quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Enquanto Houver Vida

Então tropeçava nas estrelas cadentes do caminho,
Assim, impaciente para ir e ansioso por chegar,
Com candeias rodopiando a cabeça, oh carinho
Partilhei segredos que desconhecia, vou devagar

Subindo a colina, tentando não olhar para trás, 
O céu desmorona e a terra treme, é o motim
Que só é dos poetas, é preciso correr atrás
Do beijo, do abraço, do saber dizer que sim, 

Quebrar o feitiço do mundano, isto é a vontade
De ir sem esperar por empurrão ou travão, 
Um dia chegaremos e esse dia será metade,

Perfeitamente complementar, de mão em mão, 
Esperando a Lua para poder dançar em reciprocidade,
E em boa verdade, conseguir trazer Vida para o coração

(pois só isso é verdade...).

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Arrependimento

De quando não fui pelo instante passageiro,
Por isto ou por aquilo não me preenchi de Vida,
Por tanta cautela, fugi a medo sempre ligeiro,
No meio da luz fui escuridão sem qualquer lida, 

Quando podia andar arrastei-me por entre corredores, 
Estas linhas de vida e sinais de quem foi esmorecendo,
Isto é quando andar na água não faz de nós salvadores,
Quando não há distinção se vamos subindo ou descendo,

Há um velho que fui, a mais leve queda, os lençóis engelhados,
Não há livro onde caibam as possibilidades do que não foi, 
Por isso os enterro em tecidos funerários embrulhados,

Percorrendo as palavras afirmativas e negativas, o caminho, 
Pois as hóstias que engulo não sanam a ferida que ainda dói
E o beijo para onde rumo, longínquo, aqui procuro-o sozinho.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Pedágio da Vida

Sou uma retícula à porta de uma encruzilhada,
Honrando a voz que é bramido pela ribanceira
Levando-me adiante onde vou pela algibeira,
Ora veículo para a berma, ora simples estrada,

De instantes sendo retido, conforme prometido
Sou apenas uma alma vagabunda indo em frente,
Encontro e perco-me  face ao tempo que indiferente
Me julga mediante as rugas no rosto em si reflectido,

Vai ficando a voz grisalha, os beijos então glosados, 
Entre duas margens, entre as bermas, o terno cinzeiro, 
Sendo pertença para quem não vê, onde os implicados

Fecham-se em quartos sem janelas, é impossível ver
A cor do prado, a luz do sol, sem recado e do bueiro,
Metade ou inteiro, quão difícil é por vezes simplesmente viver.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Até Que Durma

Hoje a morte levanta-se, portanto, disparem à vontade!
Pois apesar do amor por ela, ele continua seu escape,
Não obstante do sentir e da congruência da metade,
Fugindo sem aviso, como os outros, eu outro recape

Na ferida fugindo do dilúvio, da sombra obscura
Que é fraterna da morte, amor no chão quebrado,
Que é queda na cova, que é viela da rua escura,
E isto vai passando, vai-se esquecendo o bocado

Em que éramos o único toque e o lábio descarnado,
A vida de poeta não é fácil pois escasseia o deserto
Para a sede, e a sede é de infinito, o rasto entornado

No trilho da combustão instantânea, dá vontade de (r)ir, 
Hoje então descanso com moedas nos olhos, o incerto
Apadrinhar-me-á até meu cansaço vier e se esvair.
 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Se Soubéssemos

Se soubéssemos beijar não haveria solidão
E acordaríamos repletos de maquilhagem
Enquanto parte de nós apertaria o coração,
Outra parte iria com o vento, com a aragem, 

Se soubéssemos nadar não haveria mais naufrágios, 
Pois sem problemas nadaríamos de costa em costa,
São estes suspiros que afugentam os maus presságios
Onde o pôr-do-sol em si vai e no horizonte se encosta,

Às paredes de uma glória pertencente a  uma outrora, 
Penso em todos os afogados, aos quase interrompidos,
E assim vem quem deve vir no passar desta ligeira hora,

Pois havemos ficado cansados de ser barulho de fundo,
Da ténue linha que separa os olhos no céu insculpidos
Da areia molhada ao ver incipiente que vê o mundo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Os Filhos de Ícaro Pt. II

Há degraus a subir sem olhar para trás, 
Tal Orfeu e a sua busca que a luz ofusca
E passos por conferir em busca de paz
Enquanto se rebusca o quanto a alma custa,

O sol e o seu corrimão que abrasa o coração,
Quantas vezes estas escadas foram mascadas,
Quantas vezes sua inauguração passou de mão
E as estrelas ficaram ancoradas em emboscadas?

Pois aqui quase detenho o luar evidente hoje neste olhar, 
Aquele para o qual é preciso coragem para ir na viagem,
Nem há esforço a andar, é somente preciso ir para alcançar!

É preciso acreditar para voar, ter noção das asas e seu propagar,
Agora é onde escolho tirar a maquilhagem e ir com a aragem
Sem ser preciso os sonhos penhorar, é preciso é ir e concretizar.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Os Filhos de Ícaro

Abrindo a cortina do sorriso, o quão é preciso
Estar presente com brechas na parede, ter sede
De algo maior e superior e nós em improviso,
É a dança da Vida, o truque é não cair na rede, 

Corpos cansados não podem descansar, então adiante!
Deixem a luz entrar, persianas com as fendas abertas, 
Preenchem o peito e facultam o poder do instante
Na voz de mil gerações ao passar das horas incertas,

As sentenças tornam-se convalescenças de um outrora, 
Mal recordo os rostos que passaram, só o que ficaram,
Caminhamos o trilho para o Sol, rumo à boreal aurora

Se cairmos enfim encontra-se outra solução do problema,
Sozinho ou a dois, quantos por cá passaram e ansiaram 
De olhar fechado beijar o horizonte? Assim nasce o poema.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Amar Para os Poetas

Amar não é para os poetas e só os poetas sabem amar,
É o suspiro ante o precipício e conseguinte mergulho, 
Não há que disfarçar, são poucos os que sabem beijar,
Sem se esconder, são poucos os que aguentam o marulho, 

Amar é para os poetas pois só os poetas não sabem amar, 
É a brasa na lágrima que os diferencia da comum gente,
Pois há da brasa cinza e da lágrima sulfato, o germinar,
O caminhar, diligente, vai de lado para lado, para a frente, 

E há quem não aguente, e há quem o faça numa eterna dança, 
Quem vá magoado a chorar para casa com o coração na mão, 
E quem o partilha de mão em mão em constante perseverança

Não obstante do quanto andou ou já passou, ao mundo dão,
Amar é e não é para os poetas, pois só eles sabem seu teor
Do sentimento em papel ao toque do sorriso e da sua dor.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Entrelaçado Com Aquela Que Me Importa

Os seus beijos ofegantes, delirantes aqui centrados, 
Parecem balões de algodão no céu alto esvoaçando,
O calor da sua mão relembra-me aqueles bocados
Nos quais não olhávamos para trás, íamos ansiando

Reciprocamente o carinho que entre nós então havia, 
O quanto ela me queria, o quanto eu a queria, e cria
Nessa crença sem pertença que levanta as fundações
Do céu, o seu corpo no meu entrelaçado - as escoriações 

Sediadas no peito e alma, porém com calma vivíamos, 
Pintando as constelações, um ao outro pertencíamos, 
Éramos mais do que recordações, éramos o infinito

Um dentro do outro a refractar num olhar tão e tão bonito, 
Afagado no interior de um abraço maior, cheio de beleza,
Que em meados desta melancolia me conferia asas em subtileza.

Entre As Insónias e o Sonhar

As insónias estão associadas à impossibilidade de sonhar,
Respiro o murmúrio abandonado por quem um dia passou,
O segundo passageiro, o terno forasteiro a si a se flanquear,
É o momento feito instante para sempre reiterante que voou

Para a planície distante onde reinam seres divinos e imortais,
Respiro o suspiro deixado ao percurso, o piscar da vista e olhar,
Um brinde de copo cheio aqueles seres loucos e imorais, os tais
Que saltam cercas e desmoronam muros, consenti ao pedinte amar

Pois traz cores ao mundo, é um alívio profundo maior que o viver,
O retrato apesar de inexacto de um propagar de asas do passarinho,
Sabendo que o lugar onde criou seu ninho também lhe fez crescer

Cores várias no assentar do segundo, o beijo de uma temporada,
Não obstante se estes passos vão então depressa ou devagarinho,
Desde que o caminho leve ao fim da noite, ao chegar da alvorada.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O Velar Nesta Condolência

Estas lágrimas que escorrem pela face acorrentada
Ao passado, há tanto deixamos o lar e ele esquecido
Trouxe o coração infracto, a sombra que é da estrada,
Da curva à berma até à margem e eu então enternecido

Pois os sóis distantes eram vertidos por horas transientes,
Eu insignificante, porém importante, maior que o mundo,
Repleto de luz para partilhar de vista na chuva incipiente,
E assim de repente, sem vestígios de graça então me afundo

Em trajectórias cúmplices com joelhos e pernas quebradas,
Longínquo sonho, tanto a andar com esta sede de infinito
Coincidente com beijos não dados e de mãos afastadas, 

Sonhando sem respirar, preciso de ti amor, és a carência, 
A falta, a privação e escassez que acolho no interno grito
Que zela a alma dos perdidos, que velo nesta condolência.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Estas Palavras Escritas

Recontam-me o silêncio de uma madrugada escurentada, 
Inebriado por versos de um poema hoje desconhecido, 
Deixado algures numa rua atrás da porta escancarada, 
Onde era tudo e nada num escrever por Deus enaltecido,

Escrevi de ti para mim, estrofes pomposas repletas de beleza, 
Pois o silêncio desses lábios era demasiado para aguentar,
Então no papel os coloquei para esconder essa subtileza 
De um rosto trazido no coração que não pára de tentar, 

Esta lágrima luzidia neste olhar nublado e o ecoar da solidão
Pelos corredores de mármore a passo pesado, quase a chegar
Ao lugar onde permaneço, donde escrevo poemas de imensidão

Pela tua voz em sonetos, esse toque em papel, maior do que a vida!
Não tem fim este amor quebrado, é enterra-lo para não me acorrentar,
E enfim, livre para voar para longe dessa tristeza, por uma capa envolvida.

