segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Aquela Voz Seremos Pt. III: Nosso Jardim ao Luar

Naquela noite a lua escorria-lhe gentil pelos dedos
Anónima e fulgente através da calçada do vento,
Eu perseguia sua sombra através dos arvoredos   
Que eram a noite aberta, este olhar pelo relento,

Parecendo a abóboda celeste a pulsar em mim,
Aquela era a noite em que o seu olhar era luar
A única luz que realçava a silhueta deste jardim
Que poderia ser o eterno sono ou o único acordar,

Lá eu era o entretanto entre os Invernos e Verões
Pretendendo tudo e nada sem ceder a meios-termos
E por sempres e nuncas por mim passavam as estações

Que eram o Tempo enfim retocando de leve esta janela
Recordando as vezes que vagueei pelos povoados e ermos
E quanto a beleza daquele jardim era tal como eu a via… Bela.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Aquela Voz Pt. II: Ao Envolver do Vento

Esta é uma mensagem em tálamo empoeirado:
“Penso sentir saudade da passagem do verão,
Do desejo ansiado porém ainda inalcançado
De quando andar era feito de mão em mão

Entre instantes que tiveram um dia um sítio,
Preenchendo-o em timbres dourados a riso,
Através de devaneios versejados pelo estio
Que inalados sabiam ao que aqui é preciso:

Simplicidade, simples ao simplesmente se ser".
Pronunciem à sua aurora o nome que trago,
Transverso a si neste mais que insano correr

Sem objectivo, porém ao acumular poeirento
À mercê deste destino o conquistado largo
Pois nada é meu além do envolver do vento.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Sonho Despertado: Pelo Sono Não Acordado

As paixões que têm sido no sonho despertado
Porém acordadas a sono pela curta madrugada
Tenho sido eu claro e pela luzência ornado
Ou sua ausência por sua fragrância almejada?

Ela prolonga-se na alvorada da noite infinda
Por numerosas paragens ao longo destas vidas
E por cada passada, por cada resfolgo ainda
Pergunto onde estão minhas amadas queridas,

Diligentemente refulgindo sobre o triste carreiro,
Não julgando e abundantemente me osculando
Tornando este Ver enfeitado por esse aguaceiro

Por favor, em súplica permanece aqui até quando
Não houver mais sonhos despertados pelo nevoeiro
Destas Oressas que em exíguos nadas os vão tragando.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

As Alfaias de Luz: Colhidas Por Mãos Tão, Tão Pequenas

O nosso caminho é sempre outro
De terra batida ornado por alfaias
E ontem quem o passava era doutro
Segundo eu passageiro de idas atalaias

Vígil, sua beleza tornou-se a travesseira
Recolhida por mãos tão, tão pequenas
E beijada pelo atento fundo da algibeira,
Soando a Amor retocando brisas serenas

E sorrindo por sua melancolia, seu pertence
Eram os dias através dos dias que vinham
Numa envolvência de um sonho parisiense,

Seguiam-se as suas pisadas, no céu ecoadas
Para um dia voltarem onde dantes pertenciam,
Sendo nas fulgências das estrelas relembradas.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Seremos Pt. II: Parte do Mesmo Jardim

Irei confessar-lhe hoje de meu imortal amor
Olhando seu reflexo em minha atenta vista
Pois algumas vezes, uma flor não é só uma flor
É rebento de cor em qualquer sorriso que exista,

Nas pétalas deste jardim há restos de seu perfume
Todo o meu ofegante oxigénio e ansiosa perdição
Pois à vista daquele seu esbelto e doce deslumbre
Reconhecia seu semblante como minha fracção,

Em fragmentos de morrinha sob o azulado da lua
Fechava eu então sonhos ornados por nós dois
Suspirando para cima qual nebulosa seria a sua

E o que o despertar deste sonho revelaria depois
Porque olvidei este palpitar ao reverberar da rua
Que perverte e dissipa o anseio que em mim sois.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu: Este Entretanto entre os Invernos e os Verões

Têm passado os serões,
Tenho sido seu entretanto,
Levando Invernos e Verões
E ao escutar de seu encanto

Tem sido este breve esplendor
Ao oscular das noites e dos dias
Que têm sido em mim, em Amor,
No entretecer de várias melodias

Que já nem só preenchem apenas
Agora também ornamentam o Ser
Nas grandes coisas e nas pequenas,

Aqui têm trilhado estas temporadas
E sido a cor que pinta este belo Ver
Por cada uma das vistas pinceladas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Esta Insatisfação é Calmaria e Tempestade: Só Pretendendo Tudo e Nada

Estes anseios e paixões são nesta insatisfação
Por tudo e por nada desde que ambos sejam
Pois o que fica após a passagem da estação
Para além das marcas d’água que aqui latejam?

Ao palpitar do segundo viandante no tempo
Há calmaria no olho do torvelinho, devagarinho,
Docemente, sempre rumando em contratempo,
Esta onda flui através do azul luzente do barquinho

Porém esta tanto nos aguarda como se escapa,
E quem não aguarda por sua própria chegada?
Tanto que ao seu vislumbre redigimos nossa errata

De viscerais paixões e anseios caindo como neve
Em semifusas por vincadas ou ténues pegadas,
Deixando-as ser, aceita-as, o destino assim as transcreve.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Esperando: Pelas Filhas do Sol (As Irmãs de Ema)

Por vezes fechar os olhos tanto apetece
E esperar, esperar que o dia enfim apareça
Pois quando tal coisa simplesmente acontece
Abstraio-me daquilo retido naquela promessa,

Ou seria a penhora vinda de um imenso deslumbre
Entre entes não humanos, maiores do que a vida,
Pergunto se o Sol anseia tanto por seu vislumbre
Como quanto persegue sua Lua há muito perdida,

Por seu toque, seria o único a torná-lo completo,
Nunca haveria amor mais belo do que aquele
Sim sei, este caminho para promessas é incerto

E perante suas filhas é vê-las, ansiá-las e querê-las
Nesta ausência serena, ajoelho-me ao brilho dele,
Que elas me abram os olhos cobrindo-os de estrelas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Ema IX: Não me Deslembres

Ema, ainda relembras o olhar que hoje te beija?
Aquele que ontem te esculpiu a partir de luzências
E reflexos da água para o céu que tanto almeja
Minha ida para teu lado por estas confidências...

Que... Suspirei à brisa renascendo no insone poema,
Por réstias de loucura plantei a mais bela das flores
No firmamento nocturno, és os sonhos desse diadema
Alumiando tudo o que é segundo e ainda arredores

Daquilo que trago nesta algibeira rumo ao silente,
As folhas esvoaçam ao passar do sempre-ausente
Cercado por sorrisos moldados a lágrima azulina,

Enquanto penumbras vêm oscilar a luz da lamparina
Desta breve, breve viagem essa é uma das certezas
Porém não temerei, ela serei eu pelas profundezas.

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VI: Só Mais Um Beijo

Apenas mais um beijo e após serei a partida
Somente em vosso regaço a encontrando,
À sua ausência sou porção desprovida de vida
Em cambaleio vacilante os dias arrastando,

Sou... Sou aquilo que é quando o nada acontece
Sendo vós e vós em mim parte sempre cativa
Porém quando o silêncio é voz por vezes parece
Que não há destinatário para esta terna missiva

Nem coração análogo ao que dita estas palavras,
Através de janelas de vidros azuis beijo o pavimento,
Não há terra, céu e luz apenas mais e mais adagas,

Enquanto houver praias ansiando outro semblante
Sentirei vossa ausência neste soturno sentimento
Que é quem sou quando quem sou está distante.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Brinde ao Desengano: As Duas Faces Ausentes

Os escritos interiores das pálpebras são o Sonho, o Pensar,
É insone aquele que não despertado para o sonho
Passa toda uma vida alheado por seu próprio passar,
Pensando no pensar e pensando sonhar ser risonho

Pois quem não imagina estar acordado no nevoeiro
Semicerrado e por ele cercado? Quem não imagina
Imaginar ter luz no olhar que nem um altivo candeeiro
Quando por ela é cegado e encoberto por neblina?

