quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Resgatado

Resgatado, fui prisioneiro da adversa pluviosidade,
Refém maldito acorrentado entre quatro paredes,
Retratado por pincéis cinzentos, sem idoneidade,
Entre labirintos internos, capturado por mil redes,

Resgatado, outrora sem visão, o fumo era nos pulmões,
E as asas eram iguais às de Ícaro, nunca iria muito longe,
Almofadado por pensamentos negros, sem ter travões,
Onde as sombras eram lar, mas o hábito não faz o monge,

Resgatado, a madrugada aproxima-se e toda a sua maravilha,
Vou trilhando entre as bermas, vem-se o sorriso ao rosto,
Tenho sonhado, pois tenho dormido, tenho sido em partilha,

E eu, resgatado, frágil e delicado, deixando o medo para trás,
Finalmente preparado para Viver, penso que paguei o imposto
Do anteriormente devido, está na hora de postergar as horas más.

Renovação Almofadada

Abrindo as asas procuro finalmente por redenção,
As fracções de esperança que o mundo tem morto
Não foram o suficiente para desanimar o coração
Ou permitir as velas deste barco o levar a bom porto,

E pelos Outros, pela noite adentro, já não sou perseguido,
Disse adeus às preocupações, aos tumultos da alma,
Outrora era pela ausência de sono então inquirido,
Não encontrando descanso ou sequer em mim calma,

O sol raia lá fora, a chuva aparenta ter por fim acabado,
E eu, apesar de impaciente, sinto de novo este sorriso,
Os fantasmas vão escasseando, pois, o passado é passado,

Para todos os efeitos, clareia-se o dia, regressa a madrugada,
Enfim deciframos o essencial daquilo de que não é preciso,
Este é a minha crença e fé pela altura do precipício almofadada.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Renascimento nas Estações

Renuncio à obscuridade da noite, venha a aurora,
Esperei toda uma vida por este vindouro instante,
Regresso ao paraíso, lugar ao qual pertenci outrora,
Hoje percorro buscando o Inteiro, o factual inobstante

Dos caminhos já percorridos, dos beijos então concedidos,
Procuro pertença, não a vil sentença dada pelo soar do vento,
E eu, entre mil paredes labirínticas de desejos então atendidos,
Digo-vos, esta Vida tem sido num piscar de olhos, num momento,

Estas pegadas, silentes perante a perfídia de um tortuoso caminho,
Agora firmes e obstinadas, segurando o coração na palma da mão,
Revinda a Vida, acompanhado por anjos, não mais aqui sozinho,

Porém ainda tenho tanto a aprender e tanto pelo que pedir perdão,
Portanto, entre o sim e o não, sorriso no rosto, doce amorzinho,
Aqui farei o meu templo a Afrodite, erguido de estação a estação.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Reflexões de um Caminhante Solitário

Estes passos antecedem os tempos doutrora,
Ouço-os levemente pelos corredores entoados,
Esculpidos algures entre o crepúsculo e a aurora,
Doces pedaços vigilantes de facto de outros bocados,

Pássaros fugidios distintos somente pela sua coloração,
E eu encostado à berma da estrada, com mãos de velho,
E um corpo enxovalhado, batendo apenas parte do coração,
Esquecido pelos demais, de olhar baixo, sem reflexo no espelho,

Num breve silêncio, olhando para o interior da alma, envolvente,
Onde pontos abstractos lideram o caminho e eu quase sozinho
Quase vejo a origem deste caminhar, o olhar de uma nascente,

À passagem, à quase intenção de falar onde palavras eram perdidas,
Então sussurrava, indistinto, diferente do habitual, lá ia o rapazinho,
Feito velho por dentro, procurando por si onde sentenças eram urdidas.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Rendição ao Amor: Passado Dissipado, Presente Abraçado

Enfim sorrio perante uma silhueta quase erguida à perfeição
Pois encontrei finalmente o amor, à sua beleza sou rendido,
E estas brumas dissipam-se, é possível por fim dar a mão,
Sob estas passagens concretas, não mais estou rescindido,

Sim, somente por agora, libertarmo-nos deste fardo antigo,
O passado não significa futuro, deixemos a desesperança,
É preciso desamarrar as suas algemas, deixar esse castigo
Que nos enforca, que nos fustiga, que ladrilha a insegurança,

Por um pouco de tempo respirar bem fundo e permitir o ser,
Secretamente este instante é tudo alguma vez pretendido,
E esta passagem, barra, aragem, tudo o que anseio aqui ver,

Serei uno com o presente, a sorrir no sonho entretanto sonhado,
És assim a quimera, a seta de Cupido em mim e no céu difundido,
Com as constelações, galáxias e supernovas estou aqui alinhado.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Reflexões do Isolamento Interior

A mente inquisitiva reconhece a fraternidade do frio,
O seu rio congela no declive da alma de si esquecida,
Qualquer sinal de sanidade dá espaço a um infindo vazio,
Sou eu então o tamanho para a pendência e a sua medida,

A ideia cabisbaixa, o sorriso lúgubre de um soturno toque,
Os pingentes de gelo que permitem a este caixão estar fechado,
Não são mais do que novas maneiras de ter uma visão e enfoque,
Pois dos passos retraçados, perseguimos um fantasma requebrado,

E eu, agoniado, partido sem ter chegado, será que algum dia chegarei?
Sorrio cansado, de lágrima no canto do olho, sendo o eterno fora da lei,
Até quando irei sem regressar, caindo em minhas próprias passadas,

Com este olhar penitente, fora da cabeça, contra estas cabeçadas,
E se eu eventualmente começar a chorar, deixem-me ir, deixem-me passar
Pois por vezes não encontro sítio, por vezes não encontro o meu próprio lugar.