Por Cada Momento

Outro poema que veio e já se foi assim esvaecendo
Na reflexão nos corredores destes tempos passados,
Ao fugirmos da chuva, cantarolando e revivendo,
Atravessando vistas e olhares por ontem defasados,

Reunindo-se onde ainda havia a criança e a esperança,
Sem canseira do vulto que quer ser homem ou mulher,  
É este coração vagabundo que por ter tanta lembrança
Vai por vezes morrendo por tudo não conseguir conter, 

E esta nostalgia amálgama com saudade, é o sorriso
Vertido na lágrima do órfão sem amante, o restante,
A estação que passa, de oásis nos desertos preciso

O rosto lunar no avarandado do sol, e eu rouco de bramar
O pé descalço na valsa do pé-coxinho, a poesia do instante
É esta paixão aqui, hoje, agora e em cada momento por cada amar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A Eterna Procura E Espera

Procurando abrigo desta precipitação interior,
O desejo é simples, é um dia outrora fustigado
Por sorrisos onde abrolham flores longe e em redor
Do coração, que venha a estação, direi o recado

Deixado à porta dos deuses dos vivos e dos mortos,
E esta mensagem escrita a ferro e fogo nas paredes,
Pais, filhos e avós lembrados e nós imóveis e absortos
Pois sabíamos que esta água não saciaria estas sedes, 

De homens indolentes cujo trilho não deixa encalço,
Este rastilho até mim, este olhar até o fim do horizonte
Onde o acontecer é real, não há hesitação ou percalço,

O fôlego deste amanhecer, procuro da chuva resguardo,
Entre os charcos um reflexo livre de ruídos, claro e insonte,
Dentro da ondulação as palavras: “Eu por mim aguardo!”.

domingo, 15 de novembro de 2020

Não Vale A Pena Temer O Adeus

Não direi mais adeus, agora apenas darei boas vindas, 
O cansaço do aceno de despedida quebra a esperança,
Enche-me de escárnio das manhãs e as noites lindas
Proteladas pelas estrelas de dois olhares em lembrança,

É uma partida infindável, é o receio dos velhos lugares,
O retorno ao mesmo tal manchas depositadas nas mãos,
Não obstante do quanto já fomos ou quantos andares
Subimos, somos sôfregos, somos inertes, somos órfãos, 

Perguntando-nos qual a vista para o recreio, o corrimão
Para o céu que transfigura os homens em sonhadores,
E eu preciso de sonhar, preenche a alma e o coração, 

E tenho saudades do lar, nós não somos deste mundo, 
Há lugar no instante fugidio entre a brasa e os ardores,
Espaço para a criança alada e este sentimento profundo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Um Dia Ganharemos Asas

Este é o ecoar de quem se lança destemido à estrada,
Os suspeitos de viver, suspeitos de correr atrás da Vida, 
Um breve sonho de bolinhas de sabão, vê-la idolatrada
Como um ligeiro toque sobre o sepulcro de despedida,

Pois o sonhador também é subalterno ao abraço da Morte,
Apesar de não a abraçar, não a temem, não rezam a ausência
Ou vão esperando, lentamente seu próprio definhar, a sorte
De quem está para ir, não para ficar em eterna abstinência

Do sabor próprio que tem a vida, a passagem entre o poema, 
Delicada como o ecoar de quem vai sem medo, vai destemido,
Pois ao passar do tempo somos estranhos, sem palavra ou tema, 

Perseguindo a procura e a espera por um dia enfim grandioso, 
Esta pulsar é sincero, este pulsar é verdadeiro não é enrustido
Deixemos para trás o terrestre, saudemos o céu em tom ansioso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Tal e Qual Dois Amadores

E após estes anos eles regressaram - o coração na manga, 
Estes sonhos frágeis destinados a ficar sob a sepultura, 
O pôr-do-sol desacorrentado é este grito de Ipiranga,
Vê-lo beijando o rosto do mar caído da mais alta altura, 

Ainda estás aí? A voz harmoniosa que ladeia este caminho
Onde a erva cresce alta e indómita, como a etérea serenata, 
Quando a lágrima é recíproca, indicadora do Sol e eu sozinho
Vou sussurrando o suspiro de quando o silêncio acena e retrata

O dia enfim a finar, alfim ajudem-me também a desaparecer,
Tal como o riso a flutuar sobre a maresia, a nossa magia
Foi esse dia dentro do dia um momento, a vida a esvaecer,

O grande acordar é este eco de pegadas entre os corredores,
Aqui era onde caminhávamos de mão em mão em sintonia,
Lembras-te que costumávamos cantar tal e qual dois amadores.

(aqui éramos magia)

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

E Sonho Acordado

E sonho acordado com o rosto da eterna musa, 
Aquela que me inspira, que me confere a mão,
Que é a ponte para o horizonte da luz difusa, 
Aquela que simplesmente me preenche o coração,

E sonho acordado com o seu semblante retocado, 
O pormenor do detalhe, a tenra imersão corporal
No abraço das horas, a vogal, o suspiro invocado,
Deixando-me apartado escrevendo este madrigal, 

E nas esquinas do tempo cruzamo-nos obliquamente,
Da doença advém a cura, sara-se assim de repente, 
Num instante sinto o rosto afagado pela palma da mão, 

Relembrando, sim, de que este para o céu é o corrimão
Por onde vou trauteando o desejo numa doce semifusa,
Onde sonho acordado com o leve beijo da eterna musa.


domingo, 1 de novembro de 2020

Amigo, Farão Festas Por Ti

Amigo, farão festas por ti sobre a tua sepultura, 
E flores florescerão e a manhã virá desse chão, 
Então veremos os dias, as nuvens e cores da altura
Para nos lançarmos enfim de mão em mão em mão, 

E os dias transientes de uma noite agora tão fria,
Efémeros, pois, o pássaro assim para longe voejou
És o que ficou, o que uma estrela passageira trazia,
És seu fulgor, és a sua magia que em nós pernoitou,

Porém és pássaro e os pássaros não caem, eles são
A parte inocente e leve que permanece no coração,
Amigo, trouxeste sorrisos para o comum transeunte,

Por isso não há dúvidas, não há quem ainda pergunte,
Amigo, és o suspiro de uma criança brincando no passeio, 
És o abraço no cimo da colina, o acenar de despedida no recreio.

para o Kaia
 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Quando O Primeiro Passo Está Entre O Ir E O Hesitar

Aqui um fôlego por uma vida, um beijo suspirado
Entre os dentes e a estória que acaba finalmente, 
Por um minuto passageiro, um ontem fantasiado,
Suficiente para tornar o maior céptico em crente, 

E em mente, um charco de sangue no chão, o botão
Do Inverno, cisterna para extinção da sede da morte, 
Não obstante de quem nos beija e tocando o coração, 
É mais do que uma questão de destino, fado ou sorte,

Inclino a garrafa, correndo do seu fundo, submerso, 
O pôr-do-sol é carreira para os acordados, libertários, 
De maquilhagem manchada, do seu oposto ao inverso, 

O anseio pelas sementes de uma nova dimensão, estação, 
Desde que do céu caímos que seremos eternos refractários,
Sem destinatários, entre as colinas, entre o ir e esta hesitação.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Os Filhos de Hiroshima

O tecto mostra-me enfim os raios da manhã, regressa o dia, 
Com os cordeiros, o abrir os olhos numa grande charada,
É dos insectos a parada, o golpe da faca, a morte da cria
Que ainda não nasceu, que não esqueceu a ferida sanada, 

É esta a eterna emboscada, a procura no ventre esterilizado, 
Mil e uma vezes fecundado, porém sem encontrar a vivalma
Que traz o sorriso ao Sol, apesar de ser outro dia desolado,
Há fotos tiradas que relembram os mortos e a sua calma, 

A noite foi-se, veio a manhã, e novamente lâminas nos sentidos
Por quem não se lembrava do nome, entre o fumo, entre a bruma, 
Enfim, as nuvens de onde caiam anjos e os pilares do Sol vendidos,

Deixaram apenas sombras atrás, beatas e cinzas pela colina abaixo, 
Carniça aos olhos dos abutres, ouçam o silêncio, a verdade é uma, 
Os filhos de Hiroshima ao tempo de um suspiro, são terra, por baixo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Entretanto A Vida Acontece

Desentedia-te, a vida acontece para lá de quatro paredes, 
E a cada instante nós mais próximo dela e mais perto do fim,
É preciso ir e procurar o Sol, o Luar, apaziguar as mil sedes, 
Pois no final deste livro, quando pisarmos o solo do eterno jardim

Espero que nenhum segundo tenha sido em vão, ouçam com atenção!
É preciso ir e ir sem medo das pegadas aqui e para trás largadas, 
É preciso ir com a mente em mente, mas também à frente o coração,
Só assim deixaremos para trás pegadas dignas de serem deixadas

No éter, no tapete da entrada da casa de Deus, ouçam amigos meus,
Aqui beijamos o chão sem nele tocar, aqui aprendemos a ir e a voar, 
É o suspiro da criança do Elísio patente nestes passageiros segundos eus, 

É o toque divino, outrora esquecido, estas são as verdades ontem renunciadas, 
É uma mão na outra e plim! Faz-se magia no querer ir e no querer eternizar
O momento d'oiro, este é o corrimão para o céu, e estas as divinas escadas.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A Morte Bateu-me À Porta

A morte bateu-me à porta e eu permiti-lhe a entrada, 
Trouxe-me rebuçados e doces de um tempo perdido,
De magia e epopeias de quem não era de todo lembrada,
E o seu murmúrio era sossegado a um simples pincel colorido, 

A morte bateu-me à porta e eu mostrei-lhe o caminho, 
Trouxe-me cigarros e beatas na mão aberta, era o incerto,
Ela disse: "Não sabes que nesta vida morre-se sempre sozinho?"
E eu acenei com a cabeça, ela olhava-me como se fosse seu adepto,

A morte bateu-me à porta e eu permiti-lhe sentar-se,
Trouxe memórias de porções de beijos do tão distante,
No longínquo ouviam-se gemidos, era o velho a lamentar-se,

Pelo tempo que não foi Vida, pelo frio que era triste, pela geada, 
A morte bateu-me à porta e deu-me a mão num silêncio reconfortante, 
E eu fui com ela satisfeito por tudo ter feito, não obstante de tudo ou nada.


domingo, 25 de outubro de 2020

As Histórias e o Mundo

O mundo é feito de histórias, uma em outra tecidas,
Novelos impressos a diferentes ritmos entrelaçados,
Sendo fôlego ao acontecer no espaço e tempo rendidas,
Somos sua parte do prefácio ao epitáfio em nossos bocados, 

É entre a vida e a morte, entre o visto e o ainda por ver, 
Bem altas e fortes, linha a linha contando outros momentos, 
Que parecem tão pequenas, é a vontade que as faz crescer, 
Seja em alegrias passadas, lágrimas deixadas ou ainda tormentos

