sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Amor Admito

Amor admito enfim minha indecisão,
Toda uma vontade de partir desta vida
Pois se a minha não passa de um senão
Fatigado cedo a esta eterna despedida,

Roupas vazias vestem cadeiras despidas,
Pela porta de trás chegou o pôr do sol
E metades de um coração são nas partidas,
O meu ferido de boca neste triste anzol,

Oh teu amor infinda coroação de estrelas,
Colhendo o perfume do teu único beijo,
Seria completo se fossemos parte delas

Pois o teu olhar ainda é tudo que vejo,
O resto é tempo sem espaço para ser,
Nesta vida estúpida que teima em não morrer.

domingo, 25 de setembro de 2016

Amor Levaste-me

Amor levaste-me a parte bonita do verão,
O sorriso aberto, o sonho de criança,
Partiu a alegria, quebrou-se o coração
E ao esquecimento deu-se a esperança,

Quem preenche hoje o teu terno abraço,
Quem diz ao teu ouvido frases de amor,
Quem te dá a mão em esbelto laço
Ou confere ainda ao teu dia porções de cor?

Eu já não sou, eu só lama na tua sola,
Restos de um ontem que nunca foi,
O amanhã até já nem me consola

Sou a ruína do único soneto - teu beijo,
Se soubesse o quanto este inferno me dói
Ou quanto o teu olhar é ainda tudo que vejo...

Porções Dela

Porções dela no arquear da avenida,
Fragmentos deixados nas ruas desertas,
É estranho pensar que toda uma vida
Seja quebrada por estas horas incertas,

Pelo rio que não flui para os mares,
Por onde vou não a vejo encontrada,
Vêm fantasmas de nós os dois em lugares
Onde lhe dei a mão e chamei de amada,

Água fecha-me as pálpebras e esvaeço
Para sítios nossos, nosso caminhar
E nesse penoso pensar assim adoeço,

Sem termos mais caminho para andar,
De que me servem as pernas se nelas tropeço
Devido a este coração não saber parar...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Esta Solidão

Esta solidão é perfeitamente esculpida
Por mãos entorpecidas a esquecimento,
Parte da estação, parte do que é a vida
Que se vai passando a cada momento,

Por vezes a negrura não se torna passado,
Tempos que não passam de forma alguma,
Assim morrem poetas, bocado a bocado
Oferecendo-se ao vento e coisa nenhuma,

Procurando quem não quer ser encontrado,
Suspirando por ela e ela então viúva de nós
Parece que o mundo não quer ser rodopiado

Parece que os rios já não almejam pela foz
E que parte completa de nós havemos deixado
Nesta viagem tão silente onde buscamos voz.

sábado, 17 de setembro de 2016

Procuro por Momentos

Procuro por momentos que durem uma vida,
Por dias de Inverno passando por um Verão,
Nesse silêncio encontrado porções da avenida
E seus sonhos frágeis perante o sublime portão,

Por onde passa apenas quem de si é esquecimento
Pois hoje é memória de quem um dia foi o passado,
Quase acalma o fantasma e mitiga o seu tormento
Enquanto quem passa o acompanha lado a lado,

Fragmentos de passos adiante sempre ecoando,
Onde alguns se perdem e outros são encontrados
Quase nunca esperando, quase nunca abrandando,

Vamos indo e sendo por completo ou aos bocados,
Vestido a trapos d’ontem que assim se vão largando
Para o regalo de uma almofada de um amanhã embalados

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Embalando-se

Embalando-se na ponta da lua crescente,
Adormecia solitária não fazendo nada,
Aguardando pela frase, o poema ausente,
Era o pé descalço, o não chegar da alvorada,

Outro lamento deixado à margem do tempo,
Num outro instante aqui não pertencente,
Onde se caminhava à intenção do vento
O seu único amigo, único confidente,

Sorrisos dispersos pelo traço deste céu,
Pensava poder agarra-los a todos assim
Porém esquecia que nem isso era seu

Era sim refém do momento e sua canção
Quase inaudível para o altivo querubim
Que lembrava de quando era uno o coração.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Andei

Andei dias a fio com pincéis rascunhados,
Procurando perfazer porções da tua cara,
Por esquinas e cantos tantas vezes mudados
Que na planície se escondeu nossa bela seara,

Pergunto ao tempo a razão para este lamento,
Quanto mais incerto menos bate o coração.
E então? Só morte espera este envelhecimento,
Ajoelho-me perante sua sombra e peço perdão,

Desculpa já não ser o jovem de sonhos às costas,
Esperançando e sonhando para lá do horizonte
Viandando para lá do sol, para lá das encostas,

Folegando estrelas e dormitando no monte,
Quando todo o risco eram simples apostas
E para todas as margens ainda havia ponte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Encontro-a

Encontro-a no fundo desta garrafa,
Perco-a e me perco a mim mesmo,
Sei que este dia a dia assim me estafa
Por isso nublado vou trilhando a esmo,

Impregnando-me no fluido da taça,
Sorvo o néctar que um dia trará morte
Porém não sei mesmo mais o que faça,
Quem diria que um dia esta seria a sorte

De quem foi e parece nunca ter chegado,
Sorvido assim em longos contratempos
Pela perfídia do trilho em si emaranhado

Almejando aonde não me levam os ventos
Parece que estou em mim quase sepultado,
Parece que já não há vista para os firmamentos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Trago-te no Meu Peito

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Espera aqui, um dia voltarei em promessa,
Suas mãos vacilantes tremiam de ansiedade,
Tua cara, o teu olhar, o teu beijar me interessa,
Esteja ou não esteja no torvelinho da tempestade,

Ama-me e deixa-me morar para sempre no teu coração,
O resto é habitação esquálida, sem espaço para nosso olhar,
Confere-me abrigo, sê o porto e terás em mim toda a razão
Para levantar escombros e contra todo o mundo assim pelejar,

As minhas belas estrelas são tuas também, somos exploradores,
De galáxias ainda não descobertas e luas um dia olvidadas,
Dá-me a mão e lar será onde estivermos com olhos de pintores!

