sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O Coração é a Única Melodia Para O Caminho

Sustenta o fôlego, vêm as folgas entre o pavimento
São aprendizagem feita pelo instante, o momento
É aqui, não o deixes passar, só assim existe amor
E com partilhado pincel e tela pintamos com vera cor,

O suspiro de uma criança pode ser a infinita dança,
A única forma de manter a inocente esperança,
Por isso beijo o chão após por fim nele aterrar,
A distância entre todos nós assim há-de encurtar,

Pois esta serenata é perfeita, tal beijo dado na testa
Da criança que lá fora brinca insciente ao mundo,
Sou ela em milhares de vozes que o tempo empresta,

Entretanto alfim percebo, sou o encontro e a perdição,
Ouço-vos melhor do que vós vos ouvis a vós no fundo,
Porém sou só um instante: aquele que pulsa no coração.

(Trago-o na mão)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Ainda Há Lua Sobre o Orvalho

Jazz nos bares da sub-cave, a lua flutua sobre o orvalho,
E eu bebi demasiado, gastei demasiado, de novo pobre,
Amor... por onde andas esta noite, qual é o espantalho
Que amedronta quando penso quem agora te encobre?

Por trilhos parecidos na memória imagens por ti assinadas,
O toque sob o cerúleo suplementado por vistas inocentes,
Hoje escondidas no meu bolso e pelo tempo esfarrapadas,
Na margem do rio as luzes do talude tal jóias em correntes,

Pergunto-me por onde caminharás e quem contigo irá de mão dada?
Colocou-te uma coroa de luzes no coração e te faz sentir amada?
Pois na algibeira não tenho moedas, e o dia começa enfim a clarear,

Eu espero que ele faça tudo pela tua felicidade e te saiba abraçar,
Pois eu bebi demasiado, gastei demasiado e dói-me o coração
Por um momento perdido no tempo, pois que a lua oiça esta oração...

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Sonhos de Algodão em Sapatos de Chumbo

São sonhos de algodão trazidos nesta algibeira,
Arrombando a alma do pecador que os vê partir,
Enlevando-me mesmo quando perto da ribanceira,
É o veludo e o cetim que revestem este pesado sentir,

Mãos de papel e papel de dedos, este é o recanto,
Assim iluminam o espírito, pulsa forte a viagem,
Olhos cor do mar, tantas flores traz no seu canto,
Mar adentro, bem rápido, o resto é nutrir a miragem

De só sono sem despertar, tocado por esta voz,
Sentindo o sol queimando este peito, insano!
E eu juro que quando não sou eu só quero ser nós,

Por isso grito sob a água, prometo de dedos cruzados,
E vem um velho tomando meu lugar ano após ano,
Sendo que só pretendemos por um sítio ser abraçados.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A Vida é Percurso e Dimensão

Por onde não passa viva alma, eu vou sim derramado,
Pela curva sôfrega da estrada, olhando para o querido,
As vozes de ontem subsistem e rumo ao então procurado,
Sou um pouco mais inteiro, mesmo quando subtraído,

São as quatro estações aprendidas somente num dia,
A tentativa de ver cor onde só monocromático existe,
Pois assim chega a maior tempestade e a sua acalmia
Torna-se revestimento para este sonho feliz ou triste,

Amigo, nada mais existe para lá do retido no real,
E o concreto exige foco por ser demasiado banal,
Portanto retorno quimeras onde apenas vejo nevoeiro

E vos sussurro ao ouvido: "a vida não é um cinzeiro",
É sim atenção ao percurso e às curvas da estrada,
Amigo, a vida é só a dimensão entre o tudo e o nada.