Que por vezes ensina que a cinza é o breve meio-termo
E de quem é o não ser, apresento-vos: o louco insano
Sonhando e sonhando, louco e por sua ausência enfermo,

E ambos ausentes do tido como real, nenhum é humano
Pois nenhum recuperou do éter e plantou aqui seu termo
No jardim terrestre num derradeiro brinde ao desengano!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Deixando: o Passeio Pela Rua

Em pálido caminho a estaladiças folhas forrado,
No suspiro ainda trazia o anseio de uma viagem,
Largando o passeio e sendo pela rua albergado
Nossa silhueta era então encoberta pela ramagem

Que murmurava partes das vozes já proferidas
A folhagem por elas vestida deste percurso sabia
De outros nomes e suas sombras aqui imbuídas
Interrogando até quando teriam em mim estadia,

Quando só o céu tem caminho para enfim andar,
Pouco é o que não sabe a meio, meio pouquinho,
Não preenche bem a ampulheta nem sabe a amar

E às vezes parece apenas outro passo neste caminho
Que ecoa no espaço vazio destinado ao despertar
Que é olvidar a rua pelas asas deste meu passarinho.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Seremos: Parte da Mesma Praia

Ela era a amiga dos pássaros e da brisa,
Confundindo a brisa com a suave maré
Para e em mim dedicada por essa poetisa
Pelo decair das cadentes a meu rodapé,

Todos os dias eu adormecia na mesma prece:
Ser na sua praia que o era pela noite adentro
Do que fora ou que é, e até o que não acontece
Nessa sua praia que era a noite, era o firmamento,

Contava em murmúrios os grãos de areia entre nós
Amontoando breves chilreios e pedaços de vento,
A areia eram as estrelas ditas em silenciosa voz,

Como uma balada, e caíam neste anseio sonolento,
Para sempre, para sempre aqui não estaremos sós,
Aqui seremos parte na fracção do mesmo fragmento.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. V: Ao Partir o Barquinho

O seu ombro era a costa deste barquinho,
Todo o mundo, o oceano aonde navego,
E ao tocar seus lábios perfumados a linho
Esta alma e coração eram num belo sossego,

Sossego esse pintado no olhar dos poetas,
Em pulsação trémula quando acontece
Este desencontro sob a sombra de silhuetas
Cujas fragrâncias esta ânsia ainda entretece,

Apoiada no contra-senso da impermanência,
Este fôlego respirado é ténue marca de água
Suspirado ao vazio preenchido pela ausência

De quem para o que é, é ao longe e há partido
Ficando ou indo eu no barquinho pela frágua
E ao partir, perguntar-me se hei mesmo vivido.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Entre Nós: Toda a Distância do Mundo

Conto o intervalo deste espaço, errante
Entre nós temos toda distância do mundo
Porém a lua está de facto brilhante e eu radiante
Pois algures sei que suspirais radiância neste segundo.
Aqui tenho sorrisos e flores 
Para todos os meus idos amores
Que tenham encontrado o seu tesouro
Onde não aparentava haver algum ouro
E que seus olhos brilhem muito mais agora
Do que alguma vez brilharam na minha presença,
Sim sei, afasta-se o tic-tac daquela nossa hora
Portanto no tempo detenho a cela e a sentença,
Pois a noite e o dia são minhas testemunhas
De que partilhei todas as flores e mais algumas
Por vezes até mais do que alguma vez pude
Porém sei, o quanto o relembrar ilude,
Que uma flor não é só e apenas uma flor,
É um toque, um beijo… é um nada, é Amor.
No espaço só nós dois e ao seu breve sussurrar
Então perdia-me nos cabelos que eram seus
E o tempo era somente nosso para partilhar
Eu amo-vos tanto meu amor, até já… adeus.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Busca: Pelas Palavras Perdidas

Ando em busca das palavras perdidas
Aquelas que ninguém disse ou escutou,
Que não foram no saudar das despedidas
Aquelas que o crescer ao tempo olvidou;

Almejo-as… no suplantar desta voz para lá
Da distância que separa todo o surdo,
Pretendo sua sonância aqui, agora e já
Pois este espaço entre os uns é absurdo,

Deveria ser outra marca d’água no antes,
O cais que aos belos acolhe da tormenta
Ou então o breve olhar entre dois amantes

Que num segundo revela a vinda e a partida
Exprimindo em voz alta a estrada cinzenta
Na busca das palavras que significam vida.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Aqui Resumido: Os Caminhos Tomados e os Não

De todos os que sou ainda mais é em mim,
Foram os caminhos tomados e renunciados
Que adornam e enfloram este círculo sem-fim
Pois de cada novo dia novos eus são achados

Aqui - os caminhos sucessivos já percorridos,
As impressões das pegadas ao longo da viagem
Através das margens pelas orlas dos seis sentidos,
O que não foi é em nós numa contrária miragem

Nos vestígios do passar dos dias deixados ao acaso
Até pelo trilho não tomado há a breve caminhada
Para o que é, premeditado do nascente ao ocaso

Aqui ainda haverá espaços para a janela fechada
Quanto à porta escolhida, ela ter-me-á em seu prazo
Até que talvez se torne noutra estrada não tomada.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ao Belo Momento: Que Esteja Sempre Connosco

Daqui cinco horizontes são nesta vista,
Eu pertenço ao que se estende acima
E abrange tudo o que além de si exista,
Esse longe é o que de mim se aproxima

Retornando a centelha fulgente ao aqui,
A original do retrato das viagens imensas
Através da orla estelar e das nebulosas em si
À qual pertenço e em mim são pertenças,

Ao que é agora e hoje, cultivo o desapego
Com todo o Amor que há neste firmamento
Pois se neste mar de impermanência navego

O que é aqui, amanhã poderá ser só vento
Porém que sublime será, trazer-me-á sossego
Por ter soprado e sido comigo num belo, belo momento.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. IV: Ao Conforto do Frio

Este é o dia-a-dia do sempre ausente
Aguardando no conforto que há no frio
Até vir sobre as nuvens o rosto confidente
Que através destes vidros vem sempre tardio,

Ao entardecer os vidros azuis eram as demoras
Que nem as trémulas pisadas dadas por Orfeu,
Sempre em frente porém ao passar das horas
Questionava-me qual a parte deles reflectia eu.

Há demasiado frio, enregelado no rosto do espelho
Agora há que olhar para dentro, largar o que foi,
Então virá luz e sol partilhando-se com este velho

O rascunho de sua vida nesta eterna história a dois…
Por fim há calor e sua cor a íris em nós reconstrói
No único beijo verdadeiro, a morte pode vir depois.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Ao Vento Seremos: A Distância

Do que outrora fora dois num lugar
Com luzes trémulas - ficou a intenção,
Dita em confidências ao rosto lunar
Onde perdura o resto da nossa mão,

Agora que venham os beijos do vento
Que ele soletre docemente este nome
E quando chegar o dia pela noite dentro
Se lembre... e este olhar de silêncio se tome,

Não erigirão estátuas com as nossas figuras
Nem contarão histórias através dos tempos
Perpetuando este Amor em belas escrituras

Não… Seremos cativos de diferentes ventos,
Soprados em distintos sítios às bermas escuras
Tardando no reencontro e por Amor sedentos.

domingo, 7 de outubro de 2012

Eu Nasci: Para Amar Magia

Não, não nasci para o cinzel de ruas estreitas
Arqueadas através dos prédios de asfalto,
Nasci para ladear as estrelas e em colheitas
Retornar aqui o seu brilho bem lá do alto

Onde as flores não são bem, bem flores
E o silêncio é um discurso bem partilhado
Onde não há malicia nem demais dores
E há verdadeiro amor sem se ser amado,

Fatiga-me a pressa da comoção insanada
Desfilando agitada através das sombras
De quem vendeu Amor à longa jornada

Pousando a cabeça ao luxo das alfombras...
De que me interessa este culto do nada?
Aqui somente os bem vazios ensombras.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Aceitação: Do Que É, No Quase Eterno

Encerrai-me em vosso abraço de beleza,
Eterno serei vosso tal como sempre fui
Pois deste fluir neste mar de incerteza
Este colorir esse envolver ainda possui,

Esboçando no retrato uma única imagem,
A águas de ontem num moinho transparente,
Reflectindo as pegadas de toda uma viagem
Para sempre no sempre e quase eterno assente,

É terno pois traz o desmaiar do esquecimento,
Assim tenho sido o vislumbre daquilo que pinto:
O sussurro da viagem na brevidade do momento.

