sábado, 29 de setembro de 2012

Adeus: Costa Querida

Adeus... Adeus minha costa querida
Trazer-vos-ei em lembranças suspiradas,
Haveis-me pintado os sonhos de uma vida
Logo sereis em mim na parte das amadas,

Adeus... Adeus minha costa e seu farol,
Chorar-vos-ei ao passar das estacões,
Da margem tocada pelo nascer do sol
Até ao assentar do luar noutros serões,

Adeus... Adeus minha costa bela e tardia
Que acolhas barcas que vos elevem deveras
E vos toquem bem fundo como quis ou queria,

E a tal sentimento meu até podeis questionar,
Pois sabei que tenho sido navegado pelas eras,
Sabei que apenas parto pois nunca soube ficar.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Neste Leito: A Queda de Estrelas Cadentes

Os trilhos cruzados são as estrelas do tecto
Que têm caído neste leito onde sossego,
Com o indicador vou traçando seu trajecto,
A seu toque ora as aceito, ora as renego.

Adormecido, a brisa soletra-nos o nome
Através do semblante por fim discernido,
Deste caminho somos nós o seu epitome
Cruzando o trilho pelo poente embebido,

Lá que nos aventuremos neste entretanto
Onde as estrelas cadentes adornam o ser,
Que ao cair sejam elas nosso contracanto,

Podemos dar as mãos, apenas caminhar
Até não haver mais estrada para o fazer,
Então será simples, poderemos enfim voar…

domingo, 23 de setembro de 2012

Aqui Pt. VI: Nossas Lembranças Têm Sido Estas Asas

O poente do sol aconchega-se do cais
E estas asas repousam esfalfadas enfim
Pois seus voos têm sido em cenários tais
Que de tão longe se retornaram em mim

Num trilho de penas esvoaçando à janela,
Cobrindo lá fora uma vereda embaciada,
Será que teriam também passado por ela
Ela, aquela a quem esta poesia é enviada?

Mudas caem à aragem estas suaves penas
Traçando nossas almas num esboço perfeito
Do olhar coincidente a este em tantas cenas

Que só tenho sido no voo e esquecido o andar
Pois Amor, se não tenho vossa mão neste peito
O que restará realmente para eu aqui voltar?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Aqui Pt. V: Doce e Lentamente

Nestas águas cristalinas aqui me banho
Lavando o rosto e ansiando de joelhos
Pois ao reflectido relembro um estranho
Que outrora acenava de passados espelhos

Escoados ao silêncio, escutando a marejada,
Resposta ao demasiado e mais que aspirado
Ao poema que se perdeu nesta caminhada
No sonho que não cede e jamais será curvado,

Nestas águas eles fluem rumo à sua estiagem
Limpando faces por cristais ao seu vislumbre
E esse toque é da primavera ao resto da viagem

Erigindo-se a um pedestal por esta água corrente
Que ao comum transeunte é ainda o deslumbre,
Ao longe me virei à distância, doce e lentamente...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aqui Pt. IV: De Lágrimas e Sorrisos Convosco

A sede é nas lágrimas e o sorriso no riso
Desta margem serei a vossa espuma,
Nesta praia deserta o solo que ora piso
Não sustem o peso que inda vos perfuma,

Além oceanos e planícies apartados vejo
Rodopiando-se ao toque do zéfiro alado,
Sei não adiar a cinza deste agridoce almejo
Porém por meros instantes estou ao vosso lado,

A esse encontro não posso de todo faltar
Pois vossa ausência minha escassez aqui é
E num suspiro serão as ondas meu novo lar

Que seja breve, tal como esta lida passagem
Agora entardeço no acolher da terna maré,
Abrigo para e em mim, serei enfim aragem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Aqui Pt. III: Na Margem Serei a Vossa Espuma

“Troco uma promessa amorosa por uma vida”
E deixámos para trás o farol em busca de luz,
Enfermo, refreio amor como fardo e asa querida,
Em poesia… através de praias desertas nesta cruz

Do viandante por onde o viajante já se transviou
De vossa espera, minha eterna e imortal amada,
Que provavelmente já foi ou ainda não chegou,
Anseio por vosso semblante, em mim sois ansiada

Um oceano aparte, que esta mão vos alcance
E em seu meio que nos descubramos numa ilha,
A tal reencontro que o sentir enfim se esperance.

Hemos completado o fragmento que a si se trilha,
Repousai dentro de mim e enfim num súbito relance
Eis que a espuma retoma o corpo que o céu perfilha.

