quinta-feira, 20 de junho de 2013

Eu e Ela Pt. II: A Interrupção da Metade do Meio

Como um rosto sem apelido
Tal e qual o aceno sem resposta
Na frase do discurso interrompido
Porém bem à frente dos olhos posta,

Como o dar a mão e reaver restos de ar
Tal como aguardar por quem não espera
E virou as costas a quem apenas quis amar
E que portanto ao não ser, lá nem sequer era

Em interrupto riso perdido no espaço vazio
Naquele suspiro que só as paredes ouviam
Que ao habituar-se à frieza deixou de ter frio,

Tanto quanto esta ânsia que o estômago carcome
Neste almejo daqueles que a mazurca sentiam,
Aquela que todos dançam e ninguém sabe o nome.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Eu e Ela: Éramos Nós Dois

A margem do rio era somente pano de fundo
Pois aquele seu belo sorriso, aquele seu olhar
Era no efémero do instante todo o meu mundo
O reencontro ao Inteiro nesse tão leve esvoaçar,

Cada gesto seu instilava para o almejado romance
Da intangibilidade do sentimento então suspirada
Pelo portão saltado de uma só vez o Céu ao alcance
E na ternura de nosso ósculo a alma então recobrada,

Aqueles olhos cerrados vejo-os onde a chuva tombava
Seus lábios eram todo e meu único papel nesta vida.
Onde a sua cabeça repousava este ombro continuava

Suave através de seu rosto e a cada renovada batida
O sorriso crescia e num súbito ápice se apaixonava
Esquecendo que seria algo ao longe em despedida.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As Nuances: De um Iglô no Gobi

Arcos e blocos de gelo fazem paredes estranhas,
Despertai-me para a vida desta oblonga elipse,
O sangue que me corre dentro das entranhas
É o suficiente para provocar um Apocalipse,

No semblante de quem nunca conseguiu mesmo ver
Quando as dunas e o deserto se mesclam consigo
Vagamente, na amplitude tão breve deste ser,
Onde por vezes a bênção mais parece castigo,

Rascunhámos cones e cubos sem grande sentido,
Desdobramos os membros orientando o vento
Dos pólos ao equador sem ideia do apetecido

Que nos inebria a cada nova nuance de cinzento,
Levamos  iglôs ao deserto com ideia de abrigo
Habitando-os só com a passagem do tempo...


domingo, 16 de junho de 2013

Descalça: Foi Ela

Descalça vai ela pela noite tão escura
Aonde seus passos as flores sustentam
Suaves em tal Amor e em tal brandura
Que ao seu passar os abrolhos rebentam,

Aqui aguardo tão só seu efémero retornar
Na espera consorcio com a sua aventesma,
Tão eterna e tão temporária neste andar
Que ela leva onde seu trilho foi na mesma

Fracção de instante coincidente a este,
Sorrio... suas pegadas foram nestas um dia,
Hoje passado onde um só olhar era a oeste

Luz e inspiração ao poeta e à sua melodia
Embalava gigantes e enlevava o cipreste
Em ténues e suaves tons envoltos em magia

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Através do Deserto Esfaimado Pt. III: As Crianças e os Mortos

As crianças estão cercadas por mortos
Aqueles que envolvem o cadáver da vida,
Do berço à sepultura passam absortos
E ao fim de setenta anos atingem a partida

Ignorando o mais árduo passo: o primeiro...
Que enxagúe as mãos e renasça inocente,
Irradiando a luz do farol ante o nevoeiro
E que são se torne quem antes fora doente

Aprofundando raízes fortes para sua altura,
Simples é sentir Amor de perto e à distância,
Vir do ontem rumo ao amanhã com a abertura

De quem semeia e acolhe do semeio a fragrância
Em celebração aproveitando a rota da aventura
Sem medo ou receios sendo o adulto em infância.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Através do Deserto Esfaimado Pt. II: Entre o Caminho e a Casa

As mãos que o agarram são as mãos que me levam,
Adiante o puxam e empurram perante o que vem,
Os balões que as esticam são os dedos que enlevam
Pois quando tocam o céu tornam o trovador em alguém

