domingo, 21 de dezembro de 2014

Esta Orfandade Pt. II: É Inexorável

Observando o fim desta rua vazia,
Um estranho que se conforta silente
Vendo sinais de trânsito doutro dia
E quanto seu rumo parece acidente,

Vai em frente ao patamar do mundo,
De dentro de deuses puxando ossos
E em nuvens se sepulta bem fundo
Deixando-se por mil e um esboços,

Por quantos lugares houve em si lugar,
Quantas luzes ou até porções de asa...
E cada instante seria sorte, seria azar

Ou tempo rumando ao fim desta Terra?
Oh!... Quase sem lar, tudo mais uma casa
Haverá trégua após tanta e tanta guerra?...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Viandante Viaja Pt. III: Tantas Estradas Para Escolher

Sussurros de tantas estradas para escolher,
O viandante é o refugiado entre margens
Ao respirar o hálito do instante a perecer
O quão essa passeata lhe parece miragem,

Quais memórias são a realidade das partidas
Ou quantas vezes olvidou sua vera casa?
Tal sonâmbulo atrás de ideias de vidas
Cobrindo-as sob as plumas de uma asa,

Arrancámos os cabelos não vendo o Sol
E noites escapam-se sob estriados dedos,
O pescador torna-se vítima do seu anzol

Ofertando-se em confissão dos seus medos,
Não temais, para cada treva algures há farol
Mesmo que ante o eterno sejamos só brinquedos.

Esta Orfandade: É Escolha

Esta orfandade é por mim escolhida,
Sou o filho dos cascalhos da estrada,
Toda esta solidão é auto-infligida
E faço e farei dela a única morada

Para ir e percorrer até um dia morrer,
“De dedos esticados, olhar aberto
E de pé partiu ele” – Hão-de dizer,
“Seu coração bateu alto e liberto,

Foi abrigo para a presença e sua falta,
Pronunciando leve os lábios da brisa
Fosse o Sol nascendo ou a Lua alta

Ou sua passagem acidental ou precisa
Quando foi penumbra e luz da ribalta
Sobre a estrada, sua musa e poetiza”.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

À Presença da Lua: Mementos a Beijos de Cópias da Lua

Quando surgir a próxima manhã,
Digam-lhe que outras luas vieram,
Levando porções do que foi por cá
Oh outros beijos foram e me tiveram!

Foram nos segundos passados em mim,
Quando olhava sem a ver e se ia o dia,
Era noite infiel, mesmo cópia lunar sim,
Resguardo por onde nem a mim me via,

Sensuais requebros vertidos em prazer tal
Que quase pareciam vero sentimento
Por acordes, orfandades e não funeral

Para um coração em beijo de saudade
Que havia esquecido o seu batimento
Ou o quão se estranhara da verdade.   

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Viandante Viaja Pt. II: Quando Entre Nada Vai

Mesmo que entre nada vá o viajante
Tendo perdido a razão da partida,
Que na sua mente não haja instante
Em que se esqueça do fulgir da vida,

Pois se ela há então tal não é finda
É pedestal desta breve eternidade
Em que a morte nos é vezes ainda
Antes do nosso tempo e até idade,

Vamos ficando a preço da vontade,
Vai o vento levando a alma embora
Sem sequer sazão para a saudade,

Desfilando-se o tempo, hora a hora,
Sem saber bem qual é a verdade
Ou bem sequer por onde ir agora.

O Viandante Viaja: Eu, Os Segundos e a Sua Ponte

Viajo até não haver mais horizonte
Entre margens pelo meio de nada,
Por mim são uns poucos pela ponte
Desta viagem ora leve, ora pesada,

Por muito que tenhamos esperado
Ou por tanto que tenhamos ido
Somos por vezes o tempo parado
De um qualquer parágrafo não lido,

E aquilo que perdi e achei na estrada
É em mim mesmo quando não sou,
As suas partidas e a minha chegada

E o visto que o esquecimento já levou,
São essas os tons que ecoam aqui
Concedendo fôlego e asa ao colibri.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Entre Dois Pt. II: Estamos Quase Lado a Lado

Estamos quase lado a lado,
Aqui quase não estamos sós,
Por muito que tenhamos falado,
Há vezes em que muda fica a voz,

Estamos quase lado a lado
E deste prado somos os pastores,
Nosso rebanho em alvoroço calado,
Suas margens afastadas entre dois amores,

Onde um rio corre entre os dois,
Algures ambos encontram abrigo,
Mesmo ignorando o que virá depois

E quão esse não saber mexe na ferida
Porque por vezes até um beijo é castigo
Seja num abraço acolhedor ou na despedida.

