segunda-feira, 20 de junho de 2016

Esticamos a Pluma

Esticamos a pluma no sonho alado,
Parte do resto de uma lembrança,
Era nesse espaço, breve bocado
Que sorria, que vinha a esperança,

Não importa o que vem amanhã
Se hoje procuro quem me espera,
Pode vir pela tarde ou pela manhã
Desde que traga gosto a Primavera,

Teremos um dia um beijo, alvorada,
Por um pouco de liberdade, descanso,
Enquanto não vem ainda a madrugada,

Portanto celebramos hoje quem virá,
Dedos esticados e o horizonte alcanço
Braços abertos e o sonho um dia será.

sábado, 18 de junho de 2016

Perdido Entre

Perdido entre as fileiras de nevoeiro,
Na bruma que existe somente em mim,
Esperançando enquanto vem o aguaceiro
E a vida se desfaz mais ou menos assim,

Procuro por ela onde ela já não está,
A tristeza própria de quem almeja,
Vagueio sem rumo porque será?
Escondendo o olhar que lacrimeja,

Sou os ofendidos e os humilhados,
Os pobres diabos na berma da sarjeta,
Os fragmentos de sonhos quebrados,

Os sonhos sonhados pelo poeta
Erguidos por horizontes azulados
Envolvidos no voo da borboleta.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Suavemente Sussurrava

Suavemente sussurrava ao seu ouvido,
Por todos os cantos reflectia beleza,
E eu era o prisioneiro, o sonho fugido,
A par com o tom cinza da incerteza,

Sonho meu, sonho meu por onde vais?
Estas palavras pertencem-te só a ti,
Nesta fuga em minha loucura cais
Sou o precipício desmoronando aqui,

Dorme a vida com o olhar semicerrado,
Pergunta-me o que é feito de mim,
Sem tua preocupação ao meu lado

Mais vale finalmente encontrar o fim,
Pois minha alma há-se fragmentado,
Por nós num negro sonho de cetim.

Meu Amor

Meu amor, agora que partes e me esqueces,
Perco o significado desta palavra, do amor,
Escrevo-a em minúsculas nesta triste prece,
Permitindo murchar esta minha última flor,

Esta mente, tão turva, lânguida e doente,
Não distingue sequer penumbra do sol,
Está tão baixa, tão pesarosa, dormente,
Que cria e se lança em seu próprio anzol,

Este meu olhar descrente, dúbio e traiçoeiro,
Pouco acredita no que virá então amanhã,
Por onde andarás tu oh amor verdadeiro?

Apenas visões de suor e sangue derramado,
Esperando impacientemente pela manhã
Que traga o sol da Vida, um outro Eldorado.

Só Reconto

Só reconto à noite e ao céu estrelado,
Delineio com o olhar o teu contorno,
Elas azuis são o sonho desmoronado
E eu em mim o ponto sem retorno,

Sabes por acaso quantas vezes te vi a dormir,
Em paz, suave, descansada para o mundo?
Agora que não partilhamos o mesmo sorrir
Como poderei ver-te só por mais um segundo?

Não sei, tudo parece guerra sem tréguas,
Instante não merecido, história inventada,
E agora que me perco longe a mil léguas

Apenas penso na saudade de outros tempos
Onde o sempre era possível e o tudo e o nada
E sua sublimidade não era levada pelos ventos.

Que Restos Faltam

Que restos faltam desta paisagem fragmentada,
Montanhas, planaltos e vales foram visitados,
Porém hoje parecem não valer de quase nada
Para além de momentos longínquos passados,

Nem sempre tive as mãos para o firmamento,
Nem sempre fui a melhor pessoa do mundo,
Por isso ao definhar ao deixar meu testamento
A única coisa que deixo é este amor profundo

Com o que sinto pela humanidade esquecida,
Que também sinto por aquela doce donzela
Que ao ir embora na hora de despedida

Levou metade de meu coração com ela,
Não faz mal, isto é ser vulnerável na ida
Quando tudo o que desejo é vê-la...

Passam as Horas

Passam as horas, os minutos e os segundos,
Será que tenho sido o poeta de asa alada?
Ou só mais um louco entre mil vagabundos
Que no mundo não tem lugar, não tem nada

Pouco mais para além da curva da estrada,
Esperando pelo que não chega, a procura,
Para lado nenhum é tão breve a chegada
E será uma vida enquanto o coração dura,

Vida essa que hoje aparenta estar pendente,
Quando chegarei a casa para assentar os ossos?
Ouço a morte que suavemente chama silente,

Quebrando todos os sonhos que são nossos,
Será que ainda sou o antigo jovem de mente
Ou será que irei cair em seus fundos fossos...