Lar será onde estivermos, chuva primaveril passageira e nós dois,
Amantes dos vales, planaltos e montanhas um dia já ultrapassadas,
Trago-te no meu peito para onde quer que vá e sobre nós dois mil sóis!

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Estes, suspira-me ao ouvido estórias que o tempo foi levando,
De ventos esotéricos de outras épocas em que ia-mos lado a lado
Confesso, para alem de nossa Beleza conjunta, pouco vou almejando,
Todos aqueles instantes, todos aqueles momentos levados aos bocados...

Agradeço a impossibilidade de nosso encontro, de nossa história de amor,
E que por vezes, alguém, vê o seu caminho cruzando tal estrela cadente,
Agora que o mundo diverge, apenas te digo que ainda tenho o teu sabor
Nessa passagem tão breve que apenas realmente conhece quem a sente,

Estas palavras são fotografias para quando esqueceres a minha face,
Para quando outro tomar o meu lugar, essa elegia sem interlocutor,
Que me há-de matar, até lá sabe, fui todos que pude ser no desenlace

Da abertura da cortina para nós, a peça pode continuar, basta acreditar!
E fazer por alcançar o que parece ser o horizonte – tudo isso é Amor!
A insanidade, a dificuldade acrescida é preciso tanta coragem para amar.

[Trago-te no meu peito e não me pesas…]

Estas Ruas Impregnes

Estas ruas impregnes de estilhaços silentes,
As palavras não ditas, a perversão das proferidas,
Parece que somos filhos de pais ausentes
E que jamais chegamos pois somos só partidas,

Nesta comunhão de insanos, nesta estação,
Onde as eras não passam, somos folhas
Em queda livre pelo périplo do coração,
Não interessa o decidido nem as escolhas,

Pois nesta vida somos só marionetas,
Pedaços largados nesta pele vestida,
Perdendo objectivos, perdendo as metas

E todo o querer de uma passagem sem sentido,
Já não tenho coração para outra despedida,
Porém já nem sei bem o que tenho querido.

Longe

Longe é uma palavra fria e distante,
Suas sílabas em minha língua travadas
E este corpo tão triste, moribundo e ofegante,
Parece ser só abrigo para as trovoadas,

Procuro-te na beleza sempre tida no aqui,
Hoje - apenas outra vista para o passado,
Sabes?... Tenho tantas e tantas saudades de ti,
Que de mim pareces ter levado um bocado,

És o lugar que me trouxe enfim felicidade,
Agora o fantasma ao pé da minha cama,
Ainda tento alcançar-te de verdade,

Porém parece que a vida ainda me chama,
Então deste canto escuro face à nebulosidade,
Sei a cor das lágrimas de quem ainda ama...

Preciso Dela Sim

Preciso dela sim, que nem água vertida
Nesta boca sequiosa de tudo e de nada,
Farta-me tanto o adeus, a despedida,
Cansa tanto colocar sempre o pé na estrada,

O viandante enfim parou entre margens,
No fragmento que é resto, que é ponte,
Ofegante de novos trilhos, novas viagens,
Na impossibilidade de alcançar o horizonte,

Pesava-lhe o céu, carregava peso morto,
E a sepultura sussurrava-lhe de perto,
À procura de uma fonte, à ida pelo deserto,

Oh como se tornara este mundo incerto,
Serpenteando-se assim ao caminho torto,
Enquanto seu olhar se perdia absorto.

Temos Telas

Temos telas nas palmas das mãos,
Belos pincéis nas pontas dos dedos,
São lembrança quando se vão os chãos,
E à presença voltam mil e um medos,

Amor, preciso de ti que nem oxigénio,
Para passar a tenebrosidade destes dias,
Podia passar o mundo, passar o milénio,
Porém ainda acredito que exaltamos magia,

Suspiro pois sei que um será enfim dois,
Que nossos caminhos divergem no futuro,
Mata-me então, não me interessa o depois,

Viver aqui tem de ser assim tão duro?
Silencio minha mudez e refugio-me pois,
Nesta minha vala comum de amor obscuro.

Nossa Antiga Casa

Nossa antiga casa é invólucro para fantasmas,
Lar para ternura largada ao passado,
Um inteiro coração em imensas chamas,
Uma lembrança bela do já terminado,

Porém continua tal galinha sem cabeça,
Ensanguentado o chão com sua tristeza,
Porém dava tudo o que me interessa
Para fazer ainda parte dessa beleza,

A próxima paragem é nevoeiro feito de poeira,
O cangalheiro anda em lembrança
E do meio deste pó, desta canseira,

Morre em mim o último sonho da criança,
Fenece a última esperança solteira
Por juntos nunca termos perdido a aliança...