sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Amanhã: Primavera, Vem

Outrora, onde a manhã ainda aparecia
Seu perfume esta noite ainda perdura
E quando se ia a noite e vinha o dia,
Eu surgia e para lá do alto era a altura…

E sua ausência eram as confidências à Lua,
O espaço vazio entre a palma da mão,
As gotas deixadas onde a foz desagua,
O aperto no peito, o sopro no coração…

Vinham as noites e as estrelas todas aluadas,
Seu fantasma arrastava as correntes do aqui
Onde o passeio se esquecia das estradas

Por onde o viandante foi e ainda caminha,
Se ele era um beija-flor, eu sou o colibri
E ela será a única flor - a jovem andorinha.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ao Espelho Pt. II: A Criança, O Homem e o Velho

... que frequentemente é tão breve quanto silente
No oscilar das ramagens do emoldurado retrato
Onde uma porta ecoa o alvorecer da semente,
Assim trazendo a luz da alvorada ao imediato

Eu, agora, partido de dentro do espelho
Permite que enfim te pergunte quem sou
Quem vês será a criança ou o velho
Ocupando este espaço onde estou?

Acorda quem vires e relembra-o quem sou,
Sob a água que Ela venha à tona assim
Que seja aquele que venha por onde vou,
Para ele que é quem sou e que é em mim

Mas que apurado prazer de ti para mim trago
Do semblante deste azul - teu vidro reflectido,
Por vezes tão delineado, por vezes tão vago
Em partes reconheço-o, outras sei-o perdido...

Ao Espelho Pt. I: A Queda da Neve é Este Palpitar

Os anos, beatas caídas tal como a neve,
Vamos vendo, as folhas amarelas a cair,
Sua queda, sempre tão fofa tão leve,
Pergunto-me se verei a minha a seguir,

Ao esquecer a intenção e a sua noção 
Não intencional do enfim quase ver,
Deslizamos entre os cabelos da solidão
Preterindo o existir pelo finalmente ser,

... do anseio ardente pelas flores perdidas
À orla da estrada, das horas de Verão
De onde falei com deuses e erigi vidas
Crescendo brandas ao riso da criançada

Que murmura este nome pela noite dentro
Numa música de tão insano e estranho tom
De quando o sol se queda sob o olhar atento
Deste ténue palpitar deste meio coração...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Roupas ao Vento Pt. I: Por Janelas Azuis

Vejo roupas rasgadas ao sabor do Tempo,
Este é o eco das salas vazias e suas ofertas
São a passagem do tique-taque do vento,
Parecido com o silêncio das ruas desertas

Onde esperámos por quem aguardámos
E que não chega ou até mesmo já passou
Não nos ouvindo apesar do quanto gritámos
Mas vai perseguindo quem um dia os chamou,

Vem a estória de um longo, longo Inverno
O entretanto de quem vive ou já morreu,
A quem o infindo vento levou ao eterno

Tal o observar o ténue amontoar da neve,
Relembrando o instante que já ocorreu
Naquele suspiro que é sempre tão, tão breve.