Que brilha mais do que mil estrelas num bolso albergadas
E ele, tal cometa, apenas alcançável pelo rasto que deixou
Nos vestígios de meias palavras em certas telas pintadas
Ou através do fulgor que no olhar dos outros ainda restou

Após o terem visto a rasurar obliquamente o horizonte,
Esses jamais serão os mesmos pois enfim aqui foram
O instante e perceberam que o poeta é Amor e ponte

Entre o frio do caminho ao aconchego da divina casa
Onde voamos em anseios aos abraços que demoram
Pois a mão que o toca nem é sequer bem mão, é asa.

Através do Deserto Esfaimado: A Sede Por Ela

Esta sede é a sede do deserto esfaimado,
Gota a gota acumulada na vista do poeta
Que anseia mais do que o que já foi olhado
E que precisa de mais cores para a sua silhueta…

Para lhe dar significado, para fazer sentido
Das esquinas fazemos cantos e entretanto
De tanto correr esquecemos o acontecido
Do bonito em que temos sido e seu encanto

Esvaece onde só há grãos de areia para tragar,
Onde a cópia da Lua vem e sussurra baixinho
Que somos O beijo por isso não devemos beijar,

Por tanto olhámos assim pelo ornato da janela
Ansiando sem saber pelo que aguardar no caminho
Quando ao longe de bem perto sabemos que é Ela…

(... Ela… sempre Ela.)

sábado, 8 de junho de 2013

A Criança do Elísio: Ainda Trazemos

Somos… Somos aqueles que deixam às nuvens pegadas
Que vão e deslizam nos raios de sol e nas enxurradas
Atirando seixos às vidraças e vendo o mundo crescer
Sob o pé descalço reflectindo a criança ao envelhecer,

Frágeis amontoamos tons de vida e outros acinzados,
Somos quem semeia flores em canteiros imaginados,
Quem caminha ao pé-coxinho devagar ou corridinho,
Quem traz supernovas e galáxias no alado passarinho,

Tantas vezes também corremos ajoelhados sobre a lua
E de bem perto ainda somos tão longe aos dias comuns
Por onde navegamos resfolgando sendo suspirados à rua

Onde passámos ontem sendo tão poucos ou até nenhuns,
Aqui e agora nesta hora de dedos esticados e alma nua
Ao tentar amar o impermanente que tentemos ser alguns.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Morro dos Ventos Uivantes: A Ela e Ao Seu Fantasma

Teremos balões e confettis à hora da morte,
Venham e tragam um bom amigo também,
Ela lívida e serena me há deixado a tal sorte
Que por instantes olvidei que ela era quem

Outrora se banhava leve nestes rectos ombros
Sorria, chamando-lhes o que sentia ser o lar,
Hoje ao monte dos vendavais seus assombros
Com seu níveo espectro a vidraça a arranhar,

Seus ecos reverberados nestes corredores vazios
Amaldiçoo-os a todos por esta insanável ferida
Enlouquecei-me mas deixai-me não restos sombrios

De toda uma viagem onde sóis o fado nesta palma
Aonde e onde não posso viver sem a minha Vida
Que sentido sequer faria viver sem a minha alma?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Do Baile Dos Olhos Cansados: Ao Morro dos Ventos Uivantes

Conto relógios e ampulhetas até vós,
Sou os que esperam um dia aguardar,
Conto as luas, as estrelas e a vossa voz
É o único som capaz de nos despertar

Pois trago em mim os que me precederam:
Os sonhadores, os trovadores e os insanos
Que noutro dia por cá luziram e choveram
E também foram e vieram no passar dos anos,

Perdoai-me esta alma assente no pé-coxinho
Neste ósculo ao baile dos olhos cansados
Vamos indo e não indo doce e devagarinho

Com meias de lã, sapatos de chumbo e esta fome
Por nossa dança tão delicada, tão sem cuidados
Onde todos dançam e ninguém sabe nosso nome.