sábado, 30 de maio de 2020

Furtando Estrelas

As cores do horizonte sou eu, eu sou pertença,
Dessas luzes fulgurantes, correntes, o beijo dourado,
Que vão e perduram no firmamento como sentença,
São eles que me fazem sentir vivo, sentido amado,

Pois sem Luz apenas escuridão restaria, a delicada
Luzência, também minha essência como é a negritude
Sou mescla de ambas, estando ou não na estrada errada,
Só assim sou relembrado que da falésia eu sou a altitude, 

Por olhos negros esbranquiçados duma boneca de porcelana, 
Frágil e franzina,  conta-me os segredos de ambos, esplêndido, 
Quando adormecer, ouvirei a sua cantiga, dulcificada e leviana, 

As cores do horizonte sou eu e de volta com estrelas na algibeira, 
Procurando e passando o firmamento tal estrela cadente difundido
Pelo cerúleo, hoje é o dia de trazer as cores distantes para nossa beira.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O Verdadeiro Sentimento

Nus, de vestidos brancos e de pés descalços,
Correndo a colina acima, em busca do divino, 
Encontrei o Amor, activo e passivo, os destroços
Do ontem, são a valsa do pé-coxinho, o destino, 

Não é preciso uma música, nós somos o dançar,
Sua cabeça encostada neste ombro, sou afortunado
Por ter quem me quer e eu quero, durmo, a sonhar, 
Para lá da sombra do silêncio, acordo, ainda inebriado

Pela quimera que me acossou, pelo beijo entretanto dado, 
Persegue-me o dia, quando apenas sonho à noite, e eu – quebrado
Deitando fogo à chuva, salva-me com um beijo, com a eternidade, 

Fecho e reabro os olhos, esta é uma dança lenta enquanto a sala arde,
Labaredas mais altas que os demónios de Hades, parado num momento, 
Em que eu e ela sabíamos o que era Amor Universal, o verdadeiro sentimento.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Massagem de Mãos Sobre Os Ombros

Apontando para o horizonte, para a porta de saída, 
Eu ainda acredito no Amor, só não acredito  no amor, 
É o escape incerto a uma fotografia do sol retraída
Que parafraseia o sal da maré, o toque do trovador 

Faz com que vivam sobre o arco-íris, sobre as nuvens,
A aprendizagem do permitir ir, há mais que o branco
E negro, há cores que nunca vi, o muro dos homens
Esvaece os anos, invade a idade, é forte tal potranco, 

De peito quebrado, de coração subtraído, doce ironia, 
O amador sem objecto para amar, o silêncio eterno,
Entre a fauna e a flor, olhos de oceano, a infinita afonia,

Não permite o permitir, "Olá!", é o que apetece dizer,
Quando o meu reflexo passa, passa todo o Inverno, 
Mãos sobre os ombros, para as abraçar, para as querer... para as querer...

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O Anseio Pelo Momento

Por vezes sim há palavras que não conseguimos sequer pronunciar,
Há que festejar e empurrar o pão com vinho, sentir o bem-querer,
Ou aquele ímpar e eterno Amor que não sabemos partilhar,
Sou apenas um homem, deixem-me estar, deixem-me correr…

Pois por vezes há paladares que se escapam dentre a cavidade oral,
Aqueles olhares que se perdem enquanto vêem o tido como beleza,
Este engolir em seco, expurgando o suor da testa, o palpitar amoral
Lembra que o instante passa, independentemente da gentileza,

Tal e qual como por vezes há livros que não sabemos colorizar,
Também há instantes que não conseguimos capturar, é natural,
Ou momentos que não sabemos mesmo bem, bem aproveitar,

Quando há tanto para permitir acontecer, permitir ser nesta Vida,
Mesmo quando nos esquecemos de nós neste nosso quadro pictoral,
Anseio e desejo o estar perdido no momento, na chegada, na partida...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Eternos

É uma teia de aranha estas correntes, 
Cedidas por aranhas para criar casas,
Pacientemente, vendo, estrelas cadentes,
Ornando a cúpula, estreitando esta asa, 

Conferido sonho alado, tempo sem espaço,
Soletrando as sílabas de Deus, a crença, 
A sentença é acaso até este andar descalço
Coincidência ou lapso? Não, esta é presença, 

É Ser Inteiro, celeste longe da sombra e escuridão, 
Por isso rio e choro tal Cavalo de asas pregadas
E rio e choro, e rio e choro e me segue a claridão,

A primeira em muito tempo, minha única pertença
É o tempo despendido entre partidas e as chegadas,
É viagem que faz do transeunte tanto a cura como a doença, 



segunda-feira, 18 de maio de 2020

Mesmo Quando Tolhido Pela Maré

O tráfego transversa lá fora o pavimento,
Não posso albergar o Sol só numa algibeira, 
É esta acumulação de instantes e de momentos, 
Um dia chegarei à foz, seguindo para lá da fronteira,

Nada mais tenho para lembrar nem nada para esquecer, 
Espera-me à esquina dos perdidos, a dos desencontradas,
Estoirando-me no peito um grito à desgarrada, quase a viver, 
Pressagia-me e que o colibri cante com as plumas eriçadas, 

Trago no rosto as aventesmas e as crianças deste caminho, 
É a fuga e a lentidão, súbita e clara, nos olhos - a solidão, 
Aberta e enterrada num berço, o ímpeto do percaminho, 

Este é aquele instante que define aquele instante anterior, 
Sim, somos tolhidos pelas marés mas é o pletórico coração
Que não arreda, que não cede que não desiste – ele é o Ser Inteiro, ele é o Excelsior. 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

... E Assim nos Elevamos

…Tropecei nas escadas, a universal estenografia,
Reviso as estrelas a recaírem da escuridão,
São terra e crepúsculo retido em garrafa,
Incidindo em asteriscos de eviterna servidão, 

Criamos escadas para o céu de exíguas colinas,
Onde o trilho for, por onde o rio fluir a cada vez,
O objectivo:as encruzilhadas, altas ou picolinas,
E eu respiro seus Deuses por um, a dois, a três,

Através de vales e montes, este é o Cosmos privado, 
Pássaros chilreiam, animais pastam e eu sou preenchido, 
Há quatro estações apenas num dia, deveras obrigado! 
                                                                                 
Somos tantos, vários e diversos pontos descontrolados, 
Sempre entre margens, pela ponte e o horizonte colhido, 
Pour le monde, enfim ascendemos e somos deificados!!! 

Por Vezes Esta Miragem Quase Sabe a Vida

A paixão por um beijo adagiado estancado no peito, 
Enamorado por um gesto quase consumado em vida, 
A vida vira meia morte por alívio, remédio, por respeito, 
Entre estes dedos as mãos de Rhea nos últimos restos de vida, 

Uma cama de rosas impaladas, enfim em frente o jardim do Eterno, 
É um toque de alaúde e caiem todas pérolas dos seus pés, 
Rasguei as asas para andar com os humanos, oh tao ingénuo, 
É mera luz e restos de sonhos dentro de vagões indo invés 

Do caminha da graça, este vestido resguardo, estas paradas atrasadas, 
Aí meu amor, a nossa dor, a nossa vida, mas que epopeias deificas, 
Esta é a a minha serenada a quem atravessou, aquelas outrora amadas, 

Por isso sereno a madrugada, por isso as indentações do coração são sorrisos, 
Conto os segundos para a manhã, fujamos para algures bonito, por lendas seráficas! 
Depois descansaremos num majestoso lugar… já ouço os passarinhos cantar, já ouço os passarihos a cantar….