domingo, 16 de novembro de 2014

Ía o Poeta Pt. II: Vendendo Ouro de Tolos

Alguns, poucos, fios de alumínio a ouro pintados,
Essa é a vaidade do poeta - o falso sentimento,
Forjando Primaveras de Invernos idealizados,
Então é o fingir viver, não a Vida seu testamento,

Mesmo que apenas e só trevas ele seja,
Que sorrisos disfarcem a sua tristeza
E relembre ou inspire quem já não beija,
Que no papel lhe dêem um nome: Beleza

Será ela sempre o sonho e a mentira sincera
Que ele creia tanto que do mundano esqueça,
Celebre o martírio do belo, aquele exagero

Que separa o poeta dos simples, meros mortais
Pois a dor do saber fingir é a sua pertença
E os poemas só as vezes em que a dor é de mais.

Entre Dois: Palavras Deixadas ao Que Vai Passando

Palavras deixadas a ventos d’outrora,
A menina não escuta, ela mal ouve,
Vem a manhã e nem parece a aurora,
Esquecem-se restos do que não coube,

Restos sempre de porções e pedaços,
Do que parece bom ou mau passageiro,
Deveriam ser os mais bem preenchidos espaços
E deles eu o seu melhor amigo e companheiro,

Só chuva e frio sob todo um tecto de relento,
Caneta e caderninho e potencial beleza,
Largados ao ermo do desleixo do vento,

Levados algures no ombro da incerteza,
Calma tê-la-ia se de nada fosse sedento,
Mas sede dela sempre terei (em mão com esta tristeza).

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Às Três Cores Pt. III: A Encruzilhada de Todos os Dias

Vi um homem numa encruzilhada,
Três faces possíveis ao tão iminente,
Das três só uma era viável calçada
Para poder ser dentro do recipiente,

Um arredou caminho, voltou atrás,
Adiante tudo era sombria incerteza,
Temia os segundos pelas horas más
E desdizia-os não vendo a sua beleza,

Outro foi em frente sem qualquer medo,
Não se arrependia do ontem eclipsado,
Para ele nunca era tarde ou sequer cedo,
Ia sempre em frente mesmo estando errado,

Outro porém escolhia e depois caminhava
Ora então escutava o vento ou a sua voz,
Cada instante seguia ou se desviava,
Sim, era ele o mais sábio de todos nós,

Era eu quem de longe ao perto os era,
Vestindo todos nesta rasgada pele,
A inocente presa, a maculada fera
Passageiro e barco para todos eles.

Ía o Poeta: A Covardia da Falta de Chão

Era ver a canção sem o cancioneiro,
Já nem me lembrava tal história,
Parecia barco sem timoneiro
Ou lembrança sem memória,

“Não há sitio pois caibo em todos”
Lamuriava então o poeta à parede
“Perdi o pé, olvidei-me dos modos,
De tanto beber esqueci qual minha sede”

Errante, sobre as areias descalço,
Sob o peito suas mãos tão frias,
Havia ecoado o conto do poeta falso
Por isso descia por infernais escadarias…

Sem crer nas palavras que proferia,
Sem acreditar na beleza que vira:
Outrora fora, hoje era noite sem dia,
Era o caminhar que ele próprio traíra,

Restos de estrelas caiam-lhe entre os dedos,
Havia toda uma viagem sido em vão?
Perguntava-se para onde foi a coragem por medos
E onde é que foi que o mundo lhe partira o coração…

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Dia: Hoje

É o dia em que irei alcançar a aurora,
Espero ser a ave que voará mais perto,
Hoje é o dia em que irei enfim embora
Algures onde o páramo for bem aberto,

Por esse esvoaçar voo e vou pensando
No instante em que parti e na chegada,
Até me pergunto desde e até quando
Será este voo o colibri ou só sua fachada?

Deixo-me ir, vou-me e deixo-me um pouco,
No olho do torvelinho ao desenlace da asa,
Então berro e grito bem alto até ficar rouco

Deixando a terra atrás pois o mundo só atrasa,
Ainda e vejo, num beijo ao insano, ao louco,
Deixo-me pois caminho sobre o ar, em casa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Às Três Cores Pt. II: A Vertigem do Carrossel

Na vertigem indomável do carrossel
Que sanem as cicatrizes d'ontem acolá,
Aceitando o beijo efémero da Babel,
Serão elas as medalhas de amanhã,

Relembrem o rouxinol que perdeu o canto
E que por vezes é tão bom sentir saudade,
Há vezes em que “plim!”, vai-se o encanto,
Mas fará isso das ocasiões boas menos verdade?