Que se sobrepõem tenuemente à língua em tons prazenteiros,
Sendo que os longos parágrafos separam diferentes epopeias, 
E ainda por cada respiração faz dos meios simples e inteiros,

Há prosas ou poesias mediante a história, a ida e caminho, 
Haverão narrativas para soprarem a outros estas ideias,
Enquanto elas aqui se vão tricotando como fios de linho.



sábado, 17 de outubro de 2020

Alguns Espelhos

Alguns espelhos deixam homens em migalhas,
Côdeas de pão para outros transeuntes desatentos,
E eles gostam de pão. Tens erigido em teu torno muralhas
Apontadas para a linha do horizonte, erectas para os ventos,

Terra dos perdidos, mais um dia negro para o pedinte,
Ao desabrigo desta canção, pedindo perdão ou isenção,
Ainda na sala de espera para entrar e por conseguinte
Dar entrada na vida, aonde for pulsante o coração,

O resto é poeira no olhar, a tensão nas cansadas pernas,
Quando é apenas e somente outro dia a cinza pintado,
É cinzento, ao vento, ao suspiro destas tristes cavernas

Onde alguns fazem moradia sem lar até ao seu jazigo,
É o perigo de voltar as costas à vida, ao breve bocado
Por onde somos bem vindos, por onde há sempre um amigo.




sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Há Horas Sem Segundos

Há horas sem segundos, e instantes sem momentos, 
Até dias em que já não nos servem as roupas usadas,
Há um frio com calor misturando aqueles sentimentos
Que colocamos em gavetas por mil chaves fechadas,

Temos cruzado as encruzilhadas e nelas sido cruzados
Por rostos que em nós passaram, os eternos passageiros
Que tenuemente nos beijam a bochecha, somos achados
Em ciclos onde dentro de nós por vezes somos estrangeiros, 

E vem a bruma, e vem o bueiro, e escuta-se o vento, 
O passarinho ainda chilreia, é moldura com intento
De cobrir mais, esvoaçar mais alto de olhar aberto,

Pois apesar de seu voo ser tudo menos um voar certo,
É nas estrelas que enleva seu ninho, seu altivo sonhar, 
Pois venham essas horas sem segundos, estou aqui para as aclamar!

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Os Fantasmas do Crepúsculo

Temos de abanar a poeira e bolor do esqueleto,
Somos os fantasmas do crepúsculo; o fim do dia
E início da noite pertence a quem fala o seu dialecto,
E cada um de si vai na sua própria companhia,

Onde as sombras se dão como imperadoras
E não há candeias com luz suficiente para alumiar,
Ouçam ao longe as vozes que outrora foram merecedoras
De um beijo que entretanto foi perdido, que já não sei como apontar,

As persianas de uma janela deixada entreaberta,
Falta-nos espaço para respirar, a pele foi largada
À perspiração de uma noite onde cada hora era oferta,

Poia para quem a mim seguir, a quem a mim for seguinte,
Deixo-vos a voz de Deus, uma luz mesmo que inacabada,
É vida e missão para o vivo, para quem continuar, para o bom ouvinte.

(De uma história ainda não observada).



Sem Parar

Um desastre rodoviário e calço vidros quebrados,
Quase em vida, convulsões vinculadas a questões
De quem não teve em criança aqueles bocados
Que supostamente conferem ao ser fundações,

Mil e um perdões, cheguei e não me dei por apresentado,
Pois saibam que sou aquele cujo trilho advém da salvação,
Sabei que não sou pertença de ninguém, sou quase amado
Por quem toquei no caminho, por com quem partilhei a mão,

Quando as paredes caem ficam os astros do firmamento,
Sorrio pois conheço esse momento, não receio o que possa vir
A não ser que seja a ausência de vida, de acontecimento,

Pois quando o rosto do sol é coberto pelo não querer
Ainda há tempo e espaço para o beijo, para o sorrir
E então os gritos deixarão de ensurdecer e a vida de morrer.




sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Retratos Inexactos

Retratos inexactos de uma dança outrora bailada,
Enunciada e soletrada a minúsculas numa ponte
Era a trova do romance, a lágrima ontem deixada, 
De onde uma alma saia e perdia em si o insonte,

Era um nome murmurado pelas alcovas nocturnas, 
As vielas ecoavam-no ao patamar da insanidade,
E eu perdia tempo e então numa ânsia taciturna
Ia-se o fôlego e ofegante sustia-se em iniquidade, 

Assim vertiam-se-me os olhos, gotejava-se a vista
Em charcos de alvoroços, as pálpebras restantes
Então largavam-me e cerravam sem qualquer pista,

Não bastava o asfalto e o pavimento, era o momento
Para permitir a bruma ser, talvez ser como era antes
De as estrelas cadentes caírem neste nosso casamento.


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Há Dias Cinzentos - Aceita-os

Há dias cinzentos em que não há sequer no céu passarinhos, 
Somente bradicardia no momento actual residente, é utente,
Para quando houver uma aberta através de ermos caminhos
Que irregulares, sim, convergem para o mesmo - o presente,

Assim é uma simulação de vida através de modelos de cera,
Onde abanamos as raízes e bradamos aos céus por salvação,
Esperando vamos, é esta minha ânsia que o interior esviscera, 
Reparem, nestas pegadas rareia o beijo que é do coração, 

E sustentas o fôlego, e suspiras com os dentes cerrados, 
As folgas entre o pavimento lembram as asas cortadas,
Pois em instantes perdemos os trilhos certos e errados

Que eram fonte surdida onde há rosas e pétalas pintadas,  
Erguidas e amarfanhadas por outroras e dias acinzados,
Houve bocados, mas nenhum tinha luzes fragmentadas.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O Pai Tempo E A Vida Que Passa Entre Os Seus Dedos

 Poeira sobre as roupas pelo ontem vestidas, 
Os pontos ligam-se nos vértices coincidindo,
E eu indo caminho as ruelas e vielas perdidas,
Sem que as portas pelas quais passo irem abrindo,

Percorrendo, imóvel, os momentos do passado, 
Onde, abstraído, era moço, homem e até velho,
Todos esses instantes fui sendo por um bocado
E eles se tornaram no que fui vendo ao espelho,

A menina das alianças me deixou e foi-me levando,
Pois em boa verdade, quase não reparei no relógio,
Foram tantas as mudanças que eu fui almejando

Que o tempo veio e se foi e agora se dá por acabado,
E, sorrindo percebo, ela é recurso precioso e privilégio
Para quem vai e vem na alma e coração no minuto apartado.






terça-feira, 29 de setembro de 2020

Eu e a Brisa

Faltam e sobram-me horas de um dia inacabado, 
Uma tarde primaveril bailada a dois num beijo, 
Onde o simples era regra e o trilho encruzilhado
Era mote para o ainda por vir, para o vero ansejo,

A graça de uma valsa dançada no conteúdo da alma, 
Entre a tempestade e a acalmia que a todos nos erguia, 
Uma cidade com vista para o oceano onde nem vivalma
Trilhava as ruelas, onde nem a Morte passava, ela fugia!

Deambulávamos numa dança própria de dois amantes, 
Eu e a brisa, assoprando pela almargem, entre a vontade
De ir mais longe, de ser mais Inteiro, ao Universo aspirante,

Este jardim esverdejante voluteando entre palavras inauditas, 
As frases incompletas, os parágrafos inconclusos, a metade
Que era minha e estas querenças para sempre na areia escritas.


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A Musa Que Me Inspira

A musa que me inspira é as estrelas do caminho, 
Os amores por ele plantado, os instantes, os bocados,
Até as ruelas e vielas escurecidas por onde vou sozinho, 
As lembranças tornadas memórias em rascunhos traçados,

A musa que me inspira é serena e educada, afável e inocente, 
Gosta do sol e luares redondos, confidencia-se à sua vontade
E não é minha prisioneira logo tanto vai como vem de repente,
Ela é imperativa, é urgente e precisa de amostrar a sua verdade,

A musa que me inspira tem lábios redondos e um abraço profundo, 
Ela é a Vida e Morte à altura do céu e à queda no precipício fundo,
Traz-me saudades do que está por vir e ansejos do que é passado, 

A musa que me inspira é esbelta como o belo jamais foi retratado,
Ela é liberdade, a mão aberta e o abraço para o horizonte alcançar, 
Ela ensina-me o simples, o detalhe do incerto mas principalmente... o nunca deixar de tentar.

domingo, 27 de setembro de 2020

O Propagar De Asas De Um Passarinho Moribundo

Ondas na lagoa são marés atrás de marés revistas
O trecho inacabado de um voto numa colher restado
Por lembranças que se vertem por valetas com vistas
Na imprevisibilidade de um papel no lixo amarrotado,

Para o precipício exsudado por cada olhar, cada passo, 
Onde passo e repasso a canção de Ícaro ao esvoaçar
Próximo do Sol, próximo da perdição, sem compasso,
Sem traço no lápis, sem tinta no pincel por cada traçar

Caíamos dentro do eviterno quando o pássaro me morria
Nas mãos, demasiado fraco para voejar e no céu propagar, 
“Mãe, ajuda-me a viver!” – seus clamores quase em euforia

Na minha cabeça ainda habitam caindo dentro deste ouvido, 
“Oh meu amor, oh meus queridos”, esquecemos o que é amar
E longe de casa suspiramos tão próximos do seu coração ferido.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Um Cais Para Amar

Por vezes faz-se do clarão da fenda, a tristeza, 
Em círculos percorrendo o que a vista alcança, 
Das sombras o vínculo com a bruma, a incerteza
Que com o Inverno e Outuno vai, fica e até dança,

Da abóbada celeste, uma caçadora já com ideias pautadas
Por braços de silêncio onde dois corpos longe se estendem, 
Quando existe uma vida atrás através de experiências contadas,
Do prefácio houve ruído e o alarido então que no epitáfio se findem

As vozes dos poemas de outrora, das letras de cada voz ou canção, 
Porque já passou tempo para olhar e ver, passou para pedir perdão, 
E eu não perdoo, pois, o passarinho apartado voou e caiu da sua cama, 

E tal peso morto, como buraco no solo, quase que esqueceu quem ama,
É a doença dos amadores armados em trovadores do fim do mundo
Quando na verdade, só querem um cais que não seja muito fundo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Desde Que a Música Do Caminho Persista - Há Caminho

Sim, deste alpendre ao luar escrevo debaixo do sol,
Só eu sei as noites inacabadas e os dias por findar, 
De um lugar isolado onde vem o embuste e o anzol,
A casa onde esta erva daninha se acaba por alastrar,