Uma Jornada do Humano ao Divino

Se olhares bem, bem fundo nos meus olhos,
Consegues ver estrelas, abóbodas aos molhos,
Reflexos de constelações e partes do firmamento,
Píncaros do altivo, do esplendor do divino fragmento,

E este sentimento, finalmente o Humano ultrapassado,
Faz-me sentir como um Deus com o coração retocado,
Com razão e emoção lado a lado, o eterno pretexto,
Marquem, pois, a suor, lágrimas e sangue este texto,

Percorri o caminho, prisioneiro dos próprios passos,
Acorrentado ao passado, aguardo enfim a libertação,
Esquecer este peso no peito e aqueles tristes percalços,

Permitir vir o sono e o sonho com a Vida esperançada,
Sorriso no seu sorriso, conceder-lhe por fim esta mão,
E que um dia provenha a Terra, tão imensa e ansiada.

O Toque em Busca de Pertença e Amor

As luzes incandescentes e mãos procurando chão,
Pretendo ver além desta bruma, desta escuridão,
Pois estas paredes hão-de em jaulas enfim tornado
Eu e a mim de que me vale sonhar se estou acordado?

Não anseio não pertencer, almejo por um lar, por um lugar,
Com estes pensamentos acossando esse desejo, alarmado,
Ouço o silêncio, temendo as subtilezas desse simples abraçar,
Porém o seu olhar, a sua beleza faz-me sentir por fim encontrado,

Não quero ser barco naufragado, passar por um mau bocado,
Apenas sonho com o seu beijo e abraço por fim e em mim,
E se um dia, ela me deixar a meio da viagem, a triste miragem,

Espero ter a força para me reencontrar de novo e enfim,
Pois não é fácil amar, não é fácil arriscar e me dar à aragem,
Para ir além e ser com alguém, antes é preciso ser tocado.


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Jornada da Aceitação: Entre Lágrimas e Belezas

Uma lágrima mais no mar, outra gota no oceano,
Esperando ver o sorriso mais esbelto do mundo,
Adornado Sois e Luas, por vocação sou soberano,
Após a queda, aguardando afundar-me no profundo,

Enterrado entre os silêncios inauditos, sons malditos!
Bebendo até chegar ao fim do copo, chegamos tarde
À fantasia, à ternura da tragédia, aos sítios recônditos,
E está tudo bem, pois há beleza que a mim me resguarde,

Por isso devo deixar ir e atirar-me de face na enxurrada,
Fechar os olhos, esticar os braços, ser a onda permitida,
Assim vamos e colocamos os pés perante a vil estrada

Só assim vamos indo e deixamos a trilha outrora submetida,
Em molduras vamos pintando vestidos a cal esbranquiçada,
E, portanto, encontramos a "tal" sobre o coração sustida!

Um Poema Sobre Relacionamentos Passados

O nó na garganta, o estômago então apertado,
Há o trajecto de duas vidas e a sua ansiedade,
A preocupação por algo enterrado no passado,
Por isso recontam-se as raízes desta mocidade,

Vejo-a vividamente e por quem ela foi tomada,
E vejo a minha alma triste, penante, quebrada,
Por ela ter sido básica, fútil, e talvez até vulgar,
Porém neste instante, é a única que quero amar,

Então que se vá esta névoa sobre os olhos envolvente,
Que se faça de novo no incrédulo enfim em crente,
Pois não consigo não rever, não consigo me conter,

Os uivos dão lugar a suspiros, a corações partidos,
Mas acreditem no que digo, somente quero crer
Que bem lá dentro, ela seja diferente em todos os sentidos.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Banho Frio na Mente Agitada

É quando vem um banho frio e me passa pelo olhar,
Que me apetece desaparecer do mundo, aqui acabar,
Temo a companhia daquela que me traz novamente
A um estado de vulnerabilidade e então, realmente

Perco-me em pensamentos intrusivos, vem a inquisição
Estas mãos diligentes e folgadas, em si conspurcadas,
Não pretendem permanecer no vazio destas estradas,
Porém reparo que tenho razão no instinto, na intuição,

E torna-se complicado viver na mente, através deste ver,
Não me arrependo do passado, mas custa-me aprover
Legiões de demónios, legiões neste ombro abancadas,

Pois vão passando os tempos e vão passando as temporadas,
E eu fui outro numa vida que já não recordo, de mim me esqueci,
Não sei por onde caminhei, mas sei que quando nela toquei enfim vivi!