Não foi, é e será a todos difícil obter o permanente,
Ou sequer olhar mais longe que o próprio umbigo?
Há quem esqueça que o corpo pode ir de repente

Mas é isso o que faz de todos nós o viajante,
Então vá, vem comigo que eu rirei contigo,
Passo a passo rumo ao longínquo distante.

Às Três Cores Pt. I: E Todas as Cores Entre Si

Às três cores – ao negro, branco e eu
Que estejam sempre lado a lado,
Um brinde a vós, tiro-vos o chapéu
Mesmo quando vos hei desprezado,

Não é o caminho feito de caminho,
Ou será ele o acto de caminhar?
Vá-se acompanhado ou sozinho,
O importante é nunca querer parar

E saber adormecer nos braços da Lua,
Sorrir e suspirar por acalmia e boa maré,
E ao seu belo toque leitoso na pele nua...

Saber quando a estrofe anterior for cliché,
Aí aceitar a porção sem tinta no pincel,
Permitir ser aquilo que é o que não é.

Amor: Abri-me a Porta!

Amor, fantasmas de mortos vivos lá fora,
Arranhando os vidros azuis sem parar,
Não dormirei bem, tão tardia vai a hora,
Quanto tempo sem tempo virá sem passar?

Amor, deixei a minha porta entreaberta
E cá fora apenas solidão, frio e tristeza,
Sim vim de cantos obtusos pela rua incerta
Mas só prova a Vida quem morre por beleza,

Assim honro-a ao morrer, morrer, morrer…
Porém abri a porta raia a madrugada,
Se não a abrirdes então deveis saber

Que jamais saberei o que é a chegada,
Fui à Guerra das Rosas para me render
A vós Amor, a mais sublime emboscada…

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Aos Embriagados: Bem Acompanhados

Ilustre e querido estranho - melhor amigo,
Esta noite, ombro a ombro, lado a lado,
Grato por aguentares tão bem comigo,
... agora que bebamos mais um bocado!

Até se tornam mais toleráveis as pessoas
E as luzes citadinas em minha maravilha,
Enfim, aí todas se tornam tão boas,
Vem o brilho donde nenhum sol brilha,

Vomito na rua, no passeio e pelo beco,
Nesta nossa bela ebriedade ligeira
E se um dia julgar estar desperto

Que me torne novamente na bebedeira,
Pois por duas sombras estou coberto
São elas a loucura!!!... e a minha canseira....

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Silêncio: Entre Mim e o Seu Quarto

Silêncio - entre mim e o seu quarto,
Conto segundos através de suspiros
E certas palavras gastas, assim parto,
Ela é em mim e eu seu apartado retiro

De sua voz e seu sorriso, o leve almejo
- Aquele regaço, vertendo tal comorebe,
Frágil sonha, tão delicado tal último beijo
O único anseio que esta boca ainda bebe…

É assim que os anjos caem do paraíso,
Desse seu pedestal um arco-íris de cor
Pois do negro ao branco tudo é preciso

Então que ela seja o carrasco e a flor:
Goya, Yagan, foscos berços, o sorriso...
E a lágrima… queda-se a chama… Amor?

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Este País: Não É Bem Morte, É Não Vida

Não é bem a morte mas sim a não Vida,
Essa sabe tão, tão bem o que é Portugal
O não abrir ou sequer fechar da ferida,
Essa presença sem vida será meu funeral,

Portanto nem é bem o frio, é a falta de calor,
É uma toda possibilidade não concretizada,
Ter dívida para com ninguém e ser devedor
Por todo um país que mais parece uma cilada

Para quem pôde ou poderia noutra situação,
Posto de parte mas não a parte da equação
E para os inocentes, esqueçam a absolvição,

Aos olhos de todos somos todos um culpado
Será este o fado dos grandes filhos da Nação?
Enquanto o Viver é um não - tal sonho adiado.


domingo, 14 de setembro de 2014

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. X: Deixando-se Entre Margens

Restos e ecos de suspiros enviados lá p’ra fora,
Hão-se ouvir violoncelos em marca d’água
Onde somente a sombra de ninguém mora
Para além da desolação, a tristeza e a frágua,

Um dia quando a meia-luz da morte pairar,
Esquecei que alguma vez fui nestas ruas,
Até quando o chão ruir e o céu desabar
Olvidai de quando minhas foram idas luas

Brincando com raios de luz nos nós dos dedos
E o mundo era lar logo não tinha segredos,
Havia sempre uma bela canção para partilhar

E por cada novo passo deixado - um todo vaguear,
Mesmo sem chegar, há chegada, mil e um medos
Há que o saber! esquecer... há que o relembrar e o deixar…

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Entre Margens Pt. IV: Pouco Importa o Fim

Vamos sem medo, um dia seremos lembranças,
Restam ecos de suspiros enviados lá p’ra fora
Quando o frio pára o andar destas andanças
E então somente a sombra de ninguém mora

Cantai-me por favor uma canção de embalar,
Não pretendo enganar a passagem do tempo
E quando este meu olhar deixar de pestanejar
Sabei que Amor irrestrito sempre foi o intento...

