segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A Beleza No Imperfeito

Por favor traz porções de maresia para eu suspirar,
Procurando momentos semi-perfeitos aos bocados,
Chegou a altura, chegou o momento de tudo arriscar,
Pois há vezes em que é preciso mudar nossos fados,

O destino do homem inteiro tornado quase porção,
É a verdade inaudita, o caderno ainda por escrever,
Não busca assim o mistério do ser ou a sua resolução,
Somente instante melhor que antes, instante para ser,

Então refastela-se no sangue e lágrimas concedidas
Para o pulsar do coração e o olhar além do horizonte,
Neste caminho onde se vêem as cores mais coloridas,

Que são necessárias para pincelar os montes e colinas,
Aquelas que vai ultrapassando e criando em sua ponte,
Há beleza no imperfeito, belezas infinitamente divinas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Entre o Sonho e o Real

Percorrendo os aros da pele como o paraíso,
A fragrância do cabedal de notas de suicídio,
Camas feitas e barbas desfeitas num sorriso,
A estrela da manhã e a sua queda o subsídio

De homens que foram esquecendo o que é ver,
As camisas passadas por trilhos desconhecidos,
Tipos de contos de fadas, será isto o que é viver?
Tentando apagar vestígios de sonhos coloridos,

Estranhando este respirar, esta procura incessante,
Apesar de tudo, pergunto-me "Quando aprenderei?"
Fechando os olhos e o ver num fôlego inebriante,

Aproximo-me do fim, deste uno momento final
Esperando a sua deixa deixada pois por fim sanei
No aprender a distinguir entre o sonho e o real.
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Vertem-se Aguarelas

Abro a boca e em cascatas se vertem aguarelas,
Em palavras inexistentes e silêncios entre nós,
Onde vão ressoando os ecos através das janelas,
E onde as paredes repousam nos nódulos da voz,

A passagem é ligeira, a fronteira de uma ampulheta,
Hora de ponta onde passos se escoam na calçada,
Pela estreiteza das ruelas, pela vileza da sarjeta,
Tudo passa e nada passa, é o poder da estrada,

E ainda tem sinais vitais a verdade deste fado
Cantado na orla da maré, trauteando ao vento!
Tenho-nos ausentes no presente, futuro e passado,

Numa terna balada hás-me cativado tal flor estrelada
Do mais brioso páramo, o brilhante de que sedento
Estou, sou culpado de as seguir até à doce alvorada! 


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A Asa Latente

Tenho o interior por teias de aranha ornado,
Sombras dançando noite dentro neste quarto,
Com sonhos lúcidos e por eles sendo inebriado
Neste uno fôlego nu e desnudado enquanto parto

Para outras planícies e margens, fragmentos
De mim vagueando entre os dias do outrora,
Ouvindo mil corações quebrar nos aposentos
Da solidão, da confusão, da contusão do agora,

Dedos esguios percorrendo o cabelo da noite,
E eu beijando-a entre mil vultos e semblantes
Então conhecia o o sonho e o seu terno açoite,

Perseguindo a aurora, construindo uma casa,
Um lugar para descansar os ossos como dantes,
Erguendo um bastião, latente ao coração e sua asa.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Aonde Estás?

Trago o olhar ao peito numa alcova perdida, 
Desabafo-o às ruas e às pedras ladrilhadas,
Procurando onde sonhar - a margem querida, 
O resto - naufrágio dos seres, almas encalhadas,

Um lugar então esquecido, o sonho que não vem,
Quando apetece levantar voo, plantar o turbilhão,
E que desse erguer então mil e uma ideias viessem
Para criar escadas para o céu, para levantar em mão

O que não é dado, mas ganho na aventura da Vida,
Aquela cuja vela vai ardendo demasiado brilhante,
Parece, mas não é, traço brunido da vista envolvida,

Sustentando o peso dos querubins num desfile vistoso,
Quando o tema é o Amor, quando a verdade é semblante
Esguio pergunto – “Aonde estás?” - porém ainda inexitoso.

O Poema Que Trago Entre Os Lábios

Escreve-me na certeza abrupta de dois lábios,
Descontinuados à cintura, somos só fantasmas,
Outrora por nós cravaram nas estrelas provérbios,
Longe das ruelas e vielas que conferem miasmas,

Esta ausência é capaz de lentamente matar o vazio,
Temos silêncio de onde duas vozes eram erguidas,
Por isso das primaveras e verões se fez enfim frio,
E a ampulheta proporciona estas estações perseguidas

Por fumo e nevoeiro, por um eterno e solitário luaceiro, 
E assim perdíamos os cabelos do vento, o calor do Sol,
E do próximo se fazia o longínquo e da abóboda o aguaceiro,

A verdade é que trago essas gotas num sonho envolvente,
A ela em cada dádiva, só a ela em cada ínfimo anzol,
Num coração em prato decorado a luz ainda reluzente.

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Debaixo dos Lençóis

Por vezes escondo-me por baixo dos lençóis,
Procurando a luz da qual me vou escondendo,
Por lá vou deparando-me com mil e um anzóis,
Quase escapando do moto do "quase fui vivendo",

Esta é a viagem nunca feita, a verdade por existir,
A realidade inacabada, o real por mim esquivado
Pois se viver apenas no real acabo por me reflectir,
Do pedaço de um inteiro me tornando num bocado,

E pretendia encontrar-me onde por fim me escondo,
Num terrível meio termo que não é de todo viver,
É adiamento da alma, reunião com algo hediondo,

A vontade de não sorrir, a necessidade de não ser,
O escape por dentro de um quadrado redondo,
Para encontrar assim a chama do meu querer.

domingo, 2 de outubro de 2022

O Escape

A escapatória é a fuga entre braços esquivos,
Relutante e petulante, vou procurando o amar,
Parece que por vezes encontramos os fugitivos
Que um dia deixamos de querer encontrar, 

Escasseia o que falta, um pouco mais de coração, 
Então, um sorriso rasgado propelido pelo ar,
Pretendo que saibam que vai de mão em mão,
E que nunca o pretendi alguma vez abandonar,

E hei-de refutar quem o contrário me disser,
Sobre o voo na rosas entre diversos cantos,
Não obstante do que houver ou ainda vier, 

Por isso vou pregando a minha vida tal poema,
Ressoando no eco do "eu o homem entre tantos",
E que a resposta não tem nem solução ou problema.