quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Ponte Pt. II: Entre o Silêncio e as Pegadas

É preciso este silêncio e nesse bocado
Sou a ponte entre o canto e a aresta,
Trago nas pálpebras o olhar semicerrado
E parte da brisa que da mão aberta resta,

Tenho passado por lampiões e ruas vazias
Por vós a voz amada, amante e amiga
Ofereço-a onde soam doces melancolias
Partilho-a e a mim ao abrigo desta cantiga

A gente que passe e não seja apenas gente,
Entre o vértice e o ângulo, sempre à margem
De abraços cruzados deslizando em frente

Onde gritos se dissipam juntando-se à aragem,
Bebo-os inteiros e trago-os todos neste presente
Nestas nébulas que do viandante são a viagem.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Ponte: Entre o Canto e as Esquinas

Por mim sim canto em qualquer canto,
Haja ruído ou o silêncio do abissal recife,
Para quem traga bolsos forrados a tanto
Que cada tom soe a berço ou a esquife

… E eu ponte, sempre entre outras margens
Trazido no vento onde o grito retorna o eco
Ressoando nesta brisa por outras paragens
Através da planície verde ao pardo beco,

Caímos tal e qual quanto voamos - alados,
Vivemos entoando a perdição das esquinas
Em salões de dança vazios outrora povoados

Não atingindo o fim somos a parte da parte
E enfim percebo defrontando estas ruínas
O quão me aguardo entre Vénus e Marte.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu e Ela Pt. IV: Tornaram-se As Ruas Vazias

As ruas vazias relembram as nossas mãos
Sob os candeeiros que são estas sombras
Que reverberam ecos atando-os a sótãos
Da noite ao dia - à poesia que ensombras.

Para quê por alguém ainda aqui esperar
Se por mim aqui não espero nem vou?
Com quem poderei ser ou enfim abrigar
Se sou relento, se sozinho não me sou

Para lá da estrada atravessada ao peito
Sou suspeito em ar rarefeito e tão pouco
Quero que tudo anseio tão e tão perfeito

Que é tanto e tal o mundo que cá albergo,
Tentando ser belo e lá vai o poeta louco
Entre ruas que vazias ficam mal as enxergo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Eu e Ela Pt. III: Que Fique O Seu Fulgor

A muda persegue quem pertence à estrada
Noutra suave despedida uma nova partida
Vem o terno Sol enquanto cai a enxurrada
E do ínfimo nada, o arco na mão querida

É a íris dos dias que me deixaram aqui e ali
Esparso nas noites que ainda estão por vir,
Os fulgores de beleza que do éter socorri
Serão parte do sonho desperto a reflectir

O eco das salas vazias ainda por preencher
Por palavras e sonetos ou cerejas com areia
E desejos e anseios do rapaz neste meio ser

Enviados às nuvens em leves balões de papel
Onde todos somos à vigília desta lua cheia
Quando toda vista é tela e todo o Ver pincel.