quarta-feira, 30 de março de 2011

Somos a Luz do Inefável

O ósculo da interpolação do Verão
Espelhado neste ténue e subtil palpitar,
Retendo cada feixe de Luz no coração,
Por cada sorriso, cada subtil pestanejar,

No aqui, o imenso e glorioso emanado,
Sendo inteiro, os pedaços então reunidos,
A margem, enfim, vista para o ali destinado,
A viagem culminada no reviver dos sentidos;

Estamos aqui para reencontrar os pedaços,
Abolir os estilhaços, cumprir a implícita missão,
Ser no um pelo todo, e no um reduzir os espaços
Entre todos os uns, seu toque será a única emissão,

Do enigma do Cosmos no singular, num instante,
Tudo visitado e tocado, o um não terá menção,
Pois seu nome não é intitular, mas sim recambiar
Do zénite remoto a inteira e única Divina Bênção;

Deus manifesta-se nos pequenos detalhes,
Sendo eu o detalhe pormenorizado divinal,
Inefável esta Luz quando brilha entre entalhes
Do corpóreo e material, ao celestino subliminal,

Então, quartos rarefeitos não mais aprisionarão,
Libertaremos ao grandioso o ósculo único: o Belo,
Consagrado no passageiro, retornando ao Verão,
Ad infinitum iniciado num ponto, revindo o singelo!

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Canto da Rouxinol

Sou um pouco díficil de se ver,
Canto normalmente escondido,
De plumas de quem aprendeu a viver
E canto simples e fluido face ao sentido;

A luz do sol hei-de trazer,
Para que ilumine o teu dia,
Cantar sobre as estrelas no ser
De ósculos e brilhos. O quão incidia

Esta manhã bordada em tons de linho,
Ouçam a melodia, esvoaçante e alada
Traz o fulgor, restitui a esbelta madrugada;

A Dama Azul voluteava, no madrigal sozinho,
Re-despertava o Sol e eu pueril e enamorada,
Por sua visão, minha ilusão nesta alma cravada.

Após o oiro d’Outono

Mesmo após o oiro d’Outono,
Que aguado é no olhar que olha
E mais do que o somente e só olhar,
Se vai alastrando e espelhando aqui e além
Na abóbada celeste, um pouco, um pouco
Mais, um pouco além e sei que eventualmente
O Céu continuará a ser nosso, apenas nosso,
Esse preciso momento será somente aqui,
Tornar-me-á parte fraccionaria de si,
E esse instante habitará então comigo,
Portanto não o poderei escrever de todo.
Que sua passagem por cá seja afinal muy curta,
Sempre curta, para tudo o que o vero Olhar puder
Recambiar do zénite remoto do longínquo horizonte.
Indo rumando (in)consciente face ao distante e remoto,
Onde houver Luz ainda para reter e finalmente oscular,
Elevando a voz em brados quase, quase sussurrados,
Sem voz, os leves passos do sono acercam o sonho Além.
(e eu…) Só precisaria então do único e verdadeiro Ósculo,
Aquele que se estende por uma toda e única, e enfim, inteira Vida.
E só nunca poderei deixar de escrever por esquivos criptogramas pois,
A mensagem é demasiadamente imensa e valiosa para vista desatenta.*

Rascunhei um rio

Rascunhei um rio na maré distante,
E aguardei paciente pelo seu retornar,
(Ao areal donde além estrelas brotavam)
Pueris e imaturas em suspiração ofegante,
Em cintilar circunscrito a éter seu adornar;

Imobilizadas na opacidade do olhar,
Beijando brevemente o areal do rosto,
(quando o para sempre nunca mais o é)
Este que definia as ondas do rio e do mar,
Em salubre toque ameno neste ímpar gosto;

Magia era delinear desperto o retrato paisagístico,
Onde o crepúsculo era somente nosso para enlear,
Soava então a Luz, a esmero sentir, a retoque artístico;

Surgindo a Lua em seu solitário deambular, de brilho boreal
Estrelada abóboda, impar nesse melancólico e impar olhar,
Enfim sossegar, em pisos quebrados de mármore sob o areal,

Imenso e reduzido perante o expressivo brilho lunar,
Recordava o inaudito e inefável em confidências,
A partilha alífera do que outrora fora o crepuscular,

Por raramente por cá ter permanecido a respirar o ar,
Havia-me afinal estendido sob as mais furtivas nebulosas,
Intermitente e translúcido era então, seus asteriscos no mar.

sábado, 12 de março de 2011

Esta Tensão é Ânsia de Vida

Esta tensão é ânsia de vida, a escrever no caderninho,
Um círculo abrindo o nada onde o todo não é cerrado,
Avisem a Aurora! Brilhando intermitente em tons de linho,
Uma pétala cintilará incontínua neste uno confluir alado!

