segunda-feira, 28 de junho de 2021

Desperta-me

Desperta-me de um sonho lindo num amanhecer,
Do despontar do Sol dentre o abraço do horizonte
Enquanto vou esboçando estrelas cintilantes no ver
De uma criança sendo isto tudo para o olhar fonte, 

Porém como a uma pedra vem a queda, o negrume
De um Inverno sem fim advindo de beleza sem par,
O silêncio preenche os lábios roxos e o seu lume
Abranda, acalma, sossega o repuxe que é do mar, 

Esbanjando a juventude por um instante infundado
E ouvindo revelamos as nossas feridas, a tragédia,
Estas asas coladas às costas tal um balão emendado,

Não é suficiente para subir aos céus, quietamente, 
Apenas para compor estas rimas nesta comédia
Que é do coração mestre e que é beijo felizmente.


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Esboço Para Um Astronauta

Vou pensando nos seus olhos delineados e bem abertos,
Sorrindo enquanto puxam as cores de verdes prados,
Retratando as linhas delicadas dos corais despertos,
Em névoa e felicidade de estrelas e aviões deslumbrados,

Vou sonhando com o seu olhar enquanto aguardo por uma rima, 
Esperando o rodopiar do mundo para lentamente reaparecer,
Pois tens reunido anjos e esvanecido cada dia em cada lágrima
Que reflecte pássaros-azuis, reensinando-me por fim a ver,

E a alvorada imagina a refracção dos satélites a azul e verde,
Lembra-me de que gostaria do teu cabelo longo pelo chão
Pois mal posso esperar por extinguir esta implacável sede,

És a canção que anseio ouvir, uma linha de pérolas ao pescoço,
Se quiseres que explore o espaço entre o teu olhar, no colchão, 
Eu serei o astronauta girando para fora com este nosso esboço.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Rimas de Papel

Bate um coração por baixo de cada semblante,
E nesse pulsar há um momento para o instante
E é aí que Deus discursa indómito na terra e céu,
Através do inteiro que é impulso e instinto para o eu,

A palavra é partilha de um amor tido como imensurável
Por padrões humanos, espaço entre o adeus e o bem-vindo,
Pois parece-me que entre constelações encontrei o confortável
Permanecendo dormente por épocas e épocas num sonho lindo,

Por isso vou passando a mão entre os cabelos do tempo,
Grisalho e enrugado, com um sorriso de missão cumprida,
Até parece que esvoaçamos mais alto que o próprio vento

Parece que a escrita é indomável nestas rimas de papel,
Assim adormeço entre as estrelas que me dão guarida, 
Num esbelto e eterno beijo tocado por um celestial gospel.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Sou Rabisco Em Caderno Feito de Plumas

Estáticos são os rabiscos num caderno feito de plumas,
Erráticos desaparecíamos entre eles cadentes tornados,
Tenho toda uma vida para sair quase ileso destas brumas,
Desenho-as suavemente entre dedos e vincos enrugados,

Crianças caindo tais cometas de um céu semi-escarlate,
Em danças eternas que só desaprendiam ao crescer,
Qual a diferença entre um salvamento e um resgate,
Quase igual ao presente incluso do nascer até ao morrer,

O caminho ao avesso calcado por passos desalinhados,
Com carinho tombávamos entre montanhas e astros,
A jornada é o dia a dia, os pequenos nadas alcançados

Pela estrada de um poema há sempre campos e prados vastos,
Enquanto houver amor a partilhar nestes sapatos calçados, 
Por este canto que o tempo silencia enquanto cobre estes rastos.




sábado, 5 de junho de 2021

Coloca a Mão no Meu Ombro

Coloca a mão no meu ombro e as palavras sussurradas, 
Esperando o passar dos anos, do medo em mim retido,
Mais cedo ou mais tarde o reabrir das portas encerradas,
Desperdiçamos lágrimas e sangue num andar comprometido,

Aguardando a aurora, a procura de um único Sol e a sua luz, 
Enquanto a sombra deflagra, e a lua se engasga, doce beleza, 
Imagino-nos à frente da auréola do sol que assim em contraluz
O perdão de um sentimento sem futuro, a verdadeira tristeza

Presa fácil entre todos os desejos e todas as necessidades, 
A noite vem e as coisas vulgares são a vista da janela, 
Enquanto o amanhã se aproxima de mim tenho saudades

Pois um coração velho não se contenta com novas paixões, 
Logo não há canção para dançar, não há amor ou donzela,
Para imbuir um sorriso no peito sem quaisquer objecções.