quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Ema IV: Neste Olhar

Enleados somos o composto deste prado,
Pincel também que rascunha nosso recreio,
Somente eu e vós, num hino idílico cantado,
Partilhando o toque do mesmo devaneio;

Por vós amada, das estrelas colhi um buquê,
Para um dia rever esse estelar semblante,
Em mim, sem razão, sem ideia de seu porquê,
Pois sois a quimera do amanhecer distante;

O cândido espreitando na periferia do espelho,
Com o único toque, com a eterna fragrância,
Perante essa ideia sob a boreal me ajoelho,

Tragando para mim das amadas a beleza,
Sorvendo de Ema a partilhada radiância,
E revendo meu olhar, nessa vossa lindeza.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Palpitar: Do Um em sua Porção

E no ténue palpitar de um meio de coração,
A pertença na crença do alcance do Sonho,
Simples, a criança do Elísio em recordação,
Com luz e água torna-se o arco-íris risonho,

E esvoaçamos entre as mais formosas estrelas,
Com novas cores para repintar estes contos,
O passageiro atento por trilho de aguarelas,
Cada um, reflexo do Um em infindos pontos;

Irmãos, dentro destas pegadas há vento,
Preenchidas a passos pelo uno viandante,
Seguindo no próprio andar, o claro intento,

No trilho do caminho, pelo trilho da viagem,
Entre o início e o fim o intervalo é um instante,
No trilho por labirintos cruzados nesta miragem.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Latejar: De Um Meio de Coração

O vosso olhar, minha formosa amada,
Trago-o no tremeluzir cipreste do meu,
Vão-se segundos e cativo nessa balada,
Olvido o horizonte para além do céu,

Cessam as cores e vai-se o fulgor ocular,
De quando o para sempre nunca mais é,
A luzência do sol cede espaço ao lunar,
Esmorece o ânimo e extingue-se-me a fé;

Amor, já não somos Amor, real e ofegante,
Já não somos um mundo, um beijo, um ser,
Já não somos a constelação mais brilhante,

Porém nossa melodia naquela nossa canção,
Ainda a ouço tão próxima neste meio viver,
Por cada latejar... deste um meio de coração.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

As Pegadas Pt. II: Rumo ao Horizonte

Contudo apressado, por pisadas passadas,
A sobressair do brilho no refulgir do baço,
Sempre e para sempre… em ondas levadas,
Rumo a cenários perfeitos de nítido traço;

Íamos esperando, intercalados pela acalmia,
Por prenúncios para o começo, o principio,
Pelo Ósculo de Deus e sua revinda soberania,
Retida nos prados do horizonte, no rodopio,

Íamos desconhecendo o ser neste terrestre,
O seu néctar polinizado, somente eu sabia,
Ainda ser o aprendiz que será um dia mestre,

O Mestre sem dogma, o amante sem amada,
Que numa pedra de marca d’água ainda via,
A poeira do vento deixado de sua caminhada.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Sono: Através dos Olhos de uma Flor de Lótus

Saímos da claridade, submergindo sem luz,
Com o céu, a água e a relva na algibeira,
Do adverso floresciam as pétalas de lótus,
Nas profundezas da azul subcave soalheira;

Descemos degrau a degrau neste esvaecer,
Das pardas serranias amotinadas sossegámos,
As ovelhas inspiravam-nos para o adormecer,
E em breves suspiros ondeados serenámos;

O Tempo por segundos tornou-se inexistente,
Com belas limnátides partilhámos um coração,
Em silêncio, foi-se o ontem, amanhã e presente;

Oh como repousámos meus melífluos amores,
Amparados e retidos no toque da ondulação,
No Sonho, o único lar de todos os sonhadores.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As Pegadas: Outrora Deixadas

As pegadas que um dia deixei para trás
Trago-as ainda comigo, em quem cá sou,
Os segundos passaram e vieram as manhãs,
Em porções fui o dia e a noite que lá poisou;

Escutei a brisa e ressoei perante os trovões,
Recolhi flores e espinhos para a algibeira,
Fui sentido e senti no passar pelas estações,
Espaço fui no tempo e o tempo nesta poeira

A passagem vertida em copos de papel,
Foi, é e será sempre Amor em vista infinda
Na medida áurea do transcendente anel,

Sou, na busca pela intenção e na sua vinda,
Manifesto o acontecido divino como pincel,
Em pegadas passadas que perduram ainda.