Aceitando-a tal como é, simples e sincera em vida!
Seu retracto um dia serei, obviamente mais distinto
Então sim, há que nos render ao que ela convida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Alma: Em Suspiros Endereçados

Sob estes pés tenho sido a calçada,
Em rascunhos deslizando no papel,
Numa rua cinzenta e não ladrilhada
Cujo passar se resume a este infiel

Hálito largado ao esmo do outono
Pois nesta bela e melancólica balada
Semeia-se o sonho e ao não vir o sono
Permanecemos... Neste meio tudo e nada

Que serena e apoquenta tal crença ansiada:
"Sussurrará ela este nome ao adormecer?"
Suspirava ele pelo seu à leda alvorada

Até regressar a ânsia de por ela morrer,
Em mim, por ela - essa donzela amada
Por quem alegremente daria seu ser.

sábado, 29 de setembro de 2012

Adeus: Costa Querida

Adeus... Adeus minha costa querida
Trazer-vos-ei em lembranças suspiradas,
Haveis-me pintado os sonhos de uma vida
Logo sereis em mim na parte das amadas,

Adeus... Adeus minha costa e seu farol,
Chorar-vos-ei ao passar das estacões,
Da margem tocada pelo nascer do sol
Até ao assentar do luar noutros serões,

Adeus... Adeus minha costa bela e tardia
Que acolhas barcas que vos elevem deveras
E vos toquem bem fundo como quis ou queria,

E a tal sentimento meu até podeis questionar,
Pois sabei que tenho sido navegado pelas eras,
Sabei que apenas parto pois nunca soube ficar.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Neste Leito: A Queda de Estrelas Cadentes

Os trilhos cruzados são as estrelas do tecto
Que têm caído neste leito onde sossego,
Com o indicador vou traçando seu trajecto,
A seu toque ora as aceito, ora as renego.

Adormecido, a brisa soletra-nos o nome
Através do semblante por fim discernido,
Deste caminho somos nós o seu epitome
Cruzando o trilho pelo poente embebido,

Lá que nos aventuremos neste entretanto
Onde as estrelas cadentes adornam o ser,
Que ao cair sejam elas nosso contracanto,

Podemos dar as mãos, apenas caminhar
Até não haver mais estrada para o fazer,
Então será simples, poderemos enfim voar…

domingo, 23 de setembro de 2012

Aqui Pt. VI: Nossas Lembranças Têm Sido Estas Asas

O poente do sol aconchega-se do cais
E estas asas repousam esfalfadas enfim
Pois seus voos têm sido em cenários tais
Que de tão longe se retornaram em mim

Num trilho de penas esvoaçando à janela,
Cobrindo lá fora uma vereda embaciada,
Será que teriam também passado por ela
Ela, aquela a quem esta poesia é enviada?

Mudas caem à aragem estas suaves penas
Traçando nossas almas num esboço perfeito
Do olhar coincidente a este em tantas cenas

Que só tenho sido no voo e esquecido o andar
Pois Amor, se não tenho vossa mão neste peito
O que restará realmente para eu aqui voltar?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Aqui Pt. V: Doce e Lentamente

Nestas águas cristalinas aqui me banho
Lavando o rosto e ansiando de joelhos
Pois ao reflectido relembro um estranho
Que outrora acenava de passados espelhos

Escoados ao silêncio, escutando a marejada,
Resposta ao demasiado e mais que aspirado
Ao poema que se perdeu nesta caminhada
No sonho que não cede e jamais será curvado,

Nestas águas eles fluem rumo à sua estiagem
Limpando faces por cristais ao seu vislumbre
E esse toque é da primavera ao resto da viagem

Erigindo-se a um pedestal por esta água corrente
Que ao comum transeunte é ainda o deslumbre,
Ao longe me virei à distância, doce e lentamente...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aqui Pt. IV: De Lágrimas e Sorrisos Convosco

A sede é nas lágrimas e o sorriso no riso
Desta margem serei a vossa espuma,
Nesta praia deserta o solo que ora piso
Não sustem o peso que inda vos perfuma,

Além oceanos e planícies apartados vejo
Rodopiando-se ao toque do zéfiro alado,
Sei não adiar a cinza deste agridoce almejo
Porém por meros instantes estou ao vosso lado,

A esse encontro não posso de todo faltar
Pois vossa ausência minha escassez aqui é
E num suspiro serão as ondas meu novo lar

Que seja breve, tal como esta lida passagem
Agora entardeço no acolher da terna maré,
Abrigo para e em mim, serei enfim aragem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Aqui Pt. III: Na Margem Serei a Vossa Espuma

“Troco uma promessa amorosa por uma vida”
E deixámos para trás o farol em busca de luz,
Enfermo, refreio amor como fardo e asa querida,
Em poesia… através de praias desertas nesta cruz

Do viandante por onde o viajante já se transviou
De vossa espera, minha eterna e imortal amada,
Que provavelmente já foi ou ainda não chegou,
Anseio por vosso semblante, em mim sois ansiada

Um oceano aparte, que esta mão vos alcance
E em seu meio que nos descubramos numa ilha,
A tal reencontro que o sentir enfim se esperance.

Hemos completado o fragmento que a si se trilha,
Repousai dentro de mim e enfim num súbito relance
Eis que a espuma retoma o corpo que o céu perfilha.

19 de Setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aqui Pt. II: Memórias do Céu, Mar e Terra

No espaço onde o mar se prostra de joelhos
E a terra o saúda com seu afectuoso envolver,
Revejo-me aqui em incontáveis meios espelhos
Que traçam este semblante porém não este Ver,

Assim as ondas esmorecem ao beijar a margem,
Não reflectidas, amparam-se no ombro da areia
E abdicam de seu Amor, dissipam-se na paisagem
Vertendo-a em mim enquanto o oxigénio rareia.

Dormente, perco-me na terra no meio do verdume,
Aprendo a caminhar e eventualmente a vaguear
Por trilhos cruzados porém sinto do céu seu ciúme

Que relembra que já lhe pertenci, que já soube voar,
E lá partilhávamos o essencial num doce ardume
Que era todo o Sonho e Crença e para mim lar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Ema VIII: Um Dia Sim, Ela Virá

Seremos nós os sóis que têm passado
Ou então a sua luz que em nós ficou?
Mas se de sombras ainda estou cercado
O que será que o tempo deveras deixou?