Quando for Pela Berma Escura

Quando for pela berma escura, triste e desolado,
Caminhando o caminho do perdido para a vida,
Esperando e procurando o que um dia hei amado
Não sabendo bem se fui reencontro ou partida,

Quando for pela berma escura, pesaroso e infeliz,
Sob a lua nova sem estrelas para guiar o caminho,
Por onde todo este meu peito é aberta cicatriz
Aonde vou indo e perseguindo o trilho sozinho,

Quando for pela berma escura, penoso e dolorido,
Com o horizonte demasiado longe para dar a mão
E eu, sem a voz para cantar morrerei só e ferido

Por dificilmente ter conseguido preencher o coração,
Vede bem a passeata pela berma escura desvalido
Pois nem a mim próprio consegui pedir perdão.

Então Suspira-me

Então suspira-me no pescoço madrugada,
Que teus raios solares trepem por mim,
Enquanto espero e não me faço à estrada,
Vou ficando e mendigando amor assim,

Como vagabundo devoluto esquecido de si,
Teimando em ficar quando o mundo chama,
É esta a fraqueza de ainda acreditar em ti,
Enquanto este coração reclama e declama

Poemas que do dia não devia ver a luz
Poesia tresloucada e repleta de tristeza,
Eu meio perdido pelo lugar onde supus

Ter pensado ter a epifania de uma certeza,
Não, era mais sombra a passar na cruz
Ocultando todos os vestígios de beleza.

Pretendo

Pretendo ser tocado e sentir o coração
Mil e um esplendores feitos de sorriso,
Explodir em artificio, ser numa canção,
Ir ao inalcançável sem perder o siso,

Anseio por um beijo de uma vida inteira,
Pelas fagulhas que se despontarão,
Ambos deixaremos para trás só poeira,
A poeira advinda de um instante de paixão,

Para quando virá quem os dias aclarará?
Almejo esse dia com toda esta alma,
Espero não alimentar uma esperança vã,

Então imagino a sua mão na minha
A felicidade que acalenta e acalma,
Nesta viagem sempre tão sozinha.

Alvorada

Alvorada, passos largos de quem se foi,
Deixando ecos à calçada, orla do tempo,
Essa ausência no coração ainda me dói,
Espero que ela seja levada pelo vento,

Neste quarto só de côncavas paredes,
Mal respiro com as janelas fechadas,
Mas sinto a falta, sinto estas sedes
Que parecem nunca serem saciadas,

Será que ela sente saudades de mim?
Neste mundo que dá voltas e voltas
Pois saibam que é simplesmente assim

Que me quedo em infinda tempestade
Onde mil mágoas se dão como soltas
E sinto a arder neste peito a saudade.

Quando Vier a Manhã

Quando vier a manhã perguntar onde estou,
Digam-lhe que parti para caminho incerto,
Seguirei o curso do afluente e também vou
Por onde o passarinho se der como aberto,

Pois há tanto e tanto a envolver nestes braços,
Tanto espaço para reter novos momentos,
Ainda é possível discernir antigos traços
Que dizem por onde ir por novos tempos,

Sinto a falta de quem já não está presente,
Vários os fantasmas que uivam nesta porta,
Será que a lua ainda terei como confidente?

São veres de outras estórias de um passado,
Lancinantes se debruçam pela mente torta,
Razão pois agora partir é a solução, é o fado.

O Sono Apodera-se

O sono apodera-se do olhar do viandante,
Onde há um berço ou regaço para descansar
Para além da linha do horizonte sua amante
Que era sentimento verdadeiro neste amar?

De sentidos mudos, procurava outro beijo
De quem já tinha partido sem qualquer razão,
Porém ainda era minha musa, quem almejo
Um dia poder reunir os pedaços deste coração.

Era tudo mentira e esforço em vão para ele,
Asfixiando a donzela com a sua mágoa e dor,
Para onde irá todo ver, quem souber pincele

Pois para mim torna-se difícil pois perdia a cor,
Apetece rasgar do interior a carne e a pele,
Por já não ter ingresso à palavra Amor.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Um Ultimo Suspiro

Um último suspiro suave sobre o horizonte,
Somos os filhos congéneres do estrelado,
Tendo uma interminável sede sem fonte,
Este é do indómito poeta o seu estado,

Quando sobre ele paira a nuvem sombria,
E fenecem a estes pés as briosas flores,
Esvaecem assim os restos de alegria
De quando tinha céu e seus amores,

Chorando por punhos afónicos a cadeia
Endoideço quando me lembro da viuvez
E daqueles momentos em que amei-a

Soam apenas a mais um tresloucado talvez
Pois nestes dedos apenas poeira e areia
De tempos que dos quais não havia vez.

