quinta-feira, 30 de julho de 2020

Das Cicatrizes Nas Costas ao Diadema

No palco da Vida esta lúgubre viela é actriz,
Aguarela dispersa no espaço de uma pintura,
Flagrante, no instante o diadema e a cicatriz, 
Desconhecendo o quanto ela termina ou dura, 

De cabeça encostada no resto de uma cadente, 
Amanhã já é tarde para estes cavalos selvagens,
Então não sou só eu, sou eu e vós minha gente 
Alçando escadas para o céu em únicas imagens,

Imagem feita daquilo que não consigo passar sem,
Repleta de momentos, sedes, fomes, e até jejuns, 
Vozes de ilhas, de pores do sol, sou vosso refém,

Posso morrer de sede no mar, de fome no deserto
Não suplicarei por alimentos a homens nenhuns,
Toquem-me, esta estrela cadente sou eu, liberto.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

É Preciso Permitir Ser

É… quando o sol se puser, eu serei o próprio pôr,
Tenho fragmentos para ser livre, para livre ser,
Não preciso de mais do que tenho, apenas cor
Do relvado, do céu e do belo horizonte para ver,

Eu sou um homem simples, de muito não preciso,
O anseio vem com o sorriso matinal dum sonho,
Descanso, pois de mim próprio tenho sobreaviso
Que o resto destas serenatas que no beijo ponho

São fonte para o vislumbrar e o deixar ir também,
É o único tempo benquisto, pois hoje estou vivo!
Hoje sinto cada dia e cada noite, estou bem, bem,

E enquanto vir, eu sei, só preciso do respirar e amar,
O resto que por acréscimo vier será no impulsivo
Campo do não saber o que virá, é preciso almejar!

domingo, 26 de julho de 2020

O Poeta Pensa Em Todos Os Comboios Em Que As Suas Donzelas Foram Passageiros

Queima o frenesim do buquê outrora fracturado
Por favor não vás, quebra o padrão, dá-me a mão,
Pois outras passam e não ficam, estou extenuado,
Daquilo que não fica, que parece o ciclo da estação

De comboio, passando a alameda de uma vida,
Oh querida, soubesses os comboios destes carris,
Talvez então fosses apenas chegada e jamais partida,
Trago vossa passagem na contenção desta brilhante iris,

Estes pulmões repletos de fumaça, o óxido de sulfato,
De facto, não é suficiente para a minha horizontalidade,
E em boa, boa verdade de tantas vidas já estou putrefacto,

Escondido atrás de um sorriso, atrás de um outro semblante,
Quando não obstante, penso em quem de mim morreu barato,
Quase gratuitamente, por quem nem sequer era gente, era instante.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

... E Entretanto?

Leve, puro e inocente, eu era então o crente
Para perder a crença e a inocência, coragem!
É a ousadia que merece o mundo de repente, 
De trás à frente, o sopro do Universo na aragem

Que nos imbui, um sonho numa nuvem ancorado,
Que seja permitido um bocado, leve, e eu alinhado
Para lá do sono, trilhando dentre briosas nebulosas,
Imensas e fabulosas, terei meu momento de prosas,

Condigno, encarando a manhã, e o seu rosto o espelho,
Reaparecendo num semblante não o meu, seria poesia
Isto que incendeia e sossega a alma, de joelho a joelho?

É ambares recolhidos e sustidos pela passagem da maresia,
Esta Vida é passadiço para uma criança se tornar no velho,
E entretanto?... Entretanto temos o oceano, o céu e a magia!

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Eu - A Cura e a Doença

Sim, sim sou eu, sou o Doutor e o paciente, 
Eu sou a parte da cura e o bocado da doença, 
Outorgante do comité do Sr. ministro e o utente, 
Preciso de algo para me deixar ir, a droga, a crença,

A paranóia é a vidraça quebrada de quem não sabe olhar, 
Quando não basta bastar, quando falta poesia no tocar, 
Fica a máquina parecendo humana, a ausência de poesia, 
Não confere porto de abrigo, lugar de passagem, magia, 

É a carência por algo impossível de algum dia alcançar, 
É a querença por um pouco mais, envolvido na pulsação, 
Pois esta vontade é de facto o querer ir mais longe, o ir buscar

O espaço perdido entre o caminho, a parte que me deixa sozinho, 
A fagulha esquecida pelo Homem que sustentava o seu coração, 
Por isso a procuro, sustenho e a partilho com quem é aqui vizinho.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Quando Amar É Proibido Pt. II

Sente-se nos ossos quando amar é proibido,
É um frio miudinho num invólucro de geada,
Que relembra da lancinante dor, rua sem sentido, 
Sendo o resto uma voz suave às estrelas suspirada, 

Quantas vezes ladeada pela Lua, respirando o instante, 
Com memórias murmuradas por momentos já passados,
A sua sombra torna-se cicatriz e o sentir, enfim, reluctante
Não obstante do sentimento, a crença, o Sol sempre acossado,

"Lembra-me um sonho lindo", por este rio acima, à enseada, 
Diz o vento à tempestade, a ausência do perfume da sua mão, 
Esperançava pelo seu regressar de volta a mim, minha amada,