As paredes dos labirintos criados então cairão,
Umas últimas palpitações e um pouco de mim
Não mais toda essa preocupação e confusão,

Erguendo escadas para o Céu - vem o querubim,
Tão brando finalmente oferecendo a sua mão...
Se o entre margens foi bom pouco importa o fim.

Oressa: O Soneto Que Era Demasiado Longo Para Ser Soneto

Há ruas, ruas fugidias que se dobram às esquinas
Através de sombras de semblantes hoje ausentes,
Onde o riso das crianças se misturava com buzinas
E passava ela, de olhar baixo e caminhar penitente,

Partia por onde passava, procurando sua estrela,
Era amor não capitalizado, deixada à incerteza
De quem certeza de nada tinha e era enfim vê-la
Então passando de sorriso ido, ao abraço da tristeza,

Os mortos eram então reais e as cores proibidas,
De mão no varão da escada, usada e deixada
Entre pássaros e mineiros, eram tantas as descidas

E passava ela, de cabelo solto pelo varão de escada,
Um breve encontro à chuva e à luz de algumas bebidas,
Onde recompondo seu vestido, ia tão longa essa noitada...

(E passava ela por si mesma, sem sequer se encontrar,
Os seus passos esvaeciam ao ruído dessa cidade
E eu já mal a ouvia… e eu já mal a conseguia olhar….)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Homem Inteiro: Entre Pássaros e Mineiros

Enquanto outro dia vai lentamente fugindo,
Todos - Todos sonham e tão poucos o são,
Tal fim de semana parado que se vai esvaindo,
Alguns já nem sabem qual o feitio do seu coração,

Há quem diga que as pessoas felizes levitam
E que ninguém aspira à profissão de mineiro,
Pelo trilho que alguns andam outros hesitam
E que donde uns vêem luz outros são nevoeiro,

Uns ficam à espera e outros são toda uma busca
Quando até o espelho para uns é um estranho
Até o que ilumina a alguns a outros ofusca

E há homens que não nasceram para o rebanho,
Que o quentinho para alguns a outros chamusca
Enfim quem é inteiro não se mede pelo tamanho.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Barquito Pt. III: Se Um Dia Naufragar

Se um dia ele se perder, se um dia naufragar,
Não faz mal, pertenceremos ao infindo azul,
Sob o horizonte não imagino melhor lugar
Para dormitar e ser silêncio a Norte ou a Sul,

Sabei que tal leve andorinha navegámos este mar
E se velejar causa ruído, remar mais ruído causa,
Não temerei a tormenta e quando ela for e passar
Será uma honra descansar, ter e ser na eterna pausa,

Sorrirei se naufragarmos pois não seremos só dois,
Levaremos todo o espaço trilhado entre as margens
Os instantes - vós! Sim amigos vivereis em nós pois

E que no porão sejam sempre a mais leve das bagagens,
Perguntai-me o que espero deste resto ou do depois…
Apenas navegar e ter segundos dignos das viagens.

O Barquito Pt. II: Foi Feito Para Navegar

O barquito foi feito para navegar e navegar
Por sítios povoados e até por desertos ermos,
Por vezes nem ele nem eu precisamos de mar,
Só de linha do horizonte e uma viagem sem termo,

Eu quase nem falo, pouco sei, um pouco de nada,
Aí um nada de trono, um pouco de Rei nos espera,
Aquele vista que foi nossa e nós às estações deixada,
Beijo no Outono pelo Inverno, ao Verão à Primavera

Sou pássaro e asa passageira quando a noite aqui cai,
De olhar e toque faminto, aprendiz sendo à admiração
Escorregando e mergulhando por onde o vento se vai,

Polén e mel de toda a flôr, por tudo que couber na mão
Esperando a procura tal abraço de filho ante ausente pai,
Pretendo toda a poesia desde que rime com este coração.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Barquito: Faz-se Ao Mar

Suspirávamos ainda mais calmos que todo o mar,
Acordai! Segundos pouco mais que ponteiros...
Tiquetaques mudos nas ondas a passar, a passar
De relógio desfilando mais ou menos ligeiros,

Daqui vemos quem fomos através dos segundos,
O espaço entre as margens, a zona fronteiriça,
Domicílio para aqueles de nenhures oriundos
E casados com a Vida - essa esposa insubmissa

Que aconchega e atormenta pela luz e treva,
Deus é aquele que se levanta e vai sem saber
E aos cruzamentos se encontra e se enleva,

Por vezes até parando um pouco para se aprender,
Enquanto rápido e devagarinho o barquito o leva
E na orla do mundo se arrisca a um dia se perder.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Ema XIII: Sorrisos, Sorrisos, Sorrisos...