Para lá deste anseio por verdadeira beleza,
Sob a forma desta exigência tão impaciente,
Que ecoa e é ecoada no pináculo da incerteza
E enfim vertida neste mudo semblante ausente,

É Amor, o verdadeiro, que os sentidos pasma,
A almejada ideia envolvida nesse terno abraço
Que embala e adormece o acossador fantasma

Da sua ausência, no ombro suave do que será
Fragmento de mim encostado em seu regaço,
Que durma bem, sonhe muito pois um dia ela virá

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quedado: Afastou-se-me o Estio

E lá fomos indo antes mesmo de termos ido,
Ao que foi e poderá ainda ser já não o sei
E se neste breve presente caminho fugido
Apenas a brisa vadia sabe o quanto suspirei

Por sua presença, perfeitamente esculpida,
No cimento da areia encoberta por lágrimas,
Para quem esse toque é maior do que a vida
E esse sorriso precioso para findar estas rimas,

Enfim, reparando na falta de sílabas e de ditongos
Eis que finalmente desliguei a luz, apagando a vela,
Afadigado por este trecho através de vales longos

Quedei-me, rascunhando na margem de nosso rio,
“Amor, hei penhorado meu amor” e nessa escapadela
Ao longe, do silêncio aproximou-se enfim o final do Estio.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Aquela Voz: O Vento Sabe o Meu Nome

A voz, procuro-vos tal e qual me procuro a mim,
Não vos encontro em nenhum canto do mundo,
Entre quatro paredes sinto-vos na mesma assim
Na pertença cerúlea de algo e neste sítio profundo

As esquinas têm-se reverenciado ao meu passar
Através do retoque brando às oiradas searas,
De lugares tenho partido sem realmente chegar
Porém ainda relembro de vosso brilho, às claras,

Dentre as nébulas da noite mostrando o caminho,
“Será vossa visão dessa luz tão tortuosa quanto ele?”
- O vento suspirava então ofegantemente baixinho.

Que seja ele hoje em mim e que apenas ele me revele,
Das grinaldas e cicatrizes trazidas neste eu sozinho,
Quais as que subsistirão para sempre nesta pele.

Para Além da Vida e da Morte: O Ponto Nulo

Olhem-nos ladeados e de braços estendidos
De pontos estelares dispersos e em peripécias tais
Onde o nulo é métrica universal e nós os pretendidos
Para o almejar e o desdém do menos e do mais,

Que são bem além de qualquer estrela amada
Reflectida em nosso olhar do princípio até ao fim,
O relato estelar deambula entre o tudo e o nada
Do que é em nós e além até ao que é só em mim:

O pequeno retrato em síntese deste Universo
Num grito progenitor ainda no afluente ecoado,
Sim confesso, sou o seu prisioneiro auto-cativado

Nesta cela forrada a aparente eterno estou imerso
Errando pelo caminho eis-me largado à casual sorte
Por esta passagem que nem é vida nem é morte.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Síntese Pt. II: Poema Por Meia Rosa

A alba pelos oblíquos caminhos do belo
Perseguida por uma sombra de cetim,
Entre o som do mar e de meio violoncelo
Inda obnubilada pelo poente solar em mim;

“Passo horas acordada” de olhar vago,
Por tudo quanto sorrimos e chorámos,
E em ternos suspiros a Ema ainda indago
Se primaveras sentirão este passar dos anos,

Escondidos, onde estes raramente se encontram -
Dois. Em Vénus ainda cabem mais pessoas, dei-me
No meio vezes entre milhares de vezes que entram

Rendidas pela janela que entreaberta sempre estará,
Beijai-me as palmas das mãos e adormecei-me.
Pois ainda sei que um dia sim, um dia Ema virá.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Síntese: Dos Caderninhos

Esta brisa é fruto da neblina, nebulosa e do Universo
Do um em sua porção por pegadas rumo ao horizonte,
No reflexo da passagem através do tom no éter disperso
Pelo afluente, atravessando o que para os deuses é a ponte

Pelo retorno das cores sem nomes a cada segundo eu
Suspiro: “Até já” – ao agora de uma vida rascunhada
E ao instante largada no que a maresia outrora cedeu,
Nesses espaços ainda serei eu a metade espelhada?

Quero ser inteiro, mesmo em dois olhares num Ver,
Pela sinceridade do Ósculo de sóis idos e vindouros
De dedos esticados que nos venha a una voz do ser,

Simples, legando retoques entre terras e oceanos ainda
Nesta viagem pelas nebulosas os sonhos são tesouros
Para o tempo que alumiam a alvorada da noite infinda.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Rascunho: Do Preenchimento da Ampulheta

Percorremos todas as ruas de mãos dadas
Então algures vislumbrei um esquisso forrado
A ruas que exalavam ânsia, a ânsia de fachadas
Enquanto minha voz se ia enfim silenciando

Nesta poeira que é tempo cerrando este olhar
Que à sua miragem se faz resnascer num poema,
Eis que ao longe já as distingo sobre o leitoso luar
Vindo para em mim serem Luz ao toque de Ema;

Serei seu fiel irmão sempre por estrelas enamorado
Então devagar e docemente afagai-me o cabelo
No divino terei esquecimento de prévio estado

E ao último suspiro que o que for seja cumprido,
Jamais em rendição mas sim na aceitação do belo
Ou do seu contrário, desde que Vida tenha sido.

Pt. II: Como Perdido

Há mais universos inteiros dentro de mundos
Aonde de os atravessar a todos preciso
Pois esse é o fado de todos os vagabundos,
Vós sabeis, o deambular pelo trilho impreciso

Sob esta terra batida sem pegadas anteriores
Onde a brisa e seu toque se torna a companhia,
Que molde o semblante e olvide todas as dores,
Hei-de beijá-las e largá-las à ternura da acalmia,

Aquela que ainda se alonga na sua chegada
E que constringe o peito devido ao seu anseio,
Falta-se-me o ar e a alma contorce-se rasgada

Pois no caminho, semblantes estranhos tenho sido
E agora nesta viagem ao alcançar o seu meio
Mãe! Tenho perdido as asas, mãe... tenho-as perdido...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

…ora trazida no Ser: O Universo… Pt.III

De olhos fechados e dedos bem esticados
Aberto para o universo e para o mais além,
Até que nos fios da matriz fiquem enredados,
Este ver se expanda para enfim ver o que já tem,

Aí que possa então poisar a cabeça na almofada
Despertando enfim do tão irreal retido nesta vida,
Que traga todos os sonhos ou me retorne em nada
Desde que a ampulheta seja por fim preenchida,

Pois serei no amanhã um dia e noutro novo dia também,
Por tua consciência pois de nós és o unitário inverso,
Em ti pai, a espontânea harmonia que nos contém

E que mais do que anseio é razão para olhar, sentir e ser,
Escutai sim esta prece remetida ao ouvido do universo,
Beijai-me as palmas das mãos e sede em mim - o viver.

sábado, 18 de agosto de 2012

Aqui: Entre Terras e Oceanos

Entre as terras e os oceanos vamos indo
Passo a passo com brisa como bagagem,
Do que ontem foi o amanhã será no infindo
Errando no que entre terra e mar é à margem;

Há mais tempo do que no tempo jamais haverá
O lar se separou do itinerário para nossa fonte
Do que lá talvez ficou será que ainda aqui será
Mais do que um sabor agridoce rumo ao horizonte?

Porém até desse rareio de ar novos instantes virão
O sonho floral sobre a grinalda de quem vislumbra
Será o despertar sob a forma do saber dar a mão

E aí, permiti-me que me reescreva nessa entrelinha
Pois quem do passado demasiado hoje relembra
Será que ao vindoiro futuro o que será ainda adivinha?

domingo, 12 de agosto de 2012

A Ema VII Pt. II: Ao Princípio do Sonho e do Além

O início e fim do mundo rascunhado em vossa mão
Definindo o princípio do sonhado e do mais além
Num mapa azul de uma esquecida rima de verão
Sustentada em quem alma e coração ainda tem

Pois assim nasce outro poema, dedicá-lo-ei a Ema,
Breve e em silfídicos suspiros tornado em baladas
Até quando estranhar qual a sua rima ou tema
Lembrar-me-ei que ela pastoreia minhas amadas,

Em leves contornos delas colorar-me-ei do que pinto,
Concedei-me os arcos da íris dos sóis e aguaceiros
Sublinhados com traço bem forte, sinuoso e sucinto,

Que me permita manter da luz e chuva seus cheiros
Num coreto e meu semblante se torne de si indistinto
E que um dia me perca e ora me reencontre – inteiro.

