segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Aquela Voz Seremos Pt. III: Nosso Jardim ao Luar

Naquela noite a lua escorria-lhe gentil pelos dedos
Anónima e fulgente através da calçada do vento,
Eu perseguia sua sombra através dos arvoredos   
Que eram a noite aberta, este olhar pelo relento,

Parecendo a abóboda celeste a pulsar em mim,
Aquela era a noite em que o seu olhar era luar
A única luz que realçava a silhueta deste jardim
Que poderia ser o eterno sono ou o único acordar,

Lá eu era o entretanto entre os Invernos e Verões
Pretendendo tudo e nada sem ceder a meios-termos
E por sempres e nuncas por mim passavam as estações

Que eram o Tempo enfim retocando de leve esta janela
Recordando as vezes que vagueei pelos povoados e ermos
E quanto a beleza daquele jardim era tal como eu a via… Bela.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Aquela Voz Pt. II: Ao Envolver do Vento

Esta é uma mensagem em tálamo empoeirado:
“Penso sentir saudade da passagem do verão,
Do desejo ansiado porém ainda inalcançado
De quando andar era feito de mão em mão

Entre instantes que tiveram um dia um sítio,
Preenchendo-o em timbres dourados a riso,
Através de devaneios versejados pelo estio
Que inalados sabiam ao que aqui é preciso:

Simplicidade, simples ao simplesmente se ser".
Pronunciem à sua aurora o nome que trago,
Transverso a si neste mais que insano correr

Sem objectivo, porém ao acumular poeirento
À mercê deste destino o conquistado largo
Pois nada é meu além do envolver do vento.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Sonho Despertado: Pelo Sono Não Acordado

As paixões que têm sido no sonho despertado
Porém acordadas a sono pela curta madrugada
Tenho sido eu claro e pela luzência ornado
Ou sua ausência por sua fragrância almejada?

Ela prolonga-se na alvorada da noite infinda
Por numerosas paragens ao longo destas vidas
E por cada passada, por cada resfolgo ainda
Pergunto onde estão minhas amadas queridas,

Diligentemente refulgindo sobre o triste carreiro,
Não julgando e abundantemente me osculando
Tornando este Ver enfeitado por esse aguaceiro

Por favor, em súplica permanece aqui até quando
Não houver mais sonhos despertados pelo nevoeiro
Destas Oressas que em exíguos nadas os vão tragando.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

As Alfaias de Luz: Colhidas Por Mãos Tão, Tão Pequenas

O nosso caminho é sempre outro
De terra batida ornado por alfaias
E ontem quem o passava era doutro
Segundo eu passageiro de idas atalaias

Vígil, sua beleza tornou-se a travesseira
Recolhida por mãos tão, tão pequenas
E beijada pelo atento fundo da algibeira,
Soando a Amor retocando brisas serenas

E sorrindo por sua melancolia, seu pertence
Eram os dias através dos dias que vinham
Numa envolvência de um sonho parisiense,

Seguiam-se as suas pisadas, no céu ecoadas
Para um dia voltarem onde dantes pertenciam,
Sendo nas fulgências das estrelas relembradas.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Seremos Pt. II: Parte do Mesmo Jardim

Irei confessar-lhe hoje de meu imortal amor
Olhando seu reflexo em minha atenta vista
Pois algumas vezes, uma flor não é só uma flor
É rebento de cor em qualquer sorriso que exista,

Nas pétalas deste jardim há restos de seu perfume
Todo o meu ofegante oxigénio e ansiosa perdição
Pois à vista daquele seu esbelto e doce deslumbre
Reconhecia seu semblante como minha fracção,

Em fragmentos de morrinha sob o azulado da lua
Fechava eu então sonhos ornados por nós dois
Suspirando para cima qual nebulosa seria a sua

E o que o despertar deste sonho revelaria depois
Porque olvidei este palpitar ao reverberar da rua
Que perverte e dissipa o anseio que em mim sois.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu: Este Entretanto entre os Invernos e os Verões

Têm passado os serões,
Tenho sido seu entretanto,
Levando Invernos e Verões
E ao escutar de seu encanto

Tem sido este breve esplendor
Ao oscular das noites e dos dias
Que têm sido em mim, em Amor,
No entretecer de várias melodias

Que já nem só preenchem apenas
Agora também ornamentam o Ser
Nas grandes coisas e nas pequenas,

Aqui têm trilhado estas temporadas
E sido a cor que pinta este belo Ver
Por cada uma das vistas pinceladas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Esta Insatisfação é Calmaria e Tempestade: Só Pretendendo Tudo e Nada

Estes anseios e paixões são nesta insatisfação
Por tudo e por nada desde que ambos sejam
Pois o que fica após a passagem da estação
Para além das marcas d’água que aqui latejam?