Era então em simples gestos através do areal
Onde chapinava os outros com água e sal,
A enseada feita para quem se tinha lembrado
Que o presente é feito de futuro e de passado,

Dançava alada num ponto entre as margens
Que ora passavam ou ficavam por si e nela,
Os instantes sempre eram mediante as aragens
Trazendo-lhe os adornos que a tornavam bela,

Até as cicatrizes refulgiam aos olhos da maré
Que ela reflectia onde o seu bailar incidia
Era então vê-la, delicada, em bicos de pé,

Entretanto um coração em uníssono batia e batia,
Sem saber do porquê alimentava-se de boa fé
Enquanto ela me percorria a alma e sorria, sorria, sorria...

Dois Passos: E a Viagem Torna-se Viagem

Após quantas viagens é uma viagem, viagem,
Quantos passos são precisos para enfim chegar,
O que faz do facto concreto ou da ideia miragem
Ou qual o ponto em que é inevitável descansar?

E a quem apetecer caminhar no céu pode?
E a quem só conseguir ficar sem partir?
Nem sempre são os passos ao trilho ode
E o andar nem todas as vezes significa ir,

Será o caminho alguma vez dado por terminado
E se o for, será esse fim no final da estrada?
Sei que o tempo passa para quem há passado

E há vezes em que só deixa um pouco de nada
Para a viagem sei o que há sempre precisado
Dois passos, o da partida e o da chegada...

(e tudo o que estiver pelo meio).

Soneto da Passagem: Para o Tio Virado Avô

Suspirou: “Estou do fim para o resto.”
Enquanto seus olhos ficavam azulados.
"Estou velho, para a viagem já não presto
Aqui é onde os passos se dão por acabados,

Fica com o sorriso de quem tanto há amado,
O olhar e a voz atenta que tão bem te escutou,
Lembra o homem que fui neste corpo hoje quebrado
E que o fim nunca é o fim para quem enfim se encontrou,

Leva ao mar, no barquinho, os conselhos já dados
Aqueles pequenos nadas só entre nós os dois,
Mesmo quando o mundo der voltas aos quadrados

E não faças ideia alguma do que vem depois,
Estarei, meu neto, sempre ao teu lado,
Melhores dias virão um dia pois…"

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Certas Palavras: Não se Dizem

Certas palavras escrevem-se apenas no coração
E por lá ficam silenciosas até ao final do tempo
Tal comboio passando de estação em estação
Sabendo quais passou mas deixando-as ao vento,

Títulos de capítulos de hoje viram rodapés amanhã
Como vestígios de um fotografia tornada rascunho,
Os dias tornam-se noites e os carris trazem-se cá
Numa perpetuidade que se verte neste testemunho,

Aprendo a viver soletrando a ponta de um beijo,
Enquanto os deuses dormirem terei um lugar
Para ser o colibri entre a paixão e o desejo

Inclinado a poente ansiando por fim encontrar
O espaço entre a multidão e aquele ensejo
Onde só vivo e morro ao brilhar! Ao brilhar...


terça-feira, 15 de julho de 2014

A Vida Pt. II: É o Renascimento

Então falavam sobre os pequenos fragmentos,
Aqueles que silenciosos pairavam na maresia,
Ouvi mortais! Haveis esquecido sua poesia
E hoje o bastardo é por trilhos poeirentos,

Tossindo e engasgando-se ante a fogueira
Enquanto o seu vizinho envelhece sorrindo,
Alcançando a luz, jaz o homem revindo
Que vai indo de mão aberta na algibeira,

Seu olhar é plena luz diurna, de Deus espelho,
Outros criam garras sob o solo macilento
Vomitando-se em sete tons de vermelho,

Eu? Eu só quero cor onde eles vêem cinzento,
Ser a criança mesmo quando fôr o velho
E um dia morrer mas até lá ser em renascimento.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Ema XII: Sob o Oceano

Sob o azulado oceano jaz ela sossegada,
Daqueles que sonham com a horizonte
Por onde dormita a bela Ema recostada
Tornando-se entre o oceano e o céu a ponte...

E que ela passe por mim em seu caminho,
O mundo não espera quem em si passa
E sim quem grita, grita mas grita baixinho,
Porém até essa tortura tem a sua graça...

