quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Homenagem a Um Amigo Ido

Quando a peça termina e os aplausos se esvaem,
Quando as luzes se apagam, resta apenas a pessoa,
O tempo é brevidade quando despida a personagem,
Que assim nunca terminem os aplausos – voa, voa, voa!

Agora que partes amigo e deixas uma vaga neste coração,
Vai em paz pelo firmamento que tenhas encontrado a ponte,
Lembrar-me-ei do toque fantasma, da beleza e nessa canção,
Ascenderás aos céus, serás parte do nosso eterno horizonte,

Em memória ter-te-ei, respeitando esta curta condolência,
Num ínfimo gesto tentando imortalizar essa tua ausência,
Assim celebrarei a tua Vida e esse bem tão bem praticado,

Espero por convivência algo ter percebido, recebido o recado,
Até breve meu amigo, agora que ganhas asas e leves plumas
Que continues a emanar luz suficiente para esvaecer estas brumas.

para o Toni

sábado, 25 de agosto de 2018

Um Quarto Estofado

Fiquemos em silêncio, ao passo do fantasma, o abrigo, 
A rédea do cavalo branco, o mastro e o marinheiro,
Por vezes vem tal como uma benção outras castigo,
Sou irmão da brisa e o vento é o único companheiro,

De mãos atadas, o liame entre eu e os meus amores,
Esbracejando em insanidade entre quatro paredes
Brancas e eu medicado contra as polémicas dores
Este corpo sem mente peso morto nestas redes, 

Tal lugar mal situado, caminho barricado por mim
E em mim sem conseguir ser localizado e amado,
Quisera o destino que o mundo fosse só assim, 

Confuso, distorcido e entorpecido tal estático,
Eu projectado bem, bem alto no céu estrelado,
Do medíocre estou farto, dêem-me o fantástico.


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Soltem-me

Esfolando os joelhos, seguindo rastos de cadentes,
Sozinhos no mundo, lembra-te quando me esqueceres,
Trago-te na algibeira do peito, na ânsia entre os dentes,
Sob o soalho da sub-cave acreditando na força dos quereres,

Que são só e somente palpitações subentendidas
De luas perdidas, rostos desconhecidos, desejos ao ar,
Luz e eu onde me fui sobre redes estendidas,
Aguardando quem não me procura ou soube esperar

Com olhos de quem não sabe ver, tanta e tanta sede,
Deixem-me adormecer em meus espaços, seus traços
São as linhas destas mão, sendo eu a única parede,

Entretanto almejo seus semblantes e seus regaços,
A eternidade é mais do que uma vida que me impede
É cruzar-me onde o sempre mora e tê-lo nestes braços.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Novamente Colocamos o Pé na Estrada

Do topo do seu farol quase não via a sua luzência,
Negro era o céu donde se atirava para os abrolhos,
Esse escape no breu da noite era esta triste ausência
Que não permitia ver a vista, que a escondia dos olhos,

Procuramos intensamente por seu corpo nos rochedos,
Imóvel e quebrado, a sombra do sol era o firmamento,
Doce e lentamente passava por seu cabelo estes dedos
Esperando que ela retornasse e visse o que estava dentro

Do peito, era coração palpitante aguardando ser Vivido,
O sonho era maldição porém a única oração dignificante,
Assim se separavam as estrelas do céu e no beijo querido

Reparávamos que a margem era cada vez menos distante,
Novamente o poeta era por briosas constelações vestido,
E novamente colocava o pé na estrada como sendo viajante.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Quando Imergimos em Nós

Imerso na enxurrada, triste e sozinho sem caminho,
Finda-se o que era repleto de estrelas para contar,
Na algibeira poeira de um sonho bonito, o moinho
Lavra águas de um dia passado que pude albergar,

Entretanto saudades de um beijo que dure uma vida,
A predileção do cerúleo por um único momento,
Que me embeba nos braços de uma costa querida
Pois todos procuramos abrigo, aqui, no firmamento,

O resto é morte, o resto passa quase sem deixar traço,
O trecho é ensejo, lágrima por acordar, o latente
Vem do nada e é imensidão, mais que tempo e espaço

Pois quando nos alheamos do que em nós é
É perdida a ambição, a fruição e de repente
Somos sombra de esqueletos, esquecendo a fé.

Por Onde Ia o Poeta, Por Onde Ia o Amor

Para o mundo era a ausência do poeta,
Divagando aqui docemente tal um pintor,
Apaziguando o passar da hora incerta
Serenando o palpitar do peito, a sua dor,

Por onde ia o amor, ele tal sombra seguia,
Era suficiente para se acalmar o romance
Que era do seu coração enquanto morria
Por ela e por ele, quando estava ao alcance

De um anseio, de um almejo quase trocado,
Ia por onde não se via nem por um bocado,
E, esvaecido, era lamento do não acontecido,

Da lágrima desbotada atrás do seu sorriso
Da mão fiel de amor imparcial, o preciso
Era o beijo eterno por um instante querido.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Encurralado

Encurralado entre os bares destas ruas,
Mais um copo e menos uma memória,
Assim vão passando estas pálidas luas,
Assim se vai tecendo esta minha história,