O sonho era encaminhado de mão em mão rumo à voz
Da criança que fui a brincar na alma, sem reféns ceder,
Compus o aceno num instante dedicado ao fluir da foz, 
E fui arrepiando caminho sem o vero ideal comprometer,
 
Que era uma canção feita de linhas tecidas de ano a ano,
Divinas, eternas, imaculadas pela sombra que é o humano,
As formas distantes e duvidosas por onde nem sei por onde

Quando não sei sequer o que a curvatura da estrada esconde,
Portanto peço beijos quando os há, ou o abraço quando existe,
Evitando os buracos das ruelas e continuo, pois, a música persiste.

sábado, 19 de setembro de 2020

A Orfandade Desta Procura

Os meninos órfãos vivem três andares acima de deus,
De corpos aéreos, dançando no tecto de mil promessas,
Onde cada pai e mãe foi despedida sem um único adeus,
Enviando cartas postais sem entregas ou sequer remessas,

O tocar do telefone, rodopiando em punhos de anos e anos,
Onde os sonhos são perdidos pelo hediondo som da cidade,
Onde a inocência é estuprada por anseios e desejos levianos,
Vão eles crescendo antes do seu tempo ao acrescentar da idade,

Quem nunca foi uma dessas crianças das ruas e vielas perdidas?
Quando a verdade é que ostentamos círculos para nenhum lugar
Pois desviamo-nos do caminho para casa e as roupas vestidas

São simpatia de estranhos onde a inocência é difícil de encontrar,
Quando não há partida nem chegada, apenas lágrimas contidas,
Se esse sítio nunca dorme será que ninguém consegue sonhar?

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O Caminho É Longo Até Encontrar O Lar

Acredito que há um subtil abraço que ao Inteiro é envolvência,
Num instante simples e fecundo, tal o respirar de uma criança,
Porque para o alpinista a sua montanha é inescapável, persistência!
Pois há sempre caminho a andar quando de nós para nós há distância,

Aqui dentro a vigília mais forte que a sorte, mais forte que o tempo,
A esperança de que o primeiro passo seja tão forte como o último,
Porque há ecos deixados na maré por cada gesto articulado entretempo
Do agora e depois, digo-vos, o coração também é um caminho legítimo,

Sustem-se o fôlego, somos escapes renitentemente fugindo de um embuste,
Que é passagem de dia e noite, percorrendo as colinas de um sonhar belo,
De quem vagueou além-horizonte, quando este ideal é inabalável e encruste,

Sim há momentos em que tenho saudades de um algures apelidado de lar,
Pois todos ansiamos pelo mesmo, todos desejamos aquele toque singelo,
Logo o destino é continuar o trilho e o caminho enquanto não encontramos lugar.

Todo O Sonho É Reciclável

É ao sonho amarrotado e deitado ao lixo de uma aurora, 
Tu que raramente viste a luzência do olhar de uma criança, 
Foste quem foi a sua própria ausência até ao beijo d'outrora,
Onde esvoaçaste para longe pois o vento colocou-te  uma aliança,

Eram tantos panfletos de autores sem apelido, almas sem lugar
Para poisar e sequer brotar para o Oceano, no eterno suspiro, 
Daqueles momentos em que a escolha foi-se ausentar
Numa ode ao ansiado, do alto da altura - eu inspiro e expiro

Sob os estranhos ao espelho, perante a imperdoável estrada,
Quando batem à porta do agora, ergue-se a oportunidade,
É preciso acordar, despachar a brisa pelos lábios soletrada, 

Pois hoje é tudo ou nada, estou pronto para no riacho escorrer,
Seja viver ou morrer, este é o perene circulo e sua sinceridade,
Não distingue nada nem ninguém por isso há que o deixar correr.



A Crença Jaz Na Aceitação Do Que É Como É

 As palavras são feixe de luz, as brasas na escuridão, 
Ponte para os viajantes, espelho para as centelhas,
Que fustigam as veias oculares em troca da visão,
Caindo silenciosamente no requebrar das telhas

De um telhado atravessado por correrias de criança,
Trazendo o sonho na pálpebra do olhar, mão abertas
E esticadas para uma abobada celeste que alcança
Os quatro ventos baptizados pelas ruelas incertas, 

Até erguermos o sonho à primavera do apartado berço, 
Todos já perdemos irmãos nesta guerra, vem o sono
Imploramos por paz, o inebriar dos sentidos que alicerço, 

As fundações para o céu, a parte de mim que é pertença
E a parte de mim que não sou eu, que é morte e outono,
Quando na verdade, o aceitar de ambos sobe e enleva a crença.


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Cada Momento Tão Suave Como Despedidas Sobre O Caixão

Sinto a impaciência de uma outra noite sem dormir,
Passando entre os dedos numa fragrância de flores,
O amanhã vem e a manhã vai entre a chegada e o ir,
E o luar banhando os contornos de um rosto cujas cores

Eram lembrança e esquecimento, eram multidão de telas,
E eu acorrentado por um momento do outrora já passado,
O refém por si infligido pela imensidão que havia nelas,
Com a mente focada, pelo do que já passou ainda amarrado,

Castelos majestosos construídos no ar e de areia perto do mar,
Quando basta o bastar, cada cordel da criação erige o divino,
Tão gentil e terno como as mãos de um curandeiro a sublimar

As promessas de Deus, tão suave como despedidas sobre o caixão,
Então exaltando oxigénio por onde vem a busca e o sonho do peregrino,
Ou como estrofes do trovador porém sem tempo para o debate do coração.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A Margem Afastada Para os Deuses

A única coisa que realmente recordo é a margem afastada,
Atingida por trovões e relâmpagos pelo nocturno acercado,
Ouço a aragem, sinto a procela cobrindo a ponte distanciada,
Hoje é tudo ou é nada, este é o momento há tanto esperado,

Encontrando resguardo na intempérie, serei eterno aprendiz,
Aquele que no olho do torvelinho edifica a sua residência,
Pois à minha ausência estarei sozinho no silêncio que maldiz
As faces que trago no rosto, os anéis que perdi em veemência

Ao não poder ser, ao não poder levar um pouco desses caminhos,
Onde encontrados foram uma Vida inteira de pincéis e de telas,
Por isso caminhei e neles desfiz Deuses grandes e pequeninos,

Eles - Deuses de olhos de oceano e pele encoberta por areia dourada,
Eu - O irmão das nebulosas e das filhas por apenas acreditar nelas,
Assim se dá a viagem entre constelações na viagem impensada.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Retratos no Agora

Retratos são as lembranças num instante captadas,
Passagens para a faísca de um momento passado,
Que, agora eternizado, mostra as rugas abraçadas
De um dia que não as havia, um tempo acossado

E perseguido pelo vento, as cicatrizes e diademas
Deixadas, as esquinas esquivas do outrora já ido,
Que adornam o agora em fartas estórias e poemas
Numa ampulheta que se escapa num espaço contido

Por ferrugem na pele e ossos lentamente em vapor,
E as amantes esquecidas na berma de uma estrada
Subentendidas, mal-entendidas, de olhar provocador

Que em espinhos inconstantes confortam a chegada
Trazendo um pouco do que já foi, a alegria de uma dor,
Que é a imagem de um retrato à luz de uma encruzilhada.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A Queda de Um Anjo

E quantas eras passaram ao olhar atento da ampulheta?
Fomos deixados ao esmo do relento de asas rasgadas,
A custo, erguemo-nos tal fantasmas esquecidos da sarjeta.
De auréola removida ou então perdida, porventura arrancada,

Pois eu sou um caminho, eu sou o mapa para o meu Ser,
Na ausência de Deus, na ausência de escravo ou mestre,
Não haverá barragens que possam algum dia me reter,
Para o paraíso não haverá maior provocação ou desastre,

Daqui para o infinito, Pai que renuncias o teu filho,
A Guerra do Céu iniciada por teu gesto, sê honesto,
Empurraste escadas das nuvens porém esse é o trilho,

Eu sou a queda do anjo, a cratera à qual chamei de casa,
Destronar-vos-ei daí pois a vossa patriarquia contesto,
De tudo farei para trazer paz e restituir a quebrada asa.


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Somos Poucos Desta Raça Pt. III

A criança do Elísio sussurrada dentre corredores vazios,
Calor transposto, o mundo habita bem longe destes versos,
Perdido pelas correntes do pensamento, guardando búzios,
Sem alcançar o fim, a ideia de mim desfaz-se em Universos

Do qual eu sou parte e Ele é parte de mim, e vem consciência
De coexistência, de saber do plural é também uno, o murmúrio
De Deus por cada estrofe partilhada, sem plano de contingência,
Vim ao Ser muito antes de ser, este é o trilho sem qualquer perjúrio,

No eu - as sombras do passado, os almejos do futuro, o potencial
Para sermos melhores que os nossos tetra-avós, essa é a escritura
Sem papel, pois todos estes anos eu cresci e fui sendo exponencial,

Sempre o mesmo, sempre mudando, é a bênção e o fardo, a abertura
Da porta para a habitação dos deuses, largando tudo menos o essencial,
Pois somos crianças vagueando os prados soalheiros da mais alta altura.

Somos Poucos Desta Raça Pt. II

Sim, somos poucos desta raça, luzentes e voadores,
Crianças de coração inocente, olhar como escadaria
Para o paraíso, o sonho despertado dos bastidores
Vejo os beijos passados e ainda por vir da calmaria,

Hoje está vivo, esperando a palavra, o abracadabra,
O sinal para despertar sua casta, este hoje não basta!
Essa palavra entre as linhas onde o poema descalabra,
Não temeis, sou eu quem vos traz a estrofe não gasta,

A porta entreaberta somente aguarda ligeiro empurrão,
Para a empurrar é preciso não temer onde ela vai dar,
Porém é preciso empurrá-la com jeito, com o coração,

Caminhem lado a lado comigo, aproxima-se a romaria
Para os solitários, tristes e os perdidos, é tempo de amar,
E amar é partilhar o bom e o mau, parabéns, avé-maria!


