segunda-feira, 31 de maio de 2021

Se Um Dia For Caixão

Se um dia for caixão, deixem-me ser leve,
Pois os sonhos e a esperança não têm peso, 
São memórias e ideais de quem em si escreve
O passar dos anos acumulados num instante, preso,

A um esgar perdido no tempo, agora encontrado,
Se um dia for caixão achar-me-ão entre estrelas,
Através de épocas e eras disperso e por fim achado,
Reconhecer-me-ão ao brilhar tanto ou mais que elas,

Os horizontes inconsequentes dentre este indúbito olhar,
Se um dia for caixão saibam que tenho uma constelação,
E saibam também que dentro dela aprendi enfim a dançar!

E para isso só foi necessário permitir bater o coração,
Pois se um dia for caixão espero ter aprendido a amar
O tempo que passa, e passou e fui sendo de mão em mão.


sábado, 22 de maio de 2021

Um Dia

Dói-me o tempo trazido no olhar da esperança,
Pretendia brisa para auxiliar a subida da colina,
Porém navego em água rasa numa delicada dança
Que me resguarda da intempérie um pouco acima,

Alastra-se o fogo pela pradaria de um sonho ido,
A água pelos tornozelos, o fôlego escasseia-me, 
De um lugar ilusório onde perdi a certeza do apelido,
Então beija-me, aquele conforto do caixão rodeia-me,

Que pertence a um Outono passado, hoje e aqui elapsado,
E eles, os poetas, com o coração na mão, amaldiçoados
Pela bênção de respirar de peito cheio, bem marcado

Pelo destino, pelo fado, pelo nem sequer saber qual o norte,
De tanto esforçar, de tanto querer, ficam de ossos quebrados
Por isso fecham os olhos e deixam-se ir, um dia encontrarão a sua sorte!


segunda-feira, 10 de maio de 2021

Quarentena

Esta fuga é escape entre o vazio e o preenchido, 
Voando e sucumbindo à água de pé descalço,
Parece que vai o instante e não sei se é vivido,
E parece que do nada, nada surge em meu encalço,

Quatro paredes tornam-se família, tornam-se lar, 
E eu vou encontrado mais vazio, mais falta de ar,
Esta fuga é escape que parece nunca mais acontecer,
Aparentemente não é fácil somente ir e começar a viver,

E eu com bolsos cheios de nada, fiquei de testa enrugada,
Nesta clausura, nesta reclusão que não é auto-infligida,
Que é tempo parado e coração sozinho, alma isolada, 

Vida à porta fechada, por onde vão passando as estações,
E eu sonhando o sono e serenando a aurora pretendida,
Pois, não obstante, os invernos têm passado os verões. 

terça-feira, 4 de maio de 2021

Desaguo

Onde os rios se encontram eu sou e desaguo,
Inculcam os moinhos águas de outros ventos,
O tempo conhece estas marés, e eu no recuo
Vou em frente molhando os pés em momentos

De mais um dia passado, após o sol e as estrelas, 
Lançamos âncora nas praias rasas, no superficial,
Olho para cima e regozijo em finalmente vê-las
Hoje preencho o lugar entre o efémero e o imortal,

Relembro-me que por vezes pulsa o peito lá para fora,
Logo me caem as coisas que fui trazendo na algibeira,
Os beijos que fui partilhando desde o anoitecer à aurora,

Pois quando envelhecer dúvidas pretendo jamais ter, 
Do que podia fazer pois que a luz se torne verdadeira
Será assim tão difícil dar Vida a quem só quer viver?