terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Amanhecer Pt. III: O Céu Como Abrigo

Outra vez vou algures de olhos fechados
Para onde? Onde houver magia soa bem,
Onde o Sol caia suave em beijos doirados
Num sítio onde não passe quase ninguém,

No fundo da algibeira ficarão os instantes
Vestidos e enaltecidos pelo que passou
E ao que aqui restou provindo do antes
Sou eu, o poeta que cada passo amou,

Com o Céu como abrigo viajando-o sozinho
Sempre indo de coração aberto na mão
E que quando perdido se revê no caminho

Ao escutar a melodia da sua própria canção
Que ao deixá-la ir se torna no seu passarinho
Com o passar do tempo, ao passar da estação.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Amanhecer Pt. II - Eu e Ela Pt. VI

Hoje ainda cá esperámos pelo amanhecer
Tal como suspirávamos - de olhos fechados
O trilho vai-nos lembrando do alvo escurecer
Para onde vão os abraços e beijos não dados,

Tal e qual ave a voar contra a mesma janela
Seu sorriso é o que a mim me tem procurado,
Só Lua e Céu por onde vou por mim, por ela
Agora silêncio… pois este ruído tem-me bastado,

Repouso enfim ao abrigo da pluma de mil poetas
Aqui onde morro e se me vão as cem vontades
Esvoejando por nosso amor em dez borboletas

(...Me pergunto:)

Se tanto gosto dela e ela gosta tanto de mim,
Neste peito esta vida é em meias metades,
Como ousa o vento separar-nos assim?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Eu e Ela Pt. V: Sem Recordação Cá Recordo

Fizeram-se então as estrelas tristes brilhantes
Envolvidos nesta brisa do beijo um dia almejado
Próximos se tornaram desejos outrora distantes
No sonho de quem dá a mão e se sente amado,

Por ela, sossegavam os ruídos da noite infinda
Em ânsia a suave marca d’água esboçada
Onde o olhar era reflexo da vista bem-vinda
E o ver era visto a dois onde o rio era estrada…

Hoje à noite luas azuis reluzem sob seus ecos,
Este quarto tão vazio, esta noite tão longa
Suas ruas azuis estreitadas para azuis becos

Onde o sono não alcança, o sonho não vem
Aquando sua ausência a não-vida se alonga
Eu - meia-vida e por sua ideia o ainda refém.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Amanhecer: Vai Restando

Ontem esperávamos pelo amanhecer
Respirando-o enquanto ele era enlevado,
Suave e docemente éramos a tal acontecer
De braços bem abertos e olhar bem fechado,

Através de quatro olhos a vista era a mesma
Saciando por instantes esta inesgotável sede,
Alcançando vida longe desta aventesma
Que assombra o que sonho aqui concede,

Somos a alba, pronuncio-a em minúsculas
Esta é a valsa do trovador ao pé-coxinho
Cujo passo é apelidado por esdrúxulas:

“Ama e sê o sonho que for no pergaminho
Ama-o muito e sê-o no trilho que osculas
Esperar-vos-ei na luz que restar do caminho."

domingo, 4 de agosto de 2013

A Ponte Pt. III: Segundos Vêm Vindo e Indo

A manhã vinha no fôlego do respiro,
Eu – o almejo do que o orvalho traz
Do alto do morro em apartado retiro
Ecoam as vozes que ficaram lá atrás,

Os suspiros em memória na nostalgia
De quem vem e vai porém não passa
Assim saudando o alvor com tal ousadia
Que seu néctar vai tragando desta taça,

Que Deus me permita viver hora a hora
Pois entretanto segundos vão passando 
Neste mar de olvido e ser pelo mundo fora,

Bebendo de ruas vazias a luz dos lampiões
Por cada lufada da brisa que se vai dando,
Sentido faz se for uma ode a dois corações.