A Ema VII: A Serenata Dançada ao Sonho e ao Além

Após as nuvens, Ema as estrelas concertando
Ao longo do firmamento numa dança só dela,
Entre rodopios e voltas as nuvens inquietando
Nesta serenata que faz e torna a Beleza bela,

Para os ilhéus que desconhecem tais ousadias
Como ela airosa neste seu tão casual intento
Redigindo no cerúleo sem fim infindas melodias
À sua visão embala o além cessando este lamento,

Ao lene reflexo revendo-me a mim nela e sem dano
A viagem entre as nebulosas torna-se aqui sentida,
Apartam-se-me as lágrimas e até o seu oceano,

Os pés da terra se enlevam para lá desta vida,
Não há hesitação nem tão pouco algum engano,
Desta meta terei enfim minha aguardada partida.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. IV: Vertendo o Olhar

Ema tem-se vertido através deste olhar,
Enquanto no firmamento o seu pó alastro
Silenciando desta passeata o caminhar
E passando-se este trilho sem deixar rasto,

Quais palavras exprimirão o estro poético?
Apenas uma ou duas andam por lá perto
Porém esse olhar ainda encerra o ascético
Outrora e um dia beijaram de Ver desperto,

E o que há ficado para além deste papiro
Sempre tão simples sob fugidias nebulosas?
Ainda relembra a luzência daquele seu respiro

Que eram cores de pincéis e rosas em prosas,
Vertidas por este diligente olhar num suspiro
Sob a sua sombra e além das galáxias mimosas.

domingo, 22 de julho de 2012

Ao Sol Pt. II: E ao Voo de Ícaro

Quando Abril passa de mês a estação
Acena-se de longe, ao perto, a despedida
Revelando mais do que pode uma mera mão:
As metades encetadas e os fragmentos da vida.

Neste aqui, o intervalo entre o final e a partida,
Parecido com o mais longo suspiro dado ao vento
Que na iris é uma multitude de cores reflectida,
É a Alma que do reflectido é pincel e sustento,

O contrário do céptico e do idealista sou eu,
Sou amanhã, um dia, o que outro dia alcança
Libertai-me do que a brisa a este ouvido cedeu

Ao sol e ao voo de Ícaro sentenciado como réu,
Com esta crença de que nesta Vida tudo passa
Exceptuando os instantes em que fomos no céu.

A Ambivalência: Deste Sentir

É… Isto que mais adoece do que cura
Não deve ser Amor, deve ser loucura
Sim claro, há sem dúvida que acreditar
Porém esta crença de tão grande que é,

Perdeu-se do real, nem é salutar até.
A ambivalência deste sentir é o beijar
Pois algures a sua cura ainda repoisa,
Como se precisássemos da única coisa

Que não podemos de todo encontrar,
E esse é o caos silencioso neste palpitar
Meio ténue, meio atroante e tão, tão vago,

Não há fuga possível nem tão pouco socorro,
Pois por ela vou vivendo e ainda por ela morro
Nesta outra metade viva que mata e em mim trago.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Viagens Pt. II: Pelo Trilho das Nebulosas

Aqui temos acordado para outros dias
E o deslizar dessa ténue e veloz passagem
É sempre novo, o reencontro de melodias
Livres que da Inteira nebulosa são: a Viagem

(Para) Quem ousa sonhar e navegar o barquinho
E aos parados e por água isolados como ilhéus,
Partilhem Amor irmãos - a singeleza do caminho,
Ao toque de uma mão vão-se as nuvens dos céus

Pois dos achados e perdidos resta apenas esse eu
Que é a significação do dia, a marca no tempo
Naquilo que foi retido e também no que se deu,

Sorriam sim e o tempo laurear-se-á em luz e alento,
Nos sóis inspirados da harmonia das cordas de Orfeu,
Não ouçam, escutem… vossas pegadas legadas ao vento.

                                                        *(Somos a nossa Própria Viagem)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Esta Solidão: Simplesmente é à Distância do Mundo

Esta solidão é perfeitamente esculpida,
Sem donzelas ou amadas neste coração
Resta o brilho estelar que sempre convida
Ao que sobra para além da sua terna mão,

Suspiro seu nome quando no aqui não sou,
Tragam flores para quem no eterno repousa,
Pois esse mesmo suspiro neste nada cessou
Perecendo no que este Amor sentido alousa:

Este constante evitar o que o comum torna,
É a perfeita moldura para esta tida solidão
Porém há que voltar ao que o olhar adorna

A brisa enlevando-se em dentes-de-leão,
À sua distância, apenas por vós, luz retorna
Portanto por favor não me leveis a mal não.

sábado, 7 de julho de 2012

O Sonho Pt. III: O Acordar

Havia sonhado com ela através de espelhos,
Ao acordar, o mundo tinha-se enfim mudado
No céu surgiam sete distintos tons de vermelhos,
Esmorecendo o dia, o seu Ver havia silenciado;

Então, em páginas azuis vertia-se seu olhar
Era ela o dente-de-leão soprado à maresia
Errando viandante pelas ondas daquele mar,
Em cores sentidas por Ema, essa doce elísia

Que ao passar das brisas e das tempestades
Se ia transfigurando pelo périplo do Sonho
Por miríades achadas passado mil metades

E a essa passagem era também eu suponho,
Até este sentir de segundos eus saudades,
Neste alvorecer meio alegre, meio tristonho.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Sonho Pt. II: Entre o Aqui e o Universo

Entre o ponto que cada um ocupa
E o meio e o final deste vasto Universo,
Estão todos os sonhos que em catadupa
Despontam para lá do céu e do adverso,

Fora da jaula, de janelas e portas bem abertas,
Até quando a melhor nódoa cai no pior pano,
Há uma estória a contar por parte dos poetas
Transpondo-se para lá do meramente humano,

Que ouçam, sintam e falem através da vista,
Será o mais perto que estarão do que é Deus,
Que digam que são no que é e que em si exista

Alguma tela ou papel para trazer algo dos céus,
E noutras peças deste enigma de pista em pista
Se erijam e recriem as pontes entre vós - os ilhéus.

sábado, 30 de junho de 2012

O Sonho: O Anseio da Alma (no Barquinho)

Estas velas têm sido ao sopro do vento,
Na busca por Ícaro neste três mastros,
Este impulso que do caminho é sustento
E cujo oposto será o parar sob alabastros;

O Sonho tem sido esta passagem vertical
Ornando as pálpebras interiores em pinturas,
Pois se a gravidade retém o barco como tal
Haja imaginação para o enlevar às alturas,

Que em sentimento consciente as tomemos
Como objectivo e eventualmente único lar,
Pois este velejar detém o desígnio supremo

Do Universo que é a revinda do e ao singular,
Singremos nestas correntes no volver dos remos
Ao Sonho, esse belo diadema da alma ao ansiar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Uma Constelação: Para Imortalizar a Vossa Ausência

E se eu pegasse na vossa sentida ausência
E a pintasse no sorriso de uma constelação?
Seríeis então imortalizada e nessa cadência
Reencontraria para estes ternos suspiros razão,

Sei… sois vós que levantareis novamente esta voz,
Ao longe, de perto, já quase oiço os sinos a tocar
No peito que se perde no meio deste antes e após
E que acredita piamente Ver e Ser nesse vosso olhar

Pois testemunha Deus no ombro ao vosso adormecer,
E aí é brilho em brilho maior do que a maior supernova,
Os sistemas e galáxias se embaraçam e ao seu esvaecer

Esse sorriso é a única fonte de Luz, o Universo todo em trova
Porém… ouvi não os devaneios deste brilho por éter retocado
Neste momento e instante, sou só e apenas… mais um poeta apaixonado.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ao Passar desta Brisa no Rosto: Que Soe a Bom Amigo

Esta brisa no rosto tem sido mudança
Pois têm passado as noites neste relento
E dessa constância hei visto a lembrança
Das vezes em que esta brisa era mais vento;

Todos os fantasmas são mais para os fantasmas,
Ónus para nossos diferentes espaços e tempos
Pois como as estações mudam esses miasmas
Que cedem ao Aqui suas vontades e sustentos,

Esses escritos interiores no que o amanhã era
Sempre focados olhando para o que é lá fora
Mas para que servem se só quero viver o Aqui – Agora?