Ao palpitar do segundo viandante no tempo
Há calmaria no olho do torvelinho, devagarinho,
Docemente, sempre rumando em contratempo,
Esta onda flui através do azul luzente do barquinho

Porém esta tanto nos aguarda como se escapa,
E quem não aguarda por sua própria chegada?
Tanto que ao seu vislumbre redigimos nossa errata

De viscerais paixões e anseios caindo como neve
Em semifusas por vincadas ou ténues pegadas,
Deixando-as ser, aceita-as, o destino assim as transcreve.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Esperando: Pelas Filhas do Sol (As Irmãs de Ema)

Por vezes fechar os olhos tanto apetece
E esperar, esperar que o dia enfim apareça
Pois quando tal coisa simplesmente acontece
Abstraio-me daquilo retido naquela promessa,

Ou seria a penhora vinda de um imenso deslumbre
Entre entes não humanos, maiores do que a vida,
Pergunto se o Sol anseia tanto por seu vislumbre
Como quanto persegue sua Lua há muito perdida,

Por seu toque, seria o único a torná-lo completo,
Nunca haveria amor mais belo do que aquele
Sim sei, este caminho para promessas é incerto

E perante suas filhas é vê-las, ansiá-las e querê-las
Nesta ausência serena, ajoelho-me ao brilho dele,
Que elas me abram os olhos cobrindo-os de estrelas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Ema IX: Não me Deslembres

Ema, ainda relembras o olhar que hoje te beija?
Aquele que ontem te esculpiu a partir de luzências
E reflexos da água para o céu que tanto almeja
Minha ida para teu lado por estas confidências...

Que... Suspirei à brisa renascendo no insone poema,
Por réstias de loucura plantei a mais bela das flores
No firmamento nocturno, és os sonhos desse diadema
Alumiando tudo o que é segundo e ainda arredores

Daquilo que trago nesta algibeira rumo ao silente,
As folhas esvoaçam ao passar do sempre-ausente
Cercado por sorrisos moldados a lágrima azulina,

Enquanto penumbras vêm oscilar a luz da lamparina
Desta breve, breve viagem essa é uma das certezas
Porém não temerei, ela serei eu pelas profundezas.

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VI: Só Mais Um Beijo

Apenas mais um beijo e após serei a partida
Somente em vosso regaço a encontrando,
À sua ausência sou porção desprovida de vida
Em cambaleio vacilante os dias arrastando,

Sou... Sou aquilo que é quando o nada acontece
Sendo vós e vós em mim parte sempre cativa
Porém quando o silêncio é voz por vezes parece
Que não há destinatário para esta terna missiva

Nem coração análogo ao que dita estas palavras,
Através de janelas de vidros azuis beijo o pavimento,
Não há terra, céu e luz apenas mais e mais adagas,

Enquanto houver praias ansiando outro semblante
Sentirei vossa ausência neste soturno sentimento
Que é quem sou quando quem sou está distante.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Brinde ao Desengano: As Duas Faces Ausentes

Os escritos interiores das pálpebras são o Sonho, o Pensar,
É insone aquele que não despertado para o sonho
Passa toda uma vida alheado por seu próprio passar,
Pensando no pensar e pensando sonhar ser risonho

Pois quem não imagina estar acordado no nevoeiro
Semicerrado e por ele cercado? Quem não imagina
Imaginar ter luz no olhar que nem um altivo candeeiro
Quando por ela é cegado e encoberto por neblina?

Que por vezes ensina que a cinza é o breve meio-termo
E de quem é o não ser, apresento-vos: o louco insano
Sonhando e sonhando, louco e por sua ausência enfermo,

E ambos ausentes do tido como real, nenhum é humano
Pois nenhum recuperou do éter e plantou aqui seu termo
No jardim terrestre num derradeiro brinde ao desengano!