Esta esperança mais forte que o tempo, mais forte que a morte,
De que há coisas incontornáveis, do plano divino do coração 
Que tudo sabe e conhece menos qual é o Sul e qual é o Norte.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Quando Amar É Proibido

Chora gentilmente onde os outonos caídos repousam, 
Um dia voltarás a voar, um dia só daqui serás o Inteiro,
Mesmo que seja póstumo, por onde poucos ainda ousam,
Mesmo como suspiros e confissões sobre o nobre forasteiro,

Pois este instante é uma eternidade, proibido ao lesto coração, 
É maior do que a maior caminhada, é um beijo, é um dar a mão, 
Não me esperem mais, a estrela do norte beijou-me e foi partida,
Sem chegada, uma noite para saber o que resumir toda uma vida, 

Num simples toque e um rebobinar dos dedos de lá de cima, 
Um sonho na terra se erguerá, acolhedor e maior que o mundo!
Somos dízimas de esboços de anjos vendo a cor do céu belíssima, 

O resto é fragmento quebrado na estrada, um querer tudo e nada!
Pois procuramos a mais altiva montanha ou o poço mais profundo,
Assim é o Caminho, assim é a Vontade e os píncaros desta velha estrada.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O Homem Que Tinha Medo de Amar

Doces sonhos de melhores tempos, esticada mão
A ondas de âmbar, vestidos de veludo e paredes
Que ainda não conseguem encurralar o coração,
Ele fulgura no escuro, pouco sacia as suas redes

De auroras boreais, de quimeras que tais, embora
Suspire, tal maré, o forro de prata enfim quebrado, 
As mil vontades, um a uma, os tempos de outrora
Relembram momentos de inocência, deslumbrado,

Os traços do seu rosto ainda delineado a lápis estelar,
Oh por favor abraça-me, esqueci-me de como chegar, 
Depois de tudo, ainda me faltavam moedas no bolso, 

Era uma a um, apenas pretendendo o seu reembolso, 
Por isso parto sem ir, sem chegar, homem no convés!!
Pois com medo de Amar, criança no porão ao revés!
 

domingo, 5 de julho de 2020

Amén

Atirando pedras através do lago, eu estava aqui,
De fotografia na mão, o sorriso da mera ilusão,
Algures entre a treva e a luz, algures por aí...
Vistas e sons e eu aguardando pelo coração... 

À beira-mar, seduzido e absorvendo a maresia,
Inocência na mira do caçador e frágil a maré
Trazendo entre as ondas pedaços de poesia 
E um buquê de flores como oferenda a Oxumaré,

Através do vidro, um espelho por fogo baptizado, 
Céu limpo e poeira de ouro no globo ocular, à deriva,
Entre e por pontos de luz difundida finalmente elevado

Para cair dentre nuvens cinzentas, o fado dos itinerantes,
Salvaguardo o respeito e a paixão por qualquer coisa viva, 
Natália, sim ainda acredito nas coisas inteiramente deslumbrantes.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guardado na Palma da Mão Pt. II

De pés descalços sobre as estrelas eternamente cintilantes,
Brilhamos com elas, sem palavras numa bela dança infinita, 
De sentidos apurados, o beijo das nuvens ternas e mirabolantes, 
Esbelta é a transição de homem para o eterno, o fogo enfim crepita!!!

No peito dos Titãs, dos Atlantes, os deuses do Olimpo e submundo!
E darei como oferenda o píncaro dos céus e o fosso mais profundo, 
A palavra do pensamento, a paz da acalmia vira tormenta e dor, 
Um sonho dentro de um sonho, as pegadas o pincel no trilho e a sua cor, 

Escutai-me bem, isto não é paixão, é Amor, é a ausência do humano,
Pois aqui grito com a voz de um louco, grito e vamos mano a mano, 
É o mundo aos pés dos filhos do sol, que não vos falte então o chão,

Esta é a era para a caminhada em frente, para o tão ansiado, 
Façam a mala, abram as persianas que sombreiam o coração
E que não vos encontrem vazios depois de ter tudo dado.

Guardado na Palma da Mão

Quando for com estas malas feitas pela estrada,
Para lá da montanha, verei o sol enfim cintilante,
Dando admiração aos semi-deuses, à asa dourada, 
Pois estas caixinhas desaparecem no caminho errante, 

Adornado a plumas e por elas ornado, os esbeltos contos
Contados um dia serão cor para gerações ainda por vir, 
A sorrir, e nós, imortalizados no firmamento em mil pontos
Fulgurantes, hei-de chegar a nebulosas ainda por descobrir,

E colorir a ritmos cardíacos, lá no alto do céu, a pincelar,
O que os sonhadores imaginaram será o nosso novo lar,
Venham as armas, os mosquetes, espadas e a corrente, 

Através delas hei-de lutar sendo o poeta da linha da frente
Da Guerra das Rosas, eu sou Luz, eu sou o bocado do fotão, 
Eu sou a nada e o tudo guardado na palma desta minha mão.