sexta-feira, 22 de junho de 2018

E Plantamos Uma Semente

De ouvidos nesta estática, no ruído de fundo,
Vivendo em vinda, rasgando as costuras,
De joelhos arranhados, a sombra deste mundo
É enfiar a cabeça nas nuvens e ter aventuras,

Pertencentes a Ema, ao soneto de um poeta,
Esta voz gasta sob estas luzes resplandecentes,
A dor do não saber quando termina a ampulheta,
Partimos breve, somos os incrédulos, os crentes,

A noção de que o amor jaz debaixo de lençóis,
Em praias desertas, prados esverdeados, não!
Ele é mais das roxas sarjetas onde constróis

O colibri que esvoaça longe do mundo e vai alado
Por onde ninguém ousa ir, perto do coração,
Amor, para o simples amar basta estar enamorado.

sábado, 16 de junho de 2018

Escadarias

Há instantes em que somos toda a perdição,
Amor faz parte, a parte que foi ao acaso deixada,
Há instantes em que  esquecemos o coração,
Amor por vezes deixamos o passo na estrada,

E vamos indo sem desculpa ou sequer obrigado,
Tendo abrigo mas não tendo beijo ou noitada,
Amor, somos parte do resto deixado ao cuidado,
Oh amor, somos a seta de cupido quebrada,

Sentados em degraus, sem sítio para vindouro,
Procurando ruído como se um ceptro fosse,
Quando o caminho não é ruela feita de ouro,

Amor, perdidos - deixados ao acaso, ao nada
E o presente o que disse, o que foi que trouxe?
Amor, somos a alvorada um dia ida e atrasada.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Enquanto Fizer Parte de uma Estação

De dedos esticados alcançando o infinito,
Passeando onde deuses são espectadores,
Condensando estas estrofes num só grito
Que apazigua e clareia do céu suas cores,

Aos pintores do horizonte um aceno deixado,
Magias acontecem quando sem emboscadas,
Sois o pássaro azul do peito, do cá celebrado
Que é o pular dentre estas nebulosas amadas,

E somos o silêncio do segundo não acontecido,
O instante sem pertença, momento de indecisão
Onde por vida era quase encontrado e perdido

E o mundo vinha e se ia revirando este coração,
Ao vindoiro aceno e um dia quando for esquecido
Sorrirei desde que seja parte de qualquer estação.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Acorda, Acorda

Acorda, acorda, rasga as páginas doutro caminho,
És prisioneiro das salas traseiras, do teu vazio
Acorda, que importa ir acompanhado ou sozinho?
Desde que não tenhas medo de apanhar frio,

E estamos todos a meio gás, em meio sonho,
A benção, a maldição, somos donos de arrastados,
É engraçado como temos paciência, o eu risonho
Esquece-se que tudo passa, tudo é só bocados,

Quase nem sei o que é apanhar chuva, o beijo eterno
Do sono infindo, desta vez sou criança a sonhar
Com o que virá, a doença e cura em tom terno,

Acorda, acorda, a vida é ávida, passa depressa,
Levanta-te e vai por onde houver cores a pintar,
Que bom ser e passar, o que mais interessa?

Ante o Caminho Do Que Foi, Do Que Será

Aventesmas pairando ágeis entre corredores,
Sóis e Luas, confissões tornadas em sussurros,
Da envoltura dessas confidências vêm as cores
Pintando escadas para o céu e escalando muros,

Beijo-lhe o rosto, esperando pelo sono sem fim,
Vivendo e morrendo pelo tanto já aqui passado
Este é o olhar de quem aguarda o sonho enfim,
Este é o único sonho de quem se há enamorado

Por estrelas cadentes e aqui indo de mão em mão,
Isto é o suficiente para se ser aqui poeta em vida,
É o suficiente para preencher o resto do coração

De folhas caídas, contracenando com o horizonte,
Amor somos espectadores esperando pela partida
Para qualquer margem através de qualquer ponte.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Diferenciando o Procurar do Precisar

Pela noite infinda eu era apenas o viajante,
Sonhos doces eram as vozes do caminho,
O horizonte era a procura pelo distante
Que era em mim o caos deste torvelinho,

Jamais visto, próximo da margem querida,
Beleza incógnita era o singelo do abrigo,
Perecia por vielas enquanto era em vida
E a quem conferia a mão vinha comigo,

Na coroa do sol como uma sombra retorno
Ao toque de Ema, ao sussurro da alvorada,
Através do mundo vem o beijo que adorno

E eu, impreterivelmente, preso à leve pluma,
De que me importa enfim ter o lar, a amada,
Se só pretendo contar estrelas uma a uma?

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Para Este Mundo Que Lentamente Te Está a Matar

Sei que este mundo lentamente te está a matar,
Vai sorvendo vida por cada palpitar pungente,
Passam sóis e luas e parece que te estás a afogar
Na caricia lesta do tempo que é tão impermanente

E delicadamente nos vai conduzindo à sepultura,
Esvaecemos em tristes lágrimas da estrela do Norte,
Perdidos entre os lençóis sem nunca chegar a altura
Em que nos soltamos destas amarras, desta vil sorte,

Sim, sei que este mundo lentamente te está a matar,
Às vezes parecemos fantasmas ainda por cá vir
Porém há sorrisos por ter, plumas para alvoroçar,

Esta vida tem muito mais do que apenas o existir,
Somos poeira de estrelas douradas aqui a dourar
Acredita irmão, há diferentes cores para o colorir.