segunda-feira, 25 de março de 2013

Para Além do Eviterno: O Que É Que Fica?

Aqui, esta almofada é o ombro ansiado,
Brilha por nós quando a noite é branca,
“Já falta pouco” – dizia em tom sussurrado:
“Esta é a respiração que o mundo estanca,

Só mais um pouco, só mais um bocadinho
E acordaremos para a jovem e moça manhã
Tendo a batida do coração o único caminho
Verá a noite reconciliando-se com a sua irmã”,

Ainda a chuva caí mais do que aqui brilha o sol
De amores perdidos e horizontes por alcançar,
Indecisos conhecendo a ausência que é farol

No nevoeiro do beijo que no eviterno perdura
Pois sem ele jamais saberei o que é o beijar…
Peço ínfimos eternos até à vinda da sepultura.

terça-feira, 19 de março de 2013

Um Beijo: Ao Céu Que nos Abriga (E a Tudo Que Contém)

“Se te traçasse as galáxias escusas em meu olhar,
Envolvê-las-ias?” - suspirava Mirto face à bela Oressa,
Enamorando-se das estrelas em pincéis feitos de mar.
- Rascunha novamente Ema na noite antes que alvoreça!

“Pois este aqui vai passando por cada novo palpitar”
- Elevando sua mão do azulino em busca de beleza
Por vezes recolhia-a outras não lhe conseguia chegar,
Eram grinaldas de luz, ofertas de Ema em tal delicadeza

Que em mente, sabia que ela era maior que todo o Universo,
De que para o Inteiro não há preço e que bom é sonhar
E conseguir retornar o sonho ao plano infinito de um verso

E que imenso privilégio é poder dar, dar, dar, dar, dar!…
Pois eu sou o resto e o resto passa mas deste nosso berço
Há refulgências e o beijo às estrelas ainda permite voar.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Aos Homens: Que Esqueceram o Seu Nome

Alguns homens já nascem velhos,
De olhar mirrado e peito escavado,
Seu semblante é fosco à vista de espelhos
Que revelam as lacunas do que há passado,

Estranham-se do caminho longo para casa
E da fragilidade do abrir os braços ao mundo
Ou quão belo é aquele adejo de asa em asa
Nas cores do olhar do incontível vagabundo,

Estas ruas tresandam a quem por lá passa
Contudo parece nunca por lá ter estado,
Estranho este estado que a alma estilhaça

Estranho até o suposto palpitar afinal silente
De quem tem tido amores mas nunca há amado,
Há existido porém não sido, nem atrás nem à frente.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os Segundos Eus Pt. II: Do Ontem ao Adiante

Há ruído de fundo no fragmento do outro
Aquele, aquele que raramente é assumido,
Por colinas e vales por vezes ele é noutro
Lugar a metáfora ao momento não retido,

Naquele instante onde ele não é quem sou
Porém basta um pouco de brisa ao ouvido
E eu sei, eu sei que o mundo por onde vou
Será outro, o universo neste Ver renascido,

Toda esta vida apenas num olhar que veja,
Temos sido observáveis mas raramente visíveis
E as pegadas têm ficado no caminho ou seja

Não vades: Aquilo de bom e todos os impossíveis
Pois o resto será e passará sendo em quem verseja
Aqui o testemunho do toque aos ensejos tangíveis.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Os Segundos Eus… E a Viagem Pt. III : Venham os Próximos

O viandante caminha o que vai andando
E nessa passagem a Vida é em si passageira
Pois o percurso raramente vai abrandando
Porém sempre é, em vitalidade ou canseira,

À viagem o viandante vai-se indo e se esquece
Vêm os segundos revendo as ocasiões em que foi,
O mundo o esvaece mas porém quando acontece
Consegue tornar o vil covarde no maior herói,

Aquele que retorna do além fragmentos de Deus,
Uma a uma posta numa grinalda de fulgores vivos
E a partilha proclamando: “Sejam acima destes eus

Que em segundos passam pela berma do mundo”…
Ansiando que as empreguem em feitos significativos
Ínfimos ou colossais pelas pegadas do vagabundo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A Vista: Do Olhar do Poeta

A menos que as vejam do alto da colina
Ou até mesmo do fundo de uma ravina
Jamais sabereis as cores da vista do poeta
Podeis então tirar vossas cores da gaveta?

Aquela onde estão os risos daquela infância,
Onde dar a mão não era de todo prisão
Era pular e correr sem notar qual a distância
Do corrido e era saber… de coração na mão

Que o simples é perfeito quando enfim acontece
Que o resto passa e que o mundo se esquece…
Lembrai-vos pois de quando apontáveis estrelas

Pois quando as apontais vós sois a visão do poeta
Sorrindo elas para vós silenciando a ampulheta
Relembrai-vos… para tê-las aqui só é preciso sê-las.

terça-feira, 5 de março de 2013

Os Outros Dias... e a Viagem Pt. II: Por Janelas Abertas

Vem outro Sol através do nascer de um novo dia,
Ainda é muito cedo para o tanto já viajado,
Preciso de repouso pois do ponto donde via
A areia do tempo ainda encobria o já elipsado

Sendo que da parte do que passa que fica connosco
Há várias outras partes que ficam para o que é lá trás
Fulgindo no vidro azul progressivamente mais fosco
Onde todos aqueles segundos se foram pelas manhãs

E em boa verdade, ainda habitam no que aqui é,
No eu viandante em aceitação do que acontece
Agora e aqui dentro ao que está lá fora seja até

Maior do que o que a Lua ontem por cá e aqui deixou
Na parte que tirou como se tirasse tanto quanto desse
Através das janelas abertas pelas quais não espreitou.

sábado, 2 de março de 2013

O Dois... e a Viagem: Eu Crio Enquanto Falo

Estes olhos as pálpebras têm aqui beijado
Doce e suavemente viajando pelo além,
Sendo no conteúdo e da forma desapegado
Traz-se cá para baixo lá de cima este alguém,

E como o mundo é tão grande e tão pequeno
No dois a viagem é o que se espera alcançar
Do limiar da insanidade até ao percurso sereno
As correntes das pernas hei-de a todas quebrar

Pois assim se constroem as escadas para o céu
Eu brilho, eu ardo, eu brilho, eu ardo sozinho
Neste lene silêncio, neste estrondoso escarcéu

Onde brilhámos, ardemos e somos p’lo remoinho...
Agora magia… se exprimisse este sentir por palavras
Não chegariam as letras de “A” a “Z” ou mil abracadabras!