terça-feira, 28 de abril de 2015

De Onde Parti

De onde parti e deixei a casa um dia,
Vesti-me em trapos para não esquecer,
O assobio despreocupado, toda a ousadia,
Todo o espaço até finalmente morrer,

Por meio coração o que o realmente serena,
Anseio o vertical numa vida repleta de cor,
O monocromático não me apela nem me acena,
Não confere brilho aos rebentos de flor,

Faço deste fôlego o caderno das viagens,
A beleza perante o escape sem fuga,
Uma inteira vida entre cantos e margens

Pois ao envelhecer e da sua primeira ruga
Que faça caminho onde não há passagens
E que vá bem por onde o menos bom se conjuga.

Esta Vida é Feita de Pequenos Nadas

Esta vida é feita de pequenos nadas,
Detalhes ínfimos quase sem valor
Permitem a passagem das alvoradas
Conferindo pequenos pincéis de cor

Que vão pintando luas e sois dourados,
Coisas que amanhã se vão esquecendo
Desde que em cada instante sejam amados
São nossas mesmo que se vão perdendo

Aceitando e dando de braços bem abertos
Maior é a porção de mim em mim retida,
Passam as estações e os dias incertos

Vão ditando os intervalos de uma vida
Por um a um pequenos nadas encobertos
Nesta viagem que tenho tão querida.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Sou a Encruzilhada Horizontal e Vertical

Sou do ser uma íngreme encruzilhada
Que é ora horizontal, ora vertical,
Submetendo-se ao vento da estrada
Algures entre o sonhado e o quase real,

Quase se renuncia ao que é do mundo,
Aquele peso das dúvidas e do mais,
E finalmente se lembra do lugar oriundo,
As bem-aventuranças, os êxtases que tais

Que são silêncio velho na mão do trabalho,
Deixando de ser pedinte por mais ego,
Todo o oceano se torna gota d’orvalho

Para não mais sentir este eu que ainda sou,
Para permitir ser a vista deixando o cego,
Para ser apenas o que é e cá chegou.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

E Se Me Perder

Se errar no meu caminho dás-me a mão?
Se cambalear sozinho e acabar por vacilar,
Dás-me um abraço que me cubra o coração
Serás o motivo que me faz sempre regressar?

Se me for e me perder ouvirás a minha voz?
Se entortar a vereda e no fim não me encontrar,
Dás-me um beijo que relembre o nosso “nós”
Naquele lugar onde esqueci o que era amar?

E se for e me esquecer que quererei um dia voltar,
Se empalidecer e não houver espaço para colorir
Dar-me-ás a outra mão, ir-me-ás a Hades buscar,
Esteja onde esteja e esteja o que estiver para vir

Não tenho tempo a perder mesmo quando não sei ir
Nem tenho ideias para onde ir ou mote para dar
Pois há vezes em que o cinzento não sabe sorrir
Há vezes em que há vezes em que não sei procurar.

domingo, 19 de abril de 2015

Ao Doce Sossego da Melancolia

Passam as horas e passa o instante
É a distância a ela que dita o futuro
Lágrimas caem muito e até bastante
Procurando então eu por luz no escuro,

Sua mão na minha era a minha na sua,
Com cordas subtis e um beijo na testa,
Parecia mentira mas era verdade crua
Era o último pedaço que em mim resta,

Pois havia alguns bocados e até porções
De beleza e um pouco de esperança
Ditando o diálogo entre dois corações,

Descendo uma escadaria após escadaria
Quase esqueço os prantos e o que cansa
Ao abraço do doce sossego da melancolia.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Salvamos Cêntimos

Salvamos cêntimos e esquecemos o agora,
Esperamos que seja encontrado o norte,
Desejamos que o tempo se vá embora
E que estes dias não findem na morte,

Pois salvamos alguns cêntimos esperançando
Com o amanhã onde corremos e amuámos
Em chuvas mil onde se vai caminhando
Aquele caminho que nem lembrámos,

Vamos não como quem vai mas como escapa
Da pluma ao orvalho da meia metade
Assim se é o meio de quem vive à socapa

E cedo se apercebe o quão tarde é tarde
Por onde vai quem no sítio ainda derrapa
Não sabendo bem se é herói ou covarde.

domingo, 5 de abril de 2015

Fez-se O Frio Lancinante da Bruma

Então fez-se o frio lancinante da bruma,
A tristeza de quem o tão belo já viu,
Do esvoaçar um fardo se tornou a pluma
E quase tudo, tudo tudo finalmente ruiu,

O murmúrio era silente e desbocado
Tal o regatear que raramente cessa,
Seria o viandante o grande culpado
Por ter acreditado na promessa

Que era de paz e luz a qualquer amigo?
Eis que agora veio a hora de dormir
Lá por cima me encontrarei contigo

Enquanto por cá enfim choramingo
É por causa de todo este sentir
Que quase já não tenho domingo.