezes em que “plim!”, vai-se o encanto,
Mas fará isso das ocasiões boas menos verdade?

Não foi, é e será a todos difícil obter o permanente,
Ou sequer olhar mais longe que o próprio umbigo?
Há quem esqueça que o corpo pode ir de repente

Mas é isso o que faz de todos nós o viajante,
Então vá, vem comigo que eu rirei contigo,
Passo a passo rumo ao longínquo distante.

Às Três Cores Pt. I: E Todas as Cores Entre Si

Às três cores – ao negro, branco e eu
Que estejam sempre lado a lado,
Um brinde a vós, tiro-vos o chapéu
Mesmo quando vos hei desprezado,

Não é o caminho feito de caminho,
Ou será ele o acto de caminhar?
Vá-se acompanhado ou sozinho,
O importante é nunca querer parar

E saber adormecer nos braços da Lua,
Sorrir e suspirar por acalmia e boa maré,
E ao seu belo toque leitoso na pele nua...

Saber quando a estrofe anterior for cliché,
Aí aceitar a porção sem tinta no pincel,
Permitir ser aquilo que é o que não é.

Amor: Abri-me a Porta!

Amor, fantasmas de mortos vivos lá fora,
Arranhando os vidros azuis sem parar,
Não dormirei bem, tão tardia vai a hora,
Quanto tempo sem tempo virá sem passar?

Amor, deixei a minha porta entreaberta
E cá fora apenas solidão, frio e tristeza,
Sim vim de cantos obtusos pela rua incerta
Mas só prova a Vida quem morre por beleza,

Assim honro-a ao morrer, morrer, morrer…
Porém abri a porta raia a madrugada,
Se não a abrirdes então deveis saber

Que jamais saberei o que é a chegada,
Fui à Guerra das Rosas para me render
A vós Amor, a mais sublime emboscada…

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Aos Embriagados: Bem Acompanhados

Ilustre e querido estranho - melhor amigo,
Esta noite, ombro a ombro, lado a lado,
Grato por aguentares tão bem comigo,
... agora que bebamos mais um bocado!

Até se tornam mais toleráveis as pessoas
E as luzes citadinas em minha maravilha,
Enfim, aí todas se tornam tão boas,
Vem o brilho donde nenhum sol brilha,

Vomito na rua, no passeio e pelo beco,
Nesta nossa bela ebriedade ligeira
E se um dia julgar estar desperto

Que me torne novamente na bebedeira,
Pois por duas sombras estou coberto
São elas a loucura!!!... e a minha canseira....