Em alturas em que Rosa respira água salgada
Do rio onde nenhum barco tem passagem,
Por vezes até ela se esquece de sua amada

Que acorda feliz atrás do ar tal miragem
Enquanto o dia da Lua faz sua escapada
Na dança que do noite retorna a aragem.


A Vida: Não Basta

Não me bastam os dias que tenho de Vida,
Preciso do almejo que jaz no fim da linha,
Do pesado se faz leve e à viagem apetecida
Vai cheio o barquito de quem o vazio tinha,

Ele não será náufrago por muitos mais portos,
Por Deus vou eu e ele em mim em nascimento,
Assim, doce, se lançam ao mar os mortos
Que os levem numa maré de esquecimento,

Não há rebanho para quem fez do mar casa,
Quantos portos já passámos, já beijámos?
O Adeus é a palavra, é a vela, a leve asa,

Sê paciente não obstante do quão ansiámos
As ondas, as marés e quão o porto se atrasa,
Onde por vezes nem nós a nós nos bastámos




terça-feira, 8 de julho de 2014

Meia Luz: E o Resto nas Garrafas

Meia luz… e um resto nas garrafas de mim,
Corpos cansados e derramados pelo chão,
A vista semicerrada percebe que foi assim
Que outros poetas por tais lençóis já caíram...

Meia luz… e mais um trago sorvido a beijo,
Abraços de  veludo para esquecer o mundo,
Perdidos entre a paixão, a volúpia e o almejo
Nem que bebesse de uma vez veria seu fundo,

Meia luz… e o toque dos dedos da madrugada
Que calor oferta com uma porção do antes,
O pé na estrada, o coração que bate por nada,

Não há como despertar dos anseios distantes
Deixados ante a vigília de uma colcha gelada,
Meia luz... só tu és Mãe pelas horas errantes…


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Um: Aquele Que Foi Crescendo

Aquele que foi crescendo e de si se esqueceu,
Que aprendeu a pensar, a sentir, a discursar,
Deixou de ser Homem, parte de si perdeu
E é esse o espaço que é preciso recuperar,

Esse espelho coberto de pó dorme uma sesta,
É sorriso e é lágrima da criança lá atrás deixada,
Há que lembrar a alvorada e colhê-la numa cesta
E quando a noite vier vê-la no homem reclamada!

Sou a Vida, sou a Morte, sou dois ao mesmo tempo,
Ambos em moldura fluindo e a criança que a pinta
É o velho que a foi e hoje a traz em pensamento,

Como porção, sou o Universo e sou o seu resto,
Sou inteiro e ao seu complemento tenho a tinta
E o poder para me escrever ou  abster num gesto.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Entre Margens Pt. III: A Brevidade

Somos todos folhas caídas ao sabor do vento
Nesta colisão contra uma colina de lençóis,
Sim sei, vivo na brevidade do momento
Tempo esse aqui entre o antes e o depois,

Passageiros entre este espaço e o outro,
Em suspiros entre corredores de mármore
Lápides e pedaços largados noutro
Eco esquecido à sombra desta árvore,

Jamais pretendi parar ou sequer voltar atrás,
Sou a gota do rio que flui na pluma de Pégaso
Imbuída em meio canto entre horas boas e más

Nesta meia jornada esculpida ao quase acaso
Vamos dando tudo tendo o aqui como morada
Que de tanto darmos parece que não temos nada.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Entre Margens Pt. II: O Sítio Nenhum, Perto de Nada

Achem-me em sitio nenhum perto de nada,
A fazer pouco ou o que resta não ser feito,
Perdi-vos atrás, nas sinuosidades da estrada,
Através do esgar deste amor-próprio contrafeito,

Vós, vozes largadas pelo serafim ao se erguer
Pelos sítios pequeninos onde ninguém vai,
Por onde nada se faz ou se pensa em fazer
Por aqui, onde até o filho se estranha do pai

Vão-se esquecendo os solavancos da berma,
O passado lembrado e o futuro não pensado,
Levando a Vida quase morto por vista enferma…

Qual foi o motivo da partida? Quando chegarei?
Quando estamos sem estar face ao almejado
Quanto cansa o caminho ou o quanto o esperei.

domingo, 4 de maio de 2014

Entre Margens: Sem Rumo

Estas crianças que vou deixando para trás,
Partirei em breve, estou em perigo mortal,
O crepúsculo envolverá a luz das manhãs
E beijá-las é o apetecer até à aurora boreal,

Que sem pernas vai caminhando sem rumo,
Por onde o horizonte nem sequer o alcança,
Aonde vai? Por onde atrás se torne em fumo,
Quando nem para trás ou a frente avança,

Entre margens, entre bermas onde ecoam
Suas mil caras, suas milhentas expressões,
Eis que essas porções já quase não soam

