quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A Ema XI: Através das Noites Brancas

Noites brancas, insones pelo escuro errante,
Velando o rosto que é apenas em lembrança,
Pelos luares enamorados das estrelas sou amante
E eis que a vejo, perdida na sua delicada dança,

Ema, Ema! Reflecte-me num teu leve poema
Olha e vê-me neste percurso do ido viajante
Onde nada atemoriza nem há nada que tema
Para além de quem anseio perto mas está distante,

Não obstante, sorrio às sombras desta agridoce sorte
E deslizam elas ao monte num próximo envolver,
Nem sei se elas sabem a vida ou se são a morte
Porém são querença neste não saber bem o que querer,

E enfim aproxima-se a alvorada, não vás, não vás!
Olho e vejo-a através destes olhos de criança,
Tenho tantas saudades, não me deixes para trás…

Por favor… adormece-me nessa tua bela dança
Que dá alento ao moribundo e lhe retorna paz,
Vem então no dia, assim a noite branca descansa.

Brinde ao Final Feliz: E às Viagens e Cais do Barquinho

Brinde ao final feliz e que este esteja enfim próximo
Nesta celebração ao que acontece de bonito,
Seja ao que preenche o plenário do coração
Ou o aflija e pise pois nisso também acredito,

Ligeiro vai o barquinho sempre e sempre adiante
E o caminho é o que lhe vai dando a sua cor,
Não importa se o trajecto é certo ou errante
Importa sim que os seus cais apeiem em Amor,

Um dia navegado levantar-se-à o seu véu
No límpido azul-marinho sendo reflectido
Sem dúvida ou qualquer outro sentido
De que esse fui sempre e sempre serei eu,

Só naufragarei se pouco fundas forem as raízes
Plantadas e cultivadas ao longo do caminho
Pela tempestade e calmaria virão mil matizes

Pois ao cair da maré a estrada será o regaço
Retocando as cores do casco do barquinho
Sustendo a queda adormecer-me-à em seus braços.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Eu Fui: Em Busca Pelo Regresso

A busca pelo regresso é o próprio rumo
Doce e lentamente procurando o ficar
Que já não deve estar longe presumo
Pois o longe sou eu na ausência de ar,

Asfixiantes são os contornos das paredes,
Deixadas para trás quando tento ser perto
Do rio que sacia e esfaima em mil sedes
Porém por ela… vulnerável e peito aberto,

Eu… que a viagem se sirva do que partilho,
Este tudo e nada que anseio e tanto evito
Todavia confere a verdadeira cor ao trilho

Pois das vistas vistas faço do dito o inaudito
Olhem, vejam e sejam quem do céu é filho
O regresso sempre esteve nas estrelas escrito.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ao Transitório: Porquê Tão Sério?

Os passos já conferidos sabem dos vultos em lampejo
Que eram eu sob as sombras dos edifícios como herança
Do ido só guardo o chão que piso e o céu que almejo
E esse pedaço de caminho é o que dá alento à esperança,

Sei ora que há que cultivar a arte do desprendimento,
Até o que fica aqui hoje um dia será apenas em incerteza,
Pouco tempo há para deixar passar o instante do momento
Porém não será esta transitoriedade que dá ao trilho beleza?

Acolho esses fragmentos em ósculos ao fundo da algibeira
Trago-os por onde o Sol nasce e o fim do mundo se principia
E em mente tudo é sagrado, tudo é utopia, tudo é brincadeira

Que arde no peito e atormenta a alma que em louco devaneio urdo,
Por isso ora fico ora fujo, por isso corro inverso à menor maioria
Pois alcancei uma verdade: que do tão, tão sério há tanto e tanto absurdo.

A Ema X: Ela Era o Hoje em Mim

Hoje acontece! De repente do tarde fez-se cedo
Então procurava por ela como por mim procurava,
Através dos dias as noites eram delineadas a dedo,
Aquele que o olhar aponta, o resto então não bastava

Para retornar a fulgência estelar para o único olhar
Que de facto a via, espreitando pelo canto do sorriso
Porque para mim era o único a reflectir este ledo sonhar
O resto ia e raramente ficava pois o tempo é tão impreciso,

Porém ela, ela via-me e beijava-me na e através da vista,
Ao tê-la fazia-me crer na maravilha, no divino e na magia
Que eram somente nossos sob o firmamento de cor ametista

