terça-feira, 30 de junho de 2020

O Intuito Do Viandante

Para baixo da cama varrendo outro cobertor,
Sou eu o menino, a criança, o eterno amador, 
E cai neve, e cai granizo e vem a enxurrada, 
E eu de boca aberta esperando a madrugada, 

E os outros sempre a me puxar para o outro lado, 
E quem vem sou eu, vêem-me bem lá recostado
Ao molde que ofusca deuses e molda divindades,
Aqui, onde tudo é certeza sem improbabilidades,

É o brilho que cega o viandante, aqui visitante, 
Por um pouco de tempo traz-lhe a paz à alma,
Cai cadente a alba, e somos mais que o restante,

Somos o fragmento de um momento de calma,
Onde o universo rodopiava sobre si num instante
Breve como a própria vida e cativo nesta palma.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

O Cosmonauta do Vestido do Horizonte

Vagueando entre as costuras de um vestido,
A brisa é um feitiço para quebrar o momento,
Ouvido o vento crepitar no céu por mim sustido,
Na algibeira albergando supernovas, e eu sedento

De colinas, montanhas, céu, horizonte e firmamento,
Sobre eles entrelacei a estória do homem feito divino,
Deferido e definido, deixem-me estar, quase estou isento
Do humano pois só me falta largar a pele e seguir o destino,

Contemplem o instante do interior, as verdadeiras batalhas,
Que não imploram nem atalham mais! Criando e sonhando,
Eu brilho, eu fulgo, eu cintilo para além de muros e muralhas,

É universal e meramente casual, esta passagem dos segundos,
Que a passe a pé-descalço, sendo, tentando, dando e partilhando,
São estes os berços advindos dos funerais, os mil e um novos mundos.

domingo, 14 de junho de 2020

Enfim, Um Dia, Navegaremos de Novo

Estas lápides relembram quem lá está enterrado,
Enforcado, o alvoroço deixado num eco passado, 
Somos um instante, um momento, sacro sacramento, 
Que passa num instante, momento, que vai com o vento,

Um brinde a quem um dia preencheu e ocupou este lugar,
Tal bala pelo crânio e é instantâneo, é uma eterna satisfação, 
De pequenas asas nos pés sinto os querubins a vir-me buscar, 
Os portões do céu abertos, fechando os olhos, parando o coração,

De boca aberta as porções a cair tal pó de fada, iremos para casa, 
Hoje, veremos pelos olhos do Céu, tu e eu, de almas entrelaçadas, 
Por camadas de nuvens, nebulosas, supernovas e de pés em brasa, 

Num buquê quebrado, o quê? Poções e afrodisíacos e falta-me alguém, 
E para nenhuma surpresa, não haverá surpresa, as suas mãos perfumadas
Não dadas a estas, varrendo pois o tempo e a maré não esperam por ninguém.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Desaforos

Suspiro pela estrada fora, rostos por pó desfeitos,
Confabulo sonhos em vozes de outros poetas,
Engolindo supernovas não me dando por satisfeito,
O meu testamento são estas estrofes, estas letras,

Faltam-me palavras para a beleza astral do olhar
Do sonhador proficiente por suspiros da distância
Ao sonho. Caem árvores na floresta, diz o sonhar,
Apelando ao excesso, recesso, o sol e sua instância,

Enquanto cupidos mergulham por nuvens ascendentes,
Contentes, batem, matam e cospem em quem é amador,
Que são os que não arredam o pé, os eternamente crentes,

Então rindo-se com lágrimas no olhar, com champanhe barato,
Alguns suplicando que cubram seus corações a cimento, a dor
É grande sim, mas é ela também dos grandes poetas o retrato.

De Discípulos, Seguidores e Apóstolos Não Preciso

Outrora fomos um dia filhos de marinheiros estelares,
Fulgimos e esvaecemos tal brasas no céu colocadas,
Então vadiando e caindo aladas entre terras e mares,
(E eu a tentar apanhá-las e elas entre os dedos escapadas), 

Todos os grandes lutadores têm cicatrizes de batalha,
Lembranças do passado, e eu, entre mim emboscado, 
E amado, enfim, o perfume no pescoço que vai e retalha
As colinas, as florestas, sobre as montanhas e o bocado

Aonde caminhei celebrando o trovão, a chaga, o canhão, 
As minhas mil maneiras seguidas porém sem seguidores,
Pastoro demi-deuses, aqueles que vão de alma e coração

E não se importam com o sim ou com o não; Suas dores,
Ao longo da jornada tornam-se em cores, e a sua mão
Procura pelo transeunte pois são de Deus os embaixadores.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Entre Os Ponteiros do Relógio

Eram assim vestidos brancos e danças lentas, 
Através do silêncio da noite e por ela embrulhada, 
Sossego, o ponteiro de um relógio e o que aparenta
Ser um instante infinito, parado e bem atento à estrada,

Opulento é o momento e escrevinhado à mão por um poeta, 
Daqueles enlouquecidos pelo Mundo e com vozes na cabeça, 
Inspira e expira, expira e inspira, da estirpe dos Deuses estafeta, 
Não obstante, o lobo e o rebanho que faz com que o Sol resplandeça,

Em alvoroço silencioso, a tela para as cores do Sol, o anzol, o isco,
Mas também o pescador e a cana (tal como toda a margem e o rio),
E esvoaça o espírito, chove luz, reluz a enxurrada, os dois em chuvisco, 

E nós nus, sem nada mas com tudo no peito, na mão partilhada, é incerto,
O destino, o fado dos homens, mas há magia, há poesia, há beleza e brio,
E ente as linhas de um poema, Amor Verdadeiro, daqui já vejo o mar-aberto!

 

terça-feira, 2 de junho de 2020

Somos Todos Fragmentos de Uma Supernova Que Não Tem Nome

Deixo-me na envoltura de uma densa nebulosa,
Encostado a uma constelação há muito esquecida, 
O mundo a meus pés, a noite altiva e tão formosa, 
Com as rotações da Terra parece que foi perdida, 

Sorriso no peito e este coração, varão de escadas
Para as estrelas cadentes por poetas imaginadas,
Por pintores pinceladas, por escultores esculpidas, 
O sonho de quem ousou e por este olhar recolhidas,

Cinco oceanos, sete mares e sua maré, vento norte
Que me empurra para a Primavera do firmamento, 
Tormenta após tormenta, dependente da boa sorte

Tal como bom marinheiro, este poderá ser o momento
Em que vejo o vero beijo e escapo à bruma da morte, 
Hoje é o dia em que da hiper-supernova sou fragmento.