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O Tiquetaque da Passarela da Vida

Há brisas que sopram que nem doces promessas,
Tal farol no nevoeiro, compasso para um deserto,
Após a terra, sujidade e poeira nas unhas impressas,
Há também espaço para o tiquetaque que é tão incerto,

Tenho pouco tempo para viver exponencialmente,
Ofegante por ela, suspiros deixados entre janelas,
Ainda há a tanto a fazer e experienciar felizmente,
Tornam-se as horas feias finalmente em horas belas,

Os segundos exsudados lugares entretanto passados,
Esticando os braços,  estalando os nós destes dedos,
Vamos ficando inteiros deixando homens fragmentados,

Há ganho nessa perda, há momentos que anseio tocar,
Por isso vou passando na passarela da Vida sem medos,
Pois tenho noção de que só essa vivência me permite amar.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Turbulência Interna: Reflexões de uma Mente Agitada

O olhar cerrado rodeado por pontos de exclamação,
As subtilezas das sombras e bruma no pensamento,
Tantos vultos e semblantes, tantas formas de tormento
Que preenchem por inteiro as artérias em sublimação,

Suponho que há momentos em que somos perdidos
Em oceanos de tumultos de dúvidas e até repetições,
Há dias em que a atribulação é evidente no subentendido,
O algoz de joelhos pisados, a fúria e as suas conturbações,

Pensamos demasiado nas impossibilidades infinitas,
Os galhos destas árvores ramificam, ficam maiores,
E de tanta convulsão deslindamos as noites incógnitas,

Sem espaço para o sonho, sem espaço para o sonhado,
O sono torna-se num luxo, desliga-se a luz dos bastidores,
E o cérebro de tanto pulsar fica por metades, fragmentado.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Calçada do Tempo: Entre a Busca e o Encontro

Colidimos com os átomos por um instante abreviados,
Perguntando por onde fomos, qual o trilho percorrido,
A Vida permuta destes poros e dos seus doces cuidados,
Sou seu destinatário, imputando o ganho no já incorrido,

A estrelas caem, caminhando no tempo e na sua calçada,
Rezamos, prostrados que haja candeias para os perdidos,
Pois tanto vem como vai a noite, aguardamos a madrugada,
Para procurarmos outro lugar, não mais estarmos escondidos,

Ressoam os trovões e os lampejos, levantamos as mãos ao céu,
A tempestade cria-se e assim eleva-se no horizonte distante,
Lágrimas caem no rosto, parece que encontramos nosso apogeu,
 
Encontramos algures nosso lar, a imagem é trazida em felicidade,
Somos sonhadores e amadores escapando à chuva, não obstante,
De grinaldas ao peito, no arco contrafeito, não mais esta orfandade!

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Vida nas Calçadas: Entre o Passado e o Futuro

As calçadas são o pavimento do deitado,
Levado pela chuva, pejado pelo seu destino,
Por onde estas paredes e tectos sou procurado,
Acossado por um rosto para mim sempre clandestino,

Roupas penduradas indiciam um momento passado,
Estas ruas foram percorridas noutro instante de vida,
Bem acordado, na terra dos perdidos sou fragmentado
Entre aqueles que fui e aqueles doutra margem vivida,

Pois apontamos para o horizonte, erguendo essa ponte,
Deixando para trás a angústia, o medo e a ansiedade,
Esta sede de si mesma é saciada pela eviterna fonte

Que mostra os dias vindoiros, o tempo ainda por acontecer,
Preenchendo o peito de brilhantes luzências, de verdade,
Ainda estou por cá num beijo duradoiro no espelho do ser.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Suspiros ao Horizonte

Estas asas alcançam o zénite do horizonte,
Olhando através de vidros azuis, libertado,
Vão erigindo fortes há muito idas pontes,
É o coração que se completa, não quebrado,

O quebranto do passo dado vai e esvaece,
Cerrando os olhos e abraçando a madrugada,
Viandando vou por onde a Vida vai e acontece,
Não mais perdido entre becos da noite enrugada,

Não é fácil esperar tal como não é fácil procurar,
Por vezes vai-se o tacto ao momento presente,
E a enxurrada vem e cai da qual é preciso curar,

Porque dos tempos passados serei agora ausente,
Para no ouvido de um futuro poder enfim suspirar,
Tenho a mão no sorriso que trago para o remanescente.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Entre Anseios e Esperas

Eu pertenço às fagulhas tidas no cisco do olhar,
Há flores neste jardim por caleidoscópio vistas,
Leve anseio de quem já não precisa de procurar,
E se deita nas folhas caídas das árvores intimistas,

Há um tempo e lugar, para ansiar e para esperar,
Por um momento tenho asas nos pés descalços,
O mundo vem assim tão depressa e tão devagar,
Que vamos indo ante o firmamento e seus encalços,

Doces percalços, este de sentir por cada poro, Vida,
Alongando as pernas, ansiando a margem querida,
A sua voz torna-se nítida e o seu semblante eterno,

Perdendo-me no seu abraço e no seu abraço fraterno,
Fechando as janelas de vidros azuis num doce suspiro,
Hei-de encontrar-me finalmente neste presente que aspiro.