Havia retornado seu axioma, o derradeiro e único decreto:
O Sentir a essência do éter e da viagem que este segmenta
Então, do toque nominal ao incerto, o portal é enfim reaberto
Recitado entre ósculos infindos e abreviações de quem indenta

Seu próprio palpitar de Vida, medindo seus trilhos e passadas,
Alheio face ao vulgo e banal, o efémero esvaecido sem rasto
Sobejamente delineados nestas arfadas paradas e apressadas

Enquanto no firmamento, com o olhar e o Ver as estrelas alastro,
Na opacidade do brilho ao refulgir do baço minhas enamoradas,
Amigas, amantes, companheiras, hoje sou… vosso humilde astro.

Hoje (antes e depois!) é o que é. Pt. III

De súbito o ar tornou-se leve, é indelével esta presença,
No espaço hoje ocupado, do tempo a expansão visível,
Eu sou a divisão do indivisível, do não dividido a pertença,
A primordial Luz tornada ciente, concretizada no tangível,

Sim, o quase impossível arfando em meta-cognição,
Poucos saborearão do altivo arco-íris seu néctar alado,
A pulsação desta melodia fusca oriunda do coração,
Confere meio ao preto e branco, neste meio embalado,

É do todo o detalhe, quão deleitante à vista atenta,
Os vislumbres destas silhuetas deslizam pela periferia,
Ansiando só o toque e seu reter nesta alma sedenta,

Então algures Viveria, belo, vertical e infinitamente pequeno,
Parca sim, mas neste envolver contendo o Uno donde advim
Leve por haver osculado a Vida e principalmente tido o pleno.

Hoje (antes e depois!) é o que é. Pt. II

O aprendiz a Deus, ainda sentenciado a santo iniciado,
Com sorrisos bifurcados, pronunciem e avisem a Aurora,
Digam-lhe que noutrora, fui antigo e como o Sol dourado,
De inconsciência abençoado perante a perfídia da hora;

Indecoroso sim, frente a muy insigne compostura primata,
Sinto-me magnata, arrítmico por ter um coração ousado,
Belo e insano no seu bater, o ondear do instável ele retrata,
Ósculo do refulgente, do sempre e eterno o seu interpolado,

O espaço consciente, o infinitésimo do encantador infinito,
O pai mais justo de todos, o que ignora a existência do filho,
Como o divino, hoje no efémero, no antes e no após escrito,

No meio, a aprendiz evolução terá tempo e espaço para ser,
A esbelta efemeridade, cativa aqui e no entanto emancipada
Do seu Todo, ecoando no sempre, cujo vestígio é o vero Viver.

Hoje (antes do Amanhã!) é o que é.

Perseguindo o Sol, tentando adiar a sua penumbra,
A Lua está de facto brilhante neste breu da subcave,
Adormecerei vendo aquilo que aos poetas deslumbra,
Um sorriso tocando de leve noutro, reavendo a chave,

De mil imagens do seu rosto projectado sobre as poeiras,
“Se não permitires entrar a Luz as estrelas jamais irão brilhar”;
Azul cerúleo, íamos lendo a janela do infinito na sua esteira,
Havia enfim usado o ar para algo mais do que o apenas respirar,

O perfume da Primavera, no sossegar das pétalas sua aragem,
O cenário: um mosaico que só navega suavizado pelo celestial,
“Só mais um pouco” e neste quadro terei parte e ímpar paragem;

Encoberto pelo matizado, subitamente o ar torna-se enleante,
Aclarado no dia, a noite de Verão era diferente, não era igual,
E no primor dos nostálgicos dias de Inverno: sou aqui principiante.