Por onde não vou, há sombras e vielas,
Esquecimento da noite outrora perdida,
Que são pertença de quem já foi nelas
Todo o beijo e o sabor de toda uma vida,

Envolvido pela neblina, vem a absolvição
De uma doce menina que mora no coração
De quem ousa soar alto e que não tem medo

Pois o silêncio é uma arte, tal manter o segredo
Que é de quem esvoaçou e quis um dia regressar
Ao destino a que já deixou mas porém ainda soa a lar.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A História do Poema

Algures num poema há aquela ínfima beleza,
Repousando enfim longe em recôndito lugar,
Cedemos versos e pintando vai-se a tristeza,
Novamente sabemos, já não é preciso procurar,

Seremos estrelas cadentes arranhando o céu,
Essa cúpula permitindo um instante de Vida,
Ou fantasmas antigos arrancando este véu
Quando tudo o que conhecem é a partida?

Sou a bruma e a lamparina, a nebulosa da criação,
Onde se criam as maravilhas e se escuta o coração,
Separo-me dos transeuntes, daqueles sem alma

Distante do ponto inicial, só isso sossega e acalma
Pois do olho do vendaval sou oriundo, minha glória
De perto de mim rascunharei nesta história.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Através de Meandros Já Passados

Suplicava então por quem lhe desse a mão,
Por um instante único de perfeita sintonia,
Quem lhe preenchesse o resto do coração
E lhe reensinasse por fim o que é magia,

Eram cavalos selvagens percorrendo o leito,
Enfeitiçando tumultuosos o olhar procurado,
E em silêncio esperava ouvir enfim o peito
Dela sob o meu num momento já elapsado,

Esquecia o beijo que tardava, a tarde morria,
Em breves traços recuava numa noite vazia
Repleta de sonhos e almejos não alcançados,

Por mim o cerúleo era todo o seu belo olhar,
O coração que não devia mas acabei por dar
Através dos meandros de tempos já passados.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Por Pequenos Instantes Quase Sorrio

Escutando o não observado, o alheio impermanente,
É semblante para o não envolvido, o beijo indiferente,
Por onde vamos não nos vemos tal aventesmas pálidas,
Somos tal oceano ou deserto de superfícies esquálidas,

Refugiar-me-ei em casa quando o sol enfim despontar,
Quando o peito se encher e por fim conseguir respirar,
Pois por metade de uma alma não se alcança o horizonte,
Serão horas tumultuosas que não conferem uma ponte

Para lá do instante, eterno finito que proporcione lugar,
Amor qual será o meu sítio quando não sei sequer ficar?
Dormitando no ombro da Lua a sentir o seu doce abraço,

Enfim ouço a terna voz do Universo conferindo regaço
Que é maior do que aquilo que sou neste breve instante,
É quase suficiente para por segundos sorrir, é o bastante.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Demasiado Próximo do Sol

Conferido o beijo através duma oblonga passeata,
Por onde nos perdíamos em doces constelações,
No dia presente aqui preencho a minha errata
Pois o meu todo não é suficiente para dois corações,

E alongamo-nos em esperas que não sabem a Vida,
Respirando fumo, esbracejando e rogando por ela,
Lágrimas pela Beleza de uma quimera tão querida
Que não é o bastante para afogar esta triste estrela

Que trago abrasando e cegando tal um candeeiro,
Por onde vou à noite, perco-me na falta de luzência,
Tão sozinho tornando-me cinza caindo num cinzeiro

Por onde vou vai-se fenecendo a palpitante fulgência,
Amor, amante, amiga, conhecida, estranha, o aguaceiro
É todo o meu sentimento que não suporta esta ausência.

domingo, 5 de agosto de 2018

O Suspiro do Poeta

Passaram as enxurradas vindas de Abril,
Sonhando todos os sonhos deste mundo,
Onde vamos aguardando a brisa primaveril,
Percorrendo todos os trilhos do vagabundo,

São o homem afastado da margem querida,
Cura a sua dor, dá-lhe a mão e sê no caminho,
Apressa-te, quando chegares ele será em partida,
Esse é o fardo do poeta colocado no escaninho

Que é o seu peito arremessado ao prado infinito,
Frágil e delicado, Amor, frágil e tão delicado,
Somente este silêncio para conter o seu grito,

O refúgio torna-se escape de um medo tão real,
É xeque-mate ao coração por vertigens trucidado,
Esse seu suspiro demarcado pelas estrelas do astral.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Até as Estrelas Morrem

Escapa-se-me o coração, cantando a sua canção,
Quase a encontro entre escombros e penhascos,
Poderia ter sido amor mas era um simples não
Remetido dentre o golpe eficiente de mil carrascos,

Perdido em incerteza, o lar que nunca mais chega,
Perdido num novo trago onde me enterro sozinho
Pois quando o bom dia deste lugar se desapega
Enfim trajamos as sombras de passado caminho

E vamos indo entre as poeiras e brisas partidas
Por onde não fomos, juntos, verte-se a morte,
Trazemos bruma, noite e nevoeiro aqui vestidas,

Valeu a pena, pelo menos dei-lhe a minha mão,
Não obstante de qual era o poente ou a sorte,
Amor, somos os restos de uma moribunda constelação.