19 de Setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aqui Pt. II: Memórias do Céu, Mar e Terra

No espaço onde o mar se prostra de joelhos
E a terra o saúda com seu afectuoso envolver,
Revejo-me aqui em incontáveis meios espelhos
Que traçam este semblante porém não este Ver,

Assim as ondas esmorecem ao beijar a margem,
Não reflectidas, amparam-se no ombro da areia
E abdicam de seu Amor, dissipam-se na paisagem
Vertendo-a em mim enquanto o oxigénio rareia.

Dormente, perco-me na terra no meio do verdume,
Aprendo a caminhar e eventualmente a vaguear
Por trilhos cruzados porém sinto do céu seu ciúme

Que relembra que já lhe pertenci, que já soube voar,
E lá partilhávamos o essencial num doce ardume
Que era todo o Sonho e Crença e para mim lar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Ema VIII: Um Dia Sim, Ela Virá

Seremos nós os sóis que têm passado
Ou então a sua luz que em nós ficou?
Mas se de sombras ainda estou cercado
O que será que o tempo deveras deixou?

Para lá deste anseio por verdadeira beleza,
Sob a forma desta exigência tão impaciente,
Que ecoa e é ecoada no pináculo da incerteza
E enfim vertida neste mudo semblante ausente,

É Amor, o verdadeiro, que os sentidos pasma,
A almejada ideia envolvida nesse terno abraço
Que embala e adormece o acossador fantasma

Da sua ausência, no ombro suave do que será
Fragmento de mim encostado em seu regaço,
Que durma bem, sonhe muito pois um dia ela virá

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quedado: Afastou-se-me o Estio

E lá fomos indo antes mesmo de termos ido,
Ao que foi e poderá ainda ser já não o sei
E se neste breve presente caminho fugido
Apenas a brisa vadia sabe o quanto suspirei

Por sua presença, perfeitamente esculpida,
No cimento da areia encoberta por lágrimas,
Para quem esse toque é maior do que a vida
E esse sorriso precioso para findar estas rimas,

Enfim, reparando na falta de sílabas e de ditongos
Eis que finalmente desliguei a luz, apagando a vela,
Afadigado por este trecho através de vales longos

Quedei-me, rascunhando na margem de nosso rio,
“Amor, hei penhorado meu amor” e nessa escapadela
Ao longe, do silêncio aproximou-se enfim o final do Estio.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Aquela Voz: O Vento Sabe o Meu Nome

A voz, procuro-vos tal e qual me procuro a mim,
Não vos encontro em nenhum canto do mundo,
Entre quatro paredes sinto-vos na mesma assim
Na pertença cerúlea de algo e neste sítio profundo

As esquinas têm-se reverenciado ao meu passar
Através do retoque brando às oiradas searas,
De lugares tenho partido sem realmente chegar
Porém ainda relembro de vosso brilho, às claras,

Dentre as nébulas da noite mostrando o caminho,
“Será vossa visão dessa luz tão tortuosa quanto ele?”
- O vento suspirava então ofegantemente baixinho.

Que seja ele hoje em mim e que apenas ele me revele,
Das grinaldas e cicatrizes trazidas neste eu sozinho,
Quais as que subsistirão para sempre nesta pele.

Para Além da Vida e da Morte: O Ponto Nulo

Olhem-nos ladeados e de braços estendidos
De pontos estelares dispersos e em peripécias tais
Onde o nulo é métrica universal e nós os pretendidos
Para o almejar e o desdém do menos e do mais,

Que são bem além de qualquer estrela amada
Reflectida em nosso olhar do princípio até ao fim,
O relato estelar deambula entre o tudo e o nada
Do que é em nós e além até ao que é só em mim:

O pequeno retrato em síntese deste Universo
Num grito progenitor ainda no afluente ecoado,
Sim confesso, sou o seu prisioneiro auto-cativado

Nesta cela forrada a aparente eterno estou imerso
Errando pelo caminho eis-me largado à casual sorte
Por esta passagem que nem é vida nem é morte.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Síntese Pt. II: Poema Por Meia Rosa

A alba pelos oblíquos caminhos do belo
Perseguida por uma sombra de cetim,
Entre o som do mar e de meio violoncelo
Inda obnubilada pelo poente solar em mim;

“Passo horas acordada” de olhar vago,
Por tudo quanto sorrimos e chorámos,
E em ternos suspiros a Ema ainda indago
Se primaveras sentirão este passar dos anos,

Escondidos, onde estes raramente se encontram -
Dois. Em Vénus ainda cabem mais pessoas, dei-me
No meio vezes entre milhares de vezes que entram

Rendidas pela janela que entreaberta sempre estará,
Beijai-me as palmas das mãos e adormecei-me.
Pois ainda sei que um dia sim, um dia Ema virá.