E delicadamente lá do alto escrevia-se em mim em poesia
A rascunhos feitos de segundos nesta fulgência imprevista…
Era assim que o hoje era nos dias e ela em mim acontecia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tudo e Nada Pt. II: Desde que Aconteça

Tudo e nada, não me importa mais desde que aconteça,
Honrarei os insanos, glorificarei os poetas num folegar,
Não serei a hipótese - serei! Desde que o céu enalteça
Largando um trilho de fogo ornado a água no olhar

Da estória, serei espectador e sobretudo protagonista
Sempre, duvidando sempre do seu próprio acontecer
Pois alguns não nasceram para ter a cinza como vista
Nasceram para ver o azul do céu e as árvores crescer,

O resto desconsidera o tudo e nada que traja o trilho
E esse trilho é o legado das estrelas num belo soneto
Que jamais olvidarei pois do Elísio ainda sou filho…

E que saudades tenho do lar e daquelas imensas asas
Que num movimento viam mais pelo onírico coreto
Do que eu no tempo daqui, sim terrestre… o Divino atrasas.

Tudo e Nada: Hoje e Aqui Acontece

Não há mais tempo para estes lugares
Pois estes lugares ainda não têm espaço,
O espaço entre nós é brisa entre passares
Que pelos luares se revêem no compasso,

Reiniciando o círculo, endireitando o passo
Dado em cada beijo e lágrima ao caminho
Sim, sou sozinho e o coração apenas pedaço
Do que outrora foi e um dia será no torvelinho,

Lá haverá pouco espaço e enfim a ansiada paz,
Este resto é cansaço e força em Vida e na Morte
Que em mim trago para a frente e deixo para trás,

Os lugares têm tempo e espaço no que a beleza tece
Simples, pequenos e verticais, entre o azar e a sorte
Que venham e sejam aqui no que for… Hoje acontece!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VII: A Poeira no Presente

Tão estranha, esta busca pelo regresso,
Partindo de casa procurando o doce lar,
Pela vista da janela nas vidraças tropeço
Convidando a poeira do tempo pelo olhar,

Esquecendo o nome do sentir que se atreve
A contar a cor do sonhar em seus porquês
Eis que ao acontecer que o céu se enleve
Pois aqui de repente… passa a brisa e talvez

Nem a sinta como sinto ou como já fez sentido,
Tenho visto esses sentires de cima para baixo
Até esse ver enfim ser pela calçada acolhido,

Do visto o claro tornou-se então transparente
Tudo passa pela busca que é poeira no tempo,
Aceitando-a serei o pó ido aqui, neste presente.

(...e finalmente... Finalmente).

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

À Partida: Vejam e Beijem-me no Olhar

Ao partir tentar-me-ão colocar num oco recipiente,
Seja ele feito dos segundos por mim passados
Ou das palavras deixadas ao vernáculo da gente,
Mas saberão eles dos momentos por mim amados

Em atentos escutares e veres sob as pisadas do vadio?
Não, honrar-me-ão com epitáfios de saudosas elegias
Por nomes nas ruas e estátuas olhando de olhar vazio
As longas palestras sobre nada porém em tais quantias

Que não preencherão nem o mais fraco e ínfimo ansiar
Num recipiente que não conterá estas asas aladas,
Onde serão apenas o resto daquilo que não soube voar

Pois as nossas pegadas devem fazer a breve distinção
Entre o imprescindível para as diferentes caminhadas
E aquelas coisas que não preenchem o pleno do coração.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Entre Nossos Olhares: O Rio Que Sacia e Esfaima

Permaneci quieto apenas para que pensásseis,
Que pensásseis que o meu coração tinha parado
Pois há quem não soubesse ou até que esperasse
Que esse tal desfecho fosse realmente o esperado,

Ali, o seu olhar já não me olhava simplesmente,
Agora ele reflectia todas as cores cativas deste,
Para a foz das órbitas o dela era a sua nascente
E seu olhar meu Ver através do rio azul-celeste

Que era apenas nosso porém não como pertença,
Para além de dois num latejar a dois apressado,
Era sim propriedade do Tempo e nele a sentença

Pois nessa certeza vinha o para sempre quebrado
Do rio que sacia e esfaima que nem insanável doença
E que é temporária posse de quem o bebe apaixonado.