sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Uma Penúltima Dança

Ouço bater na porta, mas que doce sussurro,
Gritos sonegados pelo mármore dos corredores,
Cobrimos a face do sol, saltamos o último muro,
Temo que não haja tempo para chorar por falta de cores,

O que jaz na noite é o trilho esquecido do coração,
Aquele beijo que se deixou para um outro instante,
E eu a pedir tempo emprestado, os olhos da multidão
Não são suficientes para parar o inquieto pé dançante,

Respiro ao seu pescoço, esta noite seremos estrelas,
Dentre constelações, o sorriso do nobre infante,
Ela virá comigo, eu irei com ela sem amarras ou trelas,

Ofereço tudo, rendido, soterrado pelo canto da sereia,
Cuidado não é palavra para este coração lampejante,
Retracemos as linhas das mãos e sejamos a candeia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Há Que Ver, Há Que Acreditar

Nestas mãos vazias tenho vários sonhos e aspirações,
Do sonho para o real, do abstracto para o concreto,
Quando o Sol se põe e vem a Lua com suas imitações
É que percebo o quão este solo que piso é incerto,

Procuro Amor em mim e umas mãos nos ombros,
Para sair e esperar pelo vindoiro ósculo imortal,
Pois, por vezes, a Vida é enterro, é só escombros,
Oscilando o pêndulo do relógio que  vai e vem tal

Ampulheta soando a segundo sempre passageiro,
Aqueles que fui e outros que serei outrora um dia,
Eternamente entre a luz do berço e o cinza do cinzeiro,

Perenemente entre a vil atrocidade e a bela melodia,
Pois quando esta última falha há apenas o bueiro
Onde cai o descrente, aquele que deixou de ver magia.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Amor, Amar é a Viagem

Escuto as horas pela alameda sob o luar,
Vestido em trapos de seda, só a observar
Quem passa e cedo é ida, é a lei da cidade,
Pois quando vem a partida e se vai a idade,

Por vezes, embalo madrugadas nos braços,
Viajando por alvoradas, por outros regaços,
De noites deixadas para trás mas tão perto,
Onde o passo do rapaz deambula pelo incerto,

E há fantasmas do passado e anseios de futuro,
Por tudo que tenho albergado: o saltar o muro
Que separa as caixas da dimensão - a vogal aberta

De quem teve lugar no coração, na planície deserta,
Por vezes é tão difícil dizer adeus e ser a despedida
Porém são os trilhos de Deus que afiguram parte da Vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Boa Noite Doce Príncipe

Questiono estas revelações à luz das velas,
Semanas passam e este pedinte pede seu enterro,
Pois são elas, as princesas, as mais que belas,
Que lhe atiram terra para o caixão, assim me soterro,

Sinto-as respirar, atrás de um sorriso estranho,
A quem me viu buscar, a procura é eterna meus amores,
Os lobos vêm jantar hoje e eu sou parte do rebanho,
Dormindo no frio dos nossos corpos mutilados por flores,

O poeta é somente mártir para o coração clandestino,
Por vezes partindo antes da salvação, antes do não,
Pode parecer uma partida rápida, um ir repentino,

Vem o chão, a crença esmorece pois o berço arrefece,
Que é queda, que é monção pois sabia de antemão
De que esta dor é só lembrança de quem não esquece...

domingo, 11 de novembro de 2018

Por Janelas de Vidros Azuis - Enxurrada

Por janelas de vidros azuis - enxurrada,
Tempestade em cada beijo ao pavimento,
Recaímos do berço do Sol, na calçada,
Pisamos o aguado em tons de cinzento,

Alguém diz: “Solidão és a companheira”,
Remetendo às rugas finas atentas no olhar,
Degraus e degraus até ao final da ribanceira,
Descalço e leve, um empurrão e a esvoaçar,

A tristeza de ir e nunca conseguir mesmo chegar,
Alvoroço no coração, cataratas para a visão,
E eu então? E eu?! Sem poiso para sequer poisar,

Por vezes faz tanta falta um toque, um carinho,
Escondido num quarto escuro, oiçam a oração
De quem perdeu a crença e vai indo tão sozinho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Imagina o Céu...

... e estes pedaços de versos são oferendas
Para quem os colocar bem no coração
São até confetes, buquês e prendas,
Por amor, asas em busca de uma mão,

Por onde eu tenho andado a paisagem
Sussurra, deixo-ta tal lábios, perdida,
Que te afague e leve sejas a mensagem
Até que por força do destino a despedida,

Até lá indelével e docemente que esse olhar
Retenha a força para dizer não, a recusar
E então capitulo a capitulo te tornes inteiro

E cada novo beijo saiba para sempre a primeiro,
Pois somos estrelas cadentes por e em sentimento,
Esse é o rasto que deixamos no mundo tal fragmento.