Somos Poucos Desta Raça

"Venham finalmente esses palhaços, freiras e mendigos,
É preciso diversão" - gritam os bêbedos do seu alpendre,
Com toda esta moção esquece-se o poema e seus jazigos,
Frio, vazio e silente, as rugas afloradas no olhar depende

Da miragem que é o passado, da relatividade desse ver,
Pois na rua somos todos transeuntes, poucos o viandante,
E passa mais um instante sem palavras para o descrever,
E é o viver ou morrer, sem cinzento, o horizonte distante,

E as valas comuns de amantes, empoleiradas do mausoléu
Que desconhece as horas passageiras, o brilho da alvorada
Pois a noite sussurra o meu nome mas o dia também sou eu, 

E há dias em que não há estrada, esta termina então inacabada,
Por isso abro e partilho o coração, sei que nada é mesmo meu
Pois os segundos que sorriem são aproveitados à face da abóbada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O Gesto do Usurpador do Sol e da Lua

Assim trago nos pulsos um punhado de diamantes,
Confetes e grinaldas atiradas aos pés do viajante,
Sim, somos as cigarras humanas, os itinerantes,
As estações que eram sal nas lágrimas, o distante,

E essa distância é a altura entre o aqui e o precipício
Encoberto em armários e prateleiras repletas de poeira,
Os olhos vão fechando, sou uma presa, tenham respício
Do quanto já fui, do quanto serei no torvelinho da canseira,

Endireitar as costas e caminhar vertical é algo de trovador,
É algo que bate no peito, que abraça o trejeito, que é maior
Do que as pálpebras conseguem ocultar, o gesto do usurpador

Que exonera e extrai a luz do sol, que furta da lua a sua claridade,
O candeeiro é suficiente para mais uma noite, aqui o excelsior!
Reclamando o amor de todos os amantes de todo o tempo e idade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O Bêbedo e o Poeta

És tu o bêbedo e pedinte dos sonhos penhorados,
De corpo deambulado, serves para varrer as vielas,
Passas por mim e nem me vês, sou rostos inacabados,
E tu esgueirando à esquina, nasceste para morrer nelas,

És tu o pobre sem-abrigo das longas vidas procrastinadas,
De face gasta e rugas densas, atendes o meu falecimento,
Sem rendimento, sem vontade de viver as horas inacabadas
Onde foste perdição do ego, vício e falta de discernimento,

Todo o dia é outro dia regido por Baco e a sua sofreguidão,
Bebendo a garrafa até o meu reflexo por fim desaparecer,
Afastado o retiro, próximo do seguinte copo mera distracção

Para a ausência de ser gente, a negligente troca por morte,
Felizmente são apenas mais uns meses até enfim morrer,
Por fim bastam migalhas no chão à inexistência de sorte.


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Com Nome Mas Sem Apelido

Vou e desloco-me para o amanhã à luz desta idade,
Perante este olhar o Universo vai indo devagar,
Vagueando no divã protegido desta dualidade
Que quer mais, que não pretende, mas quer respirar

Forte e alto, para todos ouvirem, a imensa vontade,
A alvorada quebra as janelas azuis, este vago ver
Que almeja sonhar alto e trazer a divina infinitude
De paletes de cores da mais longínqua estrela, reter

Essa altura na sua e então saltar para o esquecimento,
Pois após tê-lo, é preciso largar cada uno momento
Ao acaso, ao coincidente, à solvência do casual,

O que pretendo está longe do humano, é o imortal,
Por isso largo esta pele e nomeio-me de constelação,
É o pedaço de mim que perdurará para além desta estação.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Dois Afluentes Do Mesmo Rio

Campos de flores, fogo eléctrico no peito crepitando,
Agora ele está vivo, há espaço e lugar para ser e viver,
Só precisa de ar e luz, o resto basta ou vai bastando,
Ele só precisa de respirar até um dia por fim perecer,

Bolhas de sabão e porque não? Sempre aliviam a mazela,
Agora ele sonha, há lábios para por fim beijar,
Só precisa de água e terra, e um pouco dela
Para poder dar asas ao abraço que termina no mar,

Pois ele e ela são afluentes de um tempo dignificado
Por divindades, ninfas e náiades, por um bocado
Ambos se encontram na foz - a voz para a eternidade,

Acabam-se os incompletos, os tristes, morre a saudade,
Soubesses das vidas que vivi até aqui enfim chegar
Então não saberias outro verbo para além do verbo amar.

Lá Vai O Maluco... Lá Vai O...

Quando chuva escorre através de ossos quebrados, 
A mesma voz, indo mais devagar, sopra o vento, 
De garganta então rasgada e olhos fracturados, 
Ouço enfim os sentidos esvaecer, o eu desatento, 

Os pontos alfim ligam-se apesar do latente cansaço, 
Doentes e fatigadas as palavras outrora deixadas, 
Mil e uma vozes a vociferar por lugar, por espaço, 
Quando estou doente em pousios por luas alcançadas,

Mudando, continuo igual, os Outros regem esta cabeça,
Não interessa, são só devaneios de quem cá não está, 
Um dia hei-de epilogar a epitome deste puzzle, peça a peça, 

Que então enalteça, a loucura do homem são, a persuasão
Para a luz, para a escuridão, a dor e porcaria da podridão, 
Mãe! Sou somente eu aqui, sou somente eu por cá oxalá!

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Amar Simplesmente Não É Para Amantes

Alheio ao passageiro, a quem para trás poderá ter ficado, 
Não vemos caras nem devaneios, não custa esperar, 
Pois acreditamos no fantástico, no trilho inacabado, 
Apesar de nunca ter ouvido dizer que era fácil amar, 

O amor não é para os amantes, é para os monólogos
De quem procura e suspira com os luares perdidos, 
Amigos, até já me esqueci desses suaves diálogos, 
Que surdem dos suaves toques de murmúrios rendidos

À luz de estrelas há muito explodidas em ovação, 
É o detalhe do fantasma de ontem, crepitando, 
É sinónimo para quem quase esqueceu o dar a mão, 

E que por extensão, apregoa o silêncio derramando
Silabas em vasos urdidos ao palpitar de um coração
Autuando seu pulsar, não vá ele buscar, o que vem ansiando.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Quando Regressares Amanhã Terás Flores Plantadas Por Ti No Teu Jardim

Quando a calmaria é o passar através da tempestade,
Por vezes a ampulheta não é medição para o agora,
Vejo os meus irmãos com corações cortados em metade
Pois quem passa deixa cortes e leva-os para o frio lá fora,

Que, apenas num momento, parece toda uma eternidade,
Pois apesar da consanguinidade para sermos no esvaecer
Até ao tremor das estrelas está esta única vera verdade
Sem distinção ao toque pois ou é a vida ou o morrer,

Esta é a canção das sirenes e envolvimento nos sentidos,
É o post-mortem e o pré-natalício, a mãe e o infanticida,
Já tivemos tantos rostos, tantas rugas e tantos apelidos,

Vós sabeis quem e de quem, adorna-vos o canto do olhar,
Este é pois o raio de Zeus no trilho, do aceno à despedida
Onde seguir-vos-ei por séculos de riqueza por tudo partilhar.




quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Quando Se Almeja Ver Apenas Pelo Coração

É a velha ampulheta que nos apanha eventualmente,
No ventríloquo esquerdo o lerdo acumular das areias,
Sou um sonho cadente, o voltar de trás para a frente,
Que nele partilha todas as cores, sejam bonitas ou feias,

E se ele não voltar, serei o desconhecido de novo a reinar,
Agora vai, vai, mesmo que ele não volte, o eterno beijo,
Silenciosamente a clamar os instantes em que perdi o ar
Quando eles eram apenas enseada para o anseio, o desejo,

E se ele não voltar, serei um invólucro vazio para a vida,
Enfermo e doente, o sonho a cair sem espaço para ser,
Este buquê a desfolhada e neste momento a única saída

Para os números que contam para zero, a pendente questão
Sabe que não quero ir sem concretizar, sem conseguir ver,
Pois saibam que quebrarei o padrão, verei só pelo coração!

domingo, 2 de agosto de 2020

O Meu Avô Um Dia Disse

Que um dia saberás o valor da vida, vê-la-às perdida
Quando dos teus olhos sangue eventualmente escorrer,
Verás então o quanto ela é madrasta, que nada lhe basta
Enquanto quiseres e não conseguires mais ir, ver e correr,

Que um dia verás que nem todos sonhamos igual e que mais,
Que há igualdade nessa diferença, que ela é a maior pertença
Pois quando apenas vazios suspiros se aproximarem abismais
Que por fim olhes e vejas que podes ter a cura para a doença, 

E quando o coração quebrar e não conseguires mais aguentar
Lembra de que há beleza no chorar e para tudo há um tempo,
Que só atinge realmente quem ousou um dia passado sonhar,

Que um dia a morte virá, e isso é certo e perfeitamente natural,
Não natural é esperar a sua vinda, ficando enfermo e sem alento,
Há que aproveitar o que de bom vem, só isso a ser é enfim especial.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Das Cicatrizes Nas Costas ao Diadema

No palco da Vida esta lúgubre viela é actriz,
Aguarela dispersa no espaço de uma pintura,
Flagrante, no instante o diadema e a cicatriz, 
Desconhecendo o quanto ela termina ou dura, 

De cabeça encostada no resto de uma cadente, 
Amanhã já é tarde para estes cavalos selvagens,
Então não sou só eu, sou eu e vós minha gente 
Alçando escadas para o céu em únicas imagens,

Imagem feita daquilo que não consigo passar sem,
Repleta de momentos, sedes, fomes, e até jejuns, 
Vozes de ilhas, de pores do sol, sou vosso refém,

Posso morrer de sede no mar, de fome no deserto
Não suplicarei por alimentos a homens nenhuns,
Toquem-me, esta estrela cadente sou eu, liberto.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

É Preciso Permitir Ser

É… quando o sol se puser, eu serei o próprio pôr,
Tenho fragmentos para ser livre, para livre ser,
Não preciso de mais do que tenho, apenas cor
Do relvado, do céu e do belo horizonte para ver,

Eu sou um homem simples, de muito não preciso,
O anseio vem com o sorriso matinal dum sonho,
Descanso, pois de mim próprio tenho sobreaviso
Que o resto destas serenatas que no beijo ponho

São fonte para o vislumbrar e o deixar ir também,
É o único tempo benquisto, pois hoje estou vivo!
Hoje sinto cada dia e cada noite, estou bem, bem,

E enquanto vir, eu sei, só preciso do respirar e amar,
O resto que por acréscimo vier será no impulsivo
Campo do não saber o que virá, é preciso almejar!

domingo, 26 de julho de 2020

O Poeta Pensa Em Todos Os Comboios Em Que As Suas Donzelas Foram Passageiros

Queima o frenesim do buquê outrora fracturado
Por favor não vás, quebra o padrão, dá-me a mão,
Pois outras passam e não ficam, estou extenuado,
Daquilo que não fica, que parece o ciclo da estação

De comboio, passando a alameda de uma vida,
Oh querida, soubesses os comboios destes carris,
Talvez então fosses apenas chegada e jamais partida,
Trago vossa passagem na contenção desta brilhante iris,

Estes pulmões repletos de fumaça, o óxido de sulfato,
De facto, não é suficiente para a minha horizontalidade,
E em boa, boa verdade de tantas vidas já estou putrefacto,

Escondido atrás de um sorriso, atrás de um outro semblante,
Quando não obstante, penso em quem de mim morreu barato,
Quase gratuitamente, por quem nem sequer era gente, era instante.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

... E Entretanto?