Desde o Momento

Desde o momento perdido em que parti
Donde me erijo sobre estas negra paisagens,
Na mente e no meu coração penso em ti,
Tu a mais bela e tresloucada das miragens,

Algures na noite uma estrela esmorecida
Perde-se das constelações de meu olhar,
Oh estrela do norte como te tenho querida
Neste meu não saber bem como amar,

Segundos que passam na hora da despedida,
Despedida que nunca passa, que jamais vem,
Dá-me um pouco de paz, um pouco de guarida

Porque assim já não consigo viver esta vida sem,
Porém ainda não é tempo de ir para a sepultura
Enquanto não passa esta noite, noite escura.

Relógios Parados

Relógios parados e ampulhetas quebradas ,
No compasso o viandante procurava norte,
Segundos passavam por horas almejadas
Aproximando-se um pouco mais da morte,

A viagem frenética feita de pequenos pormenores,
Então conferia e retirava brilho à sua passagem,
Era como silêncio gritado entre dois amores
Que ao terminar parecia outro passo na viagem,

Cada passo tinha o seu quê de peso e pluma,
Dando origem ao homem que se esquece de si
Buscando a verdade e obtendo verdade alguma

Nesta eterna partida avançando para a frente,
Do passado almejo apenas mais um pouco de ti
Apesar de não preencher o que é este presente.

Este Ver é Pincel

Este ver é pincel da paisagem esboçada,
Sendo o horizonte a mais bela moldura,
Assim o viandante tinha-a então abraçada
E passo a passo se fazia a outra aventura,

A porta aberta teria uma chave perdida?
Nenhum gesto a abriria ainda mais cedo,
Que estranha forma de ser nesta Vida
Por cada passo um pouco mais de medo,

De braços estendidos e dedos esticados
O paladar de suor e sangue nos sentidos,
A passar sem horas e por elas deliciados,

Respirando instantes que ficam no olhar
E no momento seguinte se dão partidos,
Será que algum irá alguma vez ficar?

O Naufrágio

O naufrágio do prisioneiro auto-infligido,
Ondas e marés levam seu corpo adiante,
E enfim agora que finalmente há partido
Não há fragmento que beije o instante,

O caís da vida já não lhe confere guarida
Um pouco de sol chega mesmo a queimar,
Por confusão e contusão sua alma tolhida
Pois algures perdeu seu rumo, seu estar,

Primavera quanto tardas à tua chegada,
Ainda sinto as chuvas e as folhas caídas
Envolvido pela espuma da madrugada

Que pouco confere descanso ou dormida
Porque os tons que deixa sabem a nada
E assim o naufrágio vai fluindo pela Vida.

Até o Rosto Lunar

Até o rosto lunar tem o seu lado sombrio,
Os desertos que a alma aperta tanto,
Envolvem o resto num abraço frio
Descendo as estrelas em pranto,

Esta mesma descida é tão lenta e silente,
Feita de projecções e sonhos errantes,
Relembra outros dias de Lua crescente,
Gestos e movimentos do que era antes,

Nesta noite onde cai uma cálida geada
Alguém treme ao abraço da frialdade
Que assim impõe o seu ritmo à estrada

E faz de mentira tudo o que é verdade
E nesta vil e apaixonante emboscada
Ainda sei soletrar a palavra saudade.

Estico-me Tal Ponte

Estico-me tal ponte entre as margens
Do sono e do sonho abertos em mim,
E ao abrigo da orla e pela passagem
Quando será que enfim chegará o fim?

Eras alma tão gentil que um dia partiste,
Tal nuvem negra pelo horizonte errante
Deixado ao abraço da melancolia triste,
Não alcançando o beijo no céu distante,

Sou somente lugar para as cores a vir,
Até minha mão na sua é mais uma cor,
Enquanto este peito não se reabrir

E soltar as plumas aladas que encerra
São elas outro tom para a palavra Amor
Enquanto vou ferido ao abrigo desta guerra.