Pois este perfil torna-se sempre no distante,
Vejam o viandante, ouçam suas canções,
Enquanto se vai, perdendo-se no instante.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Insatisfação: Adiante

Insatisfação é a palavra mais vezes dita
E a tão pouco sabe que pouco deve ser,
O apetecido é tanto que não sei, não sei
O querido e até os instantes belos que amei,

Naquele olhar que acompanha as ondas do mar,
O caminho caro viandante foi feito para caminhar
Estando sempre tão perto daquilo que longe está
Pois a cada passo dado tanto se leva, tanto se dá,

No caminhante, o perfil, o distante que tarda sempre,
Seu semblante, em um a mil, infante ansiando tudo
Onde até brisa é parede porém o passo é em frente

Adiante, quebrado, ofegante mas sempre adiante,
Cansado, partido, quando as costas são escudo,
Passo a passo onde cada eco seu é errante.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os Grandes Poemas: Prolongam o Finito

Os grandes poemas escrevem-se na sarjeta,
Vêm de tanto que soam sempre a tão pouco,
São o pouco lido porém visto no olhar do poeta
Escritos a lágrimas e sangue na aflição do louco,

Corre frenética sua vida, caindo no nocturno,
Como quem já não tem ou mesmo perdeu
Porém não o viu ou sentiu como infortúnio
Pois sabe que do feito nem o escrito é seu,

Os grandes poemas são à margem do mundo,
Independentes do sítio, do tempo e do lugar,
Tendo o que há do mais alto ao mais fundo

Relembrando o passado e o finito desta vida,
Imaginai, um dia até o seu escritor irá passar
Só o poema prolongará seu eco pela avenida.

sábado, 22 de março de 2014

O Pequeno Riacho Pt. II: O Fim da Primavera

Mantendo-a longe ainda a tenho perto,
Recalco os passos que nos juntaram,
Que trouxeram o beijo, o delírio, o incerto,
O belo instante em que eles se cruzaram

Porque eles os dois não eram sequer eu,
Eram partes e porções de quem não podia ser,
O frágil pedaço, o espaço por trás do véu,
Bordado pelo Sol para este definhar e morrer

Cujos farrapos em turva neblina é envolvido,
Existirmos? Nem eu nem ela podemos ser
Por isso meio eu ficou e ele há enfim partido

E fosse ele, fosse ele quem não me era,
Fosse ela quem em mim era todo o viver,
Seria então o início e o não fim da Primavera.

terça-feira, 11 de março de 2014

Esperando: Sempre Viandando (Entre Margens)

Esperando pelo assentar da poeira,
De sorriso nos lábios e coração na mão
Pois por vezes a viagem é pó, é canseira
Onde esquecemos nossa voz e o seu refrão,

Ansiando pelo belo momento que ora anseio
Que nem trovador suspirando ante o rosto lunar
Onde ambos nos perdemos em aceso devaneio
Pois todos os sítios que foram, todos foram lugar,

Hoje admito-o, sou eu – o último dos poetas,
Suspiro-vos às arestas de todos estes cantos
A todos estes sombrios becos e ruelas incertas

Através do beijo entre margens e solavancos
Vou eu – o viandante destas ruas desertas
A ténue linha entre o negro e o branco.

Enamorado Pelas Estrelas: Sorrio

Aqui escrevo um poema tão bonito, tão leve,
Quase ouço todas as cores do arco-íris,
Até se descongelam os corações feitos de neve
Se morrer agora, se morrer aqui, morrerei feliz…

As pétalas colhidas pela viagem são a caneta,
As pegadas dadas são a tinta, o aviso, o adeus
Para quem esqueceu a caligrafia, a sua letra,
Quem viver aqui, agora, será a ideia de Deus,

Para quem hoje chora como ontem ainda o fazia
Sorrio esta partilha convosco neste preciso aqui,
Por mim canto sim em qualquer canto a magia

Gargarejando a Terra e cuspindo as estrelas,
O poeta tão perdido e sempre encontrado em si
Que sou eu, que sois vós, somos nós todas elas...

O Pequeno Riacho: Olhos Azuis, Olhar Castanho

Somos… no murmúrio do pequeno riacho
Dando ecos de suspiros feitos à eternidade
Nem o tempo ousará tirar-nos este espaço
Que o riacho espalhe nossos ecos pela cidade,

Em breve iremos embora, só o riacho será,
Levando nossas palavras, nossos beijos,
Eu, tu, nós os dois não seremos amanhã
Porém hoje fomos nestes acesos almejos,

Bela amiga trago-te no sorriso da corrente,
Nos lugares onde ninguém vai, neste olhar,
Onde o dia termina meio assim de repente

Quando o Sol adormece e se deita no mar,
Esta estória só a sabe quem amor sente
Ora sintamo-lo agora... deixando o riacho o afogar.

