sábado, 29 de janeiro de 2022

Entre o Ver e o Horizonte

A minha voz canta cantigas feitas somente de amor,
Ao clique vagaroso do tempo onde lacrimejando
Vai rascunhando apelidos dentro de bolhas incolor
Tal sonho presenteado em cada trilho alcançando

A Aurora-Boreal, o jardim de Éden, a absolvição e redenção,
Acalma a calma, as flores crescem e o sol brilha intensamente,
É a manhã vindoura, a aventura reconhecida do coração,
Até ser colhida pela noite quase assim de repente,

E esta saudade do que está por vir palpita na alma,
Embalada por quilómetros em perspectiva efectuados,
Somos abreviação de uma estória guardada na palma

De uma mão fugidia dividida entre o horizonte
Pois defronte a sua linha e seus poderes ilimitados
Para um ver que não se encerra por enfim ser a ponte.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

As Coisas Por Trás Do Luar

Divagações entre os lençóis de uma manhã adormecida,
Traições de uma flor que para o sol não se floresce,
Dentre o orvalho há um trilho de uma imagem querida,
Em frente de um amor que frente a si se entristece,

Sussurrando que estas são as coisas por trás do luar,
Bastando um pouco de paciência, de constância,
Assim os vagões encontram os trilhos e em nós há lugar,
Pois de onde vim agora só há o vento e a sua distância,

Estes rostos ornamentos para roupas desgastadas de areia,
Veste o tempo na ruga e cicatriz de céus outrora coloridos,
O nome sempre o mesmo, porém vai mudando a candeia,

A fome de infinito, de mais, estejamos achados ou perdidos,
Satisfeitos pelo universo reluzente habitante nestas veias, 
Perfeitos são os desígnios superiores pela abóboda difundidos.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Num Momento

Trazendo o Sol, a esperança é a última a morrer, 
Sob a língua que chama, o prefácio debruçado,
Vemos o mundo saindo da orbita, a esmorecer
Num fragmento do inteiro, a porção do bocado, 

Desabafo uma lamúria onde o vento é senhor,
Os caminhos de contracurvas, ai que saudade,
Por onde íamos sem caução, somente com amor,
Só assim encontrava-mos o trilho para a felicidade,

E desta forma podemos acabar com esta tristeza
Independentemente se sozinhos ou acompanhados,
Tal como o Sol nascer amanhã, essa é a única certeza,

E quando chegarmos saibamos dar-nos por partilhados,
Fechando os olhos, nessa escuridão prospera beleza,
Sê-a, indómito e leve, num momento por fim amados!

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Pintando A Paisagem

A viuvez das cores vivas transbordando na palete, 
Ao centro, esquerda e direita, o pincel é dançarino, 
Traçando os berços e urnas em cima do cavalete
Vai extravasando para um único instante e destino,
 
Suas cores, sinais iridescentes duma aragem passada, 
O ponto preciso, sempre esvanecente, sempre presente,
Nascendo de palavras jamais ditas, vem a debandada,
O poema na mão concebendo um turbilhão ascendente,
 
Da tela para a paisagem, assim também sou rascunho,
O Ver é o pincel, a alma a tinta mediante a sua idade, 
E heis a obra-prima de uma vida de linha a gatafunho, 

Entre a terra, o mar e o céu, sem divisas nem bandeiras, 
Vestido com a vestimenta do divino, sem vaidade, 
Só saudade de quando nossas mãos eram companheiras.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Uma Estória Digna De Ser Contada

Preenchido trazendo vento nas palmas das mãos,
Levantem as âncoras, baixem as velas dos mastros,
A carteira vazia, pois, vem cheia a algibeira de bênçãos,
Podendo não ter muito a mostrar, temos histórias e rastros

De quem passou e viu sóis e luares a nascer e a se pôr,
Porque há estórias ainda por viver e a um dia a se contar,
Este céu, abrigo para quem mais que o deseja, é nosso amador
Que sorrindo se lança querendo o eterno um novo dia alcançar,

E ao ecoar, ecoa dentro de uma perpetuidade jamais capturada,
Assim se plenificam os bolsos com belos momentos e instantes,
Cada um deles quase, quase tocado, de mente aberta e alma focada,

Deste ponto adiante de certeza de que nada mais será como dantes,
É que de tanto querer, não pretendemos mais do que quase nada, 
De tanto querer só aspiramos que o sonho surja das noites restantes.