As Vielas Estreitas

As vielas estreitas e as tabernas das esquinas
Sabem o rumo levado hoje pelo viandante,
Vai ele solitário sem a luz das lamparinas,
Quase sem olhar para trás, sempre adiante,

Entre seus braços outra garrafa de vinho,
Para esquecer o que de bom já houve,
Pois mal o desvia de seu caminho
Ele se pergunta se algum dia soube

De facto caminhar onde não há escadas
Voltadas para cima, indo para o céu,
Reunir-se finalmente com suas amadas

E enfim descobrir quem é o seu "eu",
Deixem-no ficar nas ruelas transviadas
Por agora o caminho de ninguém é seu.

Sozinho Recolho-me

Sozinho recolho-me tal um poente,
Aproxima-se a noite e seu firmamento
Um último sorriso para a boa gente,
Uma boa última impressão assim tento,

Fatiga e porções de silêncio sob a cortina,
Esta é a hora em que os vidros quebram,
Passos dados num sonho além da neblina,
Onde ainda musas vagueiam e desesperam,

Desencontradas do poeta caí água do céu,
Por todos os seus desertos, sóis e miragens
No seu olhar reflectida sob a noite de breu

Quando a caminhar já não se faz as viagens
É difícil calcular ao certo quem sou eu,
Quanto mais deslindar a beleza da paisagem.

É a Labareda e a Bruma

É a labareda e a bruma no coração
Responsável por este vil estado,
É o brilho e a nuvem na escuridão
Cuja estrela se mostra no azulado

Do céu por onde outras se escondem,
Até ao rio solitário que vai para o mar,
Lá de cima as estrelas já não respondem
Às perguntas que o levava a questionar,

Dói-me o céu e até a Lua no sentimento
Instável e incólume ao que for a razão,
Assim caem as folhas e passa o tempo

Enquanto no peito se estende um brasão,
Fecho o olhar, toca-me de leve o vento
E levemente me leva para outra estação.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Noite Perdida

Noite perdida, as lembranças que afloram,
Retrato da morte espelho do viandante,
As pétalas caem enquanto as rosas coram,
Ela partiu na escuridão levando o instante

Em que ambos éramos dentro de um dia,
Pois que ninguém mais abra essa porta,
Dia ido hoje ao abraço da melancolia
Onde nem sequer sangue flui pela aorta!

Percorrendo a noite a passo tão apressado,
O coração que palpita e na testa o suor,
É como se esse amor não tivesse acabado

Nem apanhado e calcado assim o beija-flor,
Pois sem ela não há futuro, só há passado,
Sem hipóteses de ser pois já não há amor.

A Noite de Insónia

A noite de insónia, a morte do poeta,
Com a madrugada feita de sonolência,
Lentamente vem pela janela indiscreta
De mão dada com sua própria existência,

A distância era como daqui ao horizonte,
Refulgia nos passos dados no asfalto,
Escuta seus ecos perdidos entre a ponte
Das margens afastadas em seu sobressalto,

Viandante pernoitas no tempo escondido,
Atrás da Lua com teu coração na mão,
É teu o fado de dar-se como perdido

Sendo por vezes a vida só aberto caixão
Onde se deita enfim o sonho colorido,
E em silêncio se poisa a constelação.

Boa Noite Doce Príncipe

Boa noite doce príncipe, dorme bem,
Assim ele adormeceu na sua cama,
Era parte cativa dela, esse alguém,
Dona de seu coração que chama

Como se não houvesse sequer amanhã,
Lágrimas não tinham tempo para ser
Pois alimentavam uma esperança vã
De ela voltar seu coração a preencher,

Procurando beijos onde só há dor,
Esperando por quem nunca virá,
Perdia instantes de vida, de fulgor,

Apetecia-lhe até não estar mais por cá,
Por todo seu ser, por todo seu amor,
Por todo um anseio de estar por lá.

Bate Coração

Bate coração, mas bate mais baixinho,
Hoje é tempo de silêncio e sossego,
Pois temos ido tão e tão devagarinho
Que perdemos de vista o aconchego

Do regaço que nos tinha albergado,
Desse instante que era só nosso,
Hoje parece que nunca há passado
Deixando-nos apenas este alvoroço

De quem não tem chão para andar,
Um pouco de solidão e tristeza,
O não saber mais como amar

E de tudo um pouco ter incerteza,
Hoje é a altura de enfim calar
O momento que passou e sua beleza.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O Viandante Procura Lar

O viandante procura lar, não outra casa,
Espaço para amar, tempo para o sorriso,
Permitir o colibri enfim dançar na sua asa,
Um pouco mais de ar, disso é que é preciso,

Dias trazem porções de outro momento,
De meros instantes que ora vêm ora vão,
Cada um é pluma para novo nascimento,
Mesmo que envelheça parte do coração,

A aventura é plena e dada ao desencontro,
As faces que vêm são os rostos que vão,
Mas, no meio, algumas são em encontro

Isso é suficiente para rejuvenescer a estação
Por muita saudade que sinta do que passou
Procura lar, não outra casa que um dia deixou.