Da Não Vida: Haveis-me Capturado

Das ruas desertas e solavancos das bermas,
Do voo rente aos penhascos por rasgada asa,
Da lágrima de Vénus e seus quebrados poemas
Haveis-me capturado… estou quase em casa…

Das confidências à Lua e do perfume das Oressas,
Do vidro outrora azul ora tornado tão transparente
Do desejo à beira mar e do inebriar das promessas
Haveis-me capturado… sou novamente crente…

Do esquecimento do passado ou frémito do futuro
Por onde ninguém passa ou algum dia passará
Da saudade de outras vidas e daquele muro

Intransponível do passeio com a morte e seu horror,
Das pontes queimadas onde quem fui jamais será
Haveis-me capturado... será isto finalmente Amor?

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Amanhã: Primavera, Vem

Outrora, onde a manhã ainda aparecia
Seu perfume esta noite ainda perdura
E quando se ia a noite e vinha o dia,
Eu surgia e para lá do alto era a altura…

E sua ausência eram as confidências à Lua,
O espaço vazio entre a palma da mão,
As gotas deixadas onde a foz desagua,
O aperto no peito, o sopro no coração…

Vinham as noites e as estrelas todas aluadas,
Seu fantasma arrastava as correntes do aqui
Onde o passeio se esquecia das estradas

Por onde o viandante foi e ainda caminha,
Se ele era um beija-flor, eu sou o colibri
E ela será a única flor - a jovem andorinha.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ao Espelho Pt. II: A Criança, O Homem e o Velho

... que frequentemente é tão breve quanto silente
No oscilar das ramagens do emoldurado retrato
Onde uma porta ecoa o alvorecer da semente,
Assim trazendo a luz da alvorada ao imediato

Eu, agora, partido de dentro do espelho
Permite que enfim te pergunte quem sou
Quem vês será a criança ou o velho
Ocupando este espaço onde estou?

Acorda quem vires e relembra-o quem sou,
Sob a água que Ela venha à tona assim
Que seja aquele que venha por onde vou,
Para ele que é quem sou e que é em mim

Mas que apurado prazer de ti para mim trago
Do semblante deste azul - teu vidro reflectido,
Por vezes tão delineado, por vezes tão vago
Em partes reconheço-o, outras sei-o perdido...

Ao Espelho Pt. I: A Queda da Neve é Este Palpitar

Os anos, beatas caídas tal como a neve,
Vamos vendo, as folhas amarelas a cair,
Sua queda, sempre tão fofa tão leve,
Pergunto-me se verei a minha a seguir,

Ao esquecer a intenção e a sua noção 
Não intencional do enfim quase ver,
Deslizamos entre os cabelos da solidão
Preterindo o existir pelo finalmente ser,

... do anseio ardente pelas flores perdidas
À orla da estrada, das horas de Verão
De onde falei com deuses e erigi vidas
Crescendo brandas ao riso da criançada

Que murmura este nome pela noite dentro
Numa música de tão insano e estranho tom
De quando o sol se queda sob o olhar atento
Deste ténue palpitar deste meio coração...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Roupas ao Vento Pt. I: Por Janelas Azuis

Vejo roupas rasgadas ao sabor do Tempo,
Este é o eco das salas vazias e suas ofertas
São a passagem do tique-taque do vento,
Parecido com o silêncio das ruas desertas

Onde esperámos por quem aguardámos
E que não chega ou até mesmo já passou
Não nos ouvindo apesar do quanto gritámos
Mas vai perseguindo quem um dia os chamou,

Vem a estória de um longo, longo Inverno
O entretanto de quem vive ou já morreu,
A quem o infindo vento levou ao eterno

Tal o observar o ténue amontoar da neve,
Relembrando o instante que já ocorreu
Naquele suspiro que é sempre tão, tão breve.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dois: Sobre a Elísia Criança e a Menina das Estrelas

Mil lágrimas e mil suspiros aqui me tomem,
Ele era belo, belo como a paz do caixão,
O filho pródigo que ensinava ao Homem
O andar sem tocar com os seus pés no chão,

Mil gotas e mil adagas a pele me perfurem,
Ela era linda, linda como a negra solidão,
A filha das estrelas que lentamente somem,
A menina que voejava de coração na mão,

Um lá ia indo, mal deixando pegadas no solo,
O ontem que se foi e é o hoje que cá está,
Outra ia ficando adormecendo neste colo

Que era vista e era janela para o amanhã,
Que ia tardando não trazendo consolo
Para dois que não iam nem ficavam cá.