quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Entre Margens Pt. IV: Pouco Importa o Fim

Vamos sem medo, um dia seremos lembranças,
Restam ecos de suspiros enviados lá p’ra fora
Quando o frio pára o andar destas andanças
E então somente a sombra de ninguém mora

Cantai-me por favor uma canção de embalar,
Não pretendo enganar a passagem do tempo
E quando este meu olhar deixar de pestanejar
Sabei que Amor irrestrito sempre foi o intento...

As paredes dos labirintos criados então cairão,
Umas últimas palpitações e um pouco de mim
Não mais toda essa preocupação e confusão,

Erguendo escadas para o Céu - vem o querubim,
Tão brando finalmente oferecendo a sua mão...
Se o entre margens foi bom pouco importa o fim.

Oressa: O Soneto Que Era Demasiado Longo Para Ser Soneto

Há ruas, ruas fugidias que se dobram às esquinas
Através de sombras de semblantes hoje ausentes,
Onde o riso das crianças se misturava com buzinas
E passava ela, de olhar baixo e caminhar penitente,

Partia por onde passava, procurando sua estrela,
Era amor não capitalizado, deixada à incerteza
De quem certeza de nada tinha e era enfim vê-la
Então passando de sorriso ido, ao abraço da tristeza,

Os mortos eram então reais e as cores proibidas,
De mão no varão da escada, usada e deixada
Entre pássaros e mineiros, eram tantas as descidas

E passava ela, de cabelo solto pelo varão de escada,
Um breve encontro à chuva e à luz de algumas bebidas,
Onde recompondo seu vestido, ia tão longa essa noitada...

(E passava ela por si mesma, sem sequer se encontrar,
Os seus passos esvaeciam ao ruído dessa cidade
E eu já mal a ouvia… e eu já mal a conseguia olhar….)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Homem Inteiro: Entre Pássaros e Mineiros

Enquanto outro dia vai lentamente fugindo,
Todos - Todos sonham e tão poucos o são,
Tal fim de semana parado que se vai esvaindo,
Alguns já nem sabem qual o feitio do seu coração,

Há quem diga que as pessoas felizes levitam
E que ninguém aspira à profissão de mineiro,
Pelo trilho que alguns andam outros hesitam
E que donde uns vêem luz outros são nevoeiro,

Uns ficam à espera e outros são toda uma busca
Quando até o espelho para uns é um estranho
Até o que ilumina a alguns a outros ofusca

E há homens que não nasceram para o rebanho,
Que o quentinho para alguns a outros chamusca
Enfim quem é inteiro não se mede pelo tamanho.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Barquito Pt. III: Se Um Dia Naufragar

Se um dia ele se perder, se um dia naufragar,
Não faz mal, pertenceremos ao infindo azul,
Sob o horizonte não imagino melhor lugar
Para dormitar e ser silêncio a Norte ou a Sul,

Sabei que tal leve andorinha navegámos este mar
E se velejar causa ruído, remar mais ruído causa,
Não temerei a tormenta e quando ela for e passar
Será uma honra descansar, ter e ser na eterna pausa,

Sorrirei se naufragarmos pois não seremos só dois,
Levaremos todo o espaço trilhado entre as margens
Os instantes - vós! Sim amigos vivereis em nós pois

E que no porão sejam sempre a mais leve das bagagens,
Perguntai-me o que espero deste resto ou do depois…
Apenas navegar e ter segundos dignos das viagens.

O Barquito Pt. II: Foi Feito Para Navegar

O barquito foi feito para navegar e navegar
Por sítios povoados e até por desertos ermos,
Por vezes nem ele nem eu precisamos de mar,
Só de linha do horizonte e uma viagem sem termo,

Eu quase nem falo, pouco sei, um pouco de nada,
Aí um nada de trono, um pouco de Rei nos espera,
Aquele vista que foi nossa e nós às estações deixada,
Beijo no Outono pelo Inverno, ao Verão à Primavera

Sou pássaro e asa passageira quando a noite aqui cai,
De olhar e toque faminto, aprendiz sendo à admiração
Escorregando e mergulhando por onde o vento se vai,

Polén e mel de toda a flôr, por tudo que couber na mão
Esperando a procura tal abraço de filho ante ausente pai,
Pretendo toda a poesia desde que rime com este coração.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Barquito: Faz-se Ao Mar

Suspirávamos ainda mais calmos que todo o mar,
Acordai! Segundos pouco mais que ponteiros...
Tiquetaques mudos nas ondas a passar, a passar
De relógio desfilando mais ou menos ligeiros,

Daqui vemos quem fomos através dos segundos,
O espaço entre as margens, a zona fronteiriça,
Domicílio para aqueles de nenhures oriundos
E casados com a Vida - essa esposa insubmissa

Que aconchega e atormenta pela luz e treva,
Deus é aquele que se levanta e vai sem saber
E aos cruzamentos se encontra e se enleva,

Por vezes até parando um pouco para se aprender,
Enquanto rápido e devagarinho o barquito o leva
E na orla do mundo se arrisca a um dia se perder.