A Noite Escorre

A noite escorre por estes omissos dedos,
Seu pano escuro desliza sobre a cabeça,
Não há estrelas só sombras de arvoredos
Caí o véu do firmamento sobre a travessa,

Amor que já não é amor é a definição,
Poeta sem poesia para dar e partilhar,
O Cupido aprisionou mais um coração
E esse coração ignora o que é amar,

Aproxima-se a noite feita de eternidade,
Curvilínea vem e todo eu adormecido,
Ela é a razão para mim, toda a verdade

O que eu quero não ter um dia querido,
Assim é a vida no olho da tempestade,
Assim é esta vida para o sonho ido.

A Morte Tarda

A morte tarda a quem por ela anseia
O viandante ansiando por seu regaço,
Emaranhado está nesta cinzenta teia
Esperando por um beijo, por um abraço,

Passa a multidão e ninguém quer ficar,
Chovendo imagens de um outro dia,
Em que ele amando conseguia partilhar
O belo horizonte e píncaros de magia,

Flores que murchando são oferecidas,
Os mesmos erros vai ele repetindo
Pois nem observando as partidas

Repara ele que já não está sorrindo,
Assim passam suas mil e uma vidas
E ela há muito ainda se vai retraindo.

Inexistente

Inexistente, o fantasma vagueava o poeta,
Lembrando as mãos que outrora se davam,
Sussurrando o mesmo nome de uma sarjeta
De onde ele sonhava e mil anseios almejava,

Noite caída e apenas a morte nos horizontes,
Inverno no coração e seus gritos estridentes,
Relembrando do passado e das suas pontes
Arregalando assim sem pudor os seus dentes,

Passavam segundos e o tempo estava quieto,
Nuvens no céu e as mãos cerrando-se em si,
Maldito fantasma que ao ser tão indiscreto

Não permitia sonho nem voo a este colibri,
Este caminho por Deus é tão e tão incerto
Que até duvido algum dia chegar aí.

Escondido Então

Escondido então no rosto de outra pessoa,
Procurando um mapa para não me perder,
Indiferente do quanto fira ou quanto doa,
Ou mesmo quanto seja impossível a ter,

Fecho a porta para ela não sair com a brisa,
Forçando mundos e fundos para ela ficar,
De cortinas corridas mato a poetisa,
Infeliz asfixio-a de tanto a procurar,

Suspiro e espero pelo abandono da vida,
Que este corpo fique duro e mortiço,
Hoje vejo-a tão claramente perdida

Porém debato-me loucamente insubmisso,
Para quê? Nada virá mais para além da ferida
Daquele que fora mas já não é compromisso.

A Minha Poesia

A minha poesia é triste, taciturna e vazia,
Fala somente do que ficou para trás,
Coisas idas que com tal fervor pretendia
Que acabaram por se tornar coisas más,

Perdeu a rima, métrica e a palavra perfeita,
O sentimento próprio desta minha escrita
É só desgosto pesaroso e esta dor desfeita,
É o coração quebrado que já não palpita,

Por favor, a saudade em mim tem lar,
Este olhar penoso perdeu as estrelas
A escuridão em mim encontrou lugar

Ou então sou eu que me escondo delas,
Pois esta é a dor do amante a amar
Quando há perdido a sua donzela.

O Esquecimento

O esquecimento era parte da paisagem
Mas a lembrança subsistia inabalável,
O nevoeiro tomava conta da viagem,
E este meu coração, bem esgotável,

O meu amor partiu e fiquei para trás,
Desaprendi o sorriso que em nós era
E a refulgência de luz que o sol traz,
Outros presentes que o passado dera,

Então esqueço-me de mim e do mundo,
Penso somente nela meio deturpado,
O sentir já não é puro ou profundo

É mais marinheiro sem alcançar cais,
Porta aberta em caminho fechado,
Regresso tardio que não chega mais.