Leve, puro e inocente, eu era então o crente
Para perder a crença e a inocência, coragem!
É a ousadia que merece o mundo de repente, 
De trás à frente, o sopro do Universo na aragem

Que nos imbui, um sonho numa nuvem ancorado,
Que seja permitido um bocado, leve, e eu alinhado
Para lá do sono, trilhando dentre briosas nebulosas,
Imensas e fabulosas, terei meu momento de prosas,

Condigno, encarando a manhã, e o seu rosto o espelho,
Reaparecendo num semblante não o meu, seria poesia
Isto que incendeia e sossega a alma, de joelho a joelho?

É ambares recolhidos e sustidos pela passagem da maresia,
Esta Vida é passadiço para uma criança se tornar no velho,
E entretanto?... Entretanto temos o oceano, o céu e a magia!

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Eu - A Cura e a Doença

Sim, sim sou eu, sou o Doutor e o paciente, 
Eu sou a parte da cura e o bocado da doença, 
Outorgante do comité do Sr. ministro e o utente, 
Preciso de algo para me deixar ir, a droga, a crença,

A paranóia é a vidraça quebrada de quem não sabe olhar, 
Quando não basta bastar, quando falta poesia no tocar, 
Fica a máquina parecendo humana, a ausência de poesia, 
Não confere porto de abrigo, lugar de passagem, magia, 

É a carência por algo impossível de algum dia alcançar, 
É a querença por um pouco mais, envolvido na pulsação, 
Pois esta vontade é de facto o querer ir mais longe, o ir buscar

O espaço perdido entre o caminho, a parte que me deixa sozinho, 
A fagulha esquecida pelo Homem que sustentava o seu coração, 
Por isso a procuro, sustenho e a partilho com quem é aqui vizinho.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Quando Amar É Proibido Pt. II

Sente-se nos ossos quando amar é proibido,
É um frio miudinho num invólucro de geada,
Que relembra da lancinante dor, rua sem sentido, 
Sendo o resto uma voz suave às estrelas suspirada, 

Quantas vezes ladeada pela Lua, respirando o instante, 
Com memórias murmuradas por momentos já passados,
A sua sombra torna-se cicatriz e o sentir, enfim, reluctante
Não obstante do sentimento, a crença, o Sol sempre acossado,

"Lembra-me um sonho lindo", por este rio acima, à enseada, 
Diz o vento à tempestade, a ausência do perfume da sua mão, 
Esperançava pelo seu regressar de volta a mim, minha amada,

Esta esperança mais forte que o tempo, mais forte que a morte,
De que há coisas incontornáveis, do plano divino do coração 
Que tudo sabe e conhece menos qual é o Sul e qual é o Norte.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Quando Amar É Proibido

Chora gentilmente onde os outonos caídos repousam, 
Um dia voltarás a voar, um dia só daqui serás o Inteiro,
Mesmo que seja póstumo, por onde poucos ainda ousam,
Mesmo como suspiros e confissões sobre o nobre forasteiro,

Pois este instante é uma eternidade, proibido ao lesto coração, 
É maior do que a maior caminhada, é um beijo, é um dar a mão, 
Não me esperem mais, a estrela do norte beijou-me e foi partida,
Sem chegada, uma noite para saber o que resumir toda uma vida, 

Num simples toque e um rebobinar dos dedos de lá de cima, 
Um sonho na terra se erguerá, acolhedor e maior que o mundo!
Somos dízimas de esboços de anjos vendo a cor do céu belíssima, 

O resto é fragmento quebrado na estrada, um querer tudo e nada!
Pois procuramos a mais altiva montanha ou o poço mais profundo,
Assim é o Caminho, assim é a Vontade e os píncaros desta velha estrada.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O Homem Que Tinha Medo de Amar

Doces sonhos de melhores tempos, esticada mão
A ondas de âmbar, vestidos de veludo e paredes
Que ainda não conseguem encurralar o coração,
Ele fulgura no escuro, pouco sacia as suas redes

De auroras boreais, de quimeras que tais, embora
Suspire, tal maré, o forro de prata enfim quebrado, 
As mil vontades, um a uma, os tempos de outrora
Relembram momentos de inocência, deslumbrado,

Os traços do seu rosto ainda delineado a lápis estelar,
Oh por favor abraça-me, esqueci-me de como chegar, 
Depois de tudo, ainda me faltavam moedas no bolso, 

Era uma a um, apenas pretendendo o seu reembolso, 
Por isso parto sem ir, sem chegar, homem no convés!!
Pois com medo de Amar, criança no porão ao revés!
 

domingo, 5 de julho de 2020

Amén

Atirando pedras através do lago, eu estava aqui,
De fotografia na mão, o sorriso da mera ilusão,
Algures entre a treva e a luz, algures por aí...
Vistas e sons e eu aguardando pelo coração... 

À beira-mar, seduzido e absorvendo a maresia,
Inocência na mira do caçador e frágil a maré
Trazendo entre as ondas pedaços de poesia 
E um buquê de flores como oferenda a Oxumaré,

Através do vidro, um espelho por fogo baptizado, 
Céu limpo e poeira de ouro no globo ocular, à deriva,
Entre e por pontos de luz difundida finalmente elevado

Para cair dentre nuvens cinzentas, o fado dos itinerantes,
Salvaguardo o respeito e a paixão por qualquer coisa viva, 
Natália, sim ainda acredito nas coisas inteiramente deslumbrantes.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guardado na Palma da Mão Pt. II

De pés descalços sobre as estrelas eternamente cintilantes,
Brilhamos com elas, sem palavras numa bela dança infinita, 
De sentidos apurados, o beijo das nuvens ternas e mirabolantes, 
Esbelta é a transição de homem para o eterno, o fogo enfim crepita!!!

No peito dos Titãs, dos Atlantes, os deuses do Olimpo e submundo!
E darei como oferenda o píncaro dos céus e o fosso mais profundo, 
A palavra do pensamento, a paz da acalmia vira tormenta e dor, 
Um sonho dentro de um sonho, as pegadas o pincel no trilho e a sua cor, 

Escutai-me bem, isto não é paixão, é Amor, é a ausência do humano,
Pois aqui grito com a voz de um louco, grito e vamos mano a mano, 
É o mundo aos pés dos filhos do sol, que não vos falte então o chão,

Esta é a era para a caminhada em frente, para o tão ansiado, 
Façam a mala, abram as persianas que sombreiam o coração
E que não vos encontrem vazios depois de ter tudo dado.

Guardado na Palma da Mão

Quando for com estas malas feitas pela estrada,
Para lá da montanha, verei o sol enfim cintilante,
Dando admiração aos semi-deuses, à asa dourada, 
Pois estas caixinhas desaparecem no caminho errante, 

Adornado a plumas e por elas ornado, os esbeltos contos
Contados um dia serão cor para gerações ainda por vir, 
A sorrir, e nós, imortalizados no firmamento em mil pontos
Fulgurantes, hei-de chegar a nebulosas ainda por descobrir,

E colorir a ritmos cardíacos, lá no alto do céu, a pincelar,
O que os sonhadores imaginaram será o nosso novo lar,
Venham as armas, os mosquetes, espadas e a corrente, 

Através delas hei-de lutar sendo o poeta da linha da frente
Da Guerra das Rosas, eu sou Luz, eu sou o bocado do fotão, 
Eu sou a nada e o tudo guardado na palma desta minha mão.

terça-feira, 30 de junho de 2020

O Intuito Do Viandante

Para baixo da cama varrendo outro cobertor,
Sou eu o menino, a criança, o eterno amador, 
E cai neve, e cai granizo e vem a enxurrada, 
E eu de boca aberta esperando a madrugada, 

E os outros sempre a me puxar para o outro lado, 
E quem vem sou eu, vêem-me bem lá recostado
Ao molde que ofusca deuses e molda divindades,
Aqui, onde tudo é certeza sem improbabilidades,

É o brilho que cega o viandante, aqui visitante, 
Por um pouco de tempo traz-lhe a paz à alma,
Cai cadente a alba, e somos mais que o restante,

Somos o fragmento de um momento de calma,
Onde o universo rodopiava sobre si num instante
Breve como a própria vida e cativo nesta palma.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

O Cosmonauta do Vestido do Horizonte

Vagueando entre as costuras de um vestido,
A brisa é um feitiço para quebrar o momento,
Ouvido o vento crepitar no céu por mim sustido,
Na algibeira albergando supernovas, e eu sedento

De colinas, montanhas, céu, horizonte e firmamento,
Sobre eles entrelacei a estória do homem feito divino,
Deferido e definido, deixem-me estar, quase estou isento
Do humano pois só me falta largar a pele e seguir o destino,

Contemplem o instante do interior, as verdadeiras batalhas,
Que não imploram nem atalham mais! Criando e sonhando,
Eu brilho, eu fulgo, eu cintilo para além de muros e muralhas,

É universal e meramente casual, esta passagem dos segundos,
Que a passe a pé-descalço, sendo, tentando, dando e partilhando,
São estes os berços advindos dos funerais, os mil e um novos mundos.

domingo, 14 de junho de 2020

Enfim, Um Dia, Navegaremos de Novo

Estas lápides relembram quem lá está enterrado,
Enforcado, o alvoroço deixado num eco passado, 
Somos um instante, um momento, sacro sacramento, 
Que passa num instante, momento, que vai com o vento,

Um brinde a quem um dia preencheu e ocupou este lugar,
Tal bala pelo crânio e é instantâneo, é uma eterna satisfação, 
De pequenas asas nos pés sinto os querubins a vir-me buscar, 
Os portões do céu abertos, fechando os olhos, parando o coração,

De boca aberta as porções a cair tal pó de fada, iremos para casa, 
Hoje, veremos pelos olhos do Céu, tu e eu, de almas entrelaçadas, 
Por camadas de nuvens, nebulosas, supernovas e de pés em brasa, 

Num buquê quebrado, o quê? Poções e afrodisíacos e falta-me alguém, 
E para nenhuma surpresa, não haverá surpresa, as suas mãos perfumadas
Não dadas a estas, varrendo pois o tempo e a maré não esperam por ninguém.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Desaforos

Suspiro pela estrada fora, rostos por pó desfeitos,
Confabulo sonhos em vozes de outros poetas,
Engolindo supernovas não me dando por satisfeito,
O meu testamento são estas estrofes, estas letras,

Faltam-me palavras para a beleza astral do olhar
Do sonhador proficiente por suspiros da distância
Ao sonho. Caem árvores na floresta, diz o sonhar,
Apelando ao excesso, recesso, o sol e sua instância,

Enquanto cupidos mergulham por nuvens ascendentes,
Contentes, batem, matam e cospem em quem é amador,
Que são os que não arredam o pé, os eternamente crentes,

Então rindo-se com lágrimas no olhar, com champanhe barato,
Alguns suplicando que cubram seus corações a cimento, a dor
É grande sim, mas é ela também dos grandes poetas o retrato.