Contudo, vou apreciando esta agridoce espera
Nesta cinzenta nuvem que cheira a lar e abrigo
Ao que muda o que foi só espero um dia tornar-me ou ser...

...um bom, bom amigo.

Was, Is, Shall Be (old song)

A moisture of expressions from who tends to be
A different kind of wave around an equal type of sea
When the cold breeze restarts again we’ll simply pretend…
And smile…

And the world turning and days fading by, …do they feel
left behind, do they question why?
Do reasons doubt the thoughts that gave them birth?…
And doubts…

A Circle moving around the garden æ nourished
From nothing it rose, somehow it flourished
Each withering flower is reborn again…
(even in sand)

And the sky turning and nights passing by,
What do they leave behind, but questions of why?
Remember today as tomorrow’s almost gone
(and nobody knows)

Snow is falling once more (old song)

They fell - dwellers of the quiet world
The white splendor a windowpane absorbs
Like them, I am silence

Amidst ennui walls of dreamless rains
Frozen like them, fainted like them,
Are we everything yet nothing attained but fragments of…

…Snow?

Delayed – absence of recited plans
Portions enticed by the heavens themselves
Concrete destination, partial destitution run for shelter

Things take and burn time and time burns in our age
White city is small, shorter than tall,
My hand is cold, my hand is cold… my hand is holding fragments of…

…Snow

And Life – came to be through my being,
The light that reflected was indeed life,
Born of Love, born of Love… for all living things.

    ...and silently we fall leaving behind a white trail
    We may leave a beautiful trail with a kiss
    With a kiss, the world will heal again.

The time is now.


Stilled Picture V. II of Ema (old song)

Years inside this old picture
Nothing moves inside this whisper
Moments frozen bestowing past
Lethargic future by present’s cast

Disbelieved memories damned by time
In the darkest casket still striving to shine
Tomorrow passes becoming yesterday
Another stub into oblivion’s ashtray...

Shining hearts with nothing wrong
Briefly walking a trail not too long
Midway figures seal radiant smiles
First prayers for closing miles…

Profound wishes for a precise retention
Ecstatic stories entangled to another dimension...
Aboding amidst corners of my mind
Thinking to search yet failing to find...

“Chasing the light… losing bright…”
so much Life slipping through my fingers…

Immersing in mist of a past gift
Preferred clothes no longer fit
Paint now leaking correcting the picture
Revealing a blurred faded feature

Untold contours forgotten story
Collected colors once for glory...
Posing for an unselected destiny
The Girl in the picture was me…

“Losing light… chasing Her bright…”
Smothered within a frame I did could not belong…

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Às Tonalidades... Pt. II da Primavera: Ao Infindo Contido

Temos fluído, sempre em rumo à nascente
E este vaguear predito que nada é perdido,
Agora há que olvidar esse olhar penitente
Porque tudo lhe confere intento e sentido,

Somos! Na escrita da nossa própria odisseia
Onde viver cada dia é epopeica façanha,
Honrando cada trecho que ao herói laureia
Somos filhos de deuses sob a rubra entranha

E se ao caminho o divagarmos pelo errante
Que saibamos chorar e sorrir pois após isso
Virá sempre outro momento noutro instante

E se não voarmos bem alto, jamais iremos voar,
Esse é o prenúncio dos deuses e nós o esquisso
Para o inteiro: o Infindo neste simples caminhar.

Às Tonalidades... de Outono: E às Cadentes no Caderninho

As tonalidades de Outono vêm e vão,
Porém nunca sua cor no Ver reflectida
E jamais essa luz, seja qual for a estação,
Que confere a cor ganha e até a perdida;

E esquecer a vida no Amor e Alma jamais,
Este caderno terá em cada linha sua lida,
Venham seus temores e outras coisas tais
Trá-los-ei no abecedário que é desta vida

Em mais caminho, quase sempre solitário,
Que ora se vai remetendo para as frentes
E outras vezes é de si seu próprio contrário,

Se cravando na pele em cicatrizes e sinais…
E para não esquecer trago-as em cadentes
Nestes fulgores, estrofes e outras coisas tais.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Aceitar: Acordar Sobre Estrelas de Fulgor Ininterrupto

Das sentidas tenho amado todas as estrelas,
Sendo as intermitentes minha única excepção,
Pois se não tocam a alma como posso querê-las
Para aqui me preencherem o resto do coração?

Brindo inebriado à alvorada da noite infinda,
Sem amadas e sem a sua luzência neste peito
Esquece-se o intento do trilho e à nossa vinda
Tornamo-nos intermitentes neste fulgor rarefeito,

Portanto eu sou das fulgências fixas enamorado
Por cada segundo eu passo as travessas, as vielas,
Revendo no reflectido este acumular do passado

Destes olhos a luz cativada e para o infindo telas
É o Ósculo que nesta alma é sempre repintado
Por elas, pois têm sido elas - elas!… somente elas.

Um Pouco de Luz: Para Quem Luz Procura

Deste caminho apartou-se-me a mais bela
Ideia enviada ao silêncio da noite forasteira,
Era só um rosto esbatido a tons de aguarela
Na ânsia deste observar sobre a orla costeira,

Espero-a em anseio do alto destes penhascos,
Onde abaixo fráguas inda aguardam pacientes,
Que suas escarpas saibam a um suave damasco
E ao seu toque assentem estes tempos reticentes,

Onde tarda o envolver de e a toda a Primavera,
Somente para sorver nos lábios a sua brancura
E partir sem mais voltar para o que o trilho adultera…

Este deífico respirar deveria dissipar esta parte escura,
Porém se pouco muda, há-se tornado a ideia efémera?
Quem dera, ao menos não seria luz para quem luz procura.

sábado, 26 de maio de 2012

À Pequena Sereia: Da Espuma ao Patamar do Eterno

O seu coreto era o sítio para o recital
Era então vê-la, bela, frágil e delicada,
Dançando lesta numa estória de cristal
Sobre suas pernas então duas espadas;

Por Amor, o mundo submerso ora passado,
Ao seu porte vinham suspiros de mil poetas
Porém, apenas a um o seu pulsar era enviado
Num anseio por uma alma nessas horas incertas

Era então vê-la lá a dançar lesta por um toque ideal
Que... Uma vez impossível se lhe resgatou todo o ar,
De coração partido – seria então a espuma no mar;

Para seu sangue vertido em suas pernas - um punhal!
E à sua recusa logo pelas filhas do Ar foi pretendida,
Seriam trezentos anos até ver a sua bondade retribuída.

domingo, 13 de maio de 2012

A Procura do Coelho Branco: Pelos Olhos de um Colibri

Para aquele Amor que sustive na mão,
Que um dia recriou magia em suspiros
E com quem repartido foi num coração
Em voos alíferos de partilhados respiros,

Ao Sol que escolheu outro perfeito instante,
Busco no Coelho Branco o trilho para casa,
Olvido penas no ar neste olhar esvoaçante,
Ressoando, o som do escape em meia asa,

Canta para Ela, que brilhe através da neve!
Sim, a luz irradia na ausência doutra gente,
Voando alto enfim voaremos como se deve,