Sozinho e Solitário

Sozinho e solitário o viandante vacilou
Na margem de uma qualquer estrada,
Não sabendo o que na viagem alcançou
E quanto o alcançado parecia nada,

Beijava o asfalto com esforço redobrado,
De joelhos no chão bradava ao firmamento,
Era o seu coração finalmente quebrado
E substituído pelo eco de um lamento,

Pedia perdão pelo que a si não lhe cabia,
Gritava e chorava procurando solução,
Pois esta vida enfim não lhe pertencia

E em si próprio não encontrava perdão
Para o que ao caminho firmemente exigia
Outro rasgo, outra cicatriz no seu coração.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Um Dia o Viajante Cansou-se

Um dia o viajante cansou-se de caminhar,
O trilho era cinza e tinha perdido a cor,
As pontes queimadas eram feitas de ar,
Não havendo motivo ou espaço para amor,

Seus ossos era a poeira deixada ao vento,
A mágoa de quem há perdido pedaços
De uma viagem mirabolante de sentimento
Quando para viver nesse lugar não há espaços,

Culpo esta sombra, presença meio ausente,
O Tempo que não me dando por perdoado
É este coração que o mínimo toque sente

Até mesmo quando não se sente tocado,
O viajante só quer ir para casa brevemente
E deixar o trilho aberto para o tresloucado.

A Cópia da Lua

A cópia da Lua pareceu-se com a original,
Enganando-me ímpia pela noite fora
E deixando-me sozinho neste funeral
Onde celebro a morte deste agora,

Do passado relembro palavras de amor,
Momentos de volúpia perto do céu,
Agora idos, dou-me ao abraço da dor
Num tempo e espaço que não é meu,

Esforço a corrente e logo fico cansado,
Sem sorrisos ou sonhos para partilhar,
Obrigo a maré e vejo-me acorrentado

A um eterno sono que não deixa sonhar,
Sua passagem me há tanto marcado,
Que é difícil pelo caminho continuar.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Desencontros

Desencontros de quem perdido está,
Procuro por ela neste imenso nevoeiro,
Qual o seu lugar? Estará ainda por cá?
Ou serei eu outro sonho do cangalheiro?

Amor que já não é bem amor por onde vais?
Não me deixes sozinho na berma da estrada
Sei que toda a luzência do sol já não me dais,
Então vou-me alimentado de pouco ou nada,

Do cemitério uma lápide feita para dois,
Deambulo onde a Lua já se esqueceu,
Os mortos à minha volta ouvem-me pois

Envolvendo-me numa dança meio irada,
Tocando-me num sítio que já não é meu
Ocultando a mão que já não é tocada.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O Poeta em Vão

O poeta em vão tentava deixar de sonhar,
Queimando as pontes que os ligavam,
Oh quão difícil é deixar de a amar
No trilho onde as promessas desabam,

Sua alma fragmento de coração partido,
Perdia-se no vento sem qualquer abrigo
E olhava para si e sabia-se há muito ido
Por ela, o mais nobre, o último castigo

Que era esperar pelo que nunca mais viria,
Fazer tudo por uma porção de atenção
E então tudo que ele enfim pretendia

Era não ter mais esta dor de coração,
Pois a vida agreste já não lhe sorria
E ele parecia ter perdido seu dom.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Os Seus Cabelos

Os seus cabelos são um oceano fulgente,
Repleto de estrelas para enfim navegar,
Ao acariciar encontro o altivo expoente
E razão para este ser poder ser e estar,

Amar torna-se no nome de alguém,
Imagem do reflexo de algum espelho,
Dela, quem não consigo estar sem
E pretendo ficar até ser outro velho,

Quase nem reparo neste airoso abismo,
Nem nos abutres sustendo-se de mim,
Será isto tudo outra parte do romantismo

Daquele que se dá não vendo bem o fim,
Pois sabei que com essa deusa ainda cismo
De que outra deusa jamais poderá haver para mim.

Vem e Volta

Vem e volta, traz um pouco de alegria,
Mal consigo viver numa pequena cabana
Quanto mais num palácio de luz do dia
Onde apenas ela é maior e soberana,

A vontade de respirar mais uma vez,
Partilhar um pouco de luzência solar,
Se calhar peço demasiado talvez,
É apenas a minha forma de amar,

Lembro outros dias de calor intenso,
Olhares e ver acariciados pelo vento
Em grande abraço de fulgor imenso,

Agora por onde vai o Sol eu não vou,
É pálida a lua nova no firmamento
Relembra assim o que já não sou.