sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Entre Dois Pt. II: Estamos Quase Lado a Lado

Estamos quase lado a lado,
Aqui quase não estamos sós,
Por muito que tenhamos falado,
Há vezes em que muda fica a voz,

Estamos quase lado a lado
E deste prado somos os pastores,
Nosso rebanho em alvoroço calado,
Suas margens afastadas entre dois amores,

Onde um rio corre entre os dois,
Algures ambos encontram abrigo,
Mesmo ignorando o que virá depois

E quão esse não saber mexe na ferida
Porque por vezes até um beijo é castigo
Seja num abraço acolhedor ou na despedida.

domingo, 16 de novembro de 2014

Ía o Poeta Pt. II: Vendendo Ouro de Tolos

Alguns, poucos, fios de alumínio a ouro pintados,
Essa é a vaidade do poeta - o falso sentimento,
Forjando Primaveras de Invernos idealizados,
Então é o fingir viver, não a Vida seu testamento,

Mesmo que apenas e só trevas ele seja,
Que sorrisos disfarcem a sua tristeza
E relembre ou inspire quem já não beija,
Que no papel lhe dêem um nome: Beleza

Será ela sempre o sonho e a mentira sincera
Que ele creia tanto que do mundano esqueça,
Celebre o martírio do belo, aquele exagero

Que separa o poeta dos simples, meros mortais
Pois a dor do saber fingir é a sua pertença
E os poemas só as vezes em que a dor é de mais.

Entre Dois: Palavras Deixadas ao Que Vai Passando

Palavras deixadas a ventos d’outrora,
A menina não escuta, ela mal ouve,
Vem a manhã e nem parece a aurora,
Esquecem-se restos do que não coube,

Restos sempre de porções e pedaços,
Do que parece bom ou mau passageiro,
Deveriam ser os mais bem preenchidos espaços
E deles eu o seu melhor amigo e companheiro,

Só chuva e frio sob todo um tecto de relento,
Caneta e caderninho e potencial beleza,
Largados ao ermo do desleixo do vento,

Levados algures no ombro da incerteza,
Calma tê-la-ia se de nada fosse sedento,
Mas sede dela sempre terei (em mão com esta tristeza).