Nestas mãos-asa trazendo do ar a sua semente
Em cada esvoejar outro momento se prescreve,
Neste anseio com o reencontro no transcendente.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

No Ombro da Margem: Soneto à Espuma

De sílaba a sílaba esta confissão no silêncio,
Escutada pelo nocturno relembra-nos assim
Um tempo ausente de ósculo como prenúncio
Ao melífluo espaçado entre o princípio e o fim;

O Ver era a ausência de qualquer pestanejar
Refractando os reflexos de lunares improvisos,
Naquela margem que cedia alento, prestava ar
E que era nessa espuma o molde destes sorrisos;

O trilho para o Acordar é feito de simples nadas,
É tão simples que é fácil que se nos escapem
Dentre os dedos e que se esmoreçam as escadas

Que vão além do horizonte nesta singular jornada,
Um soneto à espuma passante de ombro na margem
Para quê imaginar se em mim conflui a parte amada?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ensaio ao Toque do Esbelto: Neste Espaço Ocupado

Sois a chuva caindo perante a lamparina
O retoque na brisa no mundo que é lá fora,
Os restos das esquinas no que a Lua ilumina,
Aquele suspiro cúmplice do hoje e d’outrora,

Sois a abóboda celeste adornando o relento,
Singularmente ides preenchendo este espaço,
Desse esvoaçar do infindo verteis o único intento,
Deste cativo, o anseio por vosso eviterno regaço,

Neste ensaio sobre vós irei indo estação a estação
Repleto dessa beleza e claro de seu doce ardume,
Além da metade que trago, num plenário coração,

Sede em mim - no infinitésimo instante o perfume,
Vaguearei para já por cá com vosso beijo na mão,
Sendo um dia convosco o que a madrugada resume.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Ema VI: O Ombro da Lua

O vosso peito é o prado do primaveril,
De idílica beleza alumiando o dia,
Até quando do orvalho chove Abril
E se envolve com o que o Ver via:

Uma chuva de estrelas sobre o peito,
A fracção de nebulosas que ela respira,
Que é pouco para me dar por satisfeito
Porém este é o ornato que Ema inspira,

Nestas saudosas horas do entardecer,
Somos o vaguear dos trilhos do precito,
Esperando o Sol para em ternura ceder

A Lua, de Ema balão para o estelar súbito…
De seu pedestal, sê em mim esse ascender,
Que seu ombro me conceda o seu plácito.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. III: O Orvalhar em Anil

Amor, é esta cantiga vosso porto de abrigo?
Enlevando-se subtil pelo cais da madrugada,
Ou apenas e só mais um oaristo pelo índigo
Que se espezinha ao atravessar a calçada?

Índigo vertido em gotas numa colina azulada,
Esta é a alma que o Outono deixa para trás,
Onde a gota descalça se queda inquietada
E se reencontra enfim, reavendo a sua paz;

Queridas amadas cedei espaço ao meio lunar
E que no orvalho vossa alma seja seu lacrimar:
Este entremear às estrelas cadentes no tecto,

Confesso este anseio apontando seu trajecto,
Sei, sois o infindo, bastante mais do que mil,
Que juntas se assentam neste orvalho de anil.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. II: O Ósculo das Amadas é Luz

Janelas azuis têm suspirado na brisa,
Seu sussurro tem sido o único sustento
Desse semblante que o etéreo adonisa
Com o toque do orvalho no firmamento,

De quando já não há mais toque a dar
Entre este sítio e o infindo sou o espaço,
E o ósculo se retrai se eclipsando no mar,
Quando virá num beijo o seu terno abraço?

Esta meia vida será aqui o maior instante,
A um voejar ante minha imortal amada,
Porém se sabe a vida eu sou o bastante

Para percorrer arquejante esta estrada,
Em meio eterno para já mas não obstante,
Nunca refreado ou contentando com nada!

domingo, 1 de abril de 2012

Por Janelas de Vidros Azuis: O Sussurro na Brisa

Se meus lábios fossem espelho dos vossos,
Encostado a um vidro azul seria o devaneio
De qualquer ténue latejo com seus impostos
Que em estórias se vai perdendo neste anseio,

Abram-se enfim as janelas vertendo a sua brisa,
No bom ou mau que concedam auge ao sentir,
E um dia, orvalhe na flama de tal forma precisa
Que olvide este suspirar na hora de seu existir,

Porém… que permita alcançar o eu vindoiro,
Ele que se inscreva no cerúleo em capa d’oiro,
Ornado sim a ido perfume tornado em maresia,

Que na brisa sussurrado seja definitivo esse agoiro,
Pois eventualmente voltará como uma fotografia
Relembrando o inquestionável eterno que foi um dia.

terça-feira, 20 de março de 2012

Ao Sol: Seu Reflexo era a Única Cor

Ao sol ela era a escultura para o seu reflexo,
A cor do olhar trilhado por aquela sua estrela
Era homónimo de negro clarão neste entrecho,
Eu – Simples espaço para o anseio em passarela,

Hoje a estrela da madrugada hasteia-se cedo,
Raiam as ondas nesta lida insana, nesta peça,
E se deste navegar havemos nutrido nosso medo,
Estagna-se a vida sem pergaminho que a entreteça,

Soa a miúdo a correr com tesoura e pincéis na mão,
Repleto de cicatrizes e cores transpostas para poesia,
Encostando a cabeça na brisa e ouvindo a sua canção,

Seja do que vem ou não – e se embebe em nostalgia,
Pois quando o céu em suspiros escapa a um coração,
Passam as estações levando suas cores e a sua magia.

terça-feira, 6 de março de 2012

Retrato do Português do Séc. XXI: Essa Rameira Paciente

Dêem-me um número de lugar de camioneta,
Para dormir eventualmente num quarto, no chão,
Moro em latrinas públicas e do pódio um proxeneta
Confere-me desmedidas regalias como côdeas de pão,

Profiro os Descobrimentos como se ontem tivessem sido,
Erra esta nau esperando a sorte que o horizonte alcança,
Contudo se perde num país meio afundado, meio perdido,
Sempre do mesmo estamos fartos mas cansa-nos a mudança,

Egrégio lar por escumalha governado em contos de fadas,
Venho de vários caminhos porém de futuro sou aldrabado,
O esplendor levam deixando-nos um invólucro com mil nadas,
Nação valente quando te libertarás deste cerco, deste Fado?

Vamos engolindo merda como se fosse um sazonado doce,
Coloco a mão na algibeira e em meio bolso sinto-o furado,
Ao invés do amanhã celebramos continuamente o passado,

E vamos vivendo do silêncio nutrido por esta esperança vã,
Esfomeados por nossa própria fome nesta parada precoce,
De cinto apertado e calças na mão aguardámos a manhã,

Espreitando o lá fora e sua luz como se o amanhecer fosse,
Sim, sou um português de gema, o sucessor de mil gerações,
Castrado à nascença, nobre entre as brumas, mas... sem os colhões.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Espera: Pela Entrevinda

Íamos esperando, intercalados pela acalmia,
Contudo apressados por pegadas passadas,
O brilho opaco revirando-se no fulgir do baço,
E ao seu néctar polinizado, somente eu sabia,
Onde o murmúrio do vento deixou pegadas,
Na incerteza minha certeza e enfim, o nítido traço,

Ao desconhecer ser no rotineiro e mundano,
Era uma onda de âmbar ao tempo olvidada, 
Contudo reflectindo ouro ao seu contacto solar,
Como que inebriado por porções de láudano,
Dando passo a passo, sonhando estar acordada,
Era assim que passava ligeiramente este passar,

Na infinda busca de significado e aceitação,
Num prenúncio ao crepúsculo e ao amanhecer,
Agraciado pela partilha desta praia tão bonita,
No sítio onde esvoaçáveis no abraço do Verão,
Onde caminhávamos de mão dada, num só ser,
E o depois era fulgência apesar de incógnita,