De Discípulos, Seguidores e Apóstolos Não Preciso

Outrora fomos um dia filhos de marinheiros estelares,
Fulgimos e esvaecemos tal brasas no céu colocadas,
Então vadiando e caindo aladas entre terras e mares,
(E eu a tentar apanhá-las e elas entre os dedos escapadas), 

Todos os grandes lutadores têm cicatrizes de batalha,
Lembranças do passado, e eu, entre mim emboscado, 
E amado, enfim, o perfume no pescoço que vai e retalha
As colinas, as florestas, sobre as montanhas e o bocado

Aonde caminhei celebrando o trovão, a chaga, o canhão, 
As minhas mil maneiras seguidas porém sem seguidores,
Pastoro demi-deuses, aqueles que vão de alma e coração

E não se importam com o sim ou com o não; Suas dores,
Ao longo da jornada tornam-se em cores, e a sua mão
Procura pelo transeunte pois são de Deus os embaixadores.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Entre Os Ponteiros do Relógio

Eram assim vestidos brancos e danças lentas, 
Através do silêncio da noite e por ela embrulhada, 
Sossego, o ponteiro de um relógio e o que aparenta
Ser um instante infinito, parado e bem atento à estrada,

Opulento é o momento e escrevinhado à mão por um poeta, 
Daqueles enlouquecidos pelo Mundo e com vozes na cabeça, 
Inspira e expira, expira e inspira, da estirpe dos Deuses estafeta, 
Não obstante, o lobo e o rebanho que faz com que o Sol resplandeça,

Em alvoroço silencioso, a tela para as cores do Sol, o anzol, o isco,
Mas também o pescador e a cana (tal como toda a margem e o rio),
E esvoaça o espírito, chove luz, reluz a enxurrada, os dois em chuvisco, 

E nós nus, sem nada mas com tudo no peito, na mão partilhada, é incerto,
O destino, o fado dos homens, mas há magia, há poesia, há beleza e brio,
E ente as linhas de um poema, Amor Verdadeiro, daqui já vejo o mar-aberto!

 

terça-feira, 2 de junho de 2020

Somos Todos Fragmentos de Uma Supernova Que Não Tem Nome

Deixo-me na envoltura de uma densa nebulosa,
Encostado a uma constelação há muito esquecida, 
O mundo a meus pés, a noite altiva e tão formosa, 
Com as rotações da Terra parece que foi perdida, 

Sorriso no peito e este coração, varão de escadas
Para as estrelas cadentes por poetas imaginadas,
Por pintores pinceladas, por escultores esculpidas, 
O sonho de quem ousou e por este olhar recolhidas,

Cinco oceanos, sete mares e sua maré, vento norte
Que me empurra para a Primavera do firmamento, 
Tormenta após tormenta, dependente da boa sorte

Tal como bom marinheiro, este poderá ser o momento
Em que vejo o vero beijo e escapo à bruma da morte, 
Hoje é o dia em que da hiper-supernova sou fragmento.

sábado, 30 de maio de 2020

Furtando Estrelas

As cores do horizonte sou eu, eu sou pertença,
Dessas luzes fulgurantes, correntes, o beijo dourado,
Que vão e perduram no firmamento como sentença,
São eles que me fazem sentir vivo, sentido amado,

Pois sem Luz apenas escuridão restaria, a delicada
Luzência, também minha essência como é a negritude
Sou mescla de ambas, estando ou não na estrada errada,
Só assim sou relembrado que da falésia eu sou a altitude, 

Por olhos negros esbranquiçados duma boneca de porcelana, 
Frágil e franzina,  conta-me os segredos de ambos, esplêndido, 
Quando adormecer, ouvirei a sua cantiga, dulcificada e leviana, 

As cores do horizonte sou eu e de volta com estrelas na algibeira, 
Procurando e passando o firmamento tal estrela cadente difundido
Pelo cerúleo, hoje é o dia de trazer as cores distantes para nossa beira.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O Verdadeiro Sentimento

Nus, de vestidos brancos e de pés descalços,
Correndo a colina acima, em busca do divino, 
Encontrei o Amor, activo e passivo, os destroços
Do ontem, são a valsa do pé-coxinho, o destino, 

Não é preciso uma música, nós somos o dançar,
Sua cabeça encostada neste ombro, sou afortunado
Por ter quem me quer e eu quero, durmo, a sonhar, 
Para lá da sombra do silêncio, acordo, ainda inebriado

Pela quimera que me acossou, pelo beijo entretanto dado, 
Persegue-me o dia, quando apenas sonho à noite, e eu – quebrado
Deitando fogo à chuva, salva-me com um beijo, com a eternidade, 

Fecho e reabro os olhos, esta é uma dança lenta enquanto a sala arde,
Labaredas mais altas que os demónios de Hades, parado num momento, 
Em que eu e ela sabíamos o que era Amor Universal, o verdadeiro sentimento.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Massagem de Mãos Sobre Os Ombros

Apontando para o horizonte, para a porta de saída, 
Eu ainda acredito no Amor, só não acredito  no amor, 
É o escape incerto a uma fotografia do sol retraída
Que parafraseia o sal da maré, o toque do trovador 

Faz com que vivam sobre o arco-íris, sobre as nuvens,
A aprendizagem do permitir ir, há mais que o branco
E negro, há cores que nunca vi, o muro dos homens
Esvaece os anos, invade a idade, é forte tal potranco, 

De peito quebrado, de coração subtraído, doce ironia, 
O amador sem objecto para amar, o silêncio eterno,
Entre a fauna e a flor, olhos de oceano, a infinita afonia,

Não permite o permitir, "Olá!", é o que apetece dizer,
Quando o meu reflexo passa, passa todo o Inverno, 
Mãos sobre os ombros, para as abraçar, para as querer... para as querer...

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Anseio Pelo Momento

Por vezes sim há palavras que não conseguimos sequer pronunciar,
Há que festejar e empurrar o pão com vinho, sentir o bem-querer,
Ou aquele ímpar e eterno Amor que não sabemos partilhar,
Sou apenas um homem, deixem-me estar, deixem-me correr…

Pois por vezes há paladares que se escapam dentre a cavidade oral,
Aqueles olhares que se perdem enquanto vêem o tido como beleza,
Este engolir em seco, expurgando o suor da testa, o palpitar amoral
Lembra que o instante passa, independentemente da gentileza,

Tal e qual como por vezes há livros que não sabemos colorizar,
Também há instantes que não conseguimos capturar, é natural,
Ou momentos que não sabemos mesmo bem, bem aproveitar,

Quando há tanto para permitir acontecer, permitir ser nesta Vida,
Mesmo quando nos esquecemos de nós neste nosso quadro pictoral,
Anseio e desejo o estar perdido no momento, na chegada, na partida...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Eternos

É uma teia de aranha estas correntes, 
Cedidas por aranhas para criar casas,
Pacientemente, vendo, estrelas cadentes,
Ornando a cúpula, estreitando esta asa, 

Conferido sonho alado, tempo sem espaço,
Soletrando as sílabas de Deus, a crença, 
A sentença é acaso até este andar descalço
Coincidência ou lapso? Não, esta é presença, 

É Ser Inteiro, celeste longe da sombra e escuridão, 
Por isso rio e choro tal Cavalo de asas pregadas
E rio e choro, e rio e choro e me segue a claridão,

A primeira em muito tempo, minha única pertença
É o tempo despendido entre partidas e as chegadas,
É viagem que faz do transeunte tanto a cura como a doença, 



segunda-feira, 18 de maio de 2020

Mesmo Quando Tolhido Pela Maré

O tráfego transversa lá fora o pavimento,
Não posso albergar o Sol só numa algibeira, 
É esta acumulação de instantes e de momentos, 
Um dia chegarei à foz, seguindo para lá da fronteira,

Nada mais tenho para lembrar nem nada para esquecer, 
Espera-me à esquina dos perdidos, a dos desencontradas,
Estoirando-me no peito um grito à desgarrada, quase a viver, 
Pressagia-me e que o colibri cante com as plumas eriçadas, 

Trago no rosto as aventesmas e as crianças deste caminho, 
É a fuga e a lentidão, súbita e clara, nos olhos - a solidão, 
Aberta e enterrada num berço, o ímpeto do percaminho, 

Este é aquele instante que define aquele instante anterior, 
Sim, somos tolhidos pelas marés mas é o pletórico coração
Que não arreda, que não cede que não desiste – ele é o Ser Inteiro, ele é o Excelsior. 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

... E Assim nos Elevamos

…Tropecei nas escadas, a universal estenografia,
Reviso as estrelas a recaírem da escuridão,
São terra e crepúsculo retido em garrafa,
Incidindo em asteriscos de eviterna servidão, 

Criamos escadas para o céu de exíguas colinas,
Onde o trilho for, por onde o rio fluir a cada vez,
O objectivo:as encruzilhadas, altas ou picolinas,
E eu respiro seus Deuses por um, a dois, a três,

Através de vales e montes, este é o Cosmos privado, 
Pássaros chilreiam, animais pastam e eu sou preenchido, 
Há quatro estações apenas num dia, deveras obrigado! 
                                                                                 
Somos tantos, vários e diversos pontos descontrolados, 
Sempre entre margens, pela ponte e o horizonte colhido, 
Pour le monde, enfim ascendemos e somos deificados!!! 

