domingo, 21 de dezembro de 2014

Esta Orfandade Pt. II: É Inexorável

Observando o fim desta rua vazia,
Um estranho que se conforta silente
Vendo sinais de trânsito doutro dia
E quanto seu rumo parece acidente,

Vai em frente ao patamar do mundo,
De dentro de deuses puxando ossos
E em nuvens se sepulta bem fundo
Deixando-se por mil e um esboços,

Por quantos lugares houve em si lugar,
Quantas luzes ou até porções de asa...
E cada instante seria sorte, seria azar

Ou tempo rumando ao fim desta Terra?
Oh!... Quase sem lar, tudo mais uma casa
Haverá trégua após tanta e tanta guerra?...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Viandante Viaja Pt. III: Tantas Estradas Para Escolher

Sussurros de tantas estradas para escolher,
O viandante é o refugiado entre margens
Ao respirar o hálito do instante a perecer
O quão essa passeata lhe parece miragem,

Quais memórias são a realidade das partidas
Ou quantas vezes olvidou sua vera casa?
Tal sonâmbulo atrás de ideias de vidas
Cobrindo-as sob as plumas de uma asa,

Arrancámos os cabelos não vendo o Sol
E noites escapam-se sob estriados dedos,
O pescador torna-se vítima do seu anzol

Ofertando-se em confissão dos seus medos,
Não temais, para cada treva algures há farol
Mesmo que ante o eterno sejamos só brinquedos.

Esta Orfandade: É Escolha

Esta orfandade é por mim escolhida,
Sou o filho dos cascalhos da estrada,
Toda esta solidão é auto-infligida
E faço e farei dela a única morada

Para ir e percorrer até um dia morrer,
“De dedos esticados, olhar aberto
E de pé partiu ele” – Hão-de dizer,
“Seu coração bateu alto e liberto,

Foi abrigo para a presença e sua falta,
Pronunciando leve os lábios da brisa
Fosse o Sol nascendo ou a Lua alta

Ou sua passagem acidental ou precisa
Quando foi penumbra e luz da ribalta
Sobre a estrada, sua musa e poetiza”.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

À Presença da Lua: Mementos a Beijos de Cópias da Lua

Quando surgir a próxima manhã,
Digam-lhe que outras luas vieram,
Levando porções do que foi por cá
Oh outros beijos foram e me tiveram!

Foram nos segundos passados em mim,
Quando olhava sem a ver e se ia o dia,
Era noite infiel, mesmo cópia lunar sim,
Resguardo por onde nem a mim me via,

Sensuais requebros vertidos em prazer tal
Que quase pareciam vero sentimento
Por acordes, orfandades e não funeral

Para um coração em beijo de saudade
Que havia esquecido o seu batimento
Ou o quão se estranhara da verdade.   

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Viandante Viaja Pt. II: Quando Entre Nada Vai

Mesmo que entre nada vá o viajante
Tendo perdido a razão da partida,
Que na sua mente não haja instante
Em que se esqueça do fulgir da vida,

Pois se ela há então tal não é finda
É pedestal desta breve eternidade
Em que a morte nos é vezes ainda
Antes do nosso tempo e até idade,

Vamos ficando a preço da vontade,
Vai o vento levando a alma embora
Sem sequer sazão para a saudade,

Desfilando-se o tempo, hora a hora,
Sem saber bem qual é a verdade
Ou bem sequer por onde ir agora.

O Viandante Viaja: Eu, Os Segundos e a Sua Ponte

Viajo até não haver mais horizonte
Entre margens pelo meio de nada,
Por mim são uns poucos pela ponte
Desta viagem ora leve, ora pesada,

Por muito que tenhamos esperado
Ou por tanto que tenhamos ido
Somos por vezes o tempo parado
De um qualquer parágrafo não lido,

E aquilo que perdi e achei na estrada
É em mim mesmo quando não sou,
As suas partidas e a minha chegada

E o visto que o esquecimento já levou,
São essas os tons que ecoam aqui
Concedendo fôlego e asa ao colibri.