segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Retraçando os Passos Onde Encontramos Amor

Numa tela vai-se pintando uma valsa de alvos vestidos, 
Sua pálida pele, silhuetas latejando dentre a distância,
Não precisamos de uma canção pois há ecos contidos,
Reparem, aqui encontramos Amor e a sua relevância, 

Ele enfim se encontrou no silêncio, absolutamente perdido, 
Suas vozes irascíveis, por utopias que precisam de remédio, 
Esta fantasia é um vazio gritado por teres o sol concedido
E no seguinte segundo o teres coberto a Lua em tal repúdio,

Cerrando os punhos, fechando os lábios, o exílio da madrugada,
Deixamos a crença para trás, o almejo de respirar um sonho lindo, 
De um amanhã que se tornou no passado de uns outros pés à estrada, 

O seu abraço, o meu olhar, uma ode à perfeição em substância, 
Desperdiçamos o que outrora fomos, esse néctar vai esvaindo,
Reparem, aqui encontramos Amor em toda a sua importância.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

A Queda de Ícaro (Poeta) e o Seu Som

Este é o burburinho da ruela, mera conversa de esquina,
Estrelas cadentes recaindo em braços suspensos no ar,
Simples fotografia do mundo na alma de quem imagina,
A queda de Ícaro na perfídia desta luz demasiado invulgar,

Curvo a cabeça perante o conter de instantes acumulados,
Fragmentos de uma Vida inteira, destilando na ampulheta,
Embalado numa cadeira de sonhos, fracções e até bocados,
Para o além, para o longínquo até ao lugar onde alui o poeta,

Alguns vão dizendo de que o seu corpo jamais será encontrado,
Haja ou não escadas para subir ao céu, sem sonho, de cama desfeita,
Pois são tempos estranhos quando o último anseio é da Lua pendurado,

Quando só queríamos a aurora, a madrugada de um amanhecer por vir,
Esta é a sua queda, o quão apetece tornar em viúva esta ânsia imperfeita,
Esperanço que ele sonhasse com Glória, livre enfim num sorriso, num ouvir.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O Tentar

O murmúrio do riacho vai alçando as plumas do vento,
Lembra os quilómetros feitos, o tempo em cada perna,
As lágrimas, sangue e suor deixados por cada momento,
De uma outra partida e destino sob a luzência da lanterna,

Esse suspiro quase indelével é vínculo para uma eternidade,
Tal passo ligeiro no corredor do Universo atentamente a ecoar,
O som esmorecendo, haja luz entre esta terna nebulosidade
E vagões nos trilhos e esses trilhos enfim remetidos no olhar,

Pois hei-de a ir buscar, essa verdade em aparência distante,
E retornar partes da tela levemente como uma alba a renascer
Dentre a fagulha nas rugas do rosto de uma criança diletante

Que vai à procura de cometas e astros sendo a subir ou a descer
O sonho, amarrando pedras nos pés também para ficar, não obstante,
Do abraço ao colhido, ao voo desgarrado, do tentar e tentar e tentar viver.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A Esperança Voltará

As pegadas ecoam no espaço entre esta poça e eu,
Parece que já passei por aqui, aqui jazem lembranças
De pedras lançadas em lagos protegidos por um luar seu,
Era um caminhar sem o poeta se sentir perdido nas andanças

Que eram suas, as estórias contidas no vento e véu do instante,
Levadas para outras possibilidades, levadas para outras cercanias, 
Por lugares por encontrar onde nos escondíamos da nossa amante
Enquanto o presente era levado para o longínquo por certas ventanias,

Sua fragrância persiste no mínimo detalhe da mais pequena coisa, 
Luzindo entre memórias e tecidos agora rasgados ao esmo da estação.
Hoje ainda vai preenchendo o canto do olho onde um gentil colibri poisa,

Dentro de um raio de Sol ela virá um dia e quando cair a chuva virá também,
Ergue-se o turbilhão, levanta-se a tempestade, o aqui é propriedade do coração
Que sem objecção permite a vida acontecer onde a espera e procura ainda bebem.