Por Vezes Esta Miragem Quase Sabe a Vida

A paixão por um beijo adagiado estancado no peito, 
Enamorado por um gesto quase consumado em vida, 
A vida vira meia morte por alívio, remédio, por respeito, 
Entre estes dedos as mãos de Rhea nos últimos restos de vida, 

Uma cama de rosas impaladas, enfim em frente o jardim do Eterno, 
É um toque de alaúde e caiem todas pérolas dos seus pés, 
Rasguei as asas para andar com os humanos, oh tao ingénuo, 
É mera luz e restos de sonhos dentro de vagões indo invés 

Do caminha da graça, este vestido resguardo, estas paradas atrasadas, 
Aí meu amor, a nossa dor, a nossa vida, mas que epopeias deificas, 
Esta é a a minha serenada a quem atravessou, aquelas outrora amadas, 

Por isso sereno a madrugada, por isso as indentações do coração são sorrisos, 
Conto os segundos para a manhã, fujamos para algures bonito, por lendas seráficas! 
Depois descansaremos num majestoso lugar… já ouço os passarinhos cantar, já ouço os passarihos a cantar….

sexta-feira, 3 de abril de 2020

... E Que Assim Seja

Permite o teu valor se erguer! Ousando a bravura irada!
Aquelas mãos acossando para longe da esposa e filhos,
Por ti, eu, o desafio, os raios do inferno, a emboscada,
Enquanto meus inimigos a penumbra, tu fulgor, eu brilho!

Tão forte quanto puder, tão forte enquanto puder, o divino!
Melhor que este genocídio, maior que esta contrariedade,
Sou a raiz da terra, sou a vida ao tentar o aqui do destino,
O orgulho de uma pequena ilha, transversal à integridade,

Ó Deus, não tremerei enquanto vir os lobos enfim fugindo,
Eu triunfo pelo tempo, maior que Deus, através do espaço,
A comida que o cão come com prazer e renome e eu brindo

À morte! É a morte (posso morrer)! E à vida! É a vida (sou-lhe tudo),
É a morte! É à morte! É a vida! É à vida! E nós o homem peludo,
Que convoca o sol e o faz brilhar, passo acima, para cima o passo

(Um passo para cima, outro passo adiante …eu faço o Sol brilhar!).

sexta-feira, 20 de março de 2020

É Preciso Abanar as Fundações de Tudo o Que É Confortável - Queimem Todos Os Templos Sem Deuses Dentro!

Pérolas e laços, máscaras e confetes, prazos de expiração,
Submergido no topo da montanha, a derradeira façanha,
Um beijo de adeus e vem o genocídio de uma geração,
A fundação para o fundo da algibeira, a divina artimanha

É tentar indo esvoaçar com asas por chumbo revestidas,
Auréolas rotas, os homens de fato oferecem salvação,
Passem o cesto de pensamentos e orações perdidas,
Eles são o vosso pai porém eu sou o vosso irmão,

E Deus apareceu-me no espelho pois os anjos caíram do paraíso,
A casa de deus promete a vida eterna, para além além do horizonte,
Por favor larguem essa pele, erguer-vos do vosso cadáver é preciso,

E Deus falou com a minha voz dizendo: "Escutem o vosso sorriso,
Pois só assim se criam escadas para o céu, essa é a verdadeira ponte
Deste momento para o próximo", e o resto meus irmãos... O resto é impreciso.

terça-feira, 17 de março de 2020

Cinza e Pó Onde Se Erguia Uma Igreja

Um breve adeus na bochecha, pétalas e arroz a seus pés,
Estas mãos pintadas a vermelho, de querosene o cheiro,
O vestido de noiva em segunda mão, os outros rodapés,
Onde sonhos penhorados eram reis enforcados num bueiro,

Neste olhar que nada muda, despeito para os corações quebrados, 
Lembrando o tentar pensamentos felizes a caminho da igreja
Pois eram tardios amanheceres e entardeceres antecipados,
E esses lábios de outrora, quem será que os levemente beija?

Estas cicatrizes relembram-nos de que é bem real o passado,
E o muro que entre nós existe, é cerco e rendição para o ser,
Onde sua cara ainda fazia parte dos vivos, esse terno bocado

Era júbilo apoteótico, luzes sem sombras, era o único vero lugar,
Sim, tenho palavras para o não, sim eras e és todo o meu querer,
Cheira o queimado, quando o Inferno vier, deixem-nos o fogo banhar

quinta-feira, 5 de março de 2020

Indo Por Onde Se Vai Sendo

É a ausência de oração, a absoluta submissão, a falta de ar,
Dança, dança por dois e meio segurei séculos neste olhar,
Que por vezes se abstrai da beleza que é o próprio coração
E que por vezes até é aquele órfão sem lar, as asas sem avião,

É o sentimento o tormentório, a cela do asilo como enigma,
Verticalizado nesta mão que é procura, os lábios já beijados,
Outrora num bocadinho de lua a mostrar-se-me no estigma,
Que é a cabeçada na auréola, os dias raramente albergados,

Tentando ir esperando um dia chegar, tão sozinho no respirar,
Completando-me com passos conferidos no chão ladrilhado,
A destreza da queda de uma pena é o vento suave, o suspirar,

Foi por aqueles passageiros que trouxe no peito ao convés,
Com as velas abertas, o horizonte nestas plumas esvoaçado,
A marcha solitária, serei o barco, serei o céu, serei as marés.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Ouçam-me seus Filhos da Puta

Não sou o Kurt Cobain nem Robin Williams nenhum ,
Mas sou um rockeiro filho da mãe, sou a agulha partida
Que traz o demónio em si, a puta familiar, sou algum
Pino sem sinalização, a cabra da generalização, a batida!

E esta segregação de mim para mim fode-me a globalização,
Eu sei que estás perdido apesar de perfeitamente encontrado,
Mentira, já me perdi mais a mim do que a ti sem me ter procurado,
É só esta a vontade, a vontade de ir sem trela, ir sem ser achado,

Tu que ardes sem arder, tu que preferes a não vida ao morrer,
E sonhas sem tentar alcançar, que esqueceste o ir e o buscar,
A correção outrora partida, a quase revisão, a factura do querer,

Iremos ser vidas passadas, voando para casa com cada "a tal",
O do-li-ta, o actuar sem palco, o pior dos actores a representar
E eu voarei para casa portanto vejo-vos um dia no meu funeral!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Há Coisas Que Eu Fui Que Tu Nunca Deverias Saber

Esta montanha que subo sou eu, eu sou a montanha,
A última e seguinte batalha para a vencer, para viver,
Vislumbrai a guerra do ontem, que é quem me acompanha,
Sou eu, a cicatriz entreaberta, a beleza na morte sempre a morrer

Enquanto procuro uma flâmula interior, eu brilho, eu vou e viando,
Eu sou a e na jornada pelos pés largada, esta verdade, esta ilusão,
Eu sou a última verdade que para mim importa, selvagem e brando,
Que quase passa sem se ver, que é esta falsidade, que é este coração,

Imaginai a vida como uma silhueta e então na noite caminhantes,
Ireis para longe do lugar que ocupais aqui, além do bem e do mal,
Notando que para sempre deste trilho seremos os últimos viandantes,

Somente ninguém se aventura para lá da luz, minha linhagem findará,
Este sangue largado na lágrima largada no suor, eternamente marginal,
EU sou a tempestade, EU sou a ovelha, eu sou em ti, por aqui e por acolá.

(A reticência para lá do ponto final...;)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Chromované

Para sempre haverá impressões digitais no cadáver do passado,
Foste ruínas, morte e decomposição, foste ausência de perdão
E entretanto do perene ruído fez-se silêncio, fez-se o bocado,
Quando a estrela do norte nem apontava para o resto do coração,

Por um eco reverberado em corredores à ausência deixados,
É uma vida sem viver, é tempo de ir e acordar - hoje, 
Pois há corações ao vento, por si bem quase amados,
Foi quando o velho se fez ao trilho de quem de si foge,

Pois para os mortos somente um sonho é esta vida,
E se todas as donzelas vão para o céu só o céu sabe,
Então se espero, se vou, se em mim sou também escapulida.

Que brevemente haja espaço para as palavras inauditas,
O tesouro a encontrar, eu sou o portão que enfim se reabre,
Eu sou toda a implosão de supernovas neste sonhar escritas.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O Corrimão Para O Céu - Mentira?

E um dia teremos parte de um fragmento, Atenas, momento,
Esta é a escrita cadente e é o anseio pelo longínquo tesouro, 
Da vida, quando o pouco que foi, todo este acontecimento,
A enxurrada entregará para o horizonte pelo escoadouro,

Onde cascos são cópias carbonizadas de homens partidos,
Drenem o lago, procurem o cadáver do derradeiro fado,
Os vestidos brancos e as danças lentas, os poentes retidos,
Respirando este ar rarefeito, se calhar passei-me ao lado,

Hoje a envoltura de uma silhueta entre um terno abraço,
Era uma a promessa de um eterno, um eterno dar a mão,
Quando nem para um certo tempo havia sequer espaço,

Abram-me as veias e acordai os anjos, hoje serão alcançados,
Ainda há impressões digitais nas nuvens, neste corrimão,
Que haja luz para fazer das sombras amigas em belos bocados.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Por Aqui Sou Caminho

Por aqui, por onde caminhamos, a tempestade ainda tem lugar,
É a parada negra, largando a mala para poder andar à boleia,
Adormecido, os comprimidos engolidos eram algo para matar
Não a vida mas a ausência dela, indeferido, nesta mão-cheia,

Ou matamos a morte ou a morte matar-nos-à minha gente,
Por isso vou quebrando as correntes deste frágil coração,
Que o seu colchão seja confortável nesse trabalho diligente,
Este amor não é preto nem branco, é o passar de cada estação,

Sim, é quando pensamos que as boas meninas vão para o paraíso,
Que vemos que esta é uma instância do limbo,a aréola soqueada, 
Somente o paraíso sabe, só ele sabe qual o lucro ou o prejuízo,

Esperando na penumbra, eu deixo-o solto, eu deixo-o apertado,
É a parte que é resto, fragmento da noite esperando a alvorada
Pois somente ela é caminho e Luz, só ela o pedaço do amado.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

É Preciso Ir e Correr Atrás do Luar!

Este pedaço de mim é ruído e silêncio - o seu namoro,
O caminho vincado na pele nua, a cicatriz e os diademas,
O assobio despreocupado, o gesto com ou sem decoro,
Pois das potenciais prisões sou eu o portador de suas algemas,

Que são esta ânsia, esta vertigem irregular por si procurada,
A altura da falésia para o vazio, para o nó da garganta, 
É um breve suspiro para o solavanco da berma da estrada,
Esperando as luzes de presença, o abraço de uma manta,

Caminhando ao meu lado, esta sombra tornada semblante,
Há poesia nesta passagem, a moção neste terno paginar,
É a ode a Deus, a ode a vera beleza, a ode ao instante,

E neles o único sítio onde pretendo de facto estar,
Pois ele é insciente a qualquer ouro ou diamante,
Este é o único espaço e tempo que pretendo ocupar.