Lá... lá onde o murmúrio do vento lega pegadas,
Esse cenário é só meu e é o que nos torna reais,
E a sua entrevinda o gradual circulo reaberto,
Nessa suave brisa de tardes de Verão ancoradas,
Prisioneiro no enlevamento que me providenciais,
Em cela com vista para o ontem e para o incerto,

Vamos deixando rumos e partindo antes de chegar,
Esse progresso, é o sossegar do inquieto e desassossegado,
E à deífica mistura deste meu palato com o vosso gosto,
Sou sentimento em perdição e em fremente ofegar,
O infortúnio de Adão por fim nítido e delineado,
Nas maçãs e nas rugas, nas rugas das maçãs do rosto,

Quando vós chegardes a casa enfim, sairemos.
Então beijai-me os olhos e abri-me as pálpebras,
Fechai-me os olhos e beijai-me as pálpebras,
Beijai-me os olhos e reabri-me,
Cerrai-me o olhar,
Beijai-me…

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Do Suspirar: O Rodopio Daquela Canção

Eu que do Universo testemunhei sua maravilha,
Tragando em mim seu âmbar estação a estação.
Porém de toda essa passagem e enfim partilha,
São ainda vossos lábios minha ânsia e perdição;

Amor, sois o saudoso suspiro que ainda inspiro,
Osculai-me pois a alma e quebrai-me o coração,
Vosso ombro concedei-me como porto de abrigo,
Lembrai-me o rodopio próprio da nossa canção;

A meus pés tombada jaz a pitoresca Primavera,
Este peito, urna para as cores e sua reminiscência,
O meio eu que tarda no que o ontem lhe trouxera,

Vós, sumptuosa sílfide haveis sorvido minha Alma,
E silenciado meu Viver com esta terna ausência, 
Em melancolia aspiro do sepulcro a sua calma.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Toque: Do Universo nos Refluentes

Sim outrora fui… outrora fui o Sonho,
Hoje sou Alma oblonga por etéreo rio,
E de margem a margem o transponho,
Retendo em mim a centelha do Estio,

Do Céu, a mais brilhante flor estrelada,
Da grinalda reluzente por Ema colhida,
A menina do rio pela Vida enamorada,
Que num ido dia se deu como perdida,

No rumo diante a viagem face ao Inteiro,
Ela, Ósculo nos infantes das supernovas,
E nesse infindo refluir tão célere e ligeiro,

Tragos de um pouco de mar e brisa cerúlea,
Somos aí refluentes, as melodias em trovas,
Que o Universo recita nesta una tertúlia.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Ema V Pt. II: A Tela Colorida em Palavras

Esse ornato, é o semblante da centelha,
Que fulgente pulsa nos elísios infantes,
E no simples essa simplicidade espelha,
Os escritos deixados por outros viajantes,

Eu sou um deles, venho das claves primaveris,
Sou o poeta das cores pois pincelo palavras,
Na tela que é o mundo em toques tão subtis
Que tu, o um de todos os sonhos enquadras,

Nessa tela, onde se misturam todos os sentidos,
Numa valsa de colorações espargidas em letras,
Onde como frases, sou os encontrados e perdidos,

Sim esses, os que apenas são eu para lá do Sonhar,
Instantes sou nesse meio onde a cor então se soletra,
Naquele eterno entre o primeiro beijo e o último Amar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Ema V: A Brisa que Sopra Poesia

Vem a brisa ligeira de um poema,
Abrem-se as chuvas e os abrolhos,
Do outro lado das nuvens sorri Ema,
Beijando o dia, verte-se nestes olhos;

Havia colhido luz para a sua grinalda,
Ornada a poente erra no fio do vento,
A aurora reflecte o seu olhar esmeralda,
Que do próprio Sonho se tornou sustento;

Vejo-a nítida, soprando às nuvens pétalas,
E tenho-a, neste retrato que já nem é retrato,
É extensão de alma e esvoaçar de borboletas,

Pela poeira do tempo… e como o tempo é ingrato,
Porém resta em escritos, pelo vaguear dos poetas,
E é aí que a brisa sopra poesia, forjando seu ornato.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Deus Sorri: No Simplesmente Ser

Somos ilhas, cedidas a mares tumultuados,
Deixando em suas pegadas beijos ao vento,
Preenchidas pelos passageiros já elipsados,
Porém presentes em restos que neste alento,

Neste fôlego que estende as velas adiante,
Através da multitude de trilhos desta viagem,
No infindo que não chega e vai num instante,
E parece mais um ir e vir pela mesma miragem,

Sim o inevitável, é perfeito quando acontece,
O acontecer é inevitável, é principio, é aragem,
Serei o espaço para esse milagre que entretece,

A beleza tão precisa deste ângulo nesta passagem,
Seja ele qual for, é perfeito ao ser, o divino enaltece,
Deus sou eu se me deixar ser... o restante é paragem.

Do Ver Pt. III: Aos Ilhéus como as Cores do Arco-íris

Acordado para o sol, ainda dormia,
Entre a terra e o céu num belo arco,
Era outra nota da universal sintonia,
Tendo a chuva e a luz como barco,

És Deus pois tocas-me com beleza,
Em mim doutrina, principio e crença,
Vives no beijo dos arco-íris, na pureza,
Do olhar que Vê e sabe sua pertença,

Onde alguns ainda se vertem pelo céu,
Suas essências coloram o brilho do dia,
Sobem e acima, elevam do Belo seu véu!

Não sois reais, sois a concreção de magia,
Sois o Ósculo do cerúleo, de ilhéu em ilhéu,
Pois em cada um, uma nova cor então surgia.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Do Ver Pt. II: O Reflexo das Cores Sem Nomes

 Na procura de cores sem nomes
Onde o especial seja o indizível
Que o cosmos se atinja em epítomes
No reflexo desta íris e no indescritível,

Preenchido em anos o passageiro,
E trilhos sem mapas azuis que passam,
Advindo em apêndices rumo ao inteiro,
São as estações que o semblante traçam;

Alguns de nós ainda olham para o céu,
Esperando pelo instante, pelo seu tudo,
Que seja aqui e em mim, que seja eu!

No arco da íris aquela, a luz reflectida,
Neste eu que é tão pouco e contudo,
Com o resto, é maior que a própria vida.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Do Ver: O Reflexo da Passagem

Em multicor, a íris o mundo captura,
E a asa do Sonho alastra sua fragrância,
Pelo rascunho, do molde para a gravura,
Que passa por além e transpõe a distância,

Do aqui em diante e para lá do inteiro,
O eu é pouco, mas neste eu e no resto,
Há tudo, da noite à luz de um candeeiro,
Entre o gémeo simétrico, apenas um gesto;

Gesto esse que passou e passará um dia,
Entre o sol e o seu ofuscar no contínuo ser,
E nessa passagem há de novo harmonia,

Mesmo quando cessarem as nossas cores,
E ressoar o silêncio… convém não esquecer,
A luz é pincel na íris, do reflexo somos pintores.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A While

On the door I heard a knock,
Late it was on the clock,
But outside the storm was falling,

And a man in worn shoes,
Forgot to pay all Her dues,
And perhaps I’ve already met him elsewhere,

And the stranger did confess,
“Tonight I’m your guess”,
And I guess everybody changes a while,

From somewhere, where She does lay,
(With) a tattered dress (yet) a flourished bouquet,
When even the wind delays to answer her own calling,

Of purest Life pouring within,
Fully released from man-made sin,
The first rainbow upraised from this very place ,

Then the stranger did confess,
“Tonight I’m your guess”,
And I guess everybody changes a while,

“Hear me now my warm friend,
For somewhere lies our end,
But you know everything lasts for a while”,

Then his eyes did dilate,
Upturning to find their fate,
And I swear that I could see them shining,

In a hill away from town,
He was lost, I was found,
And to think everybody changes a while.