segunda-feira, 16 de junho de 2014

Um: Aquele Que Foi Crescendo

Aquele que foi crescendo e de si se esqueceu,
Que aprendeu a pensar, a sentir, a discursar,
Deixou de ser Homem, parte de si perdeu
E é esse o espaço que é preciso recuperar,

Esse espelho coberto de pó dorme uma sesta,
É sorriso e é lágrima da criança lá atrás deixada,
Há que lembrar a alvorada e colhê-la numa cesta
E quando a noite vier vê-la no homem reclamada!

Sou a Vida, sou a Morte, sou dois ao mesmo tempo,
Ambos em moldura fluindo e a criança que a pinta
É o velho que a foi e hoje a traz em pensamento,

Como porção, sou o Universo e sou o seu resto,
Sou inteiro e ao seu complemento tenho a tinta
E o poder para me escrever ou  abster num gesto.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Entre Margens Pt. III: A Brevidade

Somos todos folhas caídas ao sabor do vento
Nesta colisão contra uma colina de lençóis,
Sim sei, vivo na brevidade do momento
Tempo esse aqui entre o antes e o depois,

Passageiros entre este espaço e o outro,
Em suspiros entre corredores de mármore
Lápides e pedaços largados noutro
Eco esquecido à sombra desta árvore,

Jamais pretendi parar ou sequer voltar atrás,
Sou a gota do rio que flui na pluma de Pégaso
Imbuída em meio canto entre horas boas e más

Nesta meia jornada esculpida ao quase acaso
Vamos dando tudo tendo o aqui como morada
